Vnc! Verde no Castanho. escrita por flipward


Capítulo 3
Livro três.


Notas iniciais do capítulo

Narração: Elizzie.



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                                                                                  New Island, 5 de setembro de 1999.


            Cabeçudo,


            Vim ao nosso campinho para poder ler sua carta. Ultimamente não tenho saído daqui, sinto como se você estivesse comigo, mas não está. Claro que eu acredito que você não se acostumou com o Brasil, eu não estou aí e você é proibido de se acostumar em um lugar que eu não esteja. E espero que você nunca me troque por nenhuma brasileirinha, certo? Porque você me conhece, Paul, eu vou aí e tiro sua cabeça enorme. Eu sou sua melhor amiga, eu.

           

            Sim, eu lembro do seu primo malmente. Lembro da vez que ele veio te visitar, lembro que briguei com você, pois ficaste uma semana inteirinha dentro de casa só brincando com ele. Espero que não me troque de novo, Sr. Wolfe.

            Que seja.

            Cuide da sua mãe, Paul. Cuide bem dela para que logo possa ficar sozinha e você possa voltar para New Island.  

            Estou com saudades.

            Beijos, Paul.


                                                                                                                                 Elizzie.

            Guardei o envelope no bolso de minha blusa e deitei no chão. Não havia nenhuma estrela no céu, apenas a lua cheia que estava linda como sempre. Uma bola branca em meio de um mar preto. Fechei os olhos com os cílios ainda molhados por causa das lágrimas. Droga, eu havia prometido a mim mesma que não choraria. Eu não poderia passar a vida toda chorando por Paul.

            Quando voltei a abri-los vi um risco de luz no céu, uma estrela cadente. Fechei meus olhos de novo e pedi com todo o coração.


            As cartas continuaram chegando durante o ano que passou, mas por algum motivo mandei uma carta e Paul nunca mais me respondeu. Nunca mais ouvi falar dele, nem seu pai tinha notícias suas, pelo menos para me dar.


            _ Sr. Wolfe... Paul nunca mais respondeu minhas cartas. Aconteceu algo?

            _ Não Elizzie, ele está muito bem.

            _ Por que ele não me responde então?

            _ Criança, já se passou um ano. Está na hora de esquecer, não acha?


E então eu parei de perguntar. Parei de mandar cartas e decidi esquecer. Bom, pelo menos eu fingi esquecer, mas meu subconsciente sempre sentiu falta de Paul. E ainda sente.

2009

            Há uns quatro anos meus pais faleceram em um acidente de carro. Foi algo horrível e muito doloroso para mim. Se não fosse por minha avó paterna, que havia ido morar comigo para que eu não precisasse me mudar, achando que assim, amenizaria minha dor, eu não sei se teria superado. Ela foi a melhor coisa que me aconteceu naquela época. Eu não tinha a quem recorrer, e foi ela quem me amparou todas as vezes que precisei, foi ela quem chorou comigo, e quem no passar dos anos me acolheu sempre. Minha avó, por muito tempo, além de tudo era minha única amiga.

            A medida que fui crescendo, é claro que consegui novas amizades. Ótimas amizades para falar a verdade. Eu descobri o que era popularidade, o que era rivalidade e tive a adolescência que toda a garota quer. Uma adolescência típica de filmes americanos. Tive namorados, brigas entre amigos, amizades passageiras, amizades duradouras. Fiz algumas besteiras, é claro, mas minha avó sempre me colocava no caminho certo novamente. E eu sou muito grata a ela por isso.

             Em um verão qualquer, minhas amigas e eu fomos passamos as férias como voluntárias no hospital da cidade. Ficamos na área pediátrica lendo histórias para crianças carentes e cuidando delas quando uma enfermeira ou outra faltava. E foi assim que tanto eu, quanto elas, decidimos que a carreira que seguíramos seria a medicina.

            New Island é uma ilha-estado no interior de Washington. Apesar de ser um interior era, de certa forma, desenvolvido. Porém, eu costumava dizer que era tudo em unidade por lá. Uma delegacia, um hospital, uma escola de ensino médio, uma faculdade e por assim vai. Mas mesmo sendo assim, eu nunca me imaginei morando em outro lugar. Eu nasci em New Island e morreria em New Island.

