Um Deus da Guerra escrita por Yes


Capítulo 8
Capítulo 8: A Amiguinha do Idiota




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Algum tempo se passou. As coisas caminharam; houve dias em que tive algo a mais com Kyle. Uma faísca de camaradagem por baixo do ódio, por que, afinal, eu me divertia xingando o estúpido energúmeno. Ele se divertia pregando peças em mim. E ninguém ao nosso redor nos suportava, por que, de vez em quando, ultrapassávamos alguns, hã... limites. Como naquela vez da guerra de comida na cantina, que começou com um simples comentário da parte dele, retaliação da minha, e no fim do caos, estávamos nos engalfinhando no chão.

Mas Kyle começou a me fazer rir. Não me entenda mal, eu ainda o odiava, mas era divertido o odiar.

Por que, afinal, eu sou estranha assim mesmo.

Enquanto Ares, bem, o que posso dizer de Ares? Ele era o mais infeliz, o mais maldito, o mais desgraçado dos idiotas. Se houvesse uma lista dos prováveis caras pelos quais eu me apaixonaria, acredite em mim quando eu digo; Ares não estaria nela. Por que ele era insuportável!

Isso não me impediu de ter meus momentos com ele. Ele era charmoso. Eu tinha uma coisa com ele que me fazia um instante estar berrando e xingando exasperada, e no outro estar imprensada na parede com a língua dele na minha garganta.

Cass se divertia com isso. Dizia que era bem engraçado.

Por isso eu estava revirando os olhos enquanto ela dizia isso para mim (de novo) na biblioteca.

Pelo amor de Deus. Eu já falei que era um internato para menores infratores? E eles esperavam que nós lêssemos alguma coisa?!

–Cass, cale a boca. Sério. Não é engraçado. Eu o odeio.

Ela riu enquanto fuçava o Blackberry cheio de glitter e coraçõezinhos.

–Maddie, fala sério. Você adora o cara, certo? Eu só queria saber o que rola entre você e o Kyle.

Eu arregalei os olhos para ela. O que diabos ela estava pensando? Ela batera a cabeça em um barril de material radioativo que danificara o cérebro? O que no mundo a faria pensar que tinha alguma coisa entre mim e Kyle, o ladrãozinho de quinta categoria?

–Hm, nada?

Eu respondi/perguntei. Será que estupidez era contagioso? Será que Cassie estava andando muito com Paul, e conseqüentemente com Kyle, e por isso estava ficando burra e perdendo neurônios?

–Ah, querida, ainda em fase de negação?

Alguém perguntou atrás de mim. Meu instinto a alguém as minhas costas seria virar já na voadora com meu melhor olhar Tomb Rider. Mas o olhar de Cassie (aquele olhar oh-my-fucking-godness-what-the-fuck-are-you-serious?) me avisou que seria melhor checar antes de atacar. Não muito meu estilo, mas talvez, só talvez, ela estivesse certa.

Eu devia ter ido na voadora.

Por que, quando eu me virei, me deparei com a mulher mais bonita do mundo. Não sei dizer qual era a cor do cabelo ou dos olhos ou da pele. Mas sei que era linda. Pense na pessoa mais incrivelmente linda que você puder imaginar. Ela era dez vezes mais. Ela tinha tudo, tudo mesmo, perfeito. Sua mera presença me enchia de coisas que em geral eu evitava. Uma sensação esfuziante de euforia, e por alguns segundos, mais bela. Eu me sentia nervosa. Sentia as borboletas no estômago. Sentia que um sorriso bobo podia sair na minha cara se eu visse Ares ali mesmo e que seria muito difícil não pular nele.

Instantaneamente, eu a odiei. Quem ela pensava que era para mandar nas minhas emoções, paçoca?

–Posso me sentar aqui, queridinhas?

Não, pensei. Não pode não. Vaza, vadia.

Ela me olhou repreensiva como se lesse meus pensamentos. O que? Agora você é Edward Cullen*, sua vaca? Vai tentar chupar meu sangue?

–Claro que sim!

Sorriu Cassie animadamente, provavelmente pensado em todas as lojas de roupas que podia discutir com sua nova amiguinha. Vai lá conversar com ela, Cass. Me ignore. Eu sou só sua melhor amiga mesmo.

–Obrigada, Cassie! – Opa. Quem disse o nome da ruivinha para ela? – Você é tão gentil. Com certeza, vai encontrar um príncipe maravilhoso para você. Aliás, eu sou Afrodite.

Você TEM que estar de brincadeira. Afrodite? Sério? QUAL É o problema dessas pessoas? Será que o Internato Caliel é uma instituição para pessoas com nomes estranhos? Pessoas cujas mães fumaram umas antes de ir ao cartório, e por coincidência encontraram um escrivão bêbado com Parkinson que escreveu o nome errado na certidão de nascimento?

Por que, sério mesmo. Ares. Kyle. Afrodite. Tinha alguém tirando uma com a minha cara.

–Então, Afrodite. O que você fez para vir parar aqui? Roubou a Gucci?

Ela voltou os olhos lindos e perfeitamente maquiados para mim, e abriu um sorriso deslumbrante. MORRA, INFELIZ QUE FICA ESFREGANDO NA NOSSA CARA QUE É MAIS BONITA.

