– Sim – Afirmei, não tinha mesmo outra opção.

– Alguém traiu a sua irmã? – Ele perguntou, cauteloso, me fazendo franzir o cenho.

– Minha irmã? – Perguntei confusa – Eu sou... err....ela... Quer dizer... Eu jamais deixaria alguém fazer isso com ela. – Gaguejei.

Então ele não sabia? Achou que era minha irmã na foto? Ainda bem. Porém, por outro lado eu queria poder contar isso a ele. Ele ia dizer algo, mas alguém bateu na porta fortemente atrapalhando a nossa conversa... Ninguém merece!

Abri a porta e vi que era Seth, ele estava com uma cara de exausto e com várias malas nas mãos.

– O que é Seth? – Dizia Jacob com uma voz mais irritada do que achei normal.

– Cara, esqueceu que eu também estou nesse quarto? Vim aqui, tentei entrar, mas a porta estava trancada, chamei vocês, mas nenhum dos dois atendeu. Se vocês querem que eu fique aqui vão ter que aprender a dividir! – Disse ele se jogando na cama do canto direito da parede. Ele estava com a do canto que era perto do banheiro e eu estava com a do meio e Jacob com a cama perto da porta.

Nesse tempo todo de confusões esqueci de um das coisas mais importantes: comer! Já eram mais de oito e meia, o tempo havia passado muito rápido.

– Onde é o refeitório? Estou morto de fome. Quando vai ser a janta? – Falei. Meu vocabulário sempre foi perfeitamente correto, mas garotos, em geral, não falavam articuladamente. Seth começou a gargalhar como uma criança.

– Porque você esta rindo, Seth? – Perguntei.

– Se você estivesse lá embaixo no jantar, não estaria com fome agora. – Ele falou rindo mais ainda. Tudo bem, eu retiro o que disse de início. Seth não é a pessoa mais engraçada que conheço!

– Realmente, Seth, não teve graça! – Repreendeu Jacob – Também estou faminto!

– Vocês sabem onde fica a dispensa de comida? – Perguntei formulando uma boa idéia.

– Porque você quer saber? Vai até lá reclamar seus direitos? – Seth falou fazendo mais graça.

Tirei o mapa que havia guardado em minha mochila e sentei-me, procurando no mapa o local onde eram guardados os mantimentos. Sorri ao encontrar, no mapa, o que procurava.

– Xi! Jacob, eu acho que o Carlos de tanta fome está tendo visão com comida. Olha ele sorrindo para o nada! – Seth exclamou.

 –  No que está pensando? – Perguntou Jacob, sentando ao meu lado na cama.

Uma das inúmeras qualidades que achei em Jacob, além de ser lindo, alto, moreno, e de sorriso encantador, charmoso e de sorriso matador, era ter um agradável cheiro amadeirado.

– Você não está pensando em reclamar e pedir algo para comer, está? – Ele perguntou desviando minha atenção de seu rosto para suas palavras.

– Claro que não! Eu não sou tão idiota assim! – Exclamei fingindo-me de brava.

– Então se você não vai pedir, vai fazer o que? Roubar? – Ele indagou.

 – Parabéns, Jacob, percebi que sua capacidade mental é igual à de Seth! – Brinquei. Seth chiou e Jacob continuou a me encarar esperando uma resposta para sua pergunta. – Claro que não vou roubar! Não sou nenhum ladrão!

Levantei-me e destranquei a porta. Já estava quase saindo quando Seth falou.

– Carlos, espero que saiba, mas se você for pego por um dos coordenadores você pode ser até expulso, aqui, a noite, não é moleza. O único que sempre foge a noite e nunca foi pego é Jacob.

 – E o que ele fazia a noite quando saía? – Perguntei, não contendo a curiosidade.

Dito isso, Seth e Jacob me encararam. Seth com uma expressão no rosto de “até parece que você não sabe” e Jacob com uma cara de pervertido. Balancei a cabeça e fechei os olhos para não ficar babando por aquela escultura, apenas virei-me e continuei meu caminho ao refeitório.

– Seth, estou indo atrás do Carlos pra ajudá-lo a não ser pego.  – Ouvi Jacob dizer a Seth. – E além do mais, também estou morrendo de fome.

Após sair, olhei no mapa para onde eu iria. Confirmei mais de uma vez para não fazer o caminho errado. Percebi alguém atrás de mim, era Jacob.

– Que foi? – Perguntei virando-me para ele e vendo sua cara de tédio.

