- Uhm... – Gemeu Rodrigo quando a caixa que estava sendo usada para apoiar sua cabeça enquanto dormia escorregou para o lado, fazendo-o bater de cara no chão.

Ele abriu os olhos devagar e viu que o lugar estava escuro. Onde ele estava mesmo? Ah sim. No caminhão do zoológico.

Um hamster começou a bater suas pequenas patinhas contra seu nariz, arranhando-o, e ele reconheceu.

- Nina? – Perguntou ele lembrando-se que ela tinha virado um hamster – Sua filha da mãe.

O hamster fugiu de perto dele no exato momento em que Rodrigo ia bater nele, e o filho de Hades xingou mais um pouco. Ele olhou para frente e forçou a dormindo usando sua mochila como travesseiro, enquanto Felix, a cobra usava seu braço como apoio.

- Ei, Amanda. Acorda. – Disse ele mexendo o braço dela com cuidado para que a cobra não o picasse - Vamos... Acorda!

- Uhmmmmm... – Fez ela sem abrir os olhos – Não...

- Não, nada! Levanta logo! Esqueceu da missão? – Falou ele.

A filha de Hermes ficou sentada com dificuldade. Seus olhos ainda estavam semicerrados e seu cabelo completamente bagunçado.

- Nós temos que saber para onde esse caminhão vai. – Disse ele.

- Ahm? Que caminhão? – Perguntou Amanda afetada por causa do sono.

- Esse caminhão. O que nós estamos agora. – Disse ele sem entender.

- Nós estamos em um caminhão, é? Que legal... – Disse ela sorrindo debilmente – E para onde ele vai?

- É isso que eu estou querendo saber! – Exclamou ele – Porra! Acorda direito!

O pequeno hamster chamado Nina sabia que Amanda estava daquele jeito, pois o cérebro dela não funcionava logo depois de acordar. Levaria alguns minutos até que Amanda voltasse a raciocinar direito, mas não tinha como ela falar aquilo para Rodrigo.

- Eu estou acordada... – Bocejou ela, e depois olhou para seu braço – Olha... Uma cobra. Bom dia!

Felix deslizou pelo seu braço.

- Bom dia, filha de Hermes. Posso comer aquele hamster ali? – Perguntou a voz sibilante na mente de Amanda.

- Uhm... Acho que sim. – Disse ela encolhendo os ombros sem saber.

- O que?! É a Nina! Ficou louca?! – Berrou Rodrigo.

Nina começou a correr em círculos com medo de ser comida por uma cobra, aí Amanda se tocou o que tinha dito.

- Ah, não... É a Nina. – Disse Amanda voltando a pensar novamente – Você não pode comer ela, lembra? Pare de perguntar isso.

- Pensei que a resposta pudesse mudar. Não custava nada tentar. – Disse Felix.

- Espera... – Amanda franziu o cenho para a parede do caminhão, e Rodrigo olhou para ela – Estamos indo para Chicago. Acho que... Estamos entrando em Chicago nesse momento.

- Então vamos descer. Já saímos de Madison, e isso já é ótimo, mas não vamos achar ninguém se continuarmos dentro desse caminhão. – Disse Rodrigo.

- Ok. Vamos... Nos transportar para fora? Você sabe fazer isso não é? – Falou Amanda se levantando com cuidado.

- Teisk. – Chamou Rodrigo, e o cão infernal apareceu das sombras depois de alguns segundos – Ele pode me levar para fora.

Foi o que fizeram. Amanda colocou Nina no bolso, e Rodrigo foi para perto do Teisk. Quando estavam prestes a se transportar, Amanda parou.

- O que foi? – Perguntou Rodrigo.

- É... O Felix. – Disse Amanda olhando para a cobra – Ele quer vir com a gente.

- O que?! Mas esse bicho tem que ir para o zoológico! – Disse Rodrigo – Não quero andar por aí com esse troço.

- Não falei com você, idiota! – Disse Felix, mesmo sabendo que Rodrigo não podia ouvir, mas depois olhou para Amanda – Me leve com vocês, por favor. Não tem idéia de como é chato ficar em um zoológico. Você fica trancado sem nenhuma diversão, e é obrigado a aturar criançinhas maldosas gritando e apontando para você. Por favor...

Amanda ficou com pena de deixá-lo para trás, por isso abriu a mochila e acomodou a cobra lá dentro.

- Você vem, mas tem que ficar quieto, certo? Obedeça ao que eu dizer. – Disse Amanda, e Felix assentiu.

- Tá brincando! Você vai mesmo levar isso?! – Reclamou Rodrigo.

- Reclama mais, e eu coloco ele nas suas calças! – Ameaçou Amanda, e o filho de Hades arregalou os olhos para ela.

- Não! Eca... Por favor! – Disse a cobra.

- Era só para assustar ele. – Riu Amanda.

- Ufa. Ainda bem... – Disse Felix.

Teisk levou os dois para fora do caminhão, e assim que pararam na calçada da rua, olharam em volta. Estavam no meio de Chicago.

