Laços Perdidos no Tempo escrita por Danda


Capítulo 10
Capítulo 10




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A luz do candelabro, por cima da mesa, iluminava a cena tensa que se fazia naquele local.

Aldebaran, agora, olhava para Maurício que lhe sorriu gentilmente. Ele estava brincando ou o que?

- Não quer se sentar – Maurício convidou, fazendo Aldebaran estranhar e, Linda gelar – Sente-se connosco. – Insistiu.

Aldebaran demorou para processar o convite.

- Estou com um amigo… - Se desculpou. Estava muito sério.

Maurício olhou para a mulher que permanecia calada. Percebera que ela ficara aliviada.

Aldebaran viu o homem levar a mão ao bolso e pegar a carteira. De dentro desta, pegou um cartão.

- Então apareça quando quiser – Disse estendendo o pequeno cartão para o moreno que de imediato pegou o que lhe era estendido.

- Eu irei – Disse convicto.

Maurício se mostrou satisfeito, ao contrário de Linda, que fez má cara.

Com uma breve demonstração de educação, Aldebaran se retirou, deixando o casal jantar em seu silêncio.

Voltou a sua mesa onde Mu, já estava jantando. Chamou o garçon e fez o seu pedido. Assim comeram, em silêncio. Mu, compenetrado no sabor de seu prato tipicamente brasileiro e Aldebaran, de olho na mesa daquele casal, que parecia tão infeliz.

Nada disseram, até chegar no Hotel. Já estavam na porta do quarto de Mu, quando Aldebaran decidiu se pronunciar.

- Você sabia? – Perguntou sério.

Mu voltou-se para o amigo, calmamente.

- Como disse, essa foi a única vez que te ajudei neste assunto. A partir daqui é com você, meu amigo – E dito isso murmurou um “boa noite” e entrou para o quarto fechando a porta, sem esperar resposta.

Aldebaran ainda ficou um tempo olhando para a porta vazia. Tirou do bolso o cartão que Maurício lhe oferecera e foi para o quarto.

Se atirou na cama de qualquer jeito e adormeceu com a roupa que havia saído.

Acordou com o telefone tocando. Gemeu descontente pelo barulho, retorcendo o rosto. Com dificuldades sentou na cama e esfregou os olhos com as duas mãos.

Sem paciência, atendeu aquele aparelho tão chato. Uma voz feminina, suave, logo se fez ouvir:

- Senhor Aldebaran?

- Sim.

- É para avisar que seu amigo saiu e, disse que não sabe que horas vai voltar

“Maluco, sai por aí sozinho. Pensa que isso aqui é a Grécia” – pensou preocupado.

- Ele disse para não se preocupar - a mulher pareceu ler seus pensamentos.

Aldebaran sorriu, pensando direito. Bem, coitado daquele que tivesse mas intenções para o lado do ariano. Estava condenado.

- Senhor? – A mulher voltou a chama-lo.

- Sim!?

- Há um telefonema para o senhor. Quer atender?

Aldebaran estranhou.

- Sim – Disse por fim.

Poderia ser da Grécia.

Ouviu uma ligeira música chata e, logo ouviu a voz por trás da ligação.

- Aldebaran?! – O moreno gelou.

“Maurício!” – Constatou.

- Está me ouvindo?

- Sim – respondeu finalmente.

- Ah! – O homem fez aliviado – Eu estava pensando se você não queria jantar lá em casa, hoje.

Se não estivesse sentado, cairia no chão. Por esta não esperava.

- Como soube do hotel que estou? – Estranhou.

- Não é muito difícil descobrir – Respondeu enigmático.

Aldebaran logo percebeu, que Maurício devia ser uma pessoa bem posicionada e, que ali, no Rio devia ser alguém influente.

- Quer pensar…?

- Não – respondeu rapidamente. Não queria perder mais tempo. Se demorasse para o encontro, iria sofrer mais. – Hoje a noite.

- As nove – O outro concluiu – mando meu motorista te buscar.

