Meu Namorado Infernal escrita por Mandy-Jam


Capítulo 33
Bem-vindos á fazenda caipira


Notas iniciais do capítulo

Aqui vai o próximo!



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O silêncio reinava no carro. O único barulho era o das rodas passando pela estrada de terra, que ficava dentro do hotel Holly Lake. Aquele lugar era maior do que a Disney, e isso me deixava tensa. Como isso era possível? Nada lá era normal...

A última coisa que queria era olhar para Ares, embora isso fosse uma idéia tentadora. Ver o Deus da guerra praticamente espremido em um carro pequeno, obedecendo ao limite de velocidade de 50 km/h, e tentando manter a calma? Era muito engraçado.

Mas eu não podia rir. Ainda estava com raiva dele por ter se aproveitado de mim. Humpf. Quem ele pensava que era?

Mesmo assim... Ele tinha me ajudado. Aquele cara do restaurante podia ter feito pior do que ele, e ainda por cima teve a idéia de fazer aquela atividade, o que eu sabia muito bem que não era fácil para ele. Ares não gostava nem um pouco de me deixar feliz ou de dar o braço á torcer. Por isso... Não podia reclamar com ele também.

Fiz o melhor que pude. Permaneci neutra. Nem feliz, nem irritada.

- “A fazenda Holly Lake é uma excelente opção para os casais ou solteiros que queiram ter uma boa experiência com a natureza e com o meio rural.” – Li o folheto que estava naquele carro – Ou seja... Passar o dia observando cabras, dando comida á porcos, ou ordenhando vacas.

- Não está escrito isso no folheto. – Comentou Ares franzindo o cenho em dúvida.

- Não, não está. A última parte é por experiência própria. – Comentei encolhendo os ombros.

- O que? Você nasceu no velho Oeste ou coisa parecida? – Perguntou ele em um leve resmungo – Alice Kelly contra os forasteiros.

- É. Meus tempos de criança no Alabama valeram a pena. – Comentei.

Ares riu sem querer, mas depois ficou sério.

- Espero não ouvir nenhuma reclamação sua, Kelly. Por que se esse for o caso, eu faço você dar um mergulho profundo no lago Holly Lake e nunca mais voltar á superfície. – Ameaçou ele estreitando os olhos.

- Pode deixar. Sem reclamações. – Concordei sem ligar para as ameaças dele – Até mesmo uma fazenda caipira é melhor que ficar... Perto de todo mundo.

Houve um momento de silêncio mortal novamente. Aquilo era realmente desconfortável, mas Ares deu um jeito de ficar ainda mais.

- Ch ch ch ch ch ch Cherry bomb... – Cantarolou Ares em um tom baixo, mas alto o suficiente para que eu ouvisse. Olhei para ele.

- Há. Há. – Ri pausadamente e depois virei-me para a janela novamente.

- Você tem que aprender a relaxar mais. – Comentou ele.

- Falou o cara que está se contorcendo para dirigir um carro em direção á uma fazenda caipira com a garota que mais odeia. – Comentei de volta.

- Não sou estressado. – Falou ele.

- Você se irrita com qualquer coisinha. – Comentei.

- Cala essa boca, Kelly! – Exclamou ele irritado.

- Viu só?! – Senti vontade de rir, mas me contive. Ares parou e refletiu.

- Talvez só um pouco... Mas eu só sou estressado, porque sou o Deus da guerra. – Comentou ele – E também... Sei me manter calmo quando realmente quero. Agora você... Já é outra coisa. Tente ignorar o que te irrita. Isso ajuda bastante.

- Se eu fizesse isso, passaria a vida ignorando você. – Comentei.

- É um bom conselho, quer você queria ou não ouvir. – Disse ele orgulhoso.

- Ah tá. Os sábios conselhos de Ares, o senhor da guerra. – Falei fingindo que aquilo era bem grandioso – Vai dizer o que mais? Que tem a resposta para tudo no Universo, também?

- Eu não quero me vangloriar tanto, mas... Eu tenho. – Falou ele.

