Eu ouvi seus passos cada vez mais distantes enquanto continuava parada ali por não sei quanto tempo mais. Pensei sobre tudo o que acontecera enquanto eu estava no Alaska, sobre quando eu voltei, nos meus primeiros dias na escola, sobre o que tia Alice e Carol já tinham me falado sobre Matt e sobre Jake, e os diálogos e cenas pareciam passar em minha mente como num flashback. Até que me lembrei dos momentos com Seth e meu coração pareceu apertar. Há quanto tempo eu não falava direito com ele? Tudo parecia tão distante agora... Era como se meu mundo e minha vida tivessem se virado de cabeça para baixo e eu não tivesse tempo pra mais nada – só eu conseguia perceber a ironia nisso? Minha vida mudara de repente e eu não sabia mais o que fazer para trazê-la de volta ao normal!

Eu queria colo, eu queria atenção, queria conversar, me distrair de tudo o que estava acontecendo! E, naquele momento, eu não queria minha família, Jake, Matthew, Carol ou um amigo que eu acabara de conhecer, quem quer que fosse. Queria alguém que me entendesse, que me tirasse desse mundo, dessa confusão, pelo menos por alguns minutos ou horas. Quer me fizesse rir com besteiras, me dissesse coisas sem importância alguma e que desperdiçasse horas a toa comigo, simplesmente pelo prazer da companhia mútua. Eu queria, eu precisava, mais do que qualquer coisa, do Seth.

Me levantei daquele tronco de árvore em que eu estava sentada e ia dar o primeiro passo na direção em que eu sabia que ficava a praia, senti meu corpo ser paralisado, como se algo prendesse meus movimentos.

- Renesmee... – eu ouvia a voz e sentia como se o vento que soprava a voz até meus ouvidos, fosse a mesma responsável pelas mãos que eu sentia acarinhar meu pescoço e meus braços. Mãos geladas, frias, mas ao mesmo tempo macias e delicadas, embora me fossem remotamente familiares. Eu queria me afastar, correr, gritar, ou ao menos poder me livrar daquelas mãos, mas alguma coisa me impedia. Alguma força, como cordas invisíveis, me prendiam ali e me impossibilitavam de mexer um músculo sequer. – Eu sei que você quer se afastar, eu sei, minha querida. Mas um dia você vai desejar tanto o meu toque quanto deseja agora que eu me afaste. – Eu não reconhecia a voz, não me era tão familiar quanto o toque de suas mãos.  – Me espere, Renesmee. – E dizendo isso as cordas invisíveis me soltaram e eu cai de joelhos na terra molhada da floresta.

Não parei para pensar no que acontecera e sai o mais rápido que pude daquela pequena clareira. Corri e só parei quando cheguei na First Beach. Olhei para a direção em que ficavam as pequenas casinhas – inclusive a de Seth -, e olhei para o mar inofensivo a minha frente. Subi meu olhar para o céu cinzento e nublado e voltei a contemplar as ondas fracas que agitavam a água e alcançavam meus pés.

E, no que me pareceu no máximo 10 segundos, peguei o celular no meu bolso, mandei uma mensagem rápida para Seth, arranquei os tênis e a jaqueta com os quais eu estava desde a hora da aula e os joguei em qualquer canto da areia enquanto eu corria para o mar, sentindo a água cobrindo cada vez mais do meu corpo.

- BOO!

- Não vai dar certo, Seth. – Falei rindo e me virando. – Seth? – Olhei em volta, mas não o encontrei. – Seth? – Mergulhei de novo para procurá-lo, mas também não o vi e então voltei a superfície. – Seth, já pode aparecer, eu sei que é você. Ok, confesso, eu já estava ficando um pouco assustada. Medrosa, eu? Imagina! 

- BOOO!

- AAAAAAAH! – Me virei, dessa vez realmente assustada, e vi Seth rindo às gargalhadas atrás de mim, segurando uma espécie de alga, com o que me assustara. – SETH, SEU, SEU... SEU CACHORRO! – Gritei e deu uma rasteira nele, o derrubando, mas só o fez voltar a superfície rindo mais ainda e me puxar com ele de volta para o fundo, me fazendo rir junto.

Começamos uma guerra de água, misturada com um pique-pega e esconde-esconde, tudo misturado de um jeito que eu nunca vira. Qualquer um que passasse na areia da praia naquele momento diria que nós parecíamos duas criancinhas fugidas da mãe em férias de verão. Até que resolvemos sair para descansar:

- Quem foi que já estava cantando vitória mesmo, Seth? – perguntei rindo.

- Nem vem , você roubou! – Ele reclamou.

- Ah, não roubei nada, para de chorar, lobo.

- E desde quando vale usar sua rapidez vampiresca para correr na água só pra fugir?

- Da próxima eu vou mais devagar, pra você ser capaz de me acompanhar, relaxa, haha.

- Boba. – Ele falou rindo e me jogou na areia.

- EEI! – Reclamei me levantando e correndo atrás dele até o alcançar e puxá-lo para o chão junto comigo.