Motorista? Bem, não se enganara. O homem podia mesmo.

-Esta certo.

- Então, até mais

- Até.

Pronto. Apesar do coração a mil, iria por fim, aquilo tudo.

Olhou para o relógio, que marcava meio-dia e dez. Estava mesmo cansado. Fazia muitos anos que não dormia tanto.

Resolvera que iria tomar um banho e comer algo. Depois ira fazer algo que lhe povoava a mente a muito tempo: Passear no Calçadão.

Assim o fez.

Agora andava calmamente entre muitas pessoas a beira da praia.

As pessoas andavam descontraídas, pareciam estar livre dos problemas cotidianos. Algumas corriam, outras andavam de bicicleta na pista ao lado. Por entre os quiosques que se espalhavam de metro em metro, haviam casais de varias idade, que saboreavam água de coco fresca, enquanto conversavam. Alguns estavam aos beijos.

Na areia da praia, inúmeros guarda-sóis se espalhavam de maneira desordenada, cobrindo com sombra, as toalhas e esteiras, que suportavam os corpos seminus.

Haviam pessoas se banhando no mar, que lhe parecia muito convidativo.

Parou em um dos quiosques e pediu uma água de coco. Ali sentou, em uma muretinha que dava para uma praia lotada. Deu um gole, quando reparou na paisagem.

Sorriu melancólico. Mas não no bom sentido, pois lembrava daquela paisagem. E como lembrava. Algumas coisas mudaram, pois no tempo em que esteve ali, não tinha aquele quiosque, nem aquela mureta. Apenas havia areia branca, com rochas ao redor, e uma muralha de pedra, formando um braço para dentro do mar.

Foi ali que a vira a primeira vez.

Mas que terrível coincidência. Sem perceber sentara ali, naquela praia.

Seu olhar se perdeu nas pessoas que saíam e entravam no mar.

Bem ali, no meio daquelas pessoas todas, parou o olhar em um homem já com os seus trinta e tantos anos. Tinha corpo bem definido. Os cabelos castanhos-claros, estavam molhados e puxados para trás. O calção que se estendia até abaixo do joelho, de cor azul-escuro, ficava bem com a pele muito bronzeada. Não tinha mudado quase nada, se não fosse os traços um pouco mais acentuados do rosto e, o cavanhaque.

Tantos anos de treino, lhe deram a possibilidade de reconhecer qualquer pessoa no meio de uma multidão. Pessoa assim, com muitos amigos, tinha que saber bem onde as pessoas que gostava estavam, mesmo entre milhares de outras. Não poderia passar por ninguém sem dar pelo menos um “oi”. E agora reconhecera-o, no meio de tantas pessoas.

Seu primo, o mais belo, segundo muitas meninas, que provavelmente, eram mulheres agora, e mães de família, achavam.

Plínio, logo foi rodeado por muitas meninas, que deviam ser muito mais novas que ele. Este facto fez lembrar de Miro. Sorriu.

Entre ali, no Brasil, e seus companheiros, na Grécia, não trocaria a elite de Athena por nada. Eram fiéis. Bons amigos. Por isso ocupavam aquele “posto”. Plínio só não pertenceria aos Cavaleiros de Athena, por ser o que é: Um traidor.

Sabia de tudo o que Linda estava tramando e não fora capaz de lhe alertar. Viu que ele gostava dela e mesmo assim deixou que o próprio primo se enredasse naquela história.

Deu um outro gole na água de coco, ainda fitando o homem que pegava uma toalha para se enxugar.

De repente, lembrou da batalha de Hades, e junto veio a lembrança daqueles que supostamente os traíram, pois acharam que ia ser melhor para todos.

Será que Plínio e Ricardo, assim como Rodrigo, pensaram em estar fazendo o melhor? Não.

Decidiu, não se remoer novamente com isso. Iria acabar com tudo hoje. Aquela menina, saberia a verdade…mas… Linda era sua mãe. Não seria certo…

Balançou a cabeça negativamente. Se ela não sabia cuidar de uma adolescente, ele faria isso.

