Faltava meia hora para eu ir para casa, para dar seis da tarde, a hora que saio do colégio.

  Syn estava deitado na cama, de lado, as costas encostadas em minhas pernas. Eu estava sentada, falando a matéria para ele e tentando explicá-lo. Mas eu sabia que ele não estava entendo nada, e que nem se esforçava para entender.

-Eu já vou indo.

-AHHHHHH NÃO!

  Ele disse, virando-se para mim e abraçando as minhas pernas, franzindo a testa. Ri, erguendo as mãos.

-Eu tenho casa, Syn. Sou de família, homem.

-Eu sei que é, e isso é uma droga. Se não fosse, eu poderia pagá-la e tê-la para mim.

  Disse, me largando.                                   

-Não precisa me acompanhar até a porta. Fiquei deitado aí, e prometa que irá tomar os remédios.

-Tá, mamãe.

  Disse, fazendo uma careta.

-Amanhã eu volto. Vou passar meu sábado cuidando de um doente, yay.

  Ele riu.

-Eu sou um doente engraçado, poxa.

-Quem disse que eu estou reclamando?

  Só depois que eu me toquei do que tinha dito.

-Liss, eu odeio o seu gênio ruim. Ele sempre estraga os meus planos.

-Vou deixar o meu fichário aqui, para você tentar entender a matéria. Qual quer coisa, você tem o meu celular.

  Me inclinei e beijei sua testa.

-Tchau, Syn.

-Tchau, Liss.

  Subi as escadas e entrei em casa. Graças a deus, Chad tinha saído. Papai estava na cozinha, e um cheiro maravilhoso vinha de lá.

-Pai, eu adoro quando você cozinha.

-Hey, já chegou?

-Cheguei mais cedo.

  Apareci na cozinha, sorrindo, me sentando na mesa. Papai se encostou na pia, secando as mãos com um pano de prato.

-Não culpe Chad. Ele é assim, você sabe disso.

-Eu sei, mas Brian não é nada daquilo que ele falou. Tirando o tatuado. Eu não podia deixar que ele acusasse Brian de ser um drogado.

-Eu gosto daquele rapaz. Ele é gentil, educado.

  Disse, dando de ombros.

-Você está namorando Brian?

  Papai perguntou. Mais um que pensa isso agora!

-Não.

  Respondi, apenas, apertando os dedos. Ele me encarou, suspirando.

-É claro que você não contaria para o seu velho.

-Pai, eu não estou. É sério. E, mesmo assim, eu contaria para você.

  Sem mais nem menos, a porta da sala abriu, e Avril entrou, tacando a mochila no sofá e gritando:

-Tem pão velho aê?

  Papai riu. Já estávamos acostumados com as visitas de Avril assim, de uma hora para outra.

-Guardamos um pra você.

-Acho melhor arrumar mais então.

  Apareceram atrás dela June e... Oh, meu deus.

-DEAN!

  Eu disse, erguendo as sobrancelhas; não podia acreditar. Eu não estava convicta que encontraria ele de novo, já que as áreas de três estados vão naquele shopping. Ele sorriu, e ergueu as mãos, e disse, brincando, como sempre:

-Eu quero o meu pão.

  Ele disse, sorrindo.

  Nós tínhamos acabado de jantar, e, como amanhã é sábado, papai perguntou se eles não queriam dormir aqui.

-Ah, não sei... AH, a quem eu engano? Já tenho metade do meu guarda roupa aqui mesmo.

  Avril disse, deitando-se no sofá e mudando de canal. Olhei para dean que, ao meu lado, parecia pensativo.

-Não acho uma boa idéia, o seu namorado pode...

-Ele não é meu namorado, estava de palhaçada.

  Eu disse, meio irritada com essa situação. Brian tinha mesmo conseguido fazer a cabeça de Dean.

-Ok, então.

  Sorri, encarando June agora.

-E você, June?
-Eu? Hm, ok, já fiz o dever de casa e...

-AHHHHHH, a nerd contra ataca novamente.

  Avril reclamou, jogando a cabeça para trás. Papai riu, e se despediu de todos, entrando no quarto e fechando a porta.

-Onde está Chad?

  Avril perguntou, baixinho, empurrando Dean, que saiu do meu lado e sentou-se no outro sofá.

  Respirei fundo.

-Não sei. E não quero saber.

-A coisa foi feia ontem, heim?

-Você não tem idéia.

-O que as mocinhas estão tricotando aí?

  June se intrometeu, se sentando no braço do sofá do meu lado.

-Dean está com ciúmes da Liss e do Syn.

-Ihhhh...

-O que, estão falando de meninos? Agora vamos pintar as unhas e fazer trancinhas também?

  Dean perguntou, se sentando no chão, rindo da nossa cara. Avril fez uma careta, debochando, e depois completou:

-Seu cabelo é quebrado demais, nem milagre resolve o que você tem aí, meu amigo.

  Ela se virou para mim novamente, mas foi June quem perguntou:

-Você foi ver se está tudo bem com o Brian?

  Já tinha até me esquecido de contar isso a elas.

-Ele está apenas com um resfriado.

  Elas assentiram, balançando a cabeça. Formou-se um silencio.

-O que nós vamos fazer?

-Jogar banco imobiliário!

-Bater no Dean!

  Com certeza essa foi a opinião da Avril.

-Experimenta, patricinha de Bervely Hills.

  Ele disse, fechando os punhos e colocando acima da cara. Ela deu um tapa na cabeça dele e ele se encolheu.

-Que garota bruta, meu deus.

-Vou te bater tanto que você vai ficar roxo.

  Ele riram, achando graça.

-HEY, eu sou brava.

  Ela disse, cruzando os braços e fazendo biquinho.

  Avril adora Dean, acho que ela já teve até uma quedinha por ele, mas eles adoram implicar entre si. June é a mais distante dele, embora Dean ache o jeitinho dela fofo e engraçado.

  Eu era super amiga da Jenna quando estávamos na primeira serie, até a quinta, quando eles saíram. Foi bem chato ficar na escola depois disso, mas aí nós fomos arranjando outros jeitos de nos divertir sem o palhaço e a bobona.

  Dean sempre foi o palhaço da turma. Ele tem dislexia, então, não conseguia ler direito. Quando a professora pedia para ele ler, e quando todos o zuavam, ele fazia alguma palhaçada para distrair o pessoal e parar de ler. Já perdi a conta de quantas vezes eu tive que o esperar sair do castigo, já que era ele que me levava para a escola. Dean é dois anos mais velho.