Fahrenheit e Absinto escrita por Aleksa


Capítulo 4
Capítulo 4




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Ela agora encarava o pedacinho de papel que tinha nas mãos, e revisava mentalmente o numero de cabeça, agora já o sabia decor.

- Ligar pra ele...

Ela esteve encarando esse papel desde o momento que acordou essa manhã, era sábado e ela tinha tempo, mas não queria parecer louca e desesperada... Ligar, ou não ligar?

Tinha o telefone na outra mão, também o esteve encarando por alguns momentos, fechou os olhos e discou o número, pensando o que raios devia dizer.

Secretamente desejava que ele não atendesse, mas ao mesmo tempo esperava que sim.

E então, ele atendeu.

- Alô? – sua voz era sonolenta e letárgica, como se tivesse sido acordado pelo barulho estridente do telefone tocando.

Burra! Ela o acordou! Talvez devesse desligar agora... Mas depois como ligaria de novo?

- Hm... Olá. – disse por fim.

- Ah, olá. O que foi?

- Bem... Hoje é sábado... Eu tenho tempo, se... Quiser conversar. – a frase implícita nessa era: “Se quiser fazer algo mais além de conversar também...”.

- Claro. Mas nesse momento eu realmente estou acabado... Pode ser mais tarde? Lá pelas seis?

Mais ai o sol já estaria se pondo... Por Deus! Melhor ainda.

... Céus! O que havia de errado com ela?! Ela nunca foi promiscua, fácil ou atirada... A culpa era dele! E daqueles malditos olhos prateados cheios de segredos obscuros que ela estava louca pra descobrir... Maldito seja em toda a sua perfeição viciante...

- Claro. Onde nos encontramos?

- Escolha um lugar, pra mim qualquer lugar serve.

- Hm... O cinema. Estão na semana de filmes antigos, hoje será O Drácula.

Ele riu ao telefone.

- O que? Não gosta?

- Não, não é isso. Por mim está perfeito. Te vejo no cinema hoje as sete horas.

- Certo.

Ela desliga, se sentindo estranhamente quente ao se imagnar no cinema... Sozinha... Com ele...

Certo, ela ia tomar um banho frio e se controlar.

***

Tinha acabado de se deitar para dormir, e pegara no sono há apenas alguns minutos quando o telefone tocou. Não achou que sua presa seria tão urgente em encontra-lo. Podia facilmente visualizar o que estaria pensando naquele momento, com certeza em parte seria a seu respeito, havia construído uma perfeita imagem de bom moço.

Mas sabia que mesmo que não tivesse feito nada disso ela o desejaria do mesmo modo, tinha cheiro de perigo, um cheiro que muito atraia as mulheres humanas.

Não havia começado ainda a ser o predador que sabia ser, esperaria, seria paciente para não assustá-la.  Sabia que se a assustasse ela ficaria confusa e tentaria se afastar, e isso tiraria toda a glória de sua conquista.

Por isso, abdicou do predador furtivo e incisivo que queria simplesmente possuí-la, para ser algo que não lhe causasse receio. Era orgulhoso demais para exonerar-se de seus desejos vaidosos de tomar sua presa somente quando ela implorasse por isso.

Sua fome havia sido aplacada por enquanto, por conta da visita ao seu irmão de mesma idade, Luka, que tão gentilmente lhe cedera uma de suas servas humanas.

Diferente de Luka, raramente matava, e nunca mantinha humanas por perto, mesmo que isso fosse relativamente comum. Luka, não compartilhava do espirito primário de predador dele, era persuasivo e podia facilmente tomar pra si o que queria, e não gastava seu tempo em jogos que caça como o que Alexis fazia agora.

Desejava. Conseguia. Descartava.

Os três passos que invariavelmente cruzavam o caminho de Luka, diferente do modus operandi manipulador de seu irmão, que caçava, jogava com o que queria, e tinha absolutamente tudo, antes de sumir como um fantasma, que assombraria algum canto esquecido da mente da presa cuja memória seria apagada por completo.

Mas não desta vez.

Se identificava com sua presa, via muito de si na humana. Se já não tivesse nascido filho da noite, poderia dizer que como humano, seria como ela. Isso fazia o jogo mudar, mudar de uma brincadeira impessoal e fria, para um jogo quente e predatório que guiava sua mente para as vielas mais escuras de sua alma.

Aquela identificação era o combustível instável e inflamável que precisava para motivar uma das caçadas mais pessoais de sua vida. E não se contentaria com nada menos que perfeição.

Virou-se inquieto em sua cama, a súbita chamada perturbou a calma de sua mente, a forma silenciosa que ela chamava por ele o deixou inesperadamente desperto. Seria melhor ter ao menos algumas horas de repouso antes de sair de casa, precisava estar alerta, caso algum dos outros quatro poderes que ainda residiam na câmara viesse de repente vir atrapalhar a sua noite.

Os quatro poderes.

Uma cúpula formada pelas quatro forças que regiam a vida humana, filhos da noite, como ele, que vulgarmente foram chamados de vampiros pelos humanos. Criaturas incautas que tiveram sua existência descoberta por sua falta de cuidado ao viver entre os mortais.