Alguns prédios cinzas, umas lojas abertas, pessoas normais passando na rua... Tudo bem tranqüilo. Eles começaram a andar pela calçada prestando bastante atenção aos rostos que viam. Qualquer adolescente ou criança poderia ser um dos meio-sangues perdidos.

- Espero que não demore muito para achá-los. – Disse Amanda.

- Se um Deus nos ajudasse, seria mais fácil. Mas não... Tem que nos deixar de lado. – Comentou Rodrigo – Por que o meu pai não saí do inferno e vem nos ver?

- Ahm... Não acho que as pessoas normais iam gostar de ver o seu pai. – Comentou Amanda – Mas sabe... Nós ainda temos sorte. Imagina se fosse que nem a última missão.

- O que que tem a última missão? – Perguntou Rodrigo, mas então entendeu – Ah, não! Ficar com Hermes, não!

Amanda deu um soco nele.

- Não estava falando do meu pai, sua anta! – Reclamou ela – E ele não é tão ruim assim!

- É sim! Ele fica me sacaneando! – Reclamou Rodrigo – Nunca me deixa em paz, e ainda me persegue porque eu falei que o chalé dele era ferrado!

- Você mereceu. E eu estava falando do meu grupo antigo. Ser guiada por Ares não foi lá tão fácil. Se ele estivesse aqui... Estaríamos fritos.

- Se ele estivesse aqui, eu duvido que deixasse você levar uma cobra. – Retrucou Rodrigo, mas logo notou que Amanda tinha razão – Deve ter sido horrível ir a uma missão com ele. Se ele estivesse aqui, provavelmente ia querer bater em mim. Ou em você. Ou nos dois.

- Se ele estivesse aqui, eu faria o celular dele tocar “Sinlge Ladies”. – Riu Amanda, mas então engoliu a risada quando sentiu uma mão sobre seu ombro. Rodrigo sentiu o mesmo. Os dois se viraram, e quase morreram ao verem quem era.

- Ah, você ia, é? Cabeça de vento! – Rosnou Ares com raiva.

Amanda arregalou os olhos para ele, e abriu um sorriso desajeitado e sem graça. Rodrigo engoliu em seco, e fingiu não existir.

- Ares! Titio Ares... – Amanda sorriu inocente – Por que você sempre tem que ouvir as piores partes da conversa? Bem... O que faz aqui nessa bela manhã?

- Não tenta me enrolar, pirralha. Sei muito bem que vocês dois inúteis estavam falando mal de mim. – Rosnou Ares – Mas eu não ligo. Desde que saibam quem manda aqui... Um pouco de rebeldia não faz mal.

- Claro. Então eu posso te chamar de nomes não muito bonitos? – Perguntou Rodrigo com um sorriso.

- Como é que é? – Perguntou Ares parando na frente deles. Quase dois metros de músculos super-desenvolvidos encaravam os dois. Rodrigo engoliu em seco – Fiquem sabendo, que eu só não chuto o traseiro dos dois nesse exato momento, porque existe a droga da regra da intervenção direta. Senão... Estariam fritos.

Houve um silêncio. De repente... Amanda começou e rir. A filha de Hermes tentava se controlar, mas não conseguia. Ares arqueou uma sobrancelha para ela com raiva.

- O que é tão engraçado, cabeça de vento? Eu já não te disse para não rir?! – Berrou ele. Amanda assentiu com a cabeça e tampou a boca.

- Amanda... Que porra é essa?! – Perguntou Rodrigo sem entender.

- É... A Nina... – Respondeu Amanda entre risos, e tentativas de se controlar.

Ares não entendeu, mas Rodrigo sim. Nina estava como hamster, e Amanda tinha colocado ela no bolso de seu casaco. Provavelmente, ao ouvir a voz de Ares, Nina começou a se mexer freneticamente dentro do bolso, sendo que esse ficava logo na frente. Ou seja... Cosquinhas na barriga de Amanda estavam provocando o riso.

- Onde está a perdedora? A filha medrosa de Zeus? – Perguntou Ares olhando em volta – Ela morreu?

- Ainda não. – Disse Amanda lançando a indireta para o hamster.

- Que pena... – Resmungou Ares – Ia adorar arrancar o coro dela depois da discussão que ela teve com a Mariana.

- Há Há!  Amanda começou a rir muito de novo – Ahm... Eu... Há Há! Eu dou o recado... Senhor! Há Há!

- Qual é o seu problema?! – Rosnou Ares irritado – Pare de rir!

A voz dele fez o chão tremer. Amanda ficou com medo, por isso fechou os olhos e tentou se controlar. Não era fácil com a Nina se mexendo em seu bolso. Ares aproximou-se dela para poder provocar mais medo.

- Ahm... Você... – Amanda tentou parar de rir e mudar o assunto – Você ia fazer o que, antes de encontrar a gente?

- Não é da sua conta, retardada. – Disse ele empurrando Amanda e Rodrigo com força para o chão. Os dois caíram e se machucaram um pouco – Saiam da minha frente, antes que eu arrebente os dois.