            Eu sempre tive ótimas notas na escola, e isso me ajudou a conseguir bolsa na faculdade local. Creio também que, por minhas notas, eu teria conseguido bolsa em faculdades grandes como Stanford, Yale, Duke e etc, se eu tivesse enviado pedidos, porém como disse, não pretendo sair tão cedo de New Island, e a NIE (New Island Education), apesar de pouquíssimo conhecida e valorizada, era uma excelente faculdade e eu estava contente por está lá.

             Muitas pessoas vinham de fora para ficarem por ali. Pessoas que gostavam do interior, da calmaria, ou pessoas que apenas não haviam conseguido bolsa me universidades grandes e não tinham dinheiro o suficiente par apagar por estas. Apesar de boa, NIE não era nenhum pouco cara para que o povo de New Island pudesse frequentá-la sem problemas, já que nem todos conseguiam bolsas.

             No primeiro dia de aula, eu estava feliz por não ser mais só a Elizzie Watson popular e inteligente do ensino médio, não ser mais apenas aquela garotinha perfeita da casa azul. Eu estava feliz, pois ali eu construiria minha verdadeira imagem, aquela que eu levaria para o resto de minha vida. E claro, eu me formaria em seis anos. Eu seria médica! Meu sonho estaria completo.

            Eu estava feliz pela possibilidade de conhecer pessoas novas, fazer novas amizades e todas essas coisas, porém eu já estava começando a me irritar por não está vendo ninguém conhecido no campus. Nenhumas de minhas amigas haviam aparecido por ali. Eu sabia que Alice estava viajando com seu pai milionário, e com certeza, aquela hora estava correndo de loja em loja por Paris. Mas e Rebecca? Por onde essa garota estava? Não era comum dela perder o primeiro dia de aula. Será que era uma das suas mudanças agora como universitária?

            Olhei os lados, para frente e para trás procurando alguém conhecido. Essa história de falta de popularidade já não me estava sendo muito atraente. Eu teria que passar o primeiro dia sozinha? Quem me ajudaria a enfrentar o nervosismo do primeiro dia do resto de minha vida? Já andando e cogitando a ideia de voltar para casa de fininho, e fingi que nunca havia estava ali naquele dia, avistei uma menina de longos cabelos loiros com cachos perfeitos vindo em minha direção. Em seu rosto havia um sorriso falso enquanto acenava para mim, como se tivesse contente por me ver. Papo! Ao seu lado estava garota de cabelos negros até os ombros, pele muito branca e olhos de um azul mar lindo.

            _ Lizzie, minha boneca! – Falou a loira estendendo os braços, para o que entendi que fosse um futuro abraço.

            _ Como vai, Beth? – Falei gentilmente atendendo seu abraço.

            _ Muito bem, querida. Você já conhece minha prima Lucy? – Apontou para a menina ao seu lado.

            _ Não. Muito prazer, Lucy. Sou Elizzie.

            _ Oi, Elizzie. Prazer. – Sorriu e ao contrário do sorriso de Beth, sua prima tinha um sorriso sincero.

            Beth e eu nunca fomos amigas, sempre nos aturamos pela roda de amigos. Na verdade, Beth sempre achou que eu competia com ela, sendo que sempre, ela estava competindo sozinha. No fim das aulas do Ensino Médio, ela se gabara dizendo que iria para Yale, e que estava morta de feliz por não ter que continuar “naquele fim de mundo” como falara. Mas é claro que era tudo mentira. Beth não tinha notas o suficiente para conseguir bolsa na Yale, não fazia esportes algum ou qualquer outra coisa que a ajudasse a ganhar uma bolsa descente. A não ser que existissem bolsas para “Pé No Saco”, mas duvido muito.

