A Lenda de Jamie Carter escrita por Live Gabriela


Capítulo 23
Olhos Azul-Celeste, Claros e Esverdeados


Notas iniciais do capítulo

Capitulo escrito por: Live Gabriela Woiciekoski ^^ E narrado por Jamie Carter.



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Sentados naquele tapete natural, verde e macio, eu ouvia Campbell dizer o que ocorrera com ele e Blase. Claro, ele não disse muito e para ser sincera, não entendi muito bem a história, mas talvez tenha sido pelo fato de eu não estar prestando atenção no momento, não por eu não me preocupar, mas sim porque talvez eu estivesse ocupada demais reparando em seus olhos, que hoje, estavam num especial tom de azul-celeste (normalmente estão mais escuros do que isso). Talvez eu estivesse reparando em seu novo corte de cabelo, que chamava minha atenção quando os fios louro-escuros refletiam os raios de sol. Ou talvez eu estivesse preocupada demais com seu ferimento, na barriga trabalhada, que quando encostava na roupa, sujava-a aos poucos de sangue.

O vento era frio, mas o sol brilhava, o que nos aquecia um pouco. Um pouco. Mas não o suficiente. Talvez algo esquentasse mais.

- ...  E então ele seguiu seu caminho. Sei que ainda vamos nos encontrar e ele também sabe dis... - ele parou de falar. Mas não foi porque quis, e sim porque foi interrompido. Interrompido por mim.

Seus lábios eram macios e quentes. Mais do que o sol estava naquele dia. Havia um pouco de sangue em sua boca, mas não me importei. Meu coração batia forte e rápido e pude sentir o dele também. Estava tudo calmo e agitado. A temperatura era perfeita, mas o clima era ruim. O silêncio amedrontava ao mesmo tempo que confortava. O beijo era perigoso, mas não importava, era algo que me envolveu de um modo que apaixonava. Até que em um momento pensei "O que está fazendo Jamie? É o Ryan!". 

Abri os olhos e me afastei. Eu não disse nada, nem tampouco ele. Mas aquilo era demais. Havia algo de errado comigo. Não era James! Era Jamie! E só naquele momento tinha percebido. Passei a vida inteira como um menino sujo que brincava com arcos e flechas e vivia com um velho homem sábio e rígido.

Eu não era aquilo. Aquilo era James Carter. Um arqueiro magricela que não deixava a desejar. Mas agora... Agora é diferente, naquele momento também era diferente. Ali eu não era James Carter, eu me sentia Jamie Carter. O problema é que não conhecia essa pessoa. Não sabia quem era, não sabia o que fazia, o que queria. Só sabia que era confusa em pensamentos tanto quanto era em sentimentos.

- Ryan! - gritou Smith ao se aproximar com os cavalos de Campbell e Hammel.

Ele parou e nos olhou. Estava sentada, achei que Campbell também estivesse, mas ele já estava de pé. Ao que parecia, havia um bom tempo.

- Você está bem? - perguntou Smith - Santo Deus! É um milagre estar vivo homem!

- Estou bem Smith, obrigado pela preocupação. Sim, é realmente um milagre, e agradeço à Deus por isso.

- Mas o que...

- Smith, Ryan está sangrando. Ajude-o. - interrompi antes que ele perguntasse o que havia acontecido.

- Está? Deixe-me ver, sim?! - dirigiu-se o filho de médico ao cavalheiro machucado.

Campbell olhou-me com uma expressão que não consegui decifrar até perguntar lhe e receber a resposta. Smith o ajudou a desenfaixar o machucado que se mostrava mais grave do que parecia. Era feio e profundo.

Fui até a carroça pegar umas coisas que Smith tinha pedido. Uma caixa de madeira. Dela saíram pomadas, cremes, chás, ataduras, agulhas, linhas e muitas outras coisas que podiam ajudar na recuperação de um guerreiro. 

Fiquei observando Campbell. Suas expressões mostravam que o machucado doía, principalmente quando Smith passava algo por cima ou encostava. Este último ao ver que eu não estava fazendo nada, sugeriu que eu procurasse os outros para dar a notícia de que Campbell estava bem.

Obedeci, mas fui a pé. Queria andar para pensar um pouco, e além disso, eles já deveriam estar perto. Levei meu arco e minha aljava para o caso de emergências. A estrada era iluminada por alguns raios de sol que atravessavam as copas das árvores. Havia o barulho de grilos e pássaros. Logo descobri um barulho diferente. Não era um grilo ou um pássaro, era um humano. Um humano que olhava fixamente para mim. Estremeci ao ver os mesmos olhos claros e esverdeados que havia visto no dia da emboscada.

Estática, o vi se aproximando. O homem novo dos cabelos acinzentados chegou bem perto. Eu não tinha reação, apenas o fitava pedindo à Deus, em pensamentos, para que não me matasse, afinal eu sabia quem ele era.

Blase tirou meu capuz e desamarrou minha capa, tirando-a de mim e jogando-a no chão. Olhava fixamente em meus olhos. Seus dedos ásperos passaram pelo meu rosto acariciando-o, como se já fosse algo de costume. Sua boca estava seca e com um corte, dela saíram as palavras:

Mademoiselle... Ce qui rendune femmedans uneforêtavec unfusilàla main?

- Francês... Eu não falo francês.- disse tremendo. 

- Pardon... Eu apenas queria saber o que uma dama faz numa floresta com uma arma em mãos.

Não respondi. E apesar de nervosa, sabia ele não ia me atacar. Não atacaria uma mulher, até porque sua aljava estava com apenas duas flechas. Não as desperdiçaria comigo. Além disso, naquele momento, ele estava interessado em outra coisa...

- Posso? - disse olhando para meu arco, e logo em seguida para minha aljava.

Não respondi. Apenas fui elevando discretamente minha mão livre até o punhal que carregava na cintura.

- Dê-me aqui, oui. - disse Blase tomando meu arco e tirando a aljava das minhas costas. - Hum, não é de tão boa qualidade, - disse analisando as flechas e o arco - mas parece resistente e ...

Peguei o punhal e o tirei da capa. Blase estava distraído. Era a hora perfeita para atacá-lo. Ergui a arma pronta para acertá-lo. Mas ele é rápido e esperto. Num movimento inesperado ele se defendeu com meu próprio arco. Em seguida manobrou-o desarmando-me, podendo assim pegar o punhal do chão e guardar consigo. 

- Se esta é sua arma tem que aprender a manuseá-la melhor. - ele parou um momento e olhou para meu arco e minha aljava. - Pas, esta não é sua arma, não é?! O arco e a flecha são.

Continuei em silêncio. Blase jogou meu arco de volta para mim, e em seguida entregou a aljava em minhas mãos.

- Cuide bem disso. - disse o francês.

Essa foi a última coisa que ouvi Daimmem Blase dizer. Ele era um assassino, havia machucado Campbell e matado vários ingleses, e mesmo assim, ainda conseguia ter honra.  Eu não falava francês, mas se soubesse diria "Obrigada".


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Notas finais do capítulo

Comentem, comentem, comentem... Ahh, ficou bom?! O que acharam? Hein? Hein?Beijos... Live Gabriela Woiciekoski ^^



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