À Beira do Abismo escrita por Yue Chan, L-chan_C-chan


Capítulo 10
10- Divã.


Notas iniciais do capítulo

Desculpa a demora meu povo, mas não podia postar qualquer coisa para vocês e estou escrevendo a história ainda, então tem dias que não dá nem para encostar no Pc.
Sei que vão me desculpar.

Boa Leitura.



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Yukie olhou para a janela para tentar escapar do olhar analítico do homem a sua frente. Era quarta vez que comparecia a sua sala por insistência de Tsunade e Iruka sensei, e não podia evitar se sentir incomoda com o olhar fixo que o doutor Suijiro lançava a ela toda vez que a examinava.

Era um homem estranho.

Aqueles miúdos olhos castanhos pareciam dissecá-la, como se buscasse as respostas ou evidências das mesmas dentro de sua alma dando a pequena Uzumaki a sensação de que estava tendo a sua mente invadida. Parecia um ataque mental, e por mais de uma vez a consciência dela havia sugerido que pedisse a ele para parar, mas não conseguia reunir coragem suficiente para fazê-lo.

Ele era um médico conceituado que morava na vila da pedra e vinha duas vezes por semana para consultar a ela, sua mãe e seu irmão. Havia sido indicado pela Godaime a Naruto que se viu obrigado a prestar assistência psicológica aos filhos depois do que aconteceu á Hinata com medo de que também entrassem em depressão.

Ele pagava um alto honorário para que eles tivessem o melhor tratamento possível. Quando soube que Yukie apresentava um alto risco de desenvolver uma séria doença psiquiátrica quase entrou em desespero e foi necessário muito esforço para impedir que ele fosse atrás dela.

Sabia que a filha ainda nutria uma profunda mágoa dele e foi aconselhado pelos amigos a não demonstrar que estava a par dos diagnósticos das suas consultas, sob risco de prejudicar o tratamento que anda a passos curtos.

Ela acreditava que quem estava bancando as consultas era o avô materno.

Suijiro inclinou o corpo para frente, apoiando os cotovelos sobre a mesa de modo que pudesse repousar a cabeça sobre as mãos, deixando a pequena ainda mais intimidada.

_ Diga Yukie, como vão as coisas na sua casa?

Ela remexeu um pouco na cadeira, refletindo sobre os últimos acontecimentos.

O irmão estava conseguindo se tornar mais independente com as consultas e já não a seguia com tanta freqüência o que ela pode constatar com alívio, já não suportava mais ter que segurar a barra pesada pelos dois e queria que ele fosse mais dependente. Tornava-se medroso apenas na presença do pai, que fazia questão de assombrá-lo em suas visitas semanais.

 A mãe aos poucos estava se reerguendo e vez ou outra era possível captar um sorriso, mesmo que fraco e quase imperceptível surgir entre seus lábios ainda pálidos pela recuperação hospitalar.

Todos estavam se recuperando com o tempo. Somente ela não estava tendo nenhuma melhora e ainda sentia as emoções pulsarem fortes como se quisessem derrubá-la com a sua violência. Engoliu em seco as preocupações e tentou ser o mais natural possível em sua resposta para não levantar suspeitas de que algo a incomodava. O orgulho que havia herdado dos Hyuugas a fazia pensar que se entregar aos problemas era sinal de fraqueza e não queria ser considerada uma fraca inútil, mesmo que essa idéia as vezes lhe parecessem obsoleta.

_ Estão bem melhores doutor Suijiro. Obrigada por se preocupar. - deu um breve sorriso educado.

Ele soube pela postura dela que ela estava omitindo parte da verdade, e que algo a incomodava profundamente.

Estava vestindo uma máscara e queria desvendá-la.

Rememorou a primeira consulta e soube instintivamente devido a sua experiência, onde deveria atiçar para conseguir a resposta desejada.

_E você? Como está se sentindo?

Pega de surpresa pela mais simples pergunta possível ela sentiu o corpo travar. Não sabia ao certo o que responder e a língua pareceu enrolar no céu da boca. Por um instante teve e impressão de ter visto um sorriso satírico surgir na boca do médico.

Respirou fundo, precisava se controlar e agir de maneira normal para não levantar suspeitas do seu nervosismo crescente.