- Tampinha, para de inveja, eu quem te joguei na areia primeiro, invente sua própria brincadeira. – Ele falou rindo e me fazendo cosquinha na barriga.

- Tá, Seth... HAHAH... Desculpa, eu... AHHAHA, paaaara! HAHAHA – tentei falar enquanto tentava em vão cobrir minha barriga e afastar suas mãos.

 - Então repete comigo: "Seth, seu lindo, eu te imploro, me solta."

- HAHAHA Mas nem amarrada que... HAHAHA eu falo isso, Seth... AHHAHAH

- Ah, ok, eu posso ficar aqui até você falar. – Ele disse e aumentou as cosquinhas.

- Tá bom, Se.. AHHAHA Set, eu falo, mas me solta HAHAHA

- Quando você quiser.

- Seth, seu lin... HAHAHAHHAHA seu lindo, me solta HAHAHHA

- Falou o "eu te imploro", haha

- Tá bom, eu imploro, por favor! HAHAHHA

- Nem foi difícil, vai AHHA – Ele disse me soltando e rolando para o lado enquanto ria da minha cara.

Passaram-se uns minutos até que nossa respiração voltasse ao normal e conseguíssemos falar alguma coisa. 

- Sabe, Seth.. Tô com fome. Quero um prato bem, mas beeem frio.

- Frio? Tá afim de um sorvete? – Ele perguntou se levantando e me oferecendo a mão para me ajudar a levantar.

- Não, de vingança. – me lembrei de quando eu era criança e mordia ele e o Jake. O Seth chorava de tanto rir. Pulei em suas costas, e comecei a morder seu pescoço e seus ombros de leve, tomando cuidado para não perfurar sua pele ou o machucar de verdade.

- Ah, não, monstrinha, mordida no pescoço é sacanagem! – Ele falou rindo e tentando me tirar das suas costas.  – Você sabe que... HAHAH, eu não agüento AHAHA

- Sei muito bem, haha.

Não sei por quanto tempo ficamos brincando, mas já começava a escurecer quando eu peguei minha jaqueta e meu tênis na areia e prendi meu cabelo num coque desajeitado, para irmos numa lanchonete próxima.

Entramos e escolhemos uma mesa mais no fundo, até porque estávamos muito molhados e algo me dizia que o dono da lanchonete não ia gostar muito de nos ver assim por la. Eu estava olhando o cardápio quando uma garçonete chegou para nos atender.

- Bem vindos ao Jullie's. – Ela disse sorrindo simpática. – Hey, Seth, tá sumido ein – ela disse pra ele e seu sorriso assumiu um tom fraco de nervosismo. Eu ri baixinho.

- Eai, Lisa. É, tenho parado mais pra comer em casa mesmo. – Ele disse aparentemente sem reparar.

- O que vai querer?

- Eu quero duas fatias daquela torta de maçã de sempre. E você, Ness?

- Só um milkshake de chocolate.

Lisa anotou nossos pedidos e foi para a cozinha. E mesmo depois que ela nos entregou a torta e o milkshake e foi atender as outras mesas, ainda continuou olhando para Seth.

- Parece que você tem uma fã. - rindo horrores, ele ficou sem graça.

- A Lisa é gentil, só isso.

- Ela gosta de você, Seth!

- Nessie, eu não posso pensar nisso. Essa menina tem a vida pela frente e a vida dela não pode ser boa ao lado de um lobo. - ele disse normalmente e continuou comendo.

Claro que ele pensava nela... Claro que ele pensava no futuro que poderia dar a qualquer mulher.

- Seth, então você não pretende achar alguém? - eu entendi. Ele não me olhou enquanto respondia.

- Eu já tive namoradas Ness, se quer saber, mas não dava certo. Eu não posso contar a elas e isso atrapalha bastante. É óbvio que as pessoas não vão aceitar um cara que some de vez em quando e que é quente, tipo 48 graus normalmente. Elas pensavam que eu sempre estava com febre. - ele disse rindo.

Nessa hora meu celular tocou. Olhei o numero no visor, minha mãe.

- Oi, mãe.

- Ness, ainda está em La Push com o Jake?

- Bem, estou em La Push. Mas não com ele.

- Mas você não foi justamente conversar com ele?

- Sim, e já conversei. Estou com o Seth numa lanchonete perto da praia.

- Ah, ok. Não demore muito, está bem? Já está tarde.

- Ok, já vou. Beijo.

- Beijo. Eu te amo.

- Eu também. – Desliguei o celular e o deixei em cima da mesa de novo. – Hey, Seth, que horas são?

- Já é quase 20h. Tenho que ir, Ness, tenho ronda hoje.

- É, eu também, minha mãe disse que já está ficando tarde. – Disse, revirando os olhos.

Ele pegou um dinheiro do bolso e o deixou em cima da mesa. Saímos e enquanto ele ia para o lado o posto da praia, eu entrava na floresta. Pelo menos por algumas horas, eu pude escapar de tudo, sem ter que explicar nada. Fora fácil. E eu gostara muito.