– Eu conheço todo esse colégio, sempre fugi de madrugada por caminhos que nem estão por ai e você ainda fica olhando o mapa como um retardado? – Ele perguntou arqueando a sobrancelha

– Retardado? – Retruquei enfurecida. Eu ia continuar, mas ele me interrompeu.

– Agradeço se você não gritar, não quero ter que parar na coordenação! – Jacob disse. – Deixe-me ir à frente e apenas me siga.

Mesmo não concordando e sentindo-me ofendida, o deixei ir à frente para me guiar.

– Retardado... Retardado é você. – Resmunguei ainda me lembrando de suas palavras.

O caminho não era muito complicado, praticamente, seguimos reto o caminho quase todo. E lá estava, o refeitório. Cheios de mesas e cadeiras que ocupavam em média o espaço para mais de 500 adolescentes.

– Nossa. – Não conseguir permanecer quieta. – Como isso aqui é grande!

– É, cara, você nem vai acreditar quando ver isso aqui de manhã lotado de gatas. – Ele disse, mas depois percebeu que o que havia dito me incomodou. – Sabe, sua irmã é muito linda. Quer dizer, sem ofensas, Carlos, é só que...

Ele não conseguiu terminar. Era estranho ouvir alguém falar sobre mim dessa forma.

– Porque ela não estuda aqui? – Ele perguntou com cautela. É, acho que eu tinha que pensar em uma resposta. Já que eu não poderia contar toda verdade, ou só talvez metade dela.

 – Ela não conseguiu se inscrever, as vagas estavam cheias! – Eu falei. – Acho que minha mãe a colocou em outro colégio. É o obvio.

– Cara, é tão estranho. Eu era igual a você, defensor de irmãs, o perfeitinho, respeitador das meninas, mas nunca me dei bem. – Ele falou olhando o nada.

Depois ele entrou no refeitório e eu, logicamente, o segui. Ele pegou uma maçã que estava na fruteira em cima da mesa e eu fiz o mesmo.

– Jacob. Não ache que sendo bonzinho você se dê mal com as garotas, só não encontrou a pessoa certa! – Afirmei.

 Todo mundo, um dia, encontrará a pessoa certa, não encontrará?

– É, mas de qualquer jeito, prefiro continuar do jeito em que estou.  – Ele falou e deu a primeira mordida em sua maçã.

Após comermos, voltamos ao nosso quarto. Preparei-me para dormir e ele falou que tinha que resolver um problema. Aposto que era aquela garota que estava aqui de manhã no cangote dele! Lembro-me que ele prometeu que a “visitaria” à noite.

Ao levantar-me pela manhã e senti-me solitária. Em toda minha vida, meus familiares sempre estiveram ao meu lado, era ruim agora estar em um lugar com desconhecidos. Era ruim ter que me fingir de garoto. Era ruim isso tudo, mas também tinha suas vantagens.

Ainda era cedo para todos estarem de pé, por isso, decidi passear e conhecer o novo colégio, o novo lar. Arrumei minha cama, e me arrumei, mas como uma garota. Logo após fiz meu tour solitário pelo colégio.

Passei por um lindo jardim, mas hoje estava frio e olhar o estado das flores no frio é tão sem graça.

 Continuei a andar e encontrei um corredor estreito. Passei por lá e, no fim, encontrei uma porta quase imperceptível. Ela não tinha maçanetas e nem era diferente da parede, mas o que me fez perceber que era uma porta foi a luz que vinha de dentro dela. No instante que eu iria abrir a porta, ela mesma se abriu, mostrando ninguém mais, ninguém menos que Jacob.

Jacob parecia surpreso e eu não sabia o que dizer. Pensei em uma forma de sair dessa e a única era fingir não conhecê-lo.

– Er. Oi. – Eu disse primeiramente. – Você conhece alguém chamado Carlos Andrade?

– Você é a, a irmã do... – Ele não conseguiu terminar, pois, de longe, se ouviu um enorme grito por seu nome e o de Carlos Andrade. Os gritos começaram a ficar mais próximos. – Ah, não. É a Roberta, a coordenadora.

 – Ninguém sabe que estou aqui! – Falei desesperada. Ele então saiu e foi andando até aonde se via Roberta. Ela, ao vê-lo, gritou estrondosamente alto.

