Última Chance, Judd. escrita por FrannieF


Capítulo 11
Capítulo X




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Capítulo X: Comparações.

"Harry, anda logo!", é o grito ensurdecedor de Andi, que me faz quase pular de susto e, automaticamente, soltar um palavrão um bocado alto. "Ah. Oi, Dougie!" 

Andi está parada ao lado da porta escancarada de nosso apartamento, um dos braços erguidos e a palma da mão aberta na altura de sua cabeça, acenando para Dougie com um sorriso mecânico no rosto. Estreitando os olhos, analiso Andi, ainda parada, enquanto termino de calçar um par de tênis surrado e levar a mochila para meus ombros. Ela parece, sem dúvidas, nem um pouco contente. Eu simplesmente posso sentir isso no seu sorriso forçado e no seu tipo de linguagem corporal – extremamente impaciente. Como se ela soubesse exatamente no que eu estou pensando, não demora mais que três segundos para voltar a dizer:

"O táxi está esperando lá fora há mais de dez minutos! O taxista disse que vai começar a cobrar já, se vocês não andarem logo!"

"OK, OK, nós já estamos indo...", digo eu depois de ajeitar minha mochila nos ombros e partir para a mala de Andi chutada em um canto qualquer de nosso quarto. Vejo, de esguelha, Dougie rir de alguma coisa enquanto apanha a sua própria mochila para pô-la também sobre um dos ombros, a outra alça caída ao lado das suas costas. Eu inspiro devagar enquanto começo a arrastar a mala (mala, por Deus!) de Andi para fora do quarto, sem ânimo algum, resmungando coisas não muito coerentes pelo caminho. "Uma mala... Pra que ela vai levar uma mala? Nós vamos passar três dias na casa dos meus pais... Não três meses!"

"Você não pode culpá-la", vejo Dougie me respondendo no mesmo instante em que nós dois saímos do quarto. Eu bato a porta com um ruído abafado e surdo e trato de ignorá-lo o máximo que posso, porque meu humor definitivamente não está dos melhores. "Eu quero dizer... Ela vai ver seus pais, de uma forma ou outra. Deve querer ficar arrumada e todas essas coisas. É algo importante."

"Não é como se fosse a primeira vez, você sabe. E se for assim... Por que você não está com uma mala também?", resmungo eu mais uma vez, sem ao menos pensar no que estou dizendo. Dougie solta um grunhido confuso às minhas costas.

"E o que isso quer dizer?"

Eu não faço a mínima ideia. Simplesmente não faço a mínima ideia.

Não é como se eu estivesse querendo comparar Dougie com Andi, no entanto. Isso seria algo completamente desnecessário e absurdo. 

"Não sei. Mas é melhor nós descermos logo antes que Andi volte aqui pra ralhar com a gente de novo", mudo de assunto enquanto continuo a arrastar a mala de Andi (bem pesada, aliás, ela enfiou pedras aqui dentro, por acaso?) pelo chão do apartamento.

Ouço pelas minhas costas Dougie suspirar, parecendo cansado e, de certa maneira, desapontado com algo. As minhas sobrancelhas automaticamente se arqueiam em confusão e eu, sem controlar os meus próprios atos, simplesmente giro nos meus calcanhares para observá-lo remexer em seus bolsos dianteiros da calça que veste à procura de algo. Ao finalmente achar sabe-se lá o quê, ele sorri mínimo e satisfeito enquanto apanha seu celular e aperta um único botão, logo levando o aparelho para uma de suas orelhas. O olhar de Dougie passa vago por mim antes de ele fazer uma careta, quase em um pedido mudo de desculpas, e se virar de costas, tomando um extremo cuidado para não soar alto demais quando alguém do outro lado da linha finalmente atende.

"Hey, minha menina", ele murmura em um tom quase envergonhado e eu subitamente fico com uma vontade insana de vomitar ou coisa parecida.

Decidindo que aquilo já é muita informação para mim, imito Dougie e lhe dou as costas, o largando sozinho enquanto continuo a arrastar a mala de Andi pelo corredor até chegar à sala. Com um gemido insatisfeito, me deixo caminhar até a porta do apartamento, fazendo questão de ser o mais alto e barulhento possível, por birra.

"Sim, sim, é claro, eu volto no domingo, não precisa se preocu–"

Bang. Deixo que minha mochila caia inocentemente no chão.

"Se preocupar. Eu te ligo quando nós estivermos cheg–"

Bang. E lá se vai a mala de Andi escadas abaixo.