Houve mais um momento de silêncio mortal.

- Mentira. – Falei depois de um tempo.

- Verdade. – Insistiu ele.

- Nem mesmo Atena tem as respostas para tudo. E ela é a Deusa da sabedoria. – Falei franzindo o cenho e olhando para ele – Nem mesmo Zeus.

- Mas Ares tem. – Confirmou ele – Eu tenho a resposta certa para tudo.

- Ah tá. – Olhei para ele pensando que ele estava brincando, mas seu rosto continuava representando um orgulho de si enorme – Tipo... Qual é a capital da Irlanda, quem veio primeiro: o ovo ou a galinha... Tudo isso? – Ares assentiu – Você acha que eu tenho cara de idiota, não é? Só pode ser se pensa que eu vou acreditar nisso.

- Eu realmente acho que você tem cara de idiota, mas isso não vem ao caso. – Disse Ares olhando para mim agora – Se não acredita... Pergunta. Qualquer coisa.

- Ok. Eu vou mesmo. E não pense que vão ser perguntas fáceis. – Confirmei virando-me para ficar de frente para ele – Aqui vai... Qual o estado americano mais afastado de todos os outros?

- Simples. – Sorriu Ares olhando para mim – Dane-se.

Ficamos parados olhando um para o outro por alguns minutos. O carro continuava se movendo lentamente, mas estávamos tão devagar que era impossível nós nos machucarmos em um acidente. Nenhum de nós esboçava nenhuma expressão.

- Você está brincando, né? – Comentei.

- Próxima pergunta. – Falou ele voltando á olhar para a estrada – Vai.

- Qual é o maior osso do corpo humano? – Perguntei.

- Dane-se. – Respondeu ele.

- Qual país mais populoso do mundo?

- Dane-se.

- Qual o nome científico da Cobra Verde?

- Dane-se.

- Quantos anos eu tenho?

- Dane-se.

- É verdade que sua cor favorita é rosa?

- Dane-se. – Respondeu ele, mas depois de alguns minutos olhou para mim – É mentira. Não gosto de rosa.

- Não pode responder “Dane-se” para tudo! – Exclamei olhando para ele – Isso não é resposta!

- “Por que sim” e “Por que não” é que não são respostas. Mas “Dane-se” é perfeito! – Disse Ares com um sorriso – Você fala “Dane-se” para qualquer coisa. Qualquer coisa mesmo, e se encaixa. Esse é um dos truques para chegar á felicidade.

- Dar respostas vagas? – Perguntei sem entender.

- Falar “Dane-se” para o mundo. – Respondeu ele – Diga “Dane-se” para tudo que te incomoda, e siga em frente. É o que eu faço.

Ri sem acreditar no que estava acontecendo.

- O que é isso? Um momento de reflexão sobre a felicidade e as filosofias de vidas? – Perguntei ainda incrédula – Isso é muito estranho, sabia?

- Foi você que puxou o assunto.

- Não. Foi você.

- Foi é? Não lembro. – Ares encolheu os ombros – De qualquer forma... Dane-se.

Houve mais um momento de silêncio.

- Você vai responder isso o tempo todo agora, não é? – Comentei.

- Pode crer. – Confirmou ele.

- Era o que eu esperava. – Murmurei.

Quando o carro parou (que para mim não fez diferença, pois parado ou andando parecia que estávamos na mesma velocidade), nós descemos em um estacionamento de terra e olhamos em volta.

Era um fazendo larga e cheia de animais, plantações e celeiros.

Algumas pessoas tiravam fotos com vacas, enquanto outras alimentavam porcos. Eu revirei os olhos ao ver aquilo, e olhei para Ares.

- Aonde? – Perguntei.

- Aonde...?

- Aonde vamos primeiro? – Perguntei. Ele encolheu os ombros e seguiu andando em frente. Eu fui atrás.

Nós andamos por entre cercados com animais, e Ares fez caretas para as vacas. Parecia uma criança maldosa que gosta de incomodar animais, mas eu achei melhor não comentar nada. Nós paramos na frente de um celeiro, mas antes que entrássemos...

