Bruna passara pela frente de todos os 13 chalés principais. Ela queria ter ficado no chalé de Ártemis, mas como não estava com as caçadoras... Ela teria que ficar com os seus irmãos e irmãs do chalé de Íris.

Os chalés dos Deuses menores ficavam mais distantes. Foram construídos mais recentemente, logo depois da guerra contra Cronos.

Ela chegou na porta do chalé de Íris e olhou bem para ele.

Era um chalé completamente branco. Olhando de fora não tinha nada de tão especial. Mas Bruna sabia que do lado de fora ele era branco, pois branco é a junção de todas as cores do arco-íris.

Bruna abriu a porta.

- Alguém? – Chamou ela, mas não tinha ninguém.

Todos realmente estavam ajudando Percy Jackson, Annabeth e Clarisse. Deviam estar com problemas, é claro.

Ela sabia só parte da história, já que tinha passado o tempo, ocupada tomando conta dos 11 meio-sangues.

Sabia que Percy Jackson tinha saído em uma missão para o Mundo Inferior. Ele tinha ido com Clarisse e Annabeth há um tempo. Talvez uns meses...

Não sabia por que eles tinham demorado tanto tempo a voltar, e muito menos como os monstros conseguiram entrar no Acampamento Meio-Sangue, mas essas perguntas não podiam ter uma resposta agradável.

Somente um campista podia permitir que um monstro entrasse no Acampamento... Será que era por isso que ninguém queria contar á eles o que estava acontecendo? Achavam que um deles poderia ser um traidor, ou um espião?

Era completamente injusto pensar isso! Depois de todo esse tempo, dessa missão que eles tinham saído, eles ainda suspeitavam deles?

Bem... Uma coisa dessas não podia ser verdade.

Se todos suspeitavam deles, era melhor ter uma boa desculpa para isso, coisa que Bruna duvidava.

- A não ser... Ah! Que tenha uma nova profecia! – Exclamou ela para si mesma pensativa – Mas... Como teria uma nova profecia? O que está acontecendo no Mundo Inferior?

Bruna se sentiu um pouco jogada de lado.

Ela era uma das caçadoras de Ártemis, mas não estava com suas irmãs e nem podia ficar no chalé 8. Tinha 70 anos de idade, e extrema experiência com batalhas, mas ninguém ali quis contar para ela o que estava acontecendo.

Será que achavam que ela era uma traidora?

Isso era ridículo!

Só porque eles tinham uma suspeita, não tinham o direito de julgar ninguém daquele grupo. Chamar alguém de traidor não é algo simples. É bem sério, na verdade.

Um pensamento ruim passou pela sua cabeça.

E se todos os 12 começassem a desconfiar uns dos outros?

Passariam os dias apontando uns para os outros dizendo: “Você é o traidor!”, “Não, você que é!”. Seria o fim do grupo. Ninguém ficaria perto um do outro sem ficar preocupado ou começar a levantar suspeitas.

- Que horror... – Murmurou ela triste.

Não. Aquilo simplesmente não podia acontecer.

Bruna voltou a sua atenção para o quarto. As paredes eram pintadas de cores diferentes. As cores do arco-íris.

Os poucos beliches dali eram enfeitadas cada uma com um lençol de cor diferente. O lençol da Bruna era amarelo.

Ela foi até o banheiro trocar de roupa.

Se sentia feliz ao vestir o uniforme de guerra e lutar junto de seus amigos na captura á bandeira. Ela ainda ia ganhar de Nina e Amanda na próxima captura.

Foi aí que a coisa do traidor voltou a sua cabeça.

Ela se lembrou de quando ela teve que escolher entre Ártemis e seus amigos. Mariana ficou chamando-a de traidora por simplesmente pensar em deixá-los.

Será que todos eles fariam o mesmo?! Não podiam!

Ela não era traidora, e não gostava que a chamassem assim. De jeito nenhum! Ela tinha passado 6 anos protegendo eles, e ainda tinha feito um trato com Ártemis para poder continuar protegendo-os.

Era assim que eles iam agradecê-la?! Humpf.

Bruna colocou o seu pijama e resolveu deixar isso de lado. Ela já estava triste só de pensar naquilo.

E também... Aquele não era o único problema.

O que havia de errado no Mundo Inferior? Percy não tinha partido em uma missão á toa. Não mesmo... Isso não era o tipo dele.

Percy Jackson tinha liderado o Acampamento Meio-Sangue contra o exército de Cronos. Tinha mergulhado no rio Estige, tinha enfrentado Hades, tinha feito milhares de coisas heróicas, mas nenhuma delas em vão.

Ele era um herói de verdade, e quando algo estava errado... Não fugia d problema.

