Doce Insanidade escrita por Monny


Capítulo 9
Devora-me com amor




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Na mente de Hannibal Lecter:

'Eu sei que eu deveria... eu deveria tirá-la da minha mente... mas não sou capaz de agir como alguém que não se importa.

Eu costumava vagar pelas minhas pobres lembranças, ricas em suas expectativas frustradas de alguém que nem ao menos sabe o que é, no que se tornou...

A vida é uma incessante batalha, você nasce e já está destinado á perdas, á lamentações, á alegrias que aos poucos são roubadas pelas lágrimas... Essas sim são fortes, arrastam o que estiver em sua frente, principalmente se estiverem acompanhadas de dor... de ódio...

Eu estaria mentindo se não assumisse que, de todos os meus erros, o maior fora deixar que isso crescesse dentro de mim.

O ódio é como uma Erva Daninha... cresce rapidamente nos lugares mais inusitados mas de fato, suas raízes não são fortes o bastante para suportar turbilhões de acontecimentos trazidos durante sua existência, podendo assim, após um dia de muito frio ou de muito calor, serem removidas com uma facilidade assombrosa...

Ela me assombra... Sim.

Ela chegou como a Primavera, trazendo o perfume dos novos ares e a cor dos novos dias e veja hoje, ela é como o Inverno, é intensa e com uma energia quase inesgotável.

Aprendi á temer pessoas assim, mas acabei por me tornar uma delas. É inevitável. Nos espelhamos inconscientemente naquilo que dizemos ser inapropriado. Nossa mente é uma verdadeira Caixa de Pandora, ninguém melhor do que eu para concordar.

Eu me vejo diante de um dilema...

O Amor por si só, traz dor, traz perda, e no final, traz a solidão. Pensei assim durante todos estes anos mas hoje... hoje... Eu amo.

Amo novamente. E o Amor, trouxe-me a Esperança, Esperança de exorcisar um passado cruel, fantasmas... Mas a mesma Esperança veio acompanhada da dúvida... Do sofrimento antecipado...

Como não ama-la com estes olhos azuis brilhantes e intensos? Como não amar a pele macia e branca? Como não amar o ébano de seus longos e sedosos cabelos? Como não amar a personalidade fortíssima e as dúvidas incovenientes? Como não amar a doçura de sua ingenuidade? Como não querer devora-la com tamanho desejo e paixão? És deliciosa, sim, Ayelleen é deliciosa...

Ainda caio em tentação de tentar descobrir como essa jovem adorável pôde me desmembrar com um simples e singelo sorriso... meio torto ainda...

De um jeito torto e viciante eu caí em sua armadilha angelical... Me rendi aos seus encantos e por Deus, como anseio me render aos seus desejos!

Eu fixo os olhos nela, com esse vestido adorável, tão perfumada, tão linda com sua simpleza... Eu me vejo nela. Me vejo nos seus gestos, em suas palavras, nas batidas frenéticas de seu coração, agora, tão perto do meu; nas suas lágrimas que agora molham o meu terno Italiano... Me encontro com a alma dela... como se fossemos um...

E como aceitar a idéia de que existe alguém que é parte de mim?

Eu... que nem sei mais o que sou...

Apenas tenho que admitir que desde que a conheci, não posso e não devo imaginar-me sem Ela.'


Ayelleen permaneceu com o rosto colado ao peito do Dr. Lecter enquanto o mesmo acariciava seus longos e sedosos cabelos negros, como uma terapia; Dr. Lecter acalmou Ayelleen até que a mesma pôde finalmente fixar seus grandes olhos azuis no rosto de Hannibal, e sorrir singelamente e tirar dele suspiros de um homem apaixonado.

– Minha Ayelleen... - dizia com os olhos faíscantes fixos nos olhos azuis da moça- como me alegra te ver tão deslumbrante neste vestido que parece ter sido feito especialmente para você...

– Dr. Lecter.... Não faz idéia de como estou feliz agora diante do senhor... Eu que pensei que não fossemos nos ver mais...

– Faço minha querida... Sim, faço... Está surpresa... Tenho que dizer que para estar aqui agora houveram obstáculos, muitos obstáculos...

– Eu imagino Dr. Lecter...

– Sim... E por acaso imaginou que os faria milhares de outras vezes só para ter o prazer de olhar para estes olhos magníficos?

– (vermelha)... Na verdade, achei que o senhor estaria chateado comigo pela minha atitude naquele dia... Sei que lhe tiraram seus mimos, seus livros, suas iguarias... Perdão Dr. Lecter...

