Mariana e Bruna já tinham chegado ao Acampamento Meio-Sangue muito antes de Amanda e Nina. Enquanto a filha de Hermes e a filha de Zeus estavam ocupadas em New York, a caçadora e a filha de Ares chegaram praticamente juntas á Long Island.

- Mariana? – Perguntou Bruna – Como chegou aqui?

- Meu pai meu deixou aqui perto á uns minutos atrás. Teve sorte na busca, Bruna? – Perguntou ela.

- Não. Não achamos ninguém. – Comentou Bruna – Mas Ártemis disse para eu voltar para cá, e esperar. Ela me deixou aqui e foi para o Olimpo, eu acho.

- Meu pai disse a mesma coisa. Mas... Ele contou que a missão acabou. – Disse Mariana confusa. Estava escuro. Parecia mais ou menos umas 11 da noite. O céu do Acampamento estava cheio de estrelas. Eram tantas que não era possível ver nem metade delas nos centros urbanos.

- Vamos entrar antes que algum monstro apareça. Se eles nos mandaram esperar, então estão certos. – Disse Bruna entrando no Acampamento. Assim que elas cruzaram a barreira, foram direto para a formação em U. Mariana tinha passado muito tempo andando de um lado para o outro, e Bruna também. As duas queriam ir direto para os seus chalés, mas antes de chegarem lá viram os outros.

- Olha ali! É o Vinícius e a Rita. – Falou Mariana apontando. Bruna os viu, mas pode notar que eles não olhavam felizes para ela.

- Oi gente! – Disse Bruna feliz, mas os dois olharam somente para Mariana.

- Oi, Mariana. – Disse Rita – Como vai você?

- Rita... Por que você falou comigo? – Perguntou Bruna magoada.

- Acho que você deve preferir falar com suas amigas caçadoras, já que nos abandonou por elas. – Disse Rita irritada.

- Eu não...! – Bruna tentou explicar, mas Vinícius a interrompeu.

- Traidora! – Exclamou ele.

- O que?! Você deixou eles dois para ficar com as caçadoras? – Perguntou Mariana chocada – Você é uma traidora mesmo!

- Eu não deixei eles! Eles é que foram embora! – Exclamou Bruna.

- Mentira! Nós falamos que íamos embora, mas como um grupo! Só que você resolveu que ia ficar com aquelas caçadoras filhas da mãe, e nos deixou. – Disse Vinícius.

- Verdade! Não se faz de inocente, não! – Exclamou Rita.

- Que vergonha, hein?! – Disse Mariana estreitando os olhos para Bruna e negando com a cabeça – Traidora.

- E você também não pode falar muito não! – Disse Natália chegando perto deles com Bia – Você nos deixou sozinhas também! Preferiu dar razão ao seu pai, e ir embora sem nós!

- O que? – Perguntou Bruna sem entender – Você deixou elas? E... O que o seu pai fez?

- Ares fez o grupo da Nina todo virar traidor! – Respondeu Bia irritada – Agora já era! Eles vão para o exílio. E Mariana acha isso certo!

- Tsc! Quem liga? Eles vão para o exílio, e daí? É o grupo inimigo. – Disse ela sem ligar. Bia ainda estava chocada com aquilo.

- Mariana! Você tem noção de como isso é sério?! Eles podem morrer. Nós nunca mais veremos eles! Nunca. – Disse Bia. Mariana parou e olhou para ela por alguns minutos, até que por fim franziu o cenho.

- O que? – Perguntou ela.

- Porra! Eles não vão voltar! – Exclamou Natália – Difícil entender?!

Mariana parou alguns minutos para pensar, refletir sobre aquilo, e tentar entender a gravidade da situação. Era verdade... Eles não iam voltar nunca mais, se fossem os traidores.

- Ah... Meu... Deus. Eles não vão voltar. – Murmurou ela entendendo finalmente – Mas... Mas, Bia! Eu quero que eles voltem!

- Então é melhor torcer muito para que isso aconteça, porque eles tem boas chances de nunca mais voltarem! – Exclamou Bia – Devia ter se tocado disso antes, droga!

- Mas eles vão morrer! – Exclamou Mariana com uma voz chorosa. Ela se agarrou ao braço de Bia e começou a puxá-lo para baixo como sempre fazia com seu jeito manhoso – Eu quero eles de volta!

- Ué, não estava apoiando o seu papai boladão? Nisso que deu o plano dele! – Exclamou Natália.

- Eu não sabia! – Reclamou Mariana – Como eu ia adivinhar que eles nunca mais iam voltar?!