- Aldebaran!? – Uma voz grossa, o fez sair de seus pensamentos. Virou de imediato, observando um sorriso simpático.

O seu tipo, continuava o mesmo, apesar de ter o corpo menos atlético. O sorriso, malandro continuava estampado no rosto, enquanto, os olhos brilhavam. Brilho este, que foi se perdendo, ao não ver grande reação da parte do moreno.

- Ricardo – Aldebaran cumprimentou frio. – Como está?

- Bem – o outro já mostrava um rosto sério – Não sabia que estava no Brasil…

- Vim, passar ferias com um amigo.

- Relembrar os velhos tempos – Rodrigo se aproximou. Sempre “sem noção”, tinha um sorriso gentil nos lábios. Não ia desfaze-lo por causa de algo que se passou a tanto tempo. – É bom te ver Aldebaran.

O Cavaleiro de Touro nada disse. Para que? Não ia dar esse gostinho para eles. Pelos vistos ainda continuavam unidos. Mesmo a ligação de Plínio com os outros dois ser apenas por ele, eles continuavam juntos.

Provavelmente riam dele, juntos.

- E está gostando da viagem? – Rodrigo se colocou do lado do irmão.

- Sim – Aldebaran respondeu seco. – Tenho que ir – Se levantou sem dar importância aos primos.

- Espero que venha nos visitar, antes de partir – Ricardo falou ao ver que o moreno ia se retira – A minha mãe está com saudades…

- Não sei se terei tempo – O moreno disse parando – Tenho assuntos a resolver.

- Assuntos…?

- Que seja – Ricardo cortou Rodrigo. Já imaginava o assunto – Boa sorte, então.

Pela primeira vez, Aldebaran sorriu. Iria precisar de facto.

Fez um aceno e se afastou lentamente.

Ricardo ficou pensativo. Ele voltara para buscar o que lhe pertencia. Sua expressão era grave. Será…?

Aldebaran caminhou, absorto em seus pensamentos. Apesar de pensar, não conseguia arrumar assunto para conversar com aquele casal.

Andava de forma decidida, e, pensativo, não deu conta do tempo passar.

Quando olhou para o relógio em seu pulso, viu que era hora de voltar para o hotel. Só agora se perguntava onde estaria o ariano.

As pressas, caminhou até o hotel, onde encontrou parado na porta um belo carro de luxo.

- Senhor Aldebaran – Um homem, que aparentava ter quarenta anos, calvo e alto, lhe chamou – Por favor – indicou o carro, abrindo a porta de trás.

- Como soube…?

- Não há muitos homens com o seu perfil, por essas bandas – respondeu sorrindo.

Bem, Mu sabia se virar. Sentia o cosmo do amigo relativamente próximo, o que indicava que já estava no hotel.

- Um momento – disse para o motorista, que assentiu.

Se aproximou de um homem que estava a porta do hotel, indicando lugares para as pessoas fazerem suas reservas e ajudando os rapazes a levarem as malas.

- Por favor – Chamou a atenção do homem – Pode me fazer um favor?

- Claro! – O homem disse animado.

- No quarto 120 há um amigo meu. Apenas diga que estou bem e, que, chego mais tarde.

O homem simpático, com chapéu engraçado na cabeça, afirmou, e Aldebaran pode se retirar.

- Obrigada – Disse entrando no carro.

O motorista sorriu, fechando a porta.

Meia hora, foi o tempo que levou para chegarem na frente de uma enorme casa no subúrbio. Em um condomínio fechado.

Agradeceu o homem, que veio conversando animadamente consigo, durante todo o caminho e se dirigiu para a porta.

Vacilou. Agora não tinha tanta certeza se queria continuar com aquilo. E se eles tentassem lhe enganar? Iria ceder à ira e poderia estragar tudo, colocar o Santuário em perigo.

Viu a porta se abrir de vagar.

