“Isabella, minha filha, não tente fugir... Por mais que você não queira, você é igualzinha a mim... Meu sangue corre em suas veias... Você é um pouco irresponsável como eu sou...  É impulsiva e inconseqüente.... Você tem a mesma ânsia de conhecer a vida que eu tinha na sua idade... Você vai fazer este garoto infeliz, assim com eu acabei fazendo seu pai e logo depois o Phill... E depois muitos outros... Você não vai conseguir viver presa a ninguém por muito tempo... Se você realmente gosta deste Edward, deixe que ele viva sem você... Faça com que ele se afaste... Deixe que ele seja feliz...” – a voz da minha mãe sussurrava em meu ouvido e eu quase podia ver o seu sorriso nos lábios quando ela me dizia estas coisas horríveis.

- Nãoooo! Eu não sou Igual a você! – gritei e abri meus olhos assustada, olhando em volta.

Eu não estava na Grécia com Renée, eu estava em Berkeley, no meu quarto e a julgar pelo silêncio que fazia, todos tinha acatado o meu pedido de ficar sozinha naquele começo de noite.

Eu apenas tinha adormecido e tido mais um dos recorrentes pesadelos que sempre me apavoravam...

Ela não estava comigo.... Não estava me falando aquelas coisas...

Renée continuava desaparecida pelo mundo depois de destruir mais um coração, de acabar com as esperanças de mais uma pessoa e eu estava deitada na minha cama, acompanhada apenas dos meus medos e angustias.

Virando na cama, olhei para o teto e com o olhar vidrado nas estrelinhas que eu tinha colado nele junto com Edward, tentei  acalmar meu coração que batia descompensado.

Eu tinha pedido para ficar sozinha... Queria pensar no que eu estava fazendo, e relembrar mais uma vez, com as palavras de Renée que era a maneira perfeita de me alertar que eu tinha que continuar firme na minha decisão.

Sempre que eu me sentia angustiada aquela maldita viagem à Grécia voltava em meu sono por mais que eu tentasse esquecer.

Foi durante a minha tão planejada e aguardada viagem de férias com a minha melhor amiga que meu sonho de amor com Edward foi por água baixo...

Foram as palavras da minha mãe que fizeram ruir o meu mais lindo sonho...

Lembro-me como se fosse hoje o dia que eu cheguei com Rosalie em Atenas e muito animada, contei a minha “amorosa” mãe como estava feliz em Berkeley com o meu Edward e como ele me fazia sentir especial e amada, e me lembro mais ainda como ela todos os dias que estive em sua companhia falava e falava em meu ouvido que eu, mais cedo ou mais tarde, iria fazer Edward infeliz porque não o amava de verdade, que eu era como ela... Que não ama ninguém... Que não conseguia se prender a ninguém...

Nos meus dias na Grécia fui bombardeada com as mais diversas histórias, confissões e conselhos vindos de Renée na tentativa de me convencer a curtir a vida e conhecer outras pessoas antes de me decidir por um relacionamento sério e assim não repetir o seu erro.

Em uma noite, quando Rose já tinha ido dormir, Renée me chamou na sala de estar da sua nova casa e me contou que ela se casou com meu pai achando que o amava, por que ele foi o seu primeiro namorado sério e era muito carinhoso e cuidadoso com ela. Eles foram felizes nos primeiros anos, mas depois de um tempo as coisas mudaram e ela notou que o que achava que era amor, era apenas o medo que ela tinha de trocar algo que era certo e seguro, por uma experiência diferente e duvidosa.

Nesta época ela começou a sair escondida de casa e conheceu Phill, seu segundo marido, em uma boate que ela foi em uma noite que tinha dito a meu pai que estava em um aniversário de uma amiga.

A partir deste dia ela começou a ter um caso extraconjugal que não demorou muito a ser descoberto por meu pai.

Ele propôs o divórcio, mas pensando no meu bem, ela negou o pedido e tentou se afastar de Phill e manter seu casamento por mais algum tempo, mas a cada dia que se passava ela se tornava mais infeliz e fazia meu pai mais infeliz, então logo depois ela achou por bem nos deixar e seguir a vida que ela sempre quis.