Aproveitei e fugi para meu quarto correndo, mas não consegui deixar de ouvir o motivo de eu e Jacob sermos chamados. A câmera ontem nos registrou comendo fora do horário e isso dava direito a punição.

Chegando ao quarto, Seth ainda estava dormindo. Peguei minhas roupas de garoto e, no banheiro, vesti-me apressadamente. Saindo do banheiro quase tive um ataque cardíaco. Lá estava Roberta, com cara de poucos amigos e Jacob atrás dela sinalizando para que eu não falasse nada.

 – Carlos Andrade e Jacob Black, me acompanhem. – Ela disse virando-se e indo para fora.

Estávamos em sua sala. Ela reclamou tanto que, eu e Jacob, já nem conseguíamos fingir prestar atenção. O que nos fez voltar a prestar atenção foram as palavras dela.

– Estão de castigo, por uma semana, varrer todo o refeitório e ajudar no que for pedido pelos cozinheiros. E considerem-se com sorte, pois esse é o castigo mais leve que alguém já sofreu nesse colégio.

Depois ela nos liberou e fomos para o quarto.

– Considerem-se com sorte! – Resmungou Jacob se jogando na cama. – Isso é tudo culpa sua!

– Minha? Não pedi para que me seguisse. – Falei em quanto calçava meu tênis.

– Vi sua irmã hoje. – Jacob disse sentando na cama. Ele começou a sorrir. Era estranho pensar que ele sorria por se lembrar de mim. – Ela estava te procurando. Quase que Roberta descobre que ela estava lá. Sua sorte foi que quando a Roberta apareceu, fui ao encontro dela para que ela pudesse fugir.

– Ah, claro. – Falei fingindo-me de desinteressado.

– Pensei que era impossível, mas ela é mais bonita pessoalmente.

Suas palavras me fizeram sorrir. A sorte era que eu estava de costas para ele.

– É bonita mesmo. Porém, ela não dá mole pra canalhas como você. – Falei o analisando pelo canto do olho. Ele pareceu bravo, mas era hilário o ver sentindo-se rejeitado.

Após uns minutos, Seth acordou e começou a se arrumar. Ele saiu do banheiro sem camisa. Apesar de não me sentir atraída por ele, não podia negar que ele tinha um belo corpo. Depois foi a vez de Jacob, que também saiu sem camisa. Nossa, por mais que as palavras sirvam para descrever, aquilo era indescritível. Ele sem camisa, com o cabelo despenteado e de cueca box. Acho que não me acostumarei tão fácil assim com isso.

– Se liga, Carlos. Vou lhe apresentar umas garotas tão gatas que você vai ficar com seu... – Seth foi interrompido por uma batida na porta.

Foi Jacob quem atendeu. Quando abriu a porta, uma garota pulou em seu pescoço e lhe tascou um beijo. Era a mesma garota de ontem. A que ele prometeu passar em seu quarto. E que provavelmente foi onde ele passou a noite.

 – Jacob, o que aconteceu, meu amor? – Ela perguntou dramática enquanto o encarava. Seth apenas riu e gesticulou com as mãos insinuando que a tal garota era louca pelo Jacob. – Fiquei te esperando a noite toda. Coloquei aquela roupa que você adora, mas você não apareceu!

 – Sabe, Tânia, tive uns problemas ontem. – Ele coçou a nuca. Típico movimento que os homens fazem quando arranjam uma desculpa ou vão mentir. Pelo menos era o que meu pai dizia. – Seth passou mal a noite toda. Tive que ficar com ele!

– Sério, Seth? – Perguntou a fresca que se atende por Tânia. – Own, bebê, me desculpe. Pensei que estivesse fugindo de mim. Que tola eu sou!

– Pessoal, estou descendo. Estou cheio de tanto drama... Quer dizer, de fome. – Falei irritada em quanto pegava minha mochila.

 – Vou com você, Carlos. Não quero incomodar o casal!

Estávamos no refeitório, na mesa que Seth dizia ser a mesa da sorte. Nessa mesa, estava eu, Seth e mais dois rapazes. Tinha mais um lugar vago, que foi tomado por Jacob.

 – Conseguiu se livrar da senhora drama? –Perguntei rindo.

– Consegui. E não graças a você que fugiu e me deixou com ela. – Resmungou olhando uma garota que passava.

– Jacob. – Falou um rapaz da mesa. – Melissa estava te procurando. Ela disse que queria conversar com você algo muito importante. Falou para se encontrar com ela depois do almoço.