Havia certa tristeza e vergonha nos olhos de Ayelleen e Hannibal Lecter não gostou de vê-la assim. Não estava chateado, nunca esteve chateado e seria incapaz de fazê-lo pois Ayelleen significava somente FELICIDADE, mesmo que para tê-la fosse árdua a batalha, mas ele o faria prazerosamente quantas vezes fossem necessárias.

Tocou no rosto delicado dela.

– Escute minha querida, não fiquei chateado, sou incapaz de me chatear com você, portanto, sorria e vamos jantar... Tenho algo que quero lhe entregar, um presente, espero que goste.

Hannibal Lecter segurou a pequena mão de Ayelleen, tão frágil e delicada dentro daquele lindo e esvoassante vestido, como uma princesa descendo apressada as escadarias do castelo, fazendo as anáguas do nobre vestido dançarem, flutuarem á cada passo... Ele a imaginava vivendo no castelo Lecter, na sua Lituânia... Arrastando o leve vestido pela terra nobre em volta do castelo, brincando com as pétalas das flores que voavam formando uma nuvem colorida no ar e desfazendo-se com a brisa... Imaginou por uma fração de segundo Mischa correndo até eles e sendo abraçada pelos dois... E ele pôde ver fundo nos olhos de Ayelleen que sentia por Mischa o mesmo que ele...

Ele puxou a velha cadeira para ela se sentar, como o cavalheiro que era, lhe serviu Chardonnay e apresentou-lhe o prato principal, cujo fora batizado com o nome de Palaiminti pokycius.

Ele sorria enquanto o fazia, sentia uma imensa satisfação de poder estar finalmente em contato direto com ela, de senti-la, de toca-la, de embriagar-se com seu cheiro delicioso...

– O senhor me deixa tão imensamente sem jeito com tamanho carinho e gentileza Dr. Lecter.- molhou os lábios com o Chardonnay.- Tudo tão lindo, tão caprichado, á seu requinte por assim dizer... Seu bom gosto é fascinante e inesquecível! E como é maravilhoso poder estar finalmente diante do senhor em um ambiente tão... Apaixonante!

– Obrigado Ayelleen mas devo confessar que hoje, especialmente, tudo fora feito somente para você... Seu sorriso minha Prima Donna vale mais do que qualquer obra aqui presente. És valiosa como um diamante negro, és perfeita como uma pérola e única como a mesma.

Ayelleen, enfeitiçada pelo requintamento de Hannibal Lecter, nutria por ele neste exato momento, uma fome, um desejo tão grande que mal cabia em sí.

– Gostou de Florença? - perguntou enquanto balançava a taça levemente.

– Sim! Que lugar encantador! - sorria como uma criança.

– É de fato... Pretende ficar por aqui Ayelleen???

Havia muitas perguntas embutidas naquela, dúvidas provávelmente, expectativas...

– Só ficarei se o senhor assim quiser Dr. Lecter... Creio que agora não direi 'eu' e sim 'nós'... Ou estou enganada? - bebeu um gole.

Sua resposta causou nele um extremo de sentimentos e sensações.

– Está certíssima minha querida... Diga-me, leu a carta que lhe enviei junto com aquela maravilhosa garrafa de Chandon?

– Sim, lí... No momento certo creio eu...

– Entendo... Lembra do que eu lhe disse?

– Claro Dr. Lecter.

– Lembra-se da parte '' Se arriscaria a fazer parte disso? Acredita que, quem ama morre pelo o que ama? Por quem ama? Por ser amado?''

– Claro que me lembro Dr., e o senhor me fez a seguinte pergunta na carta: ''Quer minha resposta?''... E o senhor ainda diz que responderia não pela mesma, ou seja, pessoalmente, e aqui estamos nós.

Hannibal Lecter surpreendeu-se com a astúcia de Ayelleen, olhava admirado para o rosto dela enquanto a mesma olhava o conteúdo da taça enquanto a balançava levemente. Ele colocou a mão no bolso do terno e tocou o antigo anel de sua mãe, por um breve momento, imaginou-a vendo-o entrega-lo á Ayelleen, com absoluta certeza, ela a amaria, amaria cada detalhe de Ayelleen assim como ele o fazia. Sonhou por breves segundos...

– Dr. Lecter? O senhor está bem? - ela perguntou com seus olhos grandes de boneca arregalados enquanto segurava a taça na mesa com tanta firmeza que bagunçou a toalha vermelha.

– Sim, estou bem, só estava perdido em memórias... Pois bem minha querida, primeiro responda-me...

– ... O amor é algo tão sublime, tão forte, tão digno... O sentimento contrário ao ódio e em seu extremo totalmente superior á ele... Dr. Lecter, eu morreria de amor, morreria por amor, pois quando se ama, não existe nada que se compare ao ser amado, não existe nada que possa substituí-lo... É um acontecimento único, quando verdadeiro... É eterno... Imutável...