 _ Eu estou ótima. Na verdade me sinto melhor do que nunca!- disse com o maior sorriso do mundo sentindo o suor querer descer-lhe pelo lado esquerdo da face. Ao perceber o olhar do homem focar ainda mais na sua imagem percebeu que deveria ter sido mais natural.

Ele descruzou as mãos e se deixando cair na cadeira voltando a encará-la ameaçadoramente.

_ Yukie não precisa mentir, você está em um consultório conversando com um psicólogo, se está nesse recinto é lógico que não está bem. – disse calmamente.

_ Me-mentir! Não doutor Suijiro, acho que o senhor me interpretou mal.

Ele retirou os óculos e começou a limpá-los sem desviar o olhar.

_ Creio que não. Você pode dizer o quanto quiser que talvez eu esteja equivocado, mas nós dois sabemos que essa não é a verdade. – percebeu satisfeito que havia conseguido atingi-la ao ver sua expressão mudar para espanto como se houvesse sido descoberta. - Diga Yukie do que tem medo?

Ela não soube responder aqueles grandes olhos inquisidores e sentiu vontade de correr antes que fosse obrigada a revelar o que sentia. Os movimentos e gestos dele pareciam pressioná-la contra a parede.

_ Tem medo de mim? De que eu descubra quais são seus anseios?- ele completou ao perceber o silêncio em que ela havia caído.

Ela congelou.

Como ele podia saber de algo assim? Sentiu que ele havia invadido a sua alma em busca de respostas no momento em que se deixou recostar na cadeira, com aqueles malditos olhos castanhos.

_ Não é isso. – nem ela pode acreditar nas palavras trêmulas.

_ Então o que seria?

A pressão estava fazendo-a sentir uma ligeira pontada de nervosismo no estômago.

_ Eu não sei explicar direito. Para ser sincera eu não sei mais o que devo temer.

Um pequeno desabafo. Esse era o inicio de uma conversa que poderia ser prospera.

Era hora de partir para uma parte mais enfática do tratamento.

_ Quer desabafar um pouco? Prometo que o que for dito aqui não vai sair dessas paredes. – insistiu.

Yukie estava titubeante, não sabia se deveria aceitar o pedido do médico, mas também não tinha certeza se iria suportar a pressão que estava fazendo a sua mente trabalhar a mil por hora por muito tempo, sentindo que a qualquer instante iria acabar surtando.

Precisava de uma válvula de escape e a proposta dele parecia tentadora demais.

Antes que pudesse perceber o que estava fazendo se ouviu perguntar.

_ O senhor promete que não vai contar para ninguém?- estava meio encabulada.

_ O que for dito aqui, morre aqui.

_ Jura que não vai contar para ninguém mesmo? Nem para a minha mãe? Ou o meu tio Neji, ou o Iruka sensei ou Tsunade sama, ou....- ela pareceu engasgar com a última palavra.

_Seu pai?- ele completou vendo-a balançar levemente a cabeça e, confirmação. - Pode confiar, eles não vão saber das nossas conversas, apenas do diagnóstico.

De repente ela se sentiu mais a vontade com aqueles olhos castanhos que já não pareciam mais tão ameaçadores. Precisava conversar com alguém que não fosse a si mesma.

_ Porque não se deita aqui? Garanto que vai se sentir mais confortável para falar, esse objeto parece conter uma magia estranha capaz de fazer até as pessoas mais nervosas relaxarem, até eu o experimento de vez em quando. – disse gentil apontando o divã. Estava conseguindo aos poucos quebrar a rigidez dela e precisa arriscar um pouco.

_ Não precisa tentar me ludibriar com essas superstições doutor Suijiro, eu sei que essa história de magia não passa de um faz de conta. – parecia até Neji falando.

A forma culta com a qual aquela pequena garota de sete anos falava as vezes fazia o renomado doutro Suijiro se assustar. Já havia trabalhado com crianças especiais e ditas superdotadas antes, mas ela era um absurdo e por vezes o surpreendia. Mas essa inteligência nata também o preocupava pela complexidade que a mente dela poderia demonstrar.