            Ao passar do dia, eu não encontrei mais ninguém que pudesse me salvar da companhia da loira e suas sombras, porém até que a presença de Lucy ali ajudou bastante. Ela havia vindo da Inglaterra para morar com seus tios, pois sua família não tinha dinheiro o suficiente para pagar uma boa faculdade de medicina para ela em Londres, então se mudou do continente. Lucy era bastante calma, mas divertida de certa forma, uma pessoa fácil de gostar e totalmente diferente de sua prima.

            Apresentei Lucy as minhas amigas mais antigas que, também prestariam medicina assim que resolveram aparecer na faculdade. E por ela ser tão tranquila e serena, foi aceita perfeitamente como parte do grupo. Antes das aulas começarem, eu estava com um certo medo que nossa amizade fosse apenas coisa de Ensino Médio, porém quando as vi chegando pelo enorme portão da NIE, vi que Alice e Rebecca eram o tipo de amizade que se levaria por muito tempo, a vida toda até.

            Rebecca, Bec, como costumávamos chama-la, tinha longos cabelos dourados que caiam até a cintura, tinha um rosto muito bonito e olhos de um castanho lindo. Diferente dos meus cabelos castanhos quase chegando a um tom de mel que combinavam perfeitamente com meus olhos cor de mel e muitas vezes amarelados, os cabelos de Alice eram de um castanho escuro brilhante e seus olhos eram grandes e de um verde esmeralda, seu nariz era um pouco grande para seu rosto sardento, porém isso não a deixava menos bonita, pelo contrário.

***

            Em um dia de aula teórica como outro qualquer, a Sra. Consuelo, uma senhora baixinha de certa idade, com cabelos grisalhos nada charmosos e um óculos de armações rosa pink que, definitivamente, não combinavam com seu uniforme verde exército,  entrou em sala para dar um aviso.

            _ Meus queridos, a faculdade de NIE está tentando arrecadar fundos para o hospital St. Luwis, na ala pediátrica e contamos com a ajuda de todos vocês. Estamos querendo alguém que se responsabilize em nos ajudar. Um aluno para nos representar no hospital e pensar em formas de consegui o dinheiro.

            _ Bem legal da parte da escola ajudar o hospital. – Disse Lucy.

            _ Nós ajudamos o hospital uma vez, e as crianças de lá são uns amores. – Falei para Lucy.

            _ Você podia se candidatar, Lizzie. – Disse Bec. – Você é uma ótima líder, as crianças do hospital te adoraram e é bastante responsável.

            _ Você acha? – Perguntei enquanto pensava na ideia. – Não acha que é responsabilidade demais?

             _ Ah, por favor! O que não falta é responsabilidade em Elizzie Watson. – Disse Alice com um enorme sorriso. – E claro que nós te ajudaríamos, não é? – Falou olhando de Bec para Lucy.

            _ Mas é claro! – Concordou Lucy. – Eu acho uma ótima ideia, Liz.

            _ E além do mais, poderíamos fazer uma festa para arrecadar fundos. – Disse Bec dando de ombros.

            _ Claro, Bec, você é um gênio! Como eu não pensei nisso antes? – Alice se empolgou. Ela tinha um coração enorme, mas de certa forma era meio fútil. Se importava mais do que deveria com roupas, sapatos, cabelos, unhas e principalmente com seu maior hobbie, dar festas. Quanto mais gastasse melhor. – Uma festa enorme e incrível que ficaria para a história dessa universidade.

            _ Vai com calma, Lice. – Falei erguendo uma sobrancelha. – Não esquece que o foco é ajudar o hospital.

            _ Eu não perdi o foco, querida. – Fez uma careta que não deixou seu rosto menos bonito.

            _ É o seguinte – Começou Bec -, podemos fazer a festa e cobrar uma taxa para as pessoas entrarem, elas pagariam pelas bebidas que consumissem e todo o dinheiro arrecadado iria para o hospital.

            _ E por que eles pagariam para entrar em uma festa qualquer, gente? – Perguntou Lucy.

             _ Porque é uma festa de Alice Patil! – Respondi em uma risada. – Você nunca foi em uma festa de Alice Patil, é incrível. Lice sabe muito bem como dá uma festa.

            _ Está no meu sangue. – Se gabou.