– Ele vai estar muito ocupado depois do almoço. – Zoou Seth. – Ele foi pego.

Nesse momento. Os garotos olharam para Jacob e ele parecia muito envergonhado.

– O que isso tem demais? – Perguntei.

– Jacob, estudou anos nesse colégio e nunca foi pego. Isso é praticamente um fato histórico. Vou ter que espalhar. – Disse um rapaz se levantando.

– Muito obrigado, Seth! – Resmungou ele, levantando-se da mesa.

Tomamos café da manha sem o Jacob, que havia saído irritado. Não entendo porque é tão importante ser aquele que nunca é pego. Garotos! Às vezes parecem crianças de dois anos. Eu ainda achava que o sexo feminino era o mais infantil, mas ando me surpreendendo. Saímos do refeitório as nove da manhã e começamos as aulas. Estudei geometria, literatura e história. Eu e Jacob estávamos no segundo ano e Seth no primeiro. Mas Jacob não apareceu nas aulas. Por isso, passei toda a manhã sozinha. No horário de almoço, fui para a mesa sozinha.

– Carlos. – Apareceu Seth com uma garota ao seu lado. – Essa aqui é Anna, minha namorada.

 – Prazer. – Falei me levantando e apertando suas mãos. – Sou Re... Quer dizer, Carlos Andrade.

 – Anna Belluci. – Ela falou sorrindo amigavelmente. –Seth me disse que por sua causa Jacob foi pego pela primeira vez. Seja o que for que tenha feito. Parabéns!

– Ei, não seja tão dura comigo. Ele que é um imprestável! – Brinquei, rindo.

Conversamos todo tempo que nos restava até a volta das aulas. Descobri que ela era da mesma classe que a minha. Ela era uma pessoa legal, mas eu não podia me envolver muito, pois Seth poderia ficar com ciúmes. A última coisa que eu quero é levar uma surra de um garoto.

Fomos para a aula juntas e ela foi minha companheira na experiência horrível que tivemos. Tivemos que dissecar um rato. Eu tentei manter minha pose de garoto, mas por dentro quis sair correndo. Se você nunca teve essa experiência, eu digo, nunca queira ter. Tivemos aula até as sete da noite. Eu estava exausta. Eu e Anna estávamos andando até o corredor para jantarmos.

– Sabe, eu podia jurar que você é uma garota. – Ela disse me olhando. Gelei nesse momento.

 – Vou encarar isso como um elogio. – Fingi-me de ofendida, mas na verdade, como eu fingia ser garoto, a expressão certa era ofendido.

– Ah, qual é, Carlos? Sei que você não é exatamente quem finge ser. Você é uma garota! – Ela falou rindo.  – Pode admitir.

 – Ta louca? – Falei. – É claro que não sou! Duvida?

– Então, ta. – Ela falou parando. Fiz o mesmo. – Então prove. Beije qualquer garota na minha frente que eu retiro o que disse.

– Eu não preciso te convencer de nada. – Mantive minha pose.

Ela, de repente, veio pra cima de mim, tentando me beijar. A segurei pelas mãos.

 – Que nojo, você é louca, garota? – Exclamei. – Tudo bem, eu sou uma garota.

– Eu sei. – Ela disse se afastando.

– Como?

– Seth disse que teve um sonho maluco em que via você entrando no banheiro e depois saindo uma garota. Depois, a garota voltava ao banheiro e depois ele acordava com você saindo do banheiro e a Roberta o procurando.

– Não acredito que dei esse mole! – Falei furiosa.

_ Não esquenta. Seu segredo está a salvo comigo. Nem Seth desconfia. – Ela falou me abraçando. – Eu poderia até contar a ele, mas ele acabaria dizendo para Jacob que não é lá um dos melhores guardiões de segredos. E mesmo se fosse. Você seria cantada dia e noite.

– Nem me diga. Eu trouxe minha foto e ele está agora interresado em minha “irmã”. – Falei fazendo aspas com as mãos.

– Sério? E como é dormir com dois garotos? O Seth é um menino direito, né?

 – Claro. Desde que cheguei ele vive falando de você. – Contei a verdade. – Já Jacob é o canalha perfeito. Nossa, ele parece um modelo e finge ser o rapaz perfeito.

 – Cuidado com ele. Onde ele passa se vê uma garota machucada. Ele costuma quebrar os corações de todas, sem exceção. O mais novo brinquedinho dele agora se chama Tânia.