–Ah, não, estou só de visita. Deixo essas coisas para vocês, delinqüentes.

Ela estava pedindo para ser socada. Mas, por algum motivo, em algum lugar da minha consciência, ela me dizia que aquela mulher podia ser mais perigosa que meu pesadelo infernal particular, Ares.

–Visita? Visita a quem?

Os olhos dela brilharam.

–Ares, é claro. Aliás, isso nos trás de volta a você, queridinha. Então, ainda em negação?

Foi como levar um gancho de direita no estômago. Afrodite, a própria definição da beleza, estava indo visitar Ares. O ser que mais me irritava no mundo. Que compartilhara a cama comigo umas duas vezes. O que ela podia querer com ele? Pior, o que ela podia querer comigo?

–Hã, desculpe. Negação?

–Ah, você sabe. Toda essa dúvida e tensão. Você sabe que tem alguma coisa entre vocês, mas também tem alguma coisa entre você e Ares, certo? Tudo bem, quando eu descobri, di immortalis, pensei em transformar você em algo pequeno e fedorento, como um gambá, para ele não olhar mais para você. Mas Ares me convenceu a não fazer isso. A te dar outra chance. E, para mim, vai ser muito mais divertido te torturar pelas emoções. Não se preocupe, estou tramando uma vida amorosa bem complicada para você. Vai ser uma coisa linda, você verá.

E, depois de dizer que eu seria um fracasso no amor, ela sorriu como se discutíssemos o tempo. “Pois é, a propósito, você vai virar um gambá dos relacionamentos. Que tarde linda, não?”

E depois disso, sussurrou alguma coisa para Cassie, cujos olhos ficaram desfocados, e se levantou, dizendo:

–Ah, olha só a hora. Estou atrasada.

E simplesmente sumiu de vista entre umas estantes.

Eu encarei Cassie, prestes a perguntar o que diabos fora aquilo, quando ela deu um sorrisinho para mim e disse:

–Maddie, fala sério. Você adora o cara, certo? Eu só queria saber o que rola entre você e o Kyle.


Eu estava confusa demais no momento para lidar com o bloqueio mental de Cassie. Já aprendera a não perguntar o que estava acontecendo, ou eu ficaria maluca.

Mas eu não podia ignorar o que Afrodite dissera. Que ela estava visitando Ares.

Saí da biblioteca como um foguete, pisando duro até encontrar o brutamontes encostado numa parede.

-Quem. É. Afrodite?

Perguntei pausadamente, me segurando para não matá-lo. As sobrancelhas dele subiram até o couro cabeludo.

-Ela veio falar com você?

-Perguntei quem ela é.

Rebati. Ele descruzou os braços.

-Uma amiga.

Revirei os olhos.

-Ótimo. Realmente ótimo. Bem, então mande sua amiguinha ficar bem longe de mim. Aliás, ela é bem bonita, por que não vai lá ficar com ela?

Minha voz estava mais alta a cada segundo, imaginando o que aconteceria se eu tocasse fogo no cabelo dela e mostrasse a ela o seu lugar, exatamente como eu fizera com Molly Reinalds.

-Ora, o que é isso, Maddie? Você está com ciúmes de mim, docinho?

Ele passou um braço pela minha cintura e eu rosnei.

-Docinho é a sua mãe, seu desgraçado petulante e obtuso!

Berrei, batendo os punhos com força no peitoral dele. Ele deu o sorriso torto de sempre, e me beijou.

Como sempre, a parte mais idiota de mim ficou feliz. Mas a maior parte berrava para que eu o chutasse onde o sol não batia. O que significava que eu ainda era eu, por que no dia que esta garota aqui se esquecer que o odeia, pode apostar que estou com problemas.

-Maddeline?

Uma voz surpresa perguntou, quebrando o momento entre mim e Ares. Eu me virei furiosa.

E me deparei com olhos azuis conhecidos.

-Kyle?

Perguntei. O que foi estúpido, por que ele estava bem ali na minha frente e ou era ele ou seu clone do mal vindo das sombras para me matar de vergonha.

Ele trincou o maxilar, se virou e foi embora, como se nada tivesse acontecido.

O que me deu bastante certeza de que era sim Kyle.

-Oh, que pena. Parece que seu namoradinho não gostou do que viu, docinho. Que pena.

Disse Ares, sem parecer ter pena alguma.

Olhei para ele, braba demais para formar um pensamento coerente.

-Ele não é meu namorado.

E saí andando para meu quarto, tentando convencer a mim mesma que aquela sensação ruim na boca do estômago era por que eu comera algo estragado. Eu não me importava com nenhum dos dois. Ares podia desaparecer de novo, e eu não ligaria. Não mesmo. Não ficaria indo no quarto dele como uma maníaca desesperada. Por que eu nunca faria uma coisa dessas. Se ele quisesse, podia ficar se esfregando na Afroidiota. E o Kyle que se explodisse. Ele não tinha nada a ver com a minha vida, mesmo. Eu não sentia nada em relação a eles, só uma irritaçãozinha. De leve.

Afrodite maldita. Tomara que arda no fogo do inferno.



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Notas finais do capítulo

* Referência à Crepúsculo.
Sim, me desculpe pela demora. Acabei de sair de um bloqueio criativo. Então, aí está. Espero que gostem. Por favor, mandei reviews.