Alguma coisa tinha acontecido no Mundo Inferior. Ela podia fazer uma ligação de Íris para lá, mas... Falar com quem?

Hades? Ahm... Não.

Perséfone? Não mesmo.

Deméter... Não. Ela nem mesmo ficava no Mundo Inferior.

Não tinha ninguém.

Nem mesmo gente morta. Rodrigo deveria ser um dos primeiros a saber o que estava acontecendo, mas ela duvidava que ele soubesse de alguma coisa.

Não adiantava. Quanto mais ela pensava no problema, mas cansada, triste e preocupada ela ficava.

Bruna acabou caindo no sono. Apagou a luz do chalé e aos poucos... Seus olhos foram fechando.

Aquilo podia esperar até o dia seguinte, não é mesmo?

Aquilo não podia esperar pelo dia seguinte, muito menos Rodrigo podia.

Ele estava na frente do chalé de Deméter. Tinha atravessado quase todo o caminho, e estava pronto para continuar, quando... Esbarrou em um anão de jardim.

Ele caiu no chão e o anão quebrou.

- Que merda! Quem deixa a porra de um anão de jardim aqui?! Esses idiotas do chalé de Deméter! – Xingou ele irritado.

- O que você está fazendo? – Perguntou uma voz abrindo a porta do quarto.

Rodrigo olhou com medo para a porta. Droga! Tinha sido pego.

- Rhamon? – Perguntou ele vendo Rhamon com cara de sono – Ah... É só você. Pensei que fosse algum filho forte de Deméter, ou coisa do tipo.

- Ah, valeu. – Disse Rhamon agradecido por Rodrigo chamá-lo de fraco – O que você fez com o anão de jardim?

- Porra! Anão de jardim?! Isso é sacanagem, né? Tinha mais que quebrar essa porra mesmo. – Resmungou Rodrigo.

- Tá... Onde você está indo? Mandaram a gente ficar nos chalés. – Disse Rhamon revirando os olhos, cansado.

- Ninguém manda eu ficar no meu chalé. Muito menos os irmãos idiotas da Amanda. – Falou Rodrigo dando de ombros – Eu vou para o sótão descobrir a profecia, e entender esse problema que está todo mundo sabendo menos nós.

- Sério? – Perguntou Rhamon com sono – Que legal.

- Eu sei. – Rodrigo fez pose de “fuck yeah” – Quer ir comigo?

- Não. Boa sorte. – Rhamon fechou a porta na cara dele, e a pose de Rodrigo sumiu.

- Ah, valeu! Seu inútil... – Resmungou ele, mas depois lembrou-se que tinha que fazer silêncio.

Rhamon abriu a porta novamente.

- Você sabe que se você ouvir a profecia, e se ela falar de nós, todos vamos ter que partir em uma missão. E você sabe que eles vão te espancar por nos meter nisso, né? – Comentou Rhamon. Rodrigo ficou parado com um pouco de medo da probabilidade – Só para te lembrar.

Rhamon fechou a porta e foi dormir, deixando Rodrigo com medo do lado de fora. Ele imaginou todo mundo espancando ele ao mesmo tempo.

- Dane-se... Eu vou mesmo assim, porque eu sou demais. – Disse ele continuando a andar.

Não foi tão fácil quanto ele pensou. Rodrigo teve que andar com muito cuidado, pois vários campistas passavam correndo de um lado para o outro levando caixas, água, algumas armas, papéis e outras coisas.

Provavelmente para o tal Percy Jackson.

Quando ele finalmente chegou na Casa Grande, notou que o lugar estava lotado. Ele se escondeu atrás de uma árvore e olhou para lá. Tinha tanta gente ali, que... Se ele fosse com muita calma... Talvez...

- Uhm... Não. – Pensou ele em voz baixa – Eles vão me ver... Droga.

Rodrigo queria poder ficar invisível como a Bia. Seria muito útil no momento. Ele parou e coçou a cabeça, pensativo. Se ele ao menos conseguisse...

Um campista do chalé de Apolo passou correndo pela frente dele. Rodrigo gelou. Pensou que o garoto tinha lhe visto, mas... Ele não falou nada.

Ele tinha lhe visto. Isso era um fato. Mas mesmo assim passou direto.

Rodrigo olhou para os seus pés rapidamente. Ele não os enxergava. De começo achou que era a escuridão, talvez, mas depois notou que não. Ele estava invisível mesmo!

- Eu sou foda! – Exclamou ele feliz. Um sorriso poderia ser visto em seu rosto, mas ele estava invisível.