Mas não entre os seus irmãos, os sete primogênitos, os primeiros filhos da noite, que viveram em paz com as outras raças antes de os humanos se rebelarem e tudo se tornar caos, desordem e guerra.

Haviam também os filhos do sol, conhecidos vulgarmente como imortais, criaturas que habitavam os dias na terra enquanto os filhos da noite dormiam. Seus sete primogênitos, em oposição aos filhos da noite, tem olhos dourados, e pupilas esféricas, diferentemente dos olhos prateados e das pupilas finas dos assim chamados “vampiros”.

Além dessas duas raças antagônicas, havia também os anjos, divididos em uma hierarquia intrincada, e os demônios, dispostos na mais plena desordem. Ambos com a função de julgarem as almas humanas, que quando partiam, eram guiados para um dos planos alternativos que existia paralelamente a dimensão habitada pelos vivos.

Todos vivem na terra, entre os humanos, mantendo-se em silêncio para evitar que a guerra venha novamente.

Os primeiros herdeiros de filhos da noite com humanas, originaram a raça mestiça e corrompida de olhos vermelhos que comumente é atribuída a imagem de feras sanguinárias e animalescas, noturnas e sombrias que há muito foram erradicadas pelos antigos.

Mas isso na verdade foi um erro, quando os primeiros mestiços nasceram, eram fracos como humanos mentalmente, mas tinha a força física de seus pais, e o desejo por sangue queimava em suas veias.

Não passavam de cães vira-latas comparados aos seus pais, que observaram em culpa e pesar o que sua raça havia se tornado, o vírus que havia feito com que as mordidas de seus filhos espalhasse sua genética como se fosse uma doença.

A mistura com o sangue humano, tornou o veneno vampírico compatível com o DNA dos mesmos, então criou-se uma raça fraca e gélida, que morria para se tornarem monstros que seus pais não eram.

Em repúdio e desgosto, os pais dessa nova raça controlaram sua prole como se fossem animais, estalando a chicotes e talhando em ferro e sangue as leis que agora iriam comandar aqueles híbridos abomináveis.

 O mesmo aconteceu com os filhos do sol, os anjos e os demônios.

Essas raças corrompidas de filhos contaminaram a terra impregnando todos os cantos com sua combinação patética de genética mal feita. Envergonhando os primogênitos, que mais que qualquer outra coisa, arrependiam-se de ter encontrado a humanidade, agora esforçavam-se para erradicar essas criaturas amaldiçoadas da face da Terra, governando em ditadura cerrada, sem nenhuma chance de liberdade.

Sentiam-se todos na responsabilidade de remediar o mal que haviam causado, julgando os que quebravam as regras que haviam escrito.

Alexis era um dos sete de sua raça que tinha esse poder.

Finalmente depois de muito tempo, ele conseguiu voltar a dormir, afastando os pensamentos sobre a caçada que aconteceria naquela noite, para os pensamentos a respeito de sua própria raça.

Acordou sentindo frio, já devia começar a anoitecer, e se não estivesse errado, provavelmente já devia se levantar e colocar algo menos... Preto e feito de couro.

Sentou na borda da cama de uma vez, sentiu a cabeça girar por alguns instantes, como sempre que dormia pensando nos erros do passado. Ficou esperando a visão se acostumar ao breu no aposento, preferia assim, a escuridão era tão densa que era possível cortá-la com uma faca, mas as luzes ambientes feriam os seus olhos quando estavam acesas logo depois que acordava. Olhando pela janela, viu como estava a noite, e encontrou pequenas lágrimas escorrendo pelo vidro, lágrimas de uma fina garoa fria, que gelou seu quarto por dentro.

- Chuva... – soprou sua respiração quente no vidro e foi desenhar na mancha de vapor.

Enquanto escolhia algo melhor para o encontro que teria ainda naquele dia, pensava no que lhe esperava ao longo desse jogo perigoso que se divertia em jogar.

Depois de escolhidas as roupas de bom-moço de hoje, colocou-se dentro delas e saiu enrolando um cachecol preto ao redor do pescoço e abrindo um guarda-chuva.

Pensava pra onde se mudaria a seguir, havia uma razão para suas cartas serem mandadas ao irmão, ele raramente passava mais de um mês na mesma casa, cansava-se fácil e então se mudava.

E era isso que estava acontecendo agora, estava se cansando daquela casa e já pensando pra onde se mudaria em seguida.

Pensou nisso o caminho quase todo até chegar no cinema, mas quando se aproximou do quarteirão, foi invadido pela ansiedade do começo de um novo e excitante jogo.

Riu sozinho enquanto virava a esquina com o guarda-chuva apoiado no ombro, e então colocou os olhos no mais novo objeto de seu interesse, viu-a acenar e então sorrir, sorriu de volta e voltou por um momento o olhar pro chão, voltando novamente a olhar pra ela com um sorriso gentil e acenando alegremente.

- Boa-noite. – ela sorria, conseguia ver a respiração se projetando em forma de vapor pra fora de sua boca.

- Boa-noite.

Agora é somente uma questão de tempo até o xeque-mate.


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Notas finais do capítulo

Olá Leitores ^w^
Espero q esteja tudo do agrado de vocês! :D
Em mais alguns capítulos a coisa vai esquentar, então preparem-se! XD
*huhuhuhu*
Me digam o que acharam do capítulo ^^