Doce Insanidade escrita por Monny


Capítulo 8
Para os que Amam, o Tempo é Eterno




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''Ser profundamente amado por alguém nos dá força; amar alguém profundamente nos dá coragem.''

A presto, signore... - Sim, ela estáva com raiva, não que era preguiçosa e ficara irritada por ter de ir trabalhar quando o que mais queria era ficar em casa, tomando um banho de banheira com muita espuma, bebendo um bom vinho e talvez se masturbar pensando em um certo alguém, que a fazia tremer dos pés á cabeça ao falar seu nome...

Ainda era cedo, cerca de dez horas da manhã, fechou a janela e jogou-se na cama de novo, dormiria o suficiente para não sair de casa reclamando de sono.

Hannibal Lecter estava com as chaves do Palazzo Vecchio, falsificara uma carta como sendo do Curador, uma carta de despedida e de recomendação; a entregaria ao comitê no dia seguinte, quando apresentaria seus documentos para se ''apossar'' do cargo de Curador da biblioteca Cappone; agora, ele saía do Palazzo, assuviando uma canção que acabara de criar, era como ouvir ''Ayelleen'' de forma musical.

Caminhou pelas ruazinhas agora impesteadas de turistas, passou em frente á loja La Perla, entrou. As vendedoras o olharam com admiração e certa curiosidade, Hannibal Lecter bateu os olhos num conjunto de lingerie rendado, o pediu á uma jovem vendedora, que não tirou os olhos dele, o conjunto foi embrulhado em papel dourado e assim como recomendou o Dr. Lecter, enviado para o apartamento de Ayelleen. Caminhando mais á frente, teve o deslumbre de um vestido em uma vitrine, um vestido azul, em camadas, finas e leves, com uma fita de cetim na cintura... Imaginou Ayelleen neste vestido, descalça, caminhando na beirada na praia, os pézinhos sendo acariciados pela água salgada, os cabelos sendo tocados pela brisa, o sol nos olhos claros, o sorriso iluminado num rosto divino... Imaginou-se ao lado dela, caminhando de mãos dadas... Abraçando-a... Beijando-a...

Comprou o vestido e sapatos também e pediu gentilmente que os enviasse á Ayelleen.

Ele agora estáva em frente a loja Vera dal 1926, comprou algumas trufas, um bom vinho e aperitivos... Aquele era só o início das compras do Dr. Lecter, planejava uma surpresa á sua querida Prima Donna... Seria uma grande surpresa...

Voltando para seus velhos aposentos, deixou as sacolas de compras em cima da mesa e procurou em algumas caixas espalhadas por todos os cômodos, algo em especial.

Encontrou seus utensílios de cozinha, seu livro de culinária Larousse, ainda com os escritos de suas iguarias humanas e finalmente, o camefeu de sua mãe com uma portinha secreta onde ela guardava jóias, a única coisa que tinha de familiar... Guardava com extremo pesar e carinho; alí dentro estáva um anel de ouro com uma grande pedra de Águas Marinhas rodeada por cristais, pegou-se sorrindo ao admirar a jóia, e logo que o percebeu, tratou de se concentrar nos preparativos do jantar que planejava para Ayelleen.

Era cerca de sete horas da noite quando a campainha do apartamento de Ayelleen tocou insistentemente, ela despertou e com um pulo saiu da cama, abriu a porta ainda de pijamas, era um entregador com um pacote médio, assinou os papéis, pegou o pacote e fechou a porta, não lhe deu muita atenção, apenas jogou-o no sofá, fitou as horas no relógio e percebeu que se não corresse, chegaria atrasada; entrou no banheiro, tirou as roupas rapidamente, abriu o chuveiro, entrou... Em menos de cinco minutos a campainha toca novamente, insistentemente como na primeira vez, ela desliga o chuveiro, se enrola na toalha branca e pingando água quente pelo chão de tacos, abre a porta da entrada, é um novo entregador agora, com um pacote ainda maior, ela se espanta, assina os papéis e entra o mais rápido possível pois percebeu os olhares maliciosos do jovem que acabara de lhe entregar o pacote.

Ayelleen abre a gaveta da mesinha de centro em frente ao sofá, de lá, pega uma tesoura, abre o primeiro pacote, não tem destinatário, reconhece o embrulho da loja La Perla, abre...