Rodrigo passou sem problemas para dentro da Casa Grande. Ele abriu a porta com cuidado para não esbarrar em ninguém, e subiu as escadas. Teve que fazer um pouco de força para abrir a porta do sótão, mas quando por fim conseguiu ele entrou.

Fechou a porta atrás de si com cuidado e olhou em volta.

Várias e várias prateleiras com troféus como chifres de monstros, patas de cães infernais, olhos de ciclopes estavam enfeitando o lugar. Tudo coberto com uma leve camada de poeira.

Alguns bilhetes foram deixados encima de uma bancada. Rodrigo identificou um objeto. Não era nada de tão bom quanto os outros, mas era especial.

O pedaço de mapa que Amanda tinha arrancado no celeiro da pechincha. O lugar onde ficava o Empire States no mapa estava marcado com um círculo vermelho. Alguém tinha escrito no mapa com uma caneta vermelha.

“Resgate do objeto perdido. Amanda Freitas, Beatriz Sampaio, Bruna Chateaubriand, Flávia Visconti, Mariana Masson, Rhamon Mello, Rodrigo Jabarra, Natália Fernandez, Vinícius Dobbs, Rita Monteiro, Nina Castro, e Mateus Carvalho. Junho de 2010.”

Rodrigo sorriu. Aquele mapa estava lá para lembrar a todos de que os 12 partiram em uma missão perigosa e voltaram vivos para contarem a história.

Isso o fez hesitar.

Eles escaparam por pouco daquela missão. Poderiam ter sido mortos pela Medusa, esmagados por espelhos, ou atropelados por um trem. Ainda tinham mais perigos, como os zumbis, os irmãos McJoe, os cães infernais, e todos os outros monstros que os perseguiram.

Será que eles teriam tanta sorte em uma próxima vez? Não dava para saber. Ele não queria admitir, mas Rhamon tinha toda a razão. Se ele ouvisse a profecia e se ela dissesse algo sobre os doze (o que provavelmente aconteceria), eles teriam que partir novamente.

Talvez fosse melhor não. Eles estavam vivos... Aquilo já era muita sorte. Tentar arriscar novamente, não seria nada bom.

- Sabia que você viria aqui. – Disse uma voz do outro lado da sala.

- Fuuu! Tarde demais para correr! – Pensou ele olhando para uma garota ruiva. Ele já a tinha visto antes.

Rodrigo deixou o mapa encima da mesa e olhou para ela.

- Você é o Oráculo de Delfos, não é? – Falou ele.

- Sim. Rachel Elizabeth Dare. – Contou ela – Você é Rodrigo Jabarra, filho de Hades. Veio saber o que está errado?

- Vim, mas eu mudei de idéia. – Disse ele virando-se para sair, mas Rachel riu.

- Você é engraçado. – Riu ela – Tudo bem, eu posso contar. Já que você veio mesmo...

- Não! Eu não estou brincando! Estou falando sério. Eu não quero mais ouvir. – Disse ele olhando para ela.

- Tá bom. Agora pare de brincar. – Disse ele rindo – Como você sabe... Tem algo de muito errado acontecendo...

- Não! Não fala! – Choramingou ele tampando os ouvidos.

- Pare de agir como criança! – Exclamou ela. Rachel puxou Rodrigo para longe da porta, e os dois pararam no fim da sala. Ela usou um tom de voz baixo, enquanto olhava nervosa para a porta. Quase que com medo que qualquer um entrasse ali – Olha... Estamos com sérios problemas. Sérios mesmo. Eles não querem envolver vocês, mas... Não temos outra escolha.

- Que problemas sérios? – Perguntou Rodrigo dando-se por vencido. Ele não conseguiria escapar mesmo, então era melhor ouvir – Tem a ver com aquele garoto, né?

- Sim. Percy Jackson foi ao Mundo Inferior para... – Rachel se interrompeu.

Rodrigo olhou-a com atenção. Ela pôs as mãos sobre a cabeça e deu alguns passos para trás. Seus olhos se abriram de repente, assustando Rodrigo. Uma luz verde saiu deles.

- Cacete! – Exclamou ele assustado.

Rodrigo começou a correr para a porta, mas Rachel o segurou com força. Em uma voz metálica e assustadora, ela contou a profecia.

- Após a cisão os doze partirão

A aposta a busca incentivará e a disputa provocará

O Olimpo a discórdia envolverá

Os três traidores no exílio se perderão

E somente seis juntos regressarão.

Quando Rachel terminou a profecia, o brilho verde sumiu. Ela cambaleou e sentou-se em uma poltrona. Rodrigo caiu no chão como se ele tivesse acabado de falar uma profecia também.

Eram eles novamente, pensou ele.

Não tinha palavras para dizer como eles estavam ferrados...