Era tarde para se arrepender. Teria que se controlar e, fazer com que tudo corresse pelo melhor.

- Boa noite – Cumprimentou o anfitrião.

- Se já bem-vindo – O homem sorriu – Entre – indicou.

O Cavaleiro suspirou, entrando.

O dono da casa entrou a seguir e, indicou-lhe o sofá, sentando na poltrona a direita onde se sentou o convidado.

Aldebaran olhava tudo estarrecido. Tudo muito claro e luxuoso. Moveis caros e decoração de bom gosto. Ficou impressionado.

Maurício acendeu um cigarro.

- O que te trouxe até o Brasil? – Foi directo ao ponto.

Então era assim que a noite ia correr?! Nada de rodeios.

Aldebaran gostou. Talvez estivesse despachado, antes do que pensava.

- O que me trouxe até aqui, é o que estou fazendo agora.

Ouviu uma gostosa gargalhada do outro.

- Então teve sorte em nos encontrar ontem – Disse descontraído.

Aldebaran franziu o cenho. Na verdade, Mu sabia exactamente que eles estariam ali. Mas isso não importava.

- Sou um homem de sorte – respondeu sorrindo.

- Isso sei eu… - Maurício falou distraído.

Aldebaran sorriu. Estava indo pelo caminho certo. Mas o ambiente era desconfortável. Tudo muito frio e distante. Passou novamente os olhos pelo local, parando em uma pequena estante atrás da poltrona onde Maurício estava sentado.

Sem cerimónia, levantou e caminhou até lá.

Expostas em cima desta, estavam muitos porta-retratos, em cores suaves, combinando com todo o local.

Fotos dos donos da casa. Algumas com Linda e, uma menina morena, nos braços. Na maior parte das fotos, ela aparecia. Desde pequena, até a forma como estava agora.

Pegou em uma foto em que só aparecia o rosto dela.

Maurício pareceu ficar tenso. Fez um som incomodo com a garganta, chamando a atenção do outro, que parecia estar hipnotizado.

- Tainá – Maurício apontou para a foto. Aldebaran voltou a olhar a imagem da moça.

“Então o nome dela é Tainá” – pensou.

- Significa: estrela – O homem se aproximou – Quer uma bebida?

- Sim…

Sem perguntar nada, o homem foi para trás de um pequeno bar que adornava a sala, e tirou de trás do balcão uma garrafa de whisky. Em seguida pegou dois copos e foi generoso.

- Aldebaran também é uma estrela, não é!? – Disse se aproximando e entregando o copo na mão do moreno.

- Sim – ele respondeu olhando o líquido no copo. Não iria beber aquilo. Se bem, que tinha que dar, pelo menos um gole. Não queria parecer mal-educado.

Deu um pequeno gole, disfarçando uma careta de desgosto.

- É a estrela da constelação de touro – Completou, rouco, se recompondo.

- A mais brilhante, eu diria.

As atenções voltaram-se para a presença feminina que entrava. Com um belo vestido branco que contrastava com a pele levemente bronzeada. Sorria cinicamente.

- Como vai Aldebaran? – Disse altiva, se colocando do lado do marido.

Aldebaran lhe fitava. Não era aquela menina e sim uma mulher linda que estava na sua frente.

Forçou um sorriso.

- Bem, e você!?

- Também…

- Senhores, o jantar – Uma jovem de uniforme, chamou.

- Vamos comer – Maurício indicou o caminho.

Mal Aldebaran passou pela porta dupla, viu uma mesa fartíssima. Parecia uma mesa de festa com três variedades: peixe, carne e ave.

Aquela mesa dava para os doze cavaleiros de ouro. No entanto, só estavam os três na mesa. Os três…

- Onde está Tainá? – Aldebaran perguntou de repente.

Linda pareceu saltar.

Maurício engoliu a secos.

- Desculpe?!

- Tainá, onde ela está? – Aldebaran estranhou.

O casal se olhou.

O moreno estreitou os olhos.

Continua…


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