- Bom dia para você também. –Disse Amanda.

- Ah, vai á...! – Rodrigo ia gritar com Ares, mas Amanda o chutou antes que terminasse a frase.

- Cala essa boca! – Reclamou Amanda. Rodrigo se levantou e ajudou a filha de Hermes. Quando os dois estavam de pé, puderam ver Ares continuar andando em direção á um bar cheio de motoqueiros selvagens – Será que ele é sempre assim?

- Acho que é. Sempre um grande filho da mãe. – Resmungou Rodrigo – Fico feliz toda vez que vejo Kratos furar o peito dele com uma espada.

- Sh! Fala isso baixo. – Alertou Amanda – Se ele nos ouvir, isso vai ser pior.

- Queria mais que ouvisse mesmo! – Reclamou Rodrigo, mas no fundo ele sabia que se Ares ouvisse e fosse tirar satisfação com ele, ele sairia correndo. Nesse ponto... Amanda teria mais chances de escapar. Merda. – Vamos continuar andando.

Amanda colocou a mão no bolso e tirou Nina de lá.

- Sua bitch. – Disse Amanda olhando o bichinho – Ares podia ter me esmagado como uma barata por sua causa!

- Você vai levar ela na mão? – Perguntou Rodrigo – Sabe mesmo como segurar um hamster?

- Sei sim. – Respondeu Amanda – O meu primo tinha um. Só que...

- Só que, o que? – Perugntou Rodrigo.

- Só que ele caiu no chão e morreu. – Contou Amanda. Nina, que estava tranqüila na mão de Amanda olhando a rua, parou de repente e olhou para a filha de Hermes – Ahm... Calma Nina. É só ficar paradinha e nada vai acontecer.

- Vamos jogar a Nina no chão? – Pediu Rodrigo sorrindo – Vamos?

- Não! – Amanda deu uma rasteira no filho de Hades e ele quase caiu – Não pense em fazer isso com a Nina.

- Sua chata... – Reclamou ele e continuou a andar – Você puxou isso do Hermes. Ele também é um grande idiota... – Rodrigo quase caiu por causa de outra rasteira da Amanda – Ei! Que merda! Para de me passar a perna! Se bem que... É coisa de filho de Hermes. Bando e trapaceiros...

Amanda deu outra rasteira nele, e sorriu triunfante ao vê-lo quase dar de cara no chão. Rodrigo caiu de joelhos, e se levantou. Só que pronto para dar o troco.

- Ah, é? Toma! – Rodrigo passou a perna em Amanda, e a filha de Hermes caiu no chão.

- Seu idiota! – Reclamou Amanda – Grosso! Por que você me derrubou?!

- Porque você ficou tentando me derrubar! – Reclamou ele – Bem feito!

- Você é muito...! – Amanda ia começar a xingar ele, mas notou algo – Ahm... Cadê a Nina?!

Eles olharam em volta no chão, mas não viram nada. Foi Rodrigo que olhou para a frente e viu onde o pequeno hamster estava.

Ares estava á uns metros de distância na frente do bar de motoqueiros, falando com alguns caras tensos como ele. No bolso da frente de sua jaqueta, Nina tinha caído e se debatia freneticamente tentando sair de lá.

Os olhos de Rodrigo se arregalaram. Ele fez um movimento de “pare” para Nina, e ela entendeu. Se chamasse a atenção de Ares, era possível que ele a jogasse no chão e pisasse encima.

- O que? O que foi? – Perguntou Amanda olhando para a direção que ele olhava.

- A Nina... Está no casaco de Ares. – Contou Rodrigo apontando para o lugar discretamente – Temos que... Arranjar um jeito de tirá-la de lá.

- No... Casaco dele?! – Exclamou Amanda – Ah, droga...

Ela deu um tapa em Rodrigo.

 - Ai! Porque fez isso?! – Perguntou ele.

- Porque é culpa sua! – Exclamou ela – Se não fosse idiota e me desse uma rasteira, a Nina estaria bem e nós poderíamos continuar tranquilamente. Mas não... Tinha que agir como um animal!

- Não me chama de animal! Foi você que ficou me dando rasteira o tempo todo! Aí quando eu me vingo, você reclama? – Exclamou ele.

- Sim! Você mereceu aquelas rasteiras! – Exclamou Amanda de volta – Eu não! E muito menos a Nina, que agora está ferrada por sua causa! É melhor pensar em alguma coisa, e pensar logo!

Rodrigo rangeu os dentes. Amanda estava sendo muito chata. Quem mandou ela estar segurando o maldito hamster, ou ainda ficar tentando derrubá-lo? Mas... Ela estava certa. O sucesso e a vida deles dependiam de pegar Nina de volta.

De preferência... Viva.

- Ok... Acho que tenho um plano. – Disse Rodrigo – Mas você vai ter que usar todos os seus dons de ladra, e eu toda a minha agilidade.

- Estou ouvindo. – Disse Amanda, e Rodrigo começou a contar.