Quando Voa a Borboleta escrita por Aki Nara
_ Por que está escondida nesse canto?
_ Por nada – disse enxugando as lágrimas.
_ Chorando de novo, Yuki? – o pai passou a mão calejada por seus cabelos.
_ Papai, por que eu não sou bonita como a mamãe?
_ Como assim, filha? – o pai fez a filha sentar em seu colo.
_ Eu não me pareço com ela... – Yuki agarrou-se ao pescoço do pai.
_ Quer ouvir que é filha de um rei num reino perdido? – a menina fez que não com a cabeça.
_ Não gosto quando eles me chamam de lagarta.
_ Ah! Mas a lagarta se transforma numa linda borboleta que voa para muitos lugares bonitos.
_ Voar seria bom... Papai?
_ Hum?
_ Borboleta tem casa?
_ Essa borboleta nos meus braços tem – o pai fez cócegas que a fizeram rir.
Eles continuaram ali abraçados no quintal até que as estrelas aparecessem no céu noturno.
_ Parabéns! A todas nós! – os copos tilintaram.
Yuki estava na casa de Miwa comemorando com as amigas Yoko e Ayame,o resultado do vestibular.
_ Ainda não acredito que passamos! – Ayame disse em completo estado de euforia.
_ Você foi uma exceção – Yoko admoestou a amiga.
_ Não, gente! Incrível foi a Yuki passar, estar na lista dos melhores colocados e ainda por cima, na segunda colocação – Miwa revirava os olhos pasma mostrando a foto no celular, que comprovava o que dizia.
_ Amigas más! Não morram de inveja! – Yuki engoliu um grande gole de cerveja. – Bebam meninas! A noite é uma criança.
O telefone tocou e Miwa saiu para atendê-lo enquanto as meninas continuavam a algazarra no quarto.
_ Sujou! Vamos ter que jogar todas essas latas antes dos meus pais chegarem – Miwa voltou correndo.
_ Como assim? Eles não estavam viajando? – Yoko deixou a cerveja escapulir quando Miwa retirou o copo de sua boca.
_ Resolveram voltar quando souberam que passei.
A amiga continuava a limpeza colocando tudo dentro do saco da loja de conveniências.
_ Você vai expulsar a gente? Tá tarde sabia? – Ayame tentava amolecer a decisão implacável da amiga movida pelo medo dos pais.
_ Considerando que vocês estão de pileque? – Miwa fingiu pensar. – Acho que é simplesmente impossível.
_ Quem está de pileque? Eu nem tô com bafo. – Yuki soprou na cara da amiga.
_ Definitivamente você fede a álcool. Ainda bem que eu nem cheguei a tomar um gole, mas por precaução irei escovar os dentes depois que vocês forem. Agora chô!
Miwa distribuía as bolsas e empurrava as amigas para a saída.
_ Ingrata! Sua filha da p... Po-lí-cia – Yoko se conteve antes de enumerar palavrões de baixo nível.
_ Calma! Ainda temos dinheiro?? – Ayame cambaleou encostando-se em Yuki.
_ Um trocado. – Yuki mostrou o rolo na mão.
_ Okay! Segundo tempo no Karaokê sem essa estraga prazeres. – Ayame fez “V” de vitória.
_ Yeah! – Yoko e Yuki responderam fazendo o mesmo gesto.
Era quase onze horas quando Yuki abriu a porta sorrateiramente e tentou subir a escada pé ante pé, mas não foi feliz na intenção de silêncio ao tropeçar em seus próprios pés e cair fazendo estrondo. A luz do quarto de Haruki acendeu imediatamente e ele surgiu para acudi-la.
_ Yuki você está bem?
_ Desculpa! Eu não queria fazer barulho – Yuki sentiu a língua enrolar enquanto falava alto e riu, na verdade, o riso saiu histérico, pois não conseguia controlá-lo. – Shhhhhh! Vai acordar o papai! Shhhhhhhh! Silêncio...
_ Você tá bêbada! – Haruki passou o braço dela no pescoço carregando-a escada acima.
_ Não briga comigo! – as emoções de Yuki passaram de extrema alegria para zanga enquanto se apoiava no irmão.
_ O que deu em você?
_ Esta-va come-mo-rando... Não faz... essa cara... – ela tentava falar entre o acesso de soluço.
Haruki abriu a porta do quarto dela e tentou depositá-la na cama, mas o peso morto de Yuki em seu pescoço fez com que ele caísse sobre ela.
_ Diga-me, maninho! Eu sou feia? – ela continuava enroscada nele e forçou-o a encará-la.
_ Que bobagem é essa, Yuyu.
_ Então? Responde... – Yuki continuava a fitá-lo de modo estranho enquanto o mantinha preso quase numa gravata.
_ É linda! Tá bom?
_ Não é justo, não é? Minhas amigas morrem de inveja porque tenho dois irmãos bonitos, gostosos e inteligentes...
_ É muito injusto, sim! – Haruki respondeu exasperado por ter de aturar a conversa da irmã bêbada ao mesmo tempo em que tentava se libertar e cobri-la com o edredom.
_ Me diga como vou arranjar um namorado? Os caras mais maravilhosos são meus irmãos. Por que você é meu irmão, Haru?
_ Não sei! Agora seja uma boa menina e vai dormir! - ele ordenou suavemente ao se ver finalmente livre.
_ E o beijinho de boa noite? – os lábios tremeram como se fosse chorar a qualquer momento.
_ Tá.
Haruki se moveu para beijá-la na testa, porém Yuki levantou o queixo colando os lábios nos dele. Um beijo casto que mostrava o quanto ela era inocente e ele um crápula por querer mais. A razão o alertava para que não se aproveitasse dela, mas o desejo reprimido por muito tempo o impulsionava para fazer o contrário.
Ele teria se deitado ao lado dela para lentamente provar o sabor de seus lábios, mas parou ao perceber o leve ressonar, a respiração regular de Yuki o trouxera de volta à realidade, ela dormia confiante... Haruki passou a mão no cabelo, de modo irritado e frustrado. Ele precisaria de um bom banho de ducha fria para dormir e mesmo assim, seria um milagre se o conseguisse, a noite com certeza seria povoada de fantasias e sonhos eróticos. Com um gemido de agonia, ele olhou mais uma vez para a irmã antes de sair do quarto.
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