_ Eu sei que é uma menina extremamente inteligente Yukie, e peço que não se sinta ofendida com o meu comentário, apenas disse o que acredito. Mas venha; experimente e diga se comprova ou não a minha teoria.

Yukie olhou o objeto com certo receio antes de se deitar.

Não parecia ser diferente de outro móvel qualquer, porém mais macio e confortável, mas à medida que a conversa transcorria se sentia mais solta como se as preocupações de desprendessem sozinhas.

Como se tivessem vida própria.

_ Diga minha querida como sente?- perguntou carinhosamente.

_ Não sei explicar o porquê, mas me sinto mais tranqüila.

_ Jamais duvide de algo antes de provar. - disse com um pequeno sorriso acolhedor. - Agora gostaria de dividir as dores que machucam o seu coração comigo?

Yukie franziu o cenho enquanto encarava os diplomas dele pendurados na parede, sem estar confiante de que ele estaria disposto a ouvir suas lamúrias e reclamações

_ O senhor tem certeza de que vai querer ouvir? Os meus problemas são tão enfadantes, que não sei se vai agüentar ouvi-los.

“Enfadantes”, que criança de sete anos tem um linguajar tão culto? Realmente Yukie você é uma caixinha de surpresas. – pensou sem perder a concentração em seu intento.

_O meu trabalho é ouvir Yukie pode ter certeza de que eu não vou me cansar. Estou aqui para ajudá-la a enfrentar esses problemas.

Yukie se sentiu meio constrangida por tê-lo julgado errado nas consultas anteriores. Não era tão mal quanto imaginava e sentia que podia desabafar com ele.

_ É tanta coisa que eu nem sei por onde começar?- falou meio perdida passando a mão pelos lisos cabelos azulados.

_ Comece por aquilo que a deixa cansada, mas não se sinta pressionada a falar o que não quiser. - respondeu compreensivo levantando os óculos que estavam escorregando pelo nariz.

Ela suspirou um pouco revirando os olhos como se estivesse pensando antes de falar. Aquele objeto realmente a fazia se sentir mais a vontade, como se fosse um bálsamo reconfortante.

_ As vezes eu sinto como se fosse ficar louca, digo, eu tenho apenas sete anos, e as outras crianças da minha idade não tem que passar pelas mesmas coisas que eu. Quando eu as vejo brincando me pergunto se deveria estar tão despreocupada quanto elas. Sinto como se a minha infância estivesse sendo roubada, e um dos principais suspeitos fosse eu mesma.

Doutor Suijiro que estava pronto para pegar o seu bloco de anotações parou subitamente ao ouvir o relato dela, sem poder crer que ela havia praticamente se auto diagnosticado. Ela parecia brincar com as palavras transformando os sentimentos em uma espécie de poema rústico.

Mas não era o suficiente.

Tudo parecia estar sendo fácil demais, e ele sabia que existiam muito mais preocupações naquela pequena alma escondida do que ela queria revelar. Uma parte que poderia por em risco a sua sanidade mental.

Pigarreou passando a mão pelos cabelos em um pequeno sinal de desconforto antes de prosseguir com a consulta.

_ E porque acredita nisso Yukie? O que te faz pensar dessa maneira?

_ Eu não sei. – respondeu estafada. – São tantas coisas para resolver e cuidar ao mesmo tempo. Eu tenho que cuidar e dar suporte emocional ao meu irmão e mãe, não posso deixar minhas notas caírem na escola, tenho que manter a minha posição no clã através de treinos árduos por não possuir o Byakugan, e aturar o asno do meu pai, que vai todo final de semana nos azucrinar em casa.

_ Realmente é muita coisa para apenas uma criança.

_ Por vezes eu esqueço que sou uma. – disse triste. – Há tempos eu não sei o que é me divertir, sinto como se a minha vida estivesse perdendo a cor e se tornando mais cinza a cada dia que passa.

_ Yukie. Você já parou para pensar que talvez seja hora de você e seu pai se reconciliarem? Talvez esteja na hora de deixar a vida seguir seu fluxo natural novamente sem interferir.

Ele teve a impressão de que se pudesse ela o estaria fuzilando com o olhar carregado de ódio que lhe lançou.