"Quando nós estivermos chegando", Dougie conclui e logo pára de dizer por um momento para olhar por cima dos ombros. "Ei, espera só um minuto."

Eu faço a contagem regressiva dentro da minha cabeça, com um sorriso sacana e vitorioso no rosto, ainda parado ao lado da porta de meu apartamento. Cinco, quatro, três, dois...

"Harry! Está tudo bem?", Dougie aparece ao meu lado, o celular apoiado em um de seus ombros enquanto os seus olhos se fixam em mim com um brilho quase preocupado. "O que foi toda essa barulheira?"

Eu tento inutilmente esconder meu sorriso antes de respondê-lo, o mais despreocupado que consigo:

"Ah, não foi nada, eu apenas deixei a mala de Andi escorregar da minha mão...", comento, coçando o queixo e tentando localizar a dita mala caída no final das escadas do segundo andar. Eu me deixo me surpreender por um momento: não me lembro de tê-la jogado tão longe assim (e nem com tanta força). "Mas ah! Me desculpa! Eu te atrapalhei em alguma coisa?"

A minha pergunta sai cínica e quase forçada. Sinto minha garganta se fechar aos poucos para tentar refrear uma risada comprida e, de fato, eu faço o máximo para não começar a simplesmente rir na cara de Dougie. Ele está me olhando de uma maneira boba, perdida, o que me faz quase admitir por um momento que fiz tudo aquilo de propósito. Obviamente, essa sensação logo passa no instante em que Dougie finalmente parece sair do seu estado de coma mental e pisca os olhos várias vezes seguidas, negando com a cabeça antes de levar mais uma vez o celular até uma de suas orelhas.

"Amor?", ele chama, mas aparentemente o outro lado da linha está mudo. "Amor? Nell?"

Por algum motivo, algo dentro da minha cabeça começa a girar. "Nell"? Esse é o nome da noiva de Dougie? Eu não sei exatamente o porquê, mas simplesmente não me agrado com isso. Não apenas por "Nell" ser um nome um tanto quanto caipira (convenhamos), mas porque a garota pura e simplesmente o deixou falando sozinho apenas porque Dougie demorou um pouco menos de três minutos para voltar ao telefone. Eu não me permito admitir que exista de fato alguém tão impaciente e fresca dessa maneira.

Mas, é claro, eu não exponho os meus pensamentos para Dougie.

"Ela desligou...", ele comenta abobado e meio surpreso, desligando o telefone logo em seguida. "Estranho, ela não é de fazer essas coisas."

"Vai saber... Eu não conheço a garota, então não posso dizer nada sobre", respondo, com uma coceira incontrolável na garganta de apenas xingá-la de alguma coisa, qualquer coisa.

Dougie me lança um olhar esquisito e apenas dá de ombros.

Eu não sei exatamente o quê, mas algo dentro do meu estômago começa a se revirar em nós. Não é para eu estar tão preocupado (por falta de palavra melhor) assim com essa garota, Nell, e a sua relação com Dougie, já que eu definitivamente não tenho nenhum direito de me enfiar entre os dois para dar pitaco sobre o seu relacionamento. Mas um pensamento parece não querer parar de rondar a minha cabeça: a garota tinha mesmo que agir dessa maneira? Ela tinha que deixar Dougie falando sozinho daquela forma? Porque, bom, eu acho que nunca faria algo parecido com ele...

E então há um pop dentro da minha mente enquanto eu começo a assimilar o que acabei de pensar. É impressão minha ou eu acabei de me comparar com a noiva de Dougie?

"Harry Judd!", e todos os pensamentos dentro da minha cabeça gigante e oca simplesmente se dissipam com o novo grito de Andi.

Revirando os olhos, empurro Dougie para fora do apartamento e o tranco com uma carranca no rosto; o meu humor estranhamente arruinado por algo que não consigo entender o que é. As palavras de Dougie – "amor" e, argh, "minha menina" – ainda estão ecoando pela minha cabeça de uma maneira quase irritante e eu, definitivamente, começaria a gritar (sem nenhum motivo aparente) se estivesse sozinho, mas é claro que essa ideia é algo completamente inacessível.

"É melhor nós descermos logo antes que o taxista desista da viagem e a Andi tenha um ataque de nervos...", aviso seco a Dougie.

Ele concorda prontamente com um aceno de cabeça, o que me faz simplesmente sorrir a Dougie um sorriso falso, cínico, azedo antes de começar a descer as escadas para o térreo do prédio, sem nem ao menos olhar por cima dos meus ombros para ver se ele está me acompanhando.


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