Era madrugada quando o azulado acordou de seu sono. Tivera um pesadelo estranho aquela noite.

Suspirou, passando a mão pelos cabelos e observou de canto de olho que suas malas não estavam mais onde este havia as deixado.

Franziu a testa, erguendo-se da cama e saindo do quarto, dando de cara com um corredor completamente escuro.

O garoto hesitou um pouco. Não era de sentir medo, mas algo lhe dizia para não ficar naquele lugar, muito menos andar por ele quando nenhuma luz estava acesa.

Os pelos de seu pescoço arrepiaram-se quando uma brisa gelada tocou sua pele. Não sabia de onde o vento vinha, pois todas as janelas, inclusive a de seu quarto, estavam fechadas. Ignorou o fato e simplesmente voltou a observar o corredor.

Esticou-se um pouco e virou para a direita, estreitando os olhos quando viu resquícios de luz atravessarem as frestas da última porta do longo corredor.

– Talvez ali seja o quarto daquela loira – pensou ele, e sorriu consigo mesmo.

Virou para a esquerda e arregalou suas orbes azuladas quando pensou ter visto um vulto passar rapidamente frente a seus olhos. Balançou a cabeça, ignorando o que acabara de acontecer.

– Estou imaginando coisas – disse a si mesmo, voltando a olhar para o outro lado.

O garoto mordeu o lábio inferior. Era estranho para ele sentir-se nervoso. Puxou o ar pesadamente e saiu do quarto, caminhando em passos lentos até onde se podia ver um pouco de luz.

Parou em frente a porta hesitando um pouco. Seu coração acelerou quando tocou a maçaneta. O azulado fechou os olhos, tentando acalmar-se, mas no momento em que o fez, os sons suaves das teclas de um piano ressoaram por detrás da porta.

Ele assustou-se de início, mas logo reconheceu a melodia que tantas vezes tocara para sua namorada.

Calma, doce e romântica. Eram os aspectos que definiam tal canção, que ressoava em notas algumas vezes repetitivas.

– Für Elise – sussurrou ele, com um sorriso nos lábios.

Ronan empurrou a porta devagar e logo o velho piano silenciou-se. O coração do rapaz se acelerou ainda mais quando viu que não havia ninguém no cômodo.

Deu um passo a frente, mas arrependeu-se no mesmo instante em que o fez. A porta atrás de si fechou em uma batida forte, chamando a atenção do rapaz, que virou-se assustado.

Prendeu a respiração quando viu as palavras escritas em garranchos, por detrás do portal de madeira velha e gasta.

Com o coração mais que acelerado, Ronan correu para fora do cômodo, pretendendo voltar para seu quarto e jogar-se na cama, querendo esquecer-se de tudo o que acontecera agora.

Logo saiu do aposento às pressas, pouco se importando se a porta ficaria aberta ou não. Não pôde ver, mas uma figura aparecera ao lado do piano com um sorriso brincalhão nos lábios.

Fora divertido vê-lo, assustado pensou consigo mesma antes de desaparecer no ar.