_ Jamais eu vou perdoá-lo! Nem que venha se arrastando na lama implorando por piedade, eu nunca mais vou ser capaz de olhá-lo novamente com amor.

Suijiro se apossou rapidamente do seu bloco de notas e anotou a frase “Profundo ódio intenso e irracional pela figura paterna” seguido por “Complexo de maturidade forçada”.

Retirou os óculos e os limpou novamente.

A verdade é que não havia qualquer traço de sujeira na lente Ele estava tentando fugir do olhar mortal que a menina lhe lançava com aqueles enfadados olhos azul céu.

_ Creio que não gosta do seu pai?- perguntou já adivinhando o óbvio.

_ Claro!O que ele fez não tem perdão. - trincou os dentes.

_ E o que exatamente ele fez de tão errado? Foi o fato de ter se divorciado da sua mãe e ter formado uma família com outra mulher?

Yukie cruzou os braços estafada tentando se controlar. Não podia deixar que o episódio da briga entre ele e o pai vazasse, seria muito perigoso para a mãe que estava se recuperando de uma tentativa de suicídio. Sentia cada músculo do seu corpo se enrijecer com violência ao lembrar-se do pai.

_ Eu não quero falar sobre isso se não se importa. - pediu com as sobrancelhas franzidas.

Ele sabia que pelas ações corporais dela que estava chegando ao centro da ferida. Mas não podia ser muito exigente, pelo menos não naquele inicio do tratamento. Caso insistisse poderia acabar pondo em risco o tratamento.

 Yukie pedia mentalmente que ele não perguntasse mais nada a cerca da sua relação com o pai, apesar de saber que mais cedo ou mais tarde ela teria que se confrontar com essa realidade. Estava indisposta com as lembranças e pedia mentalmente para que os minutos passassem com mais velocidade quando viu o médico guardar o bloco de anotações e propor carinhosamente.

_ Que tal nós terminarmos por hoje? Vejo que está cansada e que não está mais disposta a conversar comigo.

Ela sentiu o corpo relaxar e agradeceu com um leve aceno de cabeça. Realmente ele não era tão ruim quanto ela pensava. Talvez pudesse se abrir mais com ele na próxima consulta.

Talvez.

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Naruto terminou o trabalho com uma agilidade que lhe era estranha e largando o chapéu de Hokage sobre a mesa se apressou em sair do prédio. Era dia de buscar os filhos e queria comprar algo para eles antes, afinal às coisas andavam muito tensas entre eles e um agrado poderia ajudar a amenizar a situação tensa que se instalara na relação deles.

Em menos de vinte minutos estava caminhando em direção ao clã Hyuuga trazendo nos braços embrulhos imensos recheados de presentes caros. Dinheiro não era problema para ele.

Mas também não era a solução de todos eles.

Sabia que reconquistar os filhos e a confiança de Hinata e da família Hyuuga iria despender muito mais do que o financeiro.

Sentiu os passos, antes leves de euforia, pesarem à medida que aproximava da antiga casa, como se o coração  implorasse para que desse meia volta antes de lançá-lo em um mar de tristeza e arrependimento. A rotina não mudaria.

Ao chegar seria recepcionado por uma Hyuuga meio pálida e com um sorriso ainda vacilante.

Os filhos não correriam para os seus barcos ao ouvir seu chamado como antes.

Yukie iria fuzilá-lo com um intenso olhar de ódio e Daito se esconderia atrás dela como se ele fosse um monstro.

Mas era o que havia se tornado.

Parou súbito sentindo os olhos arderem ao corresponder a dor que se passava no âmago do seu coração. Havia sido irresponsável e se tornara um monstro capaz de desiludir e machucar os próprios filhos.

Sim. Ele era o único culpado pelo seu infortúnio.

Mas não podia desistir. Precisava acertar as coisas entre eles, mesmo que para isso tivesse que se submeter aos tratamentos mais humilhantes como ser escorraçado pelos próprios filhos. Sabia que estaria tomando apenas uma dose do próprio remédio afinal ele também os fizera passar por situações semelhantes.

Precisava ser forte.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Estou pensando em algo muito malvado para vin gar os filhotes do Naruto e queria saber se algum de vocês que seja um fascinado por revanches quer ajudar a incrementar.
Abraços!!!

YueChan.