Quando Voa a Borboleta escrita por Aki Nara
_ Natsu nii! Haru quer comer um doce.
Natsu escondeu o riso e fingiu seriedade ao ouvi-la, Yuki sempre mentia para conseguir uma guloseima antes das refeições e envolvia o irmão.
_ Você sabe que não podem se encher de guloseimas.
_ É só um até o papai voltar – a menina bateu os cílios longos porque sabia que o gesto deixava o pai e Haru desarmados, só não sabia se funcionaria com o irmão mais velho.
_ Vem cá! – ele a abraçou inesperadamente. – Desculpa por ter sido um irmão malvado até agora. Prometo que serei melhor, okay?
_ Você vai me dar doce todo dia?
_ É claro que não! Só hoje.
Natsuki entregou um brigadeiro para cada irmão caçula.
_Ebaaaaa! Haruuuu! Eu disse que conseguiria.
_ Lagarta... – ele riu enquanto se virava pra lavar o arroz e colocar na panela.
A tarde desbotava em tons de laranja e vermelho. Yuki não tinha percebido o adiantado da hora. Ela literalmente foi expulsa da biblioteca, mas precisava daquele tempo para estar sozinha e racionalizar, pois não lembrava nada do que ocorrera na noite anterior, definitivamente havia uma lacuna entre a saída do karaokê até a sua cama.
A subida do morro lhe pareceu curta demais para seus devaneios. Ela havia sonhado com Haru, de ter estado com seu rosto bem perto do seu e de tê-lo beijado, podia até sentir a fragrância almiscarada e a maciez dos lábios dele. Yuki balançou a cabeça para tirar os pensamentos e procurou apreciar a vista de tudo que lhe era familiar.
Aquele caminho ainda a levaria para “sua” casa e pensar o contrário lhe causava uma dor aguda quase insuportável. Ela empinou o nariz, limpou os olhos marejados com a palma da mão e respirou fundo antes de abrir o portão da cerca.
_ Cheguei! – entrou retirando o calçado para guardá-lo na sapateira.
_ Pra você vir até o escritório – Haruki cruzou os braços encostando-se no batente da porta – vem logo, se não ninguém janta hoje.
Ele entrou deixando a porta entreaberta.
_ Olá, família! – Yuki se sentou no único assento vago e ficou aliviada por não estar na poltrona do réu. Dessa vez era Haruki quem enfrentaria os questionamentos do pai.
– Xiii! O que ele fez de errado? – perguntou para Natsuki que estava sentado a sua esquerda.
_ Nada. E essa é precisamente o motivo dele estar encrencado – o irmão lhe respondeu.
_ Ele está na berlinda porque não fez nada?
_ Você está realmente decidido, Haruki? – o senhor Ueno encarou o filho tão profundamente como se realmente quisesse enxergar-lhe a alma.
_ Sim, pai... Não foi uma decisão fácil – Haruki foi interrompido.
_ O que houve? – Yuki perguntou ainda sem entender nada, mas seu coração havia ficado realmente apertado.
_ Bem, minha filha. Parece que Haruki nos pegou a todos de surpresa. Ele ganhou uma bolsa para cursar Arquitetura na Universidade de Tohoku e depois pretende se pós-graduar em Princeton.
_ Hem? – Yuki abriu a boca conseguindo apenas balbuciar algo desconexo.
_ Como vai conseguir isso? – Natsuki levantou a sobrancelha olhando diretamente para o irmão caçula.
_ Papai sempre me apoiou quanto a Tohoku. De forma que terei quatro anos para estudar, fazer bico e economizar o máximo que posso. Se conseguir a bolsa será ótimo porque terei apenas que ter o suficiente pra me manter até encontrar um emprego temporário lá nos Estados Unidos. Caso contrário! Eu terei que ter um plano “b”. Não é isso, pai?
_ É óbvio que eu farei o que estiver ao meu alcance também.
_ Você já fez muito por mim durante todos esses anos... – Haruki olhou para o pai significativamente.
_ Você mal saiu das calças curtas, rapaz. Não precisa sair de casa como se tivesse pressa – o pai resmungou.
_ Do que estão falando? – Yuki finalmente reagiu.
_ Qual é a parte que não entendeu, Yuyu? É óbvio que estamos falando da ida de Haruki para Sendai em Miyagi.
_ Tá. Essa eu entendi... Mas... Princeton? É uma decisão abrupta, não?
Realmente podia se visualizar um grande ponto de interrogação por cima da cabeça de Yuki.
_ Pode ser abrupto, mas não é impensado. Eu quero ser capaz de fazer algo por mim mesmo.
_ Por que pra tão longe? – Yuki não conseguia esconder sua insatisfação.
_ É pra onde quero ir... Um lugar longe o bastante pra não ter que mais que bancar a babá da Yuyu... – Haruki disse num tom meio sério, meio brincando.
_ Então... Faça o que quiser! Eu não me importo. – Yuki se levantou de supetão batendo a porta.
_ Isso foi maldade, sem propósito e uma piada sem graça – Natsuki bateu na cabeça do irmão.
_ Eu sei... Desculpe. – Haruki baixou a cabeça.
_ Bem... Acho que vou ter que esperar outra oportunidade pra dar a minha notícia.
_ Que notícia?? – o pai realmente pareceu abalado.
_ Decidi ficar noivo... Quero que vocês conheçam a minha futura esposa.
De súbito, a porta se abriu novamente e Yuki entrou jogando-se nos braços de Natsuki.
_ Eu vou ganhar uma irmã? – havia resquícios de lágrimas nos olhos dela apesar do sorriso sincero.
_ Espero que goste dela mesmo. Foi uma notícia boa?
Yuki apenas balançou a cabeça afirmativamente.
_ Humm! – o senhor Ueno pigarreou e olhou para a filha – mais alguma notícia?
_ Sim! Entrei pra Universidade de Línguas Estrangeiras de Tokyo e passei em segundo lugar, de modo que receberei uma bolsa parcial.
A boca do pai tremeu, ele retirou os óculos passando os dedos para limpar as lágrimas que se acumulavam. Aquele senhor naturalmente sério estava visivelmente emocionado.
_ Eu estou orgulhoso. Sua mãe também estaria orgulhosa de todos vocês. E você, minha filha. A cada dia fica mais parecida com ela, apesar do cabelo curto. E por falar nisso... Por que cortou o seu cabelo? – o pai indagou.
_ Eu gostei. Achei que ficou “Kawaii” – Natsuki passou os dedos pelos fios sedosos da irmã.
_ Queria mudar, ficar mais bonita... Às vezes eu realmente me sinto uma lagarta. Ademais... Mantê-lo comprido gastava muito xampu.
_ Éramos crianças e terríveis... Eu me arrependo amargamente por ter lhe dado esse apelido, Yuyu. Isso ainda te incomoda? – Natsuki soltou um suspiro pesaroso.
_ Não... Ah! Sei lá! Ser invejada no colégio por ter uma dupla de irmãos inteligentes, bonitos, esportistas e talentosos me incomoda pelo fato de que os outros esperam que eu seja tão ou mais inteligente, bonita... Entende?
_ A inveja dessa gente pode matar. – Natsuki brincava para estabilizar as emoções da família. – Basta ser você mesma e tudo estará bem.
Natsuki olhou para o pai e viu que ele aprovava sua colocação. Estava muito mais aliviado por ele não notar a tensão existente entre os dois irmãos caçulas e decidiu que mais uma reunião da família Ueno deveria ser encerrada.
_ Gente! Vamos comer?
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