- Espera. Aqui tem comida. – Disse Ares farejando o ar – Churrasco.

- Você está farejando a comida? – Perguntei franzindo o cenho – Eu... Não sinto cheiro nenhum.

- É porque você é uma inútil. – Comentou ele – Não sentiria nem se estivesse na frente da grelha de churrasco.

- Você já está com fome? São o que... 10 da manhã? – Falei.

- Sendo que eu não tomei café da manhã, porque tive que salvar a sua pele. – Rebateu ele – Agora estou morrendo de fome...

- Seu fresco. – Comentou uma voz feminina atrás de mim. Eu me virei assustada, pois tinha quase certeza de que ninguém estava lá. Mas... Uma mulher de cabelo preto estava em pé atrás de mim. Ela estava usando uma camisa vermelha quadriculada. Tinha um pedaço de palha no bolso da camisa, e uns alguns fiapos em seu cabelo preto, que estava preso em um rabo de cavalo frouxo para o lado. Seus olhos eram castanhos, e observavam Ares de modo repreendedor e de algum modo... Maternal.

- Ahm... – Fiz olhando para Ares – Ela...?

- Humpf. Já foi o tempo em que homens trabalhavam atrás de arados pelos campos. Isso sim formava caráter. Mas não... Agora ficam esses frescos que mal agüentam ficar sem comida. – Comentou a mulher em um resmungo – Uma boa tigela de cereal dá energia para o dia todo, é o que eu digo.

- Vai encher outro. – Resmungou Ares revirando os olhos – Você só sabe reclamar, não é? Como é chata...! Ai!

A mulher puxou a orelha de Ares. Literalmente. Senti vontade de rir daquilo, mas ao mesmo tempo... Eu estava surpresa demais para fazer alguma coisa.

- Não seja um rabugento, e não resmungue! Moleque... – Repreendeu ela. A mulher largou a orelha de Ares e depois olhou para mim. Pensei que ela ia reclamar comigo também, mas ela tomou uma pose diferente. Ela sorriu para mim – Isso sim são heroínas de verdade. Lutam e enfrentam os trabalhos com garra, sem medo de arrumar encrencas. Gosto de sua atitude, Alice Kelly. Você parece ser uma boa menina.

- Ahm... Obrigada, senhora. – Sorri usando todos os modos que minha mãe me dera. Diferente de Ares, eu sabia reconhecer quando alguém era conservador. Não tinha idéia de quem aquela mulher era, mas não queria ser rude e levar um puxão de orelha de jeito nenhum.

- Ela nem mesmo te conhece. – Resmungou Ares com a mão na orelha – E não venha com esse papo de “boa menina”. Você não a conhece também!

- Eu sei o bastante sobre ela, e posso ver que minhas intuições são verdadeiras. Não se meta na conversa dos outros! – Retrucou ela – Bem... Eu sou Deméter. Deusa da agricultura e da colheita.

- Ah, eu sei quem você é! – Exclamei me lembrando. Eu conhecia Demeter, talvez um pouco mais do que qualquer outro Deus, por motivos que eu prefiro não revelar por enquanto.

- Obrigada. – Sorriu ela – Eu não sabia que você gostava de campos, Alice.

- É... Eu... – Odiava, até mais que o mar, mas não ia dizer aquilo – Tenho experiência no campo.

- Fico feliz de saber disso. Não esperava muito da namorada de Ares, mas quando soube que era você, fiquei surpresa. – Comentou ela – Ele tende a ter um gosto um pouco... Vulgar.

- Ah, eu não estou aqui nem nada! Sou surdo também! Não ouvi nenhuma palavra sobre mim! – Resmungou Ares.

- Sabe que isso é verdade. – Disse ela – Mas... Espero que vocês fiquem juntos. Pode ensinar muito sobre valores para ele.

- É... Ele vai precisar. – Confirmei com um sorriso – Vou me esforçar nisso.

