"A morte não é tão ruim"

A menina ofegou. Ela andava fazendo muito isso ultimamente, mais até do que o normal. Se jogando no chão ela começou a vomitar sangue e todo o seu almoço. Se mirou na poça vermelha e viu como estava horrível; a palidez assombrosa, as enormes bolsas roxas abaixo dos olhos, os cabelos sujos e parecia feita de papel, como se a qualquer toque ela pudesse se rasgar.

Jogou-se mais uma vez no chão, ela sentia seu corpo dolorido, sentia-se terrivelmente fraca e como se não tivesse mais motivo para estar lá. E se tivesse sido diferente? E se ela tivesse continuado a vida, estudado, arranjado um emprego, se casado e sido feliz? Ela apertou os lábios irritada, ela não queria esse pensamento no fim.

No fim.

Ela pegou as duas palavras e se assustou com o que estava acontecendo. Ela estava morrendo! Realmente morrendo! Não no sentido de alguns dias, mas no sentido de agora! Ela não iria sobreviver até o anoitecer, e o desespero por causa da descoberta a tomou. As lágrimas vermelhas desceram pelo seu rosto.

Lágrimas de sangue.

Iria morrer sozinha, ela merecia isso. Mas com um grunhido ela não estava mais sozinha. Primeiro foi só uma sombra, um fruto da imaginação, mas agora era real. Ele estava lá. Tão vivo que sua mão quente queimou na pele pálida dela.

- Sakura? – ele chamou.

Sua voz era doce, mais ainda assim preocupada. Sakura não podia estar mais feliz, afinal ela não iria morrer sozinha. Que maravilhosa forma de morrer! Sorrindo, ela reuniu todas as sua forças para sussurrar palavras ao seu amado.

- Ola Sasuke – disse – Como me encontrou?

Ela viu ele desviar os olhos, ele fazia isso sempre quando algo o irritava.

- Quem sabe minha maldição também possa ser útil.

Ela riu, e isso causou uma crise de tosse sangrenta. Tudo começou a ficar cinza, o céu escurecido da chuva que ela havia provocado, parecia dominar sua visão. Mas de uma forma linda, de uma forma brilhante e mágica!

Como se ela estivesse indo para o paraíso.

O sabor quente em seus lábios a despertou, a imagem ficou mais nítida ainda com a cinzenta sombra da morte a cobrindo.

- Você vai ficar bem – disse Sasuke, o pulso ferido erguido na boca da menina, o sangue escorrendo – Agora tudo vai ficar bem.

O gosto era bom, mas não era suficiente. E Sakura estava sem forças para arrancar a cabeça de Sasuke, ela também não queria aquilo. Desejava morrer, não ferir mais ninguém, ser finalmente castigada por seus pecados.

- Sasuke – ela falou ainda sorrindo – Eu vou morrer.

- Eu sei! – ele guinchou – Eu sei sobre o rubi de sangue, e o meu sangue vai te dar tempo!

Então ele sabia! Mas isso só deixava as coisas mais divertidas. Abrindo um sorriso ainda maior ela disse:

- Sasuke, eu não tenho mais tempo. O sangue não vai adiantar.

- TEM QUE ADIANTAR!

Sasuke se pegou gritando, as maçãs do rosto úmidas de lágrimas que ele pensou que não existiam mais, que haviam secado a tempos, mas estavam ali.

- Sasuke...

A visão de Sakura escureceu, ela não sentia mais nada. O garoto pressionou seus lábios aos dela.

- Eu acabei de te ganhar Sakura! Eu não posso te perder!

E fechando os olhos Sakura deu um ultimo suspiro, e sussurrou para seu doce coração:

A morte não é tão ruim.

O menino estava sentado no gramado na frente de uma lápide fria e cinzenta, os olhos negros nunca foram tão frios. Um gato preto de olhos dourados tremia de frio, ele aconchegou-se no colo do moreno.

Sasuke piscou algumas vezes na frente do túmulo até sentir Pesadelo - o gato - se erguer e sibilar para algo na escuridão. Ele se levantou e encarou a mulher ruiva, ela rodava um guarda-chuva e sorria maleficamente.

- Ola criança, você esta um bocado triste, não?