- Qualquer idiota podia notar isso! – Exclamou Bia com raiva. Mas Mariana não ficou ofendida. Ela começou a abraçar Bia cada vez mais forte e sentir vontade de chorar.

- Não! Eu quero eles de volta, Bia! Tráz eles de volta! – Exclamou ela. Bia revirou os olhos imaginando como Mariana podia ser tão bipolar de vez enquando, porém decidiu que aquilo devia ficar para outra hora.

- Mariana... Esquece isso. Nós vamos dar um jeito. Só precisamos primeiro descansar um pouco. – Disse Bia tentando livrar-se dos braços dela. Mariana soltou Bia ainda se sentindo mal pelos amigos. Um pouco tarde para isso, pensou Bia, mas não disse nada.

- Vamos para os chalés. Já deve ser quase meia noite. – Disse Natália revirando os olhos. Bia assentiu, e Rita e Vinícius também.

Bruna tentou falar com Rita mais uma vez, mas ela a ignorou e foi para o chalé 10. Todos fizeram a mesma coisa, e em minutos não tinha mais ninguém no centro da formação de U dos chalés.

Já era manhã quando Nina e Amanda pararam na entrada do Acampamento Meio-Sangue. Elas ficaram uns minutos só olhando a entrada, o enorme arco grego com escrituras na língua antiga da Grécia.

- Quando entrarmos... Se nós acharmos eles... Temos que contar o que aconteceu. – Disse Nina com um tom tenso.

- Não sei como eles vão ficar. – Comentou Amanda – Depois de saberem o que aconteceu.

- Tsc. Talvez nem liguem. – Disse Nina dando de ombros com raiva. Parada ali na porta do Acampamento, ela pode se lembrar perfeitamente do jeito que saiu de lá. Mariana e seu jeito superior irritante. Provavelmente não iria nem ligar se eles estavam sendo mantidos reféns no Mundo Inferior.

- Dúvido. Eles não levaram essa competição tão á sério. – Discordou Amanda olhando para a filha de Zeus – Não posso acreditar que eles não se importariam com o que aconteceu com o Rhamon e o resto.

- Vamos ver então. – Suspirou Nina pesadamente. As duas passaram pela barreira e caminharam em direção á Casa Grande. Quíron estava jogando cartas com Dionísio, que ao ver as duas chegarem, não se deu nem mesmo o trabalho de se levantar para cumprimentá-las.

- Ora ora... Então, conseguiu sobreviver á carona de Ares, Naomi? – Perguntou Dionísio olhando para suas cartas sem ligar para ela.

- É Nina. – Corrigiu ela mesmo sabendo que ele não dava a mínima – E... Pois é. É por isso que estamos aqui.

- E você, Alana? – Perguntou ele.

- É Alicia, senhor. – Corrigiu Amanda com um sorriso torto.

- Tanto faz, Amanda. – Disse Dionísio sem ligar.

- Há! Peguei você! Acabou dizendo o meu nome certo! – Exclamou ela triunfante. Dionísio levantou os olhos para ela um pouco irritado, mas logo voltou a atenção para um lance do jogo.

Só que Quíron conseguiu ganhar dele. O Sr. D levantou-se resmungando e olhou novamente para as duas heroinas.

- Chamem os seus amiguinhos e contem tudo sobre aquele negócio dos reféns e blá blá blá. – Disse ele fazendo aparecer mais uma lata de Diet Coke e bebendo. Amanda e Nina olharam uma para a outra, receiosas por terem que chamar seus amigos.

Eles não se falavam desde a cisão, e não sabiam se ainda poderiam conversar normalmente sem que tivesse um clima pesado os cercando.

- Eles se preocupam. – Disse Quíron como se lesse a mente delas. Em sua forma humana, ele rolou sua cadeira de rodas até elas – Fiquem sabendo que os outros estão mais preocupados com vocês do que podem imaginar.

- Não acredito nisso. – Disse Nina insegura – Eles não tinham nos chamado de inúteis, e traidores? Mudaram de ideia assim tão rápido?

- Vocês preferem ser os 12 menos 4 da profecia, ou querem se unir novamente? – Perguntou Quíron. Amanda queria responder que preferia se unir, mas Nina negou com a cabeça – Sei que filhos de Zeus são orgulhosos, mas se não aprender com seus erros, nunca poderão ficar juntos novamente.

- Elas nos devem desculpas. E eu não me junto com ninguém até não ouvi-las. – Disse Nina cruzando os braços.