Livre, sem responsabilidades e com o homem que podia lhe proporcionar tudo o que mais queria.

E quanto mais ela me falava do que já tinha aprontado na vida, mais eu me identificava com algumas das suas falas e menos eu queria ser igual a ela, pois eu tinha visto o sofrimento estampado no rosto dos muitos homens que foram abandonados por ela...

Dave, Steve, John, Nicolas...

Renée sempre destruía corações e deixava as pessoas desoladas com a sua mania de não se apegar a ninguém.

Passei a minha infância e adolescência vendo o sofrimento do meu pai pela falta de responsabilidade de Renée. A cada vez que ela aparecia depois de longos sumiços, cada vez que ela queria que eu passasse férias com ela eu via o meu pai se transformar de uma pessoa tranquila e feliz em um homem amargurado e preocupado. E eu não queria que o meu Edward sofresse como o meu pai ainda sofria.

Ele não merecia isto. Não merecia passar os apuros que passava comigo, quando eu bebia demais e perdia a noção das coisas... Quando em vez de estar fazendo o seu bem, eu só o deixava chateado e magoado.

Quando eu era irresponsável e igual a minha mãe...

Eu não queria ser igual à Renée, mas no fundo sabia que eu era bem parecida com ela e não queria se a responsável pela infelicidade do meu amor, do meu melhor amigo... Do meu Edward.

Na noite que ele me flagrou na volta das nossas férias, eu tinha ido para a festa do condomínio e tentando esquecer um pouco da lavagem cerebral de Renée, resolvi beber todas e completamente bêbada e sem noção do que estava fazendo, fui tirada da festa por um garoto que tinha acabado de conhecer.

Nesta noite lembro apenas de pequenos flashs, como do tal garoto me empurrando contra uma parede, da minha risada nervosa tentando me soltar dele, a voz de Edward e seu rosto chocado... Ele me amparando em seus braços e dormindo ao meu lado enquanto eu tentava me desculpar por mais uma besteira que tinha feito.

Dormi pesadamente por toda a noite sentido o cheiro de Edward, mas ao despertar no dia seguinte e o ver dormindo a minha realidade me atingiu mais uma vez.

Eu tinha que me afastar de Edward para não deixar ele sofrer com minhas loucuras como vi o meu pai sofrer com as de Renée.

Eu tinha que ser forte e fazer o certo... Eu tinha que dar a chance dele ser feliz com alguém que o amasse e o fizesse feliz.

Eu tinha que deixá-lo.

Eu estava chorando quando Edward acordou e assim que ele me olhou com a maior cara decepcionada, tentei me explicar contando o que eu me lembrava da noite passada, mas quando ele começou a me pressionar a falar sobre as minhas férias, me desesperei. Não queria contar a ele o que Renée tinha me dito, pois tinha certeza que ele ia fazer de tudo para me convencer que eu não era igual a minha mãe.

Se eu já vinha pensando na possibilidade de acabar o nosso namoro, depois da conversa naquela manhã eu tive a certeza absoluta que era isto o que eu tinha que fazer e por esta razão, não reagi quando Edward tomou esta decisão por mim.

Eu não podia ir contra o inevitável... Eu não era mais digna da sua confiança e sabia disto.

Assim que ele saiu pela minha porta, não segurei mais meu choro e arrasada, passei o meu dia ponderando o que tinha acabado de acontecer.

Assim que Rose chegou em casa expliquei a ela o que eu tinha feito, pedindo a ela que ela não comentasse com ninguém o que tinha acontecido nas nossas férias de verão. Ela ainda tentou me convencer que o que eu estava fazendo era uma grande besteira, mas ao notar que eu não iria mudar a minha decisão, ela apenas me disse que apesar de não concordar com nada que Renée tinha dito e muito menos com o término do meu namoro, ela iria me apoiar, se mantendo calada.

Os primeiros dias da nossa separação foram os piores dias da minha vida. Eu sofria muito na tentativa de me manter longe de Edward e fazer o que era melhor para nós dois, mas não resistia ao encontrá-lo quando estávamos reunidos com nossos amigos.