– Se eu morresse... Desejaria morrer também?

Havia um certo tom de piedade na voz dele que saiu mais baixa e metálica do que o de costume. Ela fixou os olhos nos olhos dele, lacrimejaram pois não queria, não podia imaginar-se sem a existência dele... Uma dor tão forte apossou-se dela momentaneamente e ela não saberia responder-lhe algo além de...

– Morreremos juntos ou não morreremos. Entenda... Hannibal Lecter... - a primeira vez que ela o chamara assim, tocando em seus ouvidos como alguém tão íntimo... finalmente...- o senhor disse na carta que o que sente por mim é capaz de provocar-lhe em tamanho que foi capaz de pôr em risco sua vida para vir atrás de mim... Que nome dar á essa coragem, á esse intenso sentimento que partilhamos, se não amor? Como eu poderia viver sem o senhor? Me pergunto todos os dias como pude fazê-lo até hoje! Se somos iguais, o senhor também não saberia viver sem mim... Confesse, passou á viver agora não é mesmo? - ele a olhou espantado.- Aquela sensação de que não houve vida antes de nos conhecermos... Nos amamos Dr. Lecter e isso nos unirá por toda a vida e o que dirá de eternidades! Não existirá motivo para que um de nós, um dia, fique sem o outro...

Hannibal Lecter levantou-se devagar, alisando a toalha vermelha á cada passo até chegar em frente á Ayelleen, sorrindo ajoelhou-se diante dela fazendo-a se espantar e corar e sorrir, pegou sua delicada mão esquerda e fixou os olhos nela.

– Minha resposta minha querida Morgan Ayelleen Morrigan vem seguida de uma pergunta tão simples, feita á milênios por homens no mesmo estado em que eu me encontro desde que tive o imenso prazer de fitar seus olhos pela primeira vez... Homens apaixonados... Loucamente apaixonados, como citado nos livros, nas músicas, nos poemas; capazes de tudo por quem amam... Você simplesmente não faz e nunca fará idéia do que sou capaz de fazer para tê-la ao meu lado, para tê-la segura e feliz para sempre ao meu lado... Você que sabe quem fui, quem sou... o que sou... Sem receio, sem medo, sem dúvida... Só há certeza nos teus olhos, só há amor nas tuas palavras... E eu o quero minha querida, quero seu amor, quero sua vida... Necessito... Pois eu lhe amo tão profundamente que não me imagino vivendo sem você...- tirou o anel do bolso delicadamente- Prove que me ama respondendo esta simples pergunta...

– Claro...

– Quer casar comigo Ayelleen? Tornar-se finalmente minha? Passar por tempestades, e tornados e maremotos comigo pelo tempo que for pré destinado á nós?

– Sim... Sim... SIM!!!!- sorriu enquanto lágrimas tocaram-lhe o rosto rubro e desceram por seu colo.

Hannibal Lecter colocou-lhe o anel que lhe serviu perfeitamente bem, como se feito por encomenda, beijou-lhe a mão, levantou-se e lhe puxou, forçando-a á se levantar, ela o fez... O vento gélido entrando pelas janelas abertas que apagaram as velas deixando os dois dançarem no escuro, sorrindo um para o outro, com seus corações saltando de alegria. Ayelleen sorria, seu riso agradava á Hannibal que sorria e ria de volta, a luz da lua entrava sinuosa permitindo que ele visse o vestido flutuar e os olhos dela brilharem como nunca havia visto antes, então por um momento ele parou, ela ainda no ritmo foi trazida para perto dele, tão próximo que suas respirações cruzaram-se, encararam-se...Um feixe de luz iluminando seus olhos...

– Minha eterna... Minha amada, tão imensamente amada...- acariciava seu rosto com uma das mãos e com a outra segurava-a forte pela cintura.

– Amore mio... Eterno... Único... Como lhe amo meu Hannibal...

Beijaram-se... Não um beijo ardente de desejo, um beijo leve, cheio de romantismo e de paixão, expressando o amor que partilhavam e partilhariam por tanto, tanto tempo... Seus lábios colados permaneceram assim por um longo tempo até que o vento veio acompanhado da chuva e ela tornou-se tempestade e foram obrigados a se soltarem para fecharem as grandes janelas do Palazzo... Fechadas... Encostada na cortina dourada ele a abraça com imenso carinho, aquela, em seus braços não é somente aquela jovem adorável, lindíssima, que lhe entregava livros ás quintas feiras e que compartilhava com ele toda a sua vida... Ela era a única por quem Hannibal Lecter viveria, lutaria...

mataria.


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