- Para que vocês se entendam... Os dois lados tem que ceder. Vai dizer que você não se arrepende da nada que você fez? – Perguntou Quíron.

Nina parou para pensar um momento.

- Uhm... Não. Sinto muito. – Respondeu ela dando de ombros. Quíron assentiu calmamente, e depois olhou para Amanda.

- Acho melhor você dar a notícia. – Disse ele.

- Eu?! Por que eu?! Olha, se for por esse negócio de mensageira porque sou filha de Hermes, eu não vou...! – Ela foi interrompida.

- É só um favor. As coisas terão mais chances de dar certo assim. – Pediu ele. Amanda olhou para Nina e entendeu. Se deixasse com ela para fazer isso, provavelmente sairia outra cisão. A filha de Hermes assentiu confirmando, e Quíron olhou por cima de seu ombro – Eles estão vindo para cá.

Amanda e Nina se viraram e notaram que os seis estavam andando na direção delas, a enorme varanda da Casa Grande.

- Nina! Amanda! – Exclamou Natália feliz – Vocês estão bem!

- Sim. – Sorriu Amanda com certa hesitação. Elas duas estavam, mas não podia dizer o mesmo para seus amigos.

- Que bom. Nós pensamos que vocês iam ficar no exílio ou coisa parecida. – Comentou Bia em alívio, mas então franziu o cenho – Espera. Cadê o resto? Eles estão por aí, ou ainda não voltaram?

Amanda ficou muda por um segundo.

- É. Ainda não voltaram. – Concordou ela hesitante.

Quíron apontou para a mesa de ping-pong quando os seis chegaram á varanda, e eles se sentaram. Bia já sabia que alguma coisa estranha estava acontecendo. Nina olhou para Mariana e depois cruzou os braços, mostrando claramente que não falaria nada até receber um bom pedido de desculpas.

- Vocês têm muito que conversar. – Disse Quíron – Vou estar logo ali na sala, se precisarem de ajuda. Vou deixá-los... Á sós.

Ele entrou na sala, e fechou a porta. O vento soprou pela varanda. Estava ficando cada vez mais frio, de modo que o frio parecia cortá-los. Mas nada era pior do que o silêncio desconfortável que cercou a mesa de ping-pong.

- É... Nós temos que falar uma coisa. – Disse Amanda quebrando o silêncio. Mariana olhou para ela e franziu o cenho.

- O que que aconteceu? – Quis saber ela. Amanda abriu a boca para explicar, mas Nina a interrompeu.

- Você realmente se importa? – Perguntou ela lançando um olhar de raiva para Mariana. Na mente de Nina, era tudo culpa dela. Se ela tivesse feito alguma coisa quando Spencer queria matar ela e Amanda, nada dessa história de cisão teria acontecido.

- Não ferra, Nina! Quero saber o que aconteceu. – Reclamou Mariana.

- Não ferra você, Mariana! Se aconteceu alguma coisa, a culpa é sua. – Rebateu Nina. Mariana trincou os dentes.

- Vai á...! – Bia deu uma cotovelada nela, e Amanda fez o mesmo em Nina.

- Chega, tá? Você não ouviu o que ele disse para a gente? – Perguntou Amanda para Nina – Se você continuar brigando com ela, a culpa da cisão vai ser sua!

Nina estava morrendo de raiva, mas preferiu ficar quieta. Amanda olhou para Bia, Rita, Bruna e Vinícius.

- Nós tivemos problemas no Mundo Inferior. Os meio-sangues estavam lá, mas eles eram os traidores. Acabaram... Puxando Rhamon, Flávia, Mateus e Rodrigo para o fundo de um abismo, e agora eles são reféns de Cronos. – Disse Amanda triste – Tipo... Prisioneiros de guerra.

- O que?! – Exclamou Rita. Ao ouvir o nome de Mateus, seu coração se apertou.

- Eles estão no Mundo Inferior ainda. Não conseguimos salvá-los a tempo. – Continuou ela – Mas os traidores cairam no Tártaro. Nós fomos para o Olimpo e contamos isso para os Deuses. Eles falaram que temos que montar um grupo e tentar tirá-los de lá.

Todos ficaram em silêncio. Nina e Amanda puderam ver a cara de choque de cada um deles. Até mesmo Vinícius estava surpreso.

- Quando nós podemos ir? – Perguntou Rita – Nós não podemos demorar para salvar-los, senão...!

- Calma. Primeiro... – Amanda olhou para Nina – Nós... Queríamos pedir desculpas. Por... Ter causado a cisão.

