Sorriu mediante a pequena gotícula rubra que lhe manchara a pele.

Apesar da cena que desenrolava-se a sua frente, a jovem não desviou o olhar. Muito pelo contrario quanto mais o tempo passava, mais suas orbes esverdeadas mantinham-se fixas na figura demoníaca que se alimentava de um humano qualquer, ao qual este tomara a liberdade de raptar.

Mais sangue pintou em sua face pálida enquanto a ex-caçadora apenas mantinha-se parada. Não que sua posição estivesse confortável, muito pelo contrario, a jovem encontrava-se estirada, nua, sobre a cama macia enquanto sua cabeça pendia na lateral desta, o que acabava por fazer com que seus longos cabelos rosados arrastassem-se no chão.

Não piscou, não queria o fazer, não queria deixar de admirar a cena a frente. Logo o sorriso em seus lábios se desfez.

O que estava acontecendo consigo? A pergunta rondava sua mente. Estava enlouquecendo? Como pudera deixar-se apreciar pela calamidade que o demônio cometera? E, ainda por cima, como pudera entregar-se a ele? Logo ela, Rey Von Crimson...

Por breve segundos a rosada fechara os olhos. Logo ergueu seu corpo e sentou-se, novamente revelando suas orbes esverdeadas para encarar fixamente suas mãos.

O que se tornara? Em que esse demônio a transformou? As mãos da Von Crimson tremiam de temor. Não deveria ter passado nem mesmo horas... mas pareceram semanas... meses...

- O tempo na terra e no inferno são diferente, garota – informou a voz ao qual a rosada tornara-se tão familiarizada nesse tempo.

- Q-Quanto temp-po? – gaguejou-a meio rouca. A quanto tempo não falava?

O ruivo sorriu largo.

- Eu diria uns trinta minutos la... – murmurou-o sentando-se em sua poltrona enquanto algumas ‘empregadas’, ou assim a jovem Rey as classificava, apenas adentraram rapidamente no cômodo e saíram levando consigo o que restara do ‘alimento’ do demônio. – E três dias aqui.

A criatura sorriu enquanto apenas observava o medo tomar posse do corpo da rosada.

Rey apenas abaixou a cabeça já sentindo lagrimas escorrer por sua face enquanto ainda mantinha o olhar fixo nas próprias mãos. Como podiam ainda haver lagrimas?

Devia desistir de viver? Devia tentar continuar tentando fugir? Mas para onde iria? Como voltaria para a terra?

- Não há como você fugir daqui – afirmou-o com convicção ainda mantendo o olhar fixo sobre a rosada.

Então o melhor serial, realmente, desistir... certo?

Desistir... Desistir... Desistir... Desistir... Desistir... Desistir... Desistir...

A pequena palavra tomou posse dos pensamentos da jovem, enquanto a mesma apenas deixava seu corpo pender voltando a posição em que antes se encontrava.

Rey mantinha os olhos sobre o demônio, cujo devolvia o olhar com uma intensidade por deveras interessante.

Desistir...

- Você não precisa desistir de viver... – murmurou-o inicialmente logo alargando um sorriso. – Pode se juntar a mim.

- Ser uma imortal.... – murmurou-a baixo.

A criatura desapareceu do local ao qual se encontrava. E logo a rosada pode sentir algumas partes da cama ao seu lado afundar.

Rey não mexeu-se um milímetro enquanto aquela criatura curvava-se sobre si aproximando sua boca, ainda suja de sangue, do ouvido da jovem rosada.

- Uma imortal não... – sussurrou-o logo afastando-se um pouco para lamber a bochecha da Von Crimson.

Logo quando a rosada erguera um pouco a cabeça as faces de ambos tinham apenas centímetros de distancia. Rey não podia negar o quão aquele demônio era completamente diferente de muitos outros aos quais ela enfrentara, ele era ate... tentador...

A criatura alargou um sorriso sádico enquanto Rey apenas mantinha-se inexpressiva.

- Eu te transformaria em um demônio... - afirmou-o fazendo-a arregalar suas orbes esverdeadas.

Ela não poderia aceitar aquela oferta... ou poderia? Mas no fim, quais seriam as reais conseqüências daquela escolha?

- Pense bem... – pediu-o e logo desapareceu.

Naquele momento muitas questões rondavam a mente da ex-caçadora, mas a principal estava longe de ser a pequena oferta que o demônio lhe fizera.

Ah, não. Muito diferente disso.

A única pergunta que, aparentemente, lhe tiraria o sono aquela noite era: Porque ela se sentia atraída por tal criatura ao qual a mesma deveria repugnar?