Nestas ocasiões eu deixava o meu desejo de tê-lo para mim falar mais alto e escondidos de todos trocávamos beijos e abraços apaixonados, mas logo depois, quando ele voltava a me pressionar a lhe contar o que tinha acontecido, eu me afastava chorando.

Eu não podia contar a ele toda a minha verdade...

Tentando me distrair e tirar Edward dos meus pensamentos, comecei a sair com Rose e nossas amigas solteiras, mas por mais que eu tentasse, não conseguia me envolver com ninguém...

Toda vez que eu me via com outro rapaz que não fosse o meu Edward, as palavras de Renée ecoavam em minha mente e me faziam lembrar como eu era igual a ela... Como eu tinha magoado o meu grande amor...

E por querer provar a mim mesma que eu não era igual a ela, que eu podia mudar e ser digna de alguém como Edward, resolvi viver uma vida mais calma, parando de beber, ficando mais tempo dentro de casa e me dedicando aos meus estudos, mas a cada recaída que eu tinha, sendo quando eu bebia um pouco demais, sendo quando eu não resistia a Edward e o machucava mais uma vez, eu me convencia que, no fundo, eu era igual a  ela.

Uma pessoa ruim, sem coração...

Me afastei cada vez mais de Edward, mas não podia deixar de sentir ciúmes quando sabia noticias de que ele estava bem e se divertindo e quando o vi com aquela ruiva atirada na boate, não resisti e quis ter ele para mim mais uma vez.

Na manhã seguinte da nossa ultima noite de amor, eu tinha plena consciência de que tinha feito besteira mais uma vez, mas não pude deixar de me chocar com a maneira fria que ele me tratou e praticamente me expulsou da sua casa.

Aquele era um Edward que eu não conhecia... Aquela pessoa à minha frente não era mais o meu doce namorado e sim uma pessoa que de tão magoada quase não expressava mais suas emoções.

A partir do momento que eu saí da sua casa, prometi para mim mesma que aquela foi a ultima vez que eu tentei alguma coisa com ele e que eu iria fazer o que ele tinha me pedido, refazendo a minha vida sem ele.

Lembro-me de que Rose ainda tentou me convencer a voltar com Edward logo quando ela reatou o namoro com Emmett a uns oito meses atrás, mas eu estava firme em minha decisão de que precisava começar de novo e foi nesta mesma época conheci Mike, um aluno de intercâmbio vindo da Alemanha e que para a minha sorte fazia uma disciplina na minha turma.

Logo quando nos conhecemos eu relutei um pouco em me envolver com ele, pois não queria arrasar mais um coração, mas depois de um tempo eu percebi que estar com ele era o que eu precisava para tentar recomeçar e me tornar uma pessoa melhor.

Mike é uma das pessoas mais engraçadas, divertidas e simpáticas que eu conheço. Sempre de bom humor e fazendo brincadeiras ele conseguia fazer com que eu me sentisse bem e esquecesse um pouco Edward e dos problemas da minha vida.

Estar com ele fazia com que o buraco que eu tinha dentro do meu peito se fechasse, mesmo que momentaneamente, me fazendo sorrir depois de um longo tempo de escuridão.

Mike é o sol que ilumina os meus dias e que faz com que eu me sinta viva e cheia de esperanças de dias melhores.

Olhei o lindo anel de ouro e diamantes que reluzia em meu dedo anelar e não pude deixar que algumas lágrimas escorressem por meu rosto.

Eu estava noiva de Michael Newton há quatro meses, e no dia seguinte será o meu grande dia. O dia do meu casamento.

Apesar de não saber como será o meu futuro daqui para frente, por Mike me fazer tão bem, aceitei seu pedido e a partir de amanhã serei a sua esposa e embarcarei com ele para uma vida nova...

Uma vida longe de Berkeley...

Uma vida longe de Edward e de todas as lembranças que este lugar me trazia...

E eu vou tentar fazer Mike feliz... Eu vou tentar ser feliz com ele...

Eu vou tentar mais uma vez não ser a pessoa horrível que minha mãe diz que eu sou.

E eu sei que eu sou capaz disto...

Um barulho de porta batendo me tirou dos meus pensamentos e ao me virar na cama, dei de cara com a minha melhor amiga parada ao meu lado, de braços cruzados e uma careta no rosto.