Nina olhou para ela incrédula.

­- Claro que não! Nós não fizemos nada de errado! Por que está pedindo desculpas?! – Pensava Nina sem entender. Amanda olhou para ela, e Nina presenciou mais um poder da filha de Hermes. Telepatia.

- Se não pedirmos desculpas, ninguém vai pedir. Acha que vamos conseguir savá-los sozinhas? – Amanda mandou a mensagem para o cérebro de Nina e a filha de Zeus piscou os olhos incrédula.

- Nós queremos pedir desculpas também. – Disse Bia – Não é mesmo, Mariana?

A filha de Ares não respondeu. Ela simplesmente se levantou e foi para perto de Nina. A filha de Zeus se pos de pé pronta para se defender em uma possível briga, mas ao invés disso...

- Me desculpa, Nina! – Exclamou Mariana abraçando a sua cintura – Eu não queria que você fosse para o exílio. Você é muito chata e irritante, mas eu não quero que você morra!

- Ok, Mariana... Está tudo bem. Eu não vou morrer se você me soltar. – Disse Nina tentando livrar-se do abraço. Mariana a soltou, e Bia sorriu um pouco triste.

- Nós vamos conseguir pegá-los de volta. – Confirmou a filha de Atena.

- Espera... Mas se nós formos salvá-los... Isso vai ser uma missão. E se for uma missão... Nós temos que falar com o... – Antes que Vinícius falasse “Oráculo”, Bia tampou sua boca com a mão rapidamente.

- Sh! Nem mesmo fale o nome dela! – Exclamou Bia – Se formos falar com ela e soubermos a profecia, quem sabe o que de ruim pode acontecer?!

- Mas... Não tem como adivinhar. – Disse Rita – Se não falarmos com aquela garota, como vamos saber o que fazer, ou os perigos que vão acontecer?

- Não adianta. Mesmo que nós soubessemos isso, nós não teríamos como evitar o que ia acontecer. – Disse Bia negando com a cabeça. Amanda colocou a mão na mochila para poder deixar Felix lá dentro, mas assim que sua mão tocou o fundo da mochila, ela viu um papel que não estava lá antes.

Amanda o tirou de lá, e franziu o cenho para ele.

- Olha isso... Nina. É um... Bilhete da Flávia. – Disse ela olhando o papel. Nina aproximou-se e Mariana franziu o cenho para elas também.

- Deve ser importante. – Disse a filha de Ares – Lembra que você também mandou um bilhete para nós quando pensamos que você tinha morrido no trilho do trem? Flávia deve ter escrito alguma coisa.

- Mandis. Os números são 12, 6, e 3. Estou com um mal pressentimento. Esses números levam á alguma coisa ruim. Beijinhos Flivis. – Leu ela. Amanda riu de nervoso – Não é engraçado quando alguém te dá um bilhete macabro e depois termina com “Beijinhos”?

Bia pegou o papel das mãos de Amanda, e todos puderam ver que o cérebro da filha de Atena estava trabalhando a mil por hora. Bia rabiscou no ar com seu dedo, fazendo calculos matemáticos, provavelmente. Demorou um pouco, mas quando terminou...

- Dois. – Disse ela. Mariana perguntou “o que” e Bia explicou – Se tomarmos isso como uma progressão aritmética, nós vemos que a razão é 2. 2 é o próximo número da profecia. Alguma coisa ruim vai acontecer á duas pessoas.

Todos ficaram de bocas abertas. Nina comentou que aquilo era melhor que perguntar para o oráculo tenso, e quase todos concordaram.  

- Sabemos então que duas pessoas vão se ferrar legal. Mas... Vamos mesmo assim? – Perguntou Vinícius.

- Por mim, tudo bem. – Disse Amanda dando de ombros – Eu me ferro todo dia. Se pudesse escolher, preferiria me ferrar salvando alguém.

- Eu também. – Confirmou Nina. Todos assentiram concordando, até Vinícius. Mas ele teve que ser obrigado por Rita com algumas cotoveladas.

- Mas como vamos achar o caminho até lá? – Perguntou Bia olhando para Nina e Amanda, mas foi outra pessoa que responder.

- Eu ajudo vocês. Vim aqui só para isso mesmo. – Todos se viraram e viram quem era. Um garoto de cabelo claro, pele branca, e um sorriso torto no rosto. Estava com uma mochila nas costas, e parecia que tinha viajado de muito longe.

- Marcos. – Disse Amanda, e todos franziram o cenho sem enteder.