– Hum??????! Mas... mas... quem me mandaria isso???? - confusa, abre o segundo pacote, se depara com um vestido azul turquesa, lindíssimo, caríssimo e um par de sapatos pérola junto á um bilhete:

''Olá Ayelleen...

Espero que tenha apreciado os presentes, esse é meu pedido desculpas por não ter vindo antes e por não ter sido educadamente gentil e lhe avisar sobre a minha vinda á Florença... De fato... Aqui estou eu, numa loja de roupas femininas, escolhendo o presente certo para você.

Hoje conheci o seu chefe, ou melhor, seu ex chefe; um tipo escroto de homem, mais parecido com uma bactéria, talvez uma ameba... Fico triste de saber que deixaram a Biblioteca Cappone aos cuidados de um crápula... E muito mais ao pensar que você, minha querida, tem de estar em companhia dessa criatura infeliz todos os dias... Pois bem, tenho uma agradável surpresa para você... Quer saber qual é? Então, lhe convido á vir ao Palazzo Vecchio ás onze horas para... conversarmos... O que me diz?

Se o que me disse á tantos dias atrás, em um certo Dia dos Namorados é verdade, então peço que venha, pois se é o que sente por mim, saiba que o que sinto por você é um bilhão de vezes maior. Então, imagine a saudade que sinto de ver você, de admirar estes olhos celestiais, de ouvir sua voz macia e aconchegante, de te ver sorrir timidamente... Tão pura, tão inocente... Tão imensamente perfeita.

Venha minha querida...

Seu Hannibal Lecter M.D.

Ps: Vista-se como uma princesa pois hoje será coroada rainha.''

Ayelleen tremeu um pouco com o bilhete em mãos, sorriu, sorriu e... sorriu. Não conseguia tirar o sorriso do rosto, seu coração dançava desesperado no peito, ficou alí, sentada, com o cabelo pingando, por algum tempo. Levantou-se, voltou ao banho. Com o rosto sendo tocado pela água quente chorou, um choro vindo do âmago, uma alegria misturada com tristeza... E alí ela chorou tudo o que restava para chorar.

Na escuridão solitária do Palazzo Vecchio está o Dr. Hannibal Lecter trajando um de seus melhores ternos, seu perfume ecoa pelas extensas notas no piano; está ensaiando algo para Ayelleen, quer embriaga-la com uma sinfônia perfeita que traduza suas intenções, sua saudade e seu amor...

Ele prepara os pratos com delicadeza e perspicácia, é um gentleman até mesmo com a comida, delicado com os movimentos mas preciso, como tem de ser...

A mesa, a pequena mesa, estratégicamente posicionada de frente para uma das janelas milenares do Palazzo, onde a luz lunar, entra tímida, temerosa, mas logo se aconchega no espaço privilegiado que o Dr. Lecter, gentilmente, lhe fornecera; coberta por uma toalha de seda vermelha, com rosas vermelhas dentro de um vaso Vitoriano, as taças e o vinho, colocados no gelo, os pratos tocados pelo puro azeite, esperando pela refeição requintada e como não poderia faltar, velas acesas pois ele, não pode deixar de imaginar estremear o prazer da comida com o prazer de devorar aqueles olhos azuis deliciosos...

Ele estava mais do que ansioso. Tentava conter algo que jamais sentira. Estava surpreso, surpreso com o que era capaz de sentir...

Fitava as horas no relógio de bolso, acetinava os lábios no vinho, fitava a lua... Sabia que ela não deixaria de vir... Ela viria... Chegaria á qualquer instante, caminhando com seus passinhos delicados, com seu cabelo tocando seu rosto delicadamente enquanto suas fragéis mãos, segurariam o vestido enquanto ela caminhasse até ele, trazendo consigo aquele sorriso perfeito num rosto divino.

Ayelleen sentia o coração desascelerar, é assim que acontece quando a adrenalina gerada por um momento único se esvai, aos pouquinhos, mas é sempre assim.

Ela terminara seu banho, seus olhos agora enxutos, não poderiam ser desmascarados enquanto permanecessem á desaguar embaixo da água quente...

Estava agora de frente ao espelho, nua, seca, secando os longos cabelos negros que mais pareciam um veludo tocando gentilmente sua silhuenta de uma brancura espantosa; ela sorria enquanto o fazia, estava 'nas nuvens', literalmente.