– Me diz uma coisa, ele já cantou até você?

– Claro que não. Mas porque Seth é seu melhor amigo. Alias, qual é seu nome de verdade?

– Renesmee. Mas já ganhei pelo garotos daqui o apelido de Nessie, por ser o monstro que levou Jacob a primeira punição. É melhor que Carlos Andrade.

– Com certeza. Até amanha. Pede pro Seth passar lá no quarto mais tarde. Preciso tomar um banho. Encontro-te no refeitório mais tarde.

– Claro, sua louca tarada. – Falei lembrando-me dela ter tentando me beijar. Ela não entendeu de início.

– Ei, eu não iria te beijar. Eu sabia que ia desistir. Nunca trairia Seth. – Ela se defendeu. – Até mais!

Subi para o quarto e encontrei Jacob e a fresca que se atende por Tânia, como gosto de chamá-la, quase despidos no meu quarto.

– Jacob, a Melissa mandou dizer a você que a noite que vocês tiveram ontem foi ótima. – Menti. Não sei o que deu em mim naquele momento. Mas eu precisava que ela fosse embora e que Jacob corresse atrás daquela tola.

Eles apartaram o beijo. Ela o olhava com fúria, pensei ter visto fumaça saindo se seus ouvidos.

– Você é um idiota! – Ela falou batendo nele e logo em seguida saindo.

Jacob me encarou e nesse momento a porta se abre. Pensei que a fresca havia voltado, mas era Seth.

– Não vai atrás dela? – Perguntei fingindo-me de inocente.

– Atrás de quem? – Seth perguntou.

– Da fresca que se atende por Tânia. – Respondi ainda sendo encarada por Jacob.

– Quer acabar com minha vida? É só avisar. – Jacob disse em quanto saía do quarto batendo a porta.

– Acho que peguei pesado. – Refleti em voz alta.

– Acha? Eu tenho certeza. Nunca vi Jacob tão zangado assim.

– Anna pediu para que você passasse no quarto dela antes do jantar. – Falei tentando me livrar dele.

_ Ok. To indo. Vê se arranja alguma gata pra namorar, Andrade. Fica só furando o olho do Jacob. – Ele falou rindo em quanto saía.

Ele se foi. Tomei um banho e me vesti como garota. Estava escuro e aposto que a essa hora todos estariam no refeitório, então, a atenção dos monitores, diretores, coordenadores e essas autoridades mandonas estariam no refeitório. Eu precisava pensar e era praticamente impossível vestida de Carlos. Era como um bloqueio. Já sei porque garotos são idiotas, porque não pensam.

Desci as escadas de fininho e pensei em um lugar para ir. O jardim seria perigoso, pois Seth e Anna iam para lá para namorarem e pelo que percebi, eles não jantariam hoje. Resolvi ir ao lugar onde encontrei Jacob de manhã. Talvez eu descubra o que ele fazia lá pra não passar a noite com a fresca que se atende por Tânia.

Era uma boa idéia. Ele não almoçou, então estaria morto de fome, e isso se resume ao refeitório. Esse plano parecia ser bom, até eu encontrar um rapaz que percebeu que não era aluna.

– Ei, você não estuda aqui! – Ele afirmou.

– Mas, é claro que estudo! – Menti o encarando.

– É mesmo, então vou chamar a coordenadora para perguntar a ela. – Ele falou passando.

– Não, não faça isso! – O parei.

– Que tal subirmos ao meu quarto? Amanhã você escapa e garanto que ninguém saberá de nada!

– Se enxerga, garoto! – Gritei.

Ele, que estava longe, veio em minha direção e me segurou pelo braço.

– O que você está fazendo, Mendes? – Ouvi Jacob perguntando de longe.

– Na verdade, não é da sua conta! – Rebateu ele em quanto andava me arrastando com ele pelo braço.

– Na verdade, é sim. E se você não a largar agora, eu juro que não vou ter pena de quebra suas pernas como poderia ter feito da última vez que cruzou meu caminho.

Ele virou-se e encarou Jacob. Depois olhou para mim e soltou-me.

– E, mais, se alguém souber que ela esteve aqui, você já sabe, seu segredo não será mais tão secreto assim.

Ele apenas concordou e foi embora. Assustada por ser quase pega, andei até um banco e sentei-me nele. Jacob veio ao meu encontro.

– Você está bem? – Ele perguntou. Continuei em silêncio ainda processando os fatos.

– Porque você fez isso? – Perguntei o encarando. Ele pareceu confuso. – Porque se meteu e me salvou de um enorme problema?

– Queria o que? Que eu deixasse-a nas mãos daquele idiota?

– Não, não me refiro a isso. Porque se importou? Você nem me conhece! – Falei. Era a pura verdade. Mesmo ele conhecendo Carlos, aposto que não defenderia ele.

– Mas eu conheço seu irmão. E sei o quanto ele se importa com você. – Ele falou em quanto me analisava. – Ele é meu colega de quarto.

_ Mas isso não justifi...

   – Quer conversar mesmo sobre isso? – Perguntou ele sorrindo.

– Não. – Admiti. – Só que é estranho.

-– Não quero ser grosseiro, mas o que estava fazendo aqui de manhã? E agora? Não podia ligar para seu irmão ao invés de vir para cá escondida?

– Eu gosto de adrenalina. – Menti. Já estava boa nisso. – Além do mais, gosto desse colégio. É diferente de tudo que conheço.

– E o que você conhece de tão diferente daqui?

– Bom, pra você deve ser insignificante, mas sempre estudei em colégios femininos. Então, nunca tive muitos contatos com garotos.

– Sério? – Perguntou ele sorrindo, enquanto se sentava ao meu lado. Ele me encarava e a distancia que nossos rostos tinham um do outro era muito insignificante. – Então tenho a honra de ser o primeiro?

– É. – Me perdi em seus olhos. Seu rosto se aproximava do meu e o meu dele. –  Não!

Gritei tão alto que até eu mesma me senti surda. Ele se assustou e sentou-se novamente sem se aproximar.

– Não é que eu não conheça nenhum garoto, porque, aliás, conheço meu pai e tenho um irmão. E conheço meus familiares, mas me refiro a questão sentimental.

– Isso quer dizer...

– Que nunca beijei ninguém, nunca tive namorado e etc. – Cortei-o falando apressadamente.

– Bom, se quiser ser beijada, é só me chamar. Estarei as suas ordens. – Ele dizia brincalhão, mas eu sabia que era sério.

 – Como se eu quisesse ter meu primeiro beijo com o mais canalha da escola. – Soltei sem pensar.

 – O que?

_ Você acha que eu não sei das coisas? Você é o colega de quarto que meu irmão disse que era canalha.

–  Acho que está confundindo. Pode muito bem ser o outro.

_ Ah, claro. O outro, ele disse que é fiel a sua namorada. E pela sua frase de estar sob minhas ordens, você não parece ser o garoto fiel.

– É. Percebi que seu irmão me odeia mesmo. – Ele falou se levantando.

– Quem disse que ele te odeia?

_ Primeiro me mete em uma confusão. Segundo, faz minha namorada acreditar que eu estava com outra, quando eu estava naquele cômodo que você me encontrou de manhã.

 – Ah, ta. Então você é super fiel a sua namorada. Nunca a traiu e também não foi por espontânea vontade seguir ele pelo refeitório.

– Ta. Confesso que não sou o melhor namorado do mundo. E também que não é culpa dele ter o acompanhado. Mas ninguém é perfeito.

– É, mas você pode muito bem escolher não fazer o que faz, mas ao invés disso prefere continuar. Prefere ser infiel com a sua namorada, com as garotas que a traí com ela.

– Nossa. Hoje é meu dia de azar. – Ele falou com as mãos na cabeça.

– Por quê? Descobriu que não pode ter tudo o que quer?

Apenas nos encaramos e ele foi embora. Não tinha certeza se ele passaria no quarto, então permaneci onde estava. Lá era seguro por não haver câmeras e todos os monitores dormiam.

Resolvi dormir escondida fora do quarto, pois não tinha certeza se Jacob ainda estava acordado ou Seth. Depois de tantos obstáculos, cheguei ao lugar onde vi Jacob sair. Abri a porta e percebi que dentro do cômodo era um quarto. Mas, não estava habitado, por evidencias lógicas. E também por um pequeno detalhe. Minha foto estava em cima da cama. A mesma foto que Jacob viu. Será que ele havia pegado na minha gaveta?

Link da foto: http://celebs.ptclassic.com/3/ashley-benson-cute-celeb/8.jpg

É. Dormirei essa noite aqui. E foi isso que fiz. Antes mesmo de pensar em algo caso me encontrassem. Apenas fechei meus olhos e enquanto dormia, sonhava com ele. Jacob.