Atenção, pulso firme e sangue frio.

Esses são três requisitos básicos que aprendemos na academia, sempre treinávamos para não perder o foco, manter o olho no alvo, que fosse um garoto arruaceiro ou um exército inimigo. Treinávamos para não dar bobeira na hora da verdade, não deixarmos que nossos medos fizessem que nos amolecêssemos diante do perigo iminente. Treinávamos o sangue frio para podermos ir além do que qualquer um iria.

Mas se quer saber, na hora nada disso importa, você vê o perigo e torce para que sobreviva mais um dia para voltar para casa.

Meu nome é Ryan Campbell, sou um dos menos gabaritados membros da minha equipe, fomos enviados pelo rei para investigar o desaparecimento de seus batedores reais, estávamos em 9, agora sobram 7.

Seguimos pistas até um mercado abandonado na praia, quando vimos um vulto entramos para investigar, quem quer que tenhamos encontrado é um lutador muito habilidoso, e me deve a vida de dois colegas.

Mark, meu amigo de longa data segurava o seu machado e olhava para mim assustado, ele estava atrás de um barril e todo coberto de terra e feno, estávamos separados por um corredor desprotegido. Procurava pelos outros, os gêmeos, capitão Steve e principalmente Jamie, não sei por que mas aquela pessoa não saia da minha cabeça, será que tinha morrido? Por Deus espero que não!

Foi ai que Steve, o capitão de nossa divisão se levantou, levantando sua espada desenhada com o sangue de mil oponentes ao ar, saiu correndo e gritando, urros de liberdade, chamando o oponente e levantando à moral da nossa equipe para que avançássemos, acho que queria assustar nossos inimigos, fiquei feliz de vê-lo vivo saindo de uma lojinha, mas tudo que nosso intrépido capitão conseguiu nos mostrar foi nos mostrar o que enfrentávamos, o que realmente enfrentávamos...

Um grito incrivelmente alto, a carne de nosso capitão voava pelo ar, sangue jorrando, a cara de dor, meus ouvidos estavam me matando, os tapei e fechei os olhos com força, sons metálicos do meu lado, e gritos de dor quase inaudíveis no meio do urro feral. Aquilo não parecia com nada que eu já tenha visto ou ouvido falar, aquilo não pertencia ao reino de Deus...

O som passa, abro os olhos desnorteado, olho para o lado e vejo apenas um monte de caixas cheias de marcas vermelhas e um cheiro terrível de morte no local. Mark estava caído no chão, talvez estivesse morto, talvez desmaiado, nosso capitão havia sumido, foi ai que me levantei, olhei para os lados, e ninguém mais estava lá, gritei por seus nomes mas ninguém respondeu, tudo que sobrara era o sangue e o fétido cheiro de sangue.

-Hammel! Smith! Jamie!

 Ninguém respondia... Foi ai que senti algo frio em minhas costas, meu corpo amoleceu, comecei à perder os sentidos, seria aquilo uma espada? Eu morri? Apenas sentia um cheiro forte e uma respiração fria em minhas costas.

 -Quem... Que...

 Uma voz idosa ria atrás de mim, algo escorria pela minha boca, sangue. Tudo estava ficando escuro. A ultima coisa que vi foi uma flecha vindo à minha direção, mas não me acertou, acertou o que quer que estivesse atrás de mim. 

A morte é uma coisa engraçada, é apenas nesse momento da vida que você para pra ver o que viveu, como chegou ali, o que poderia fazer de maneira diferente, só ali que você para pra ver o que mudou na história do mundo... Minha vida passou e tudo que fiz me trouxe para cá, mas como tudo isso aconteceu? É uma longa história, mas não cabe a mim contá-la nessa hora de morte, pelo menos não sozinho, essa história começa a anos atrás e não comigo...ela...começa...assim.