Não se demorou muito alí, fez um ''coque'' trançado meio solto, banhou-se em cremes, vestiu a linda lingerie, depois o lindo vestido, caiu-lhe como uma luva! Perfeitamente! Como se tivesse sido feito especialmente para ela; fez alguma maquiagem, fitou as horas no relógio do quarto, 22:20, calçou os lindos sapatos, arrumou algumas coisas em sua bolsa, esborrifou algum perfume e saiu.

Aquela noite, diferente das demais, noticiava que a chuva se aproximava, o céu não consegue manter segredo de suas ações e nos notifica acobertando suas estrelas num rastro escuro no céu... Ayelleen andava como uma princesa pelas ruazinhas de pedra, observada e admirada por olhos curiosos por todos os lados, era impossível não notar aquela Signora, trajada tão peculiarmente bem, tamanho bom gosto era muito bem vindo pelos ares de Florença! Remetia ao belo milenar! Ás obras primas, ás Primas Donnas!!!

O coração de Ayelleen parecia acordar e adormecer a cada vez que lembrava das palavras transcritas naquele papel... ''coroada rainha...'' Ela subentendeu muito bem o que de fato aconteceria nesse encontro já que os dois, sofrendo pela distância que desde o início, os castigou e depois, pela abstinência de não poder provar, pela segunda vez, de seu próprio e único vício...

Tantas coisas voavam por seus pensamentos confusos, mesclados com uma paixão arrebatadora e uma ânsia de mais e pelo mais ela sabia, seria capaz de fazê-lo pois não há nada que um amor, tão torto e tão esquivo, não possa fazer por aquele que o possui.

Ayelleen está de frente para o Palazzo Vecchio, fita o portão, parece fechado, empurra, está aberto, ela entra na escuridão sendo guiada apenas por sua memória fotográfica, chega á grande porta, a empurra, está aberta, entra, escuro, silêncio, ela segura o vestido com as duas mãos e como agora á pouco, guia-se por sua memória fotográfica, está agora subindo a escadaria com destino á uma das entradas da biblioteca Cappone pois lá, seguindo o corredor, está a pequena moradia do Curador... Curador esse que ela bem sabe que fora exterminado pelo Dr. Lecter... Ela chega no primeiro corredor, consegue ver alguma luz, consegue ouvir alguma música... Piano Concerto Nº21 de Wolfgang Amadeus Mozart... Entra agora no segundo corredor, deixando o vestido ser tocado ou se deixar tocar pelo ambiente lúdico e conquistador... Empurra a porta... A luz da lua entrando serenamente pela grande janela aberta e a luz vinda de velas espalhadas pelo ambiente... Ela fixa os olhos na mesa, no carinho das flores colocadas estratégicamente... Caminha até o quarto de música, de onde o som vem... Pára na porta... O fita de costas, tocando com tanto sentimento que não conseguiu deixar que aquela lágrima, teimosa lágrima, não escorresse por seu rosto... Ela ficou alí por exatos quatro minutos... Dr. Lecter demorou-se um pouco no piano e nenhum dos dois disse uma só palavra... Dr. Lecter suspirou sentindo o anel no bolso do terno, levantou-se, virou-se... Eles se olharam por um longo tempo, conversaram com os olhos, deixaram que seus perfumes se encontrassem e dançassem uma waltz entre a magia daqueles olhares tão apaixonados, tão sedentos de um pelo outro... Ela caminhou até ele, ele deu alguns passos, estavam tão próximos que no silêncio daquela lúdica sala, sendo iluminados por apenas três velas, suas respirações tocavam em sintonia perfeita com as batidas frenéticas de seus corações... Sim... eles permaneceram assim até que ele sorriu e ela não conseguiu mais se segurar e o abraçou com toda a sua força enquanto ele fazia o mesmo e se deliciava com o toque do corpo dela no dele, com a pele macia, jovem, acariciando-lhe o rosto, com o cabelo perfumado envolvendo-o numa sessão de distintas sensações, enigmáticas e únicas... Ele a fez olhar-lhe nos olhos e devorando o azul a beijou ferozmente, seu apetite por ela era maior do que por qualquer outra pessoa... Ela o alimentou por alguns minutos, dando-lhe parte dos prazeres que seu desejo mútuo os incentivava a ir além, eles pararam encarando-se e Ayelleen chorou, tão desesperadamente que Hannibal Lecter a abraçou delicadamente e baixinho a consolou:

– ''Está absurdamente linda minha querida... minha... minha... eternamente minha... única... meu amor...''


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