Deméter piscou para mim e foi para outra parte da fazenda. Ares resmungou dizendo que ela era uma chata mandona, e foi para dentro do celeiro de repente.

Olhei para longe e vi uma cena engraçada.

Hades, Luh e Juh estavam perto de algumas plantas. Dava para ver que as plantas que estavam em volta de Hades estavam mortas. Deméter viu o efeito que ele estava provocando nas plantas, e começou a dar tapas em seu braço.

- Seu vagabundo! Olhe o que está fazendo com as minhas plantas! – Exclamava ela enquanto Hades se encolhia e tentava se desviar de seus tapas.

- Ai! Deméter, não enche! Para com isso...! – Reclamava ele.

Juh e Luh suspiraram ao ver o que estava acontecendo, mas resolveram ignorar. Parecia que aquilo acontecia muito entre aqueles dois. Acabei rindo sozinha e distraída.

- Do que está rindo? – Perguntou Ares ao meu lado. Olhei para ele e vi que estava comendo um espetinho de carne, enquanto olhava para Hades e Deméter – Já estava demorando... Hum.

- Você tinha que arrumar comida, né? – Comentei, e ele assentiu dando mais uma mordida no espetinho – Eu tenho que te dar valores de moral. Viu? É melhor ouvir o que eu digo de agora em diante.

- Até parece. – Falou ele de boca cheia. Um pedaço de carne voou e caiu no chão. Ares andou até perto de uma das cercas. Era um cercado que tinha algumas galinhas, e uns porcos mais ao longe. Ares começou a rir dos animais – Bichos idiotas de fazendo... Todos eles fedem, né?

- Não são só eles que fedem. – Comentei.

- Ei! Eu tomei banho, sua lesada. – Reclamou ele.

- Não falei de você. – Disse eu olhando para ele, e depois franzi o nariz – Esse espetinho tem um cheiro horrível.

- É gostoso. – Ares deu de ombros, e então olhou para a galinha que estava perto da grade – Ei. Você quer isso? Se ferrou. É meu.

- Você só pode estar brincando. – Comentei – Está implicando com um animal?!

- É divertido. – Riu ele, mas então acabou deixando o braço para baixo demais. A galinha pulou, bicou o dedo de Ares fazendo o espetinho cair no chão, e o levou embora. Ares ficou boquiaberto – Minha comida!

- Quem mandou você ficar implicando com os animais? – Comentei tentando não rir da cara dele.

- Maldito! – Exclamou me ignorando – Ei! Volte aqui, seu pato idiota!

- É uma galinha, seu imbecil! – Corrigi o óbvio.

- Que se dane! Eu quero de volta o meu espetinho! – Reclamou ele balançando a grade com raiva.

- A galinha pegou! Vai fazer o que?! Roubar e comer depois?! – Perguntei incrédula com toda sua raiva – Vai para o celeiro e pega outro!

- Não tem outro! Aquele era o último, e o pato idiota roubou de mim! – Berrou furioso. Ares começou a escalar a grade – Vou fazer ele pagar por isso...

- É uma galinha! E também... O que vai fazer?! Ares... Acho que não pode pular a cerca. Para com isso! – Tentei alertá-lo, mas ele não quis me ouvir. Ares pulou a cerca e saiu correndo atrás da galinha – Ares! Para!

- Para nada! – Exclamou ele correndo atrás da galinha – Se eu não posso ter o meu espetinho, então o pato também não pode!

- Galinha, droga! – Exclamei. Não sabia o que fazer, mas tinha que dar um jeito de tirá-lo de lá – Ah... Idiota...

Com esse murmuro, eu comecei a correr para perto dele sempre seguindo o limite da cerca. Eu ainda ia ver no que isso ia dar...


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Notas finais do capítulo

O que vocês acham que vai acontecer?

Ares perseguindo uma galinha (pato) por causa de um espetinho, e Alice tentando pará-lo. Vamos só esperar, né?

Hahaha! Espero pelos lindos reviews de sempre!

Beijos e até o próximo!