- Rose, eu não te disse que eu queria ficar sozinha? – funguei, limpando as lágrimas que escorriam do canto dos meus olhos.

- Você está chorando outra vez Bella?  – ela se jogou ao meu lado na cama e me abraçou – O que está acontecendo com você, amiga? Primeiro você dispensa a festa de despedida de solteira que eu tinha preparado, depois você manda seu pai sair com o seus futuros sogros, despacha seu noivo sozinho para receber os convidados em San Francisco e agora eu te encontro chorando sozinha em casa? – ela acariciou meus cabelos.

- Não é nada demais Rose... – funguei mais uma vez - Só estou emotiva estes dias... O casamento está mexendo comigo...

- Este choro não tem nada a ver com Edward Cullen não? – ela perguntou, me olhando com firmeza.

- Claro que não! – rapidamente me desvencilhei do seu abraço e me sentei na cama – E por que teria?

- Bella, me ouça nem que seja só esta vez... – ela se sentou ao meu lado - Será que você ainda não percebeu que está fazendo isto tudo só para fugir de Edward... Do que você sente por ele? – suspirou alto – Pare de se enganar Bella!

- Eu não estou fazendo isto para fugir de nada Rose! – a interrompi - Eu amo o Mike e vou me casar com ele amanhã por este motivo!

- Vai se casar com um, amando o outro... – ela afirmou balançando a cabeça – Bella ainda dá tempo de você jogar tudo para o alto e ir atrás da sua felicidade. – pegou minhas mãos - Porque você não vai atrás de Edward e diz a ele que você  o ama e quer ficar com ele?

Rose me conhecia muito bem e por mais que eu tentasse esconder dela o que eu ainda sentia pelo meu Edward e convencê-la que eu amava Mike e que estava feliz com ele, tinha plena certeza que no fundo ela não acreditava em nada disto e estava convicta que na verdade eu estava mesmo fugindo dos meus problemas me casando assim tão rápido e indo morar longe de todos.

Era impossível mentir para ela, mas eu tinha que tentar mais uma vez.

- Por que eu não amo o Edward! – falei com firmeza, tentando fazer com que ela entendesse que eu não iria mudar de idéia - Ele é o meu passado... Um passado muito bom, mas que acabou...

- Bella... Você vai ser infeliz, amiga... Você vai fazer o pobre do Mike infeliz também – Rose falou, apertando ainda mais a minha mão – Será que você ainda não viu isto?

- Não Rose! – eu quase gritei - A minha felicidade está na Alemanha, com Mike e eu vou me embora com ele, já está decidido.

-Você quem sabe... – ela seu de ombros - Se você quer estragar a sua vida eu não posso fazer nada, mas não me diga depois que eu não te avisei Bella.

A expressão ao mesmo tempo preocupada e decepcionada que Rose fazia me arrasou e a vontade de chorar voltou com tudo.

Eu precisava ficar sozinha para que eu extravasasse toda a angustia que crescia dentro do meu peito.

- Me deixe sozinha Rose! – falei baixinho, voltando a me deitar na cama e abraçando meu travesseiro -  Eu quero ficar sozinha. Por favor!

- Ok, ok... Já estou indo... – ela se levantou da cama -  Qualquer coisa que você  precisar, estou com as meninas e Emm no boliche. É só você me ligar que eu volto correndo.

- Obrigada amiga... Mais uma vez. – consegui sussurrar com minha voz trêmula.

- Não hesite em me ligar se você precisar... – ela falou antes de fechar a minha porta.

Assim que Rose saiu do quarto, eu desabei a chorar lembrando me de todos os momentos lindos que eu tinha vivido com o meu Edward desde que tínhamos nos reencontrado nesta pacata cidade da Califórnia. O nosso reencontro... Nossas noites de bobeira em seu apartamento... O nosso primeiro beijo... A nossa primeira vez mágica e carinhosa...  O meu maior sonho de amor.

Eu não tinha coragem de procurar Edward e assim acabar mais uma vez magoando-o e estragando a felicidade que parecia que ele tinha encontrado longe de mim.

Eu vou seguir a minha vida sem ele.

Isto é o certo a fazer.