Suspirei. Nunca havia viajado de avião. Meu estômago reclamava após quase 12 horas sem comer absolutamente nada. Estava com medo, e o pior, não tinha ninguém para me dizer que 'ia dar tudo certo.'
 Hoje faz exatamente 1 mês desde a morte dos meus pais. Só de lembrar o fato, sinto meus olhos esquentarem com as lágrimas que ainda insistem em cair.
 Subi os degraus e entrei no veículo. Por fora, sempre achei que aviões aparentavam ter tamanho maior.
 Acomodei-me em uma poltrona longe da janela pois, já havia visto vários filmes em que no caso de um acidente, os passageiros que ficavam em poltronas próximas às janelas eram arremessados para o lado de fora.    Estremeci e tentei não pensar no pior.
 Fechei meus olhos e imaginei como seria se meus pais estivessem comigo.  Provavelmente minha mãe iria acariciar meus cabelos e pedir para que eu relaxasse que tudo ficaria bem.
 Pigarreei, na tentativa de afastar para longe minha vontade de chorar.
 No momento, tudo o que eu mais desejava era me trancar em um quarto escuro e chorar até minhas lágrimas secarem. Mas sempre que eu lembrava das palavras da minha mãe "Paciência e perseverança tem o efeito mágico de fazer as dificuldades desaparecerem e os obstáculos sumirem." sentia-me forte o suficiente para levantar da cama pela a manhã e tocar a vida.
 Passei a viagem inteira observando os demais passageiros. Alguns tranquilos e outros agitados, talvez com medo. Como eu.
 Aterrissamos e eu fui uma das primeiras a levantar.
 Texas. Teria sido uma boa escolha mudar para a cidade natal da minha avó? Meu pai dizia que há muito tempo não falava com ela, e sequer sabia se a mesma ainda estava viva. O motivo? Ele disse que ela havia enlouquecido sem motivo algum e antes que ele completasse 4 anos de idade, foi obrigado a morar somente com o pai. Se possível, iria visitar-lhe em sua casa. Ou no túmulo. 
 Desci do avião, e peguei um táxi, indiquei ao motorista o endereço da faculdade e comemorei metalmente o fato de não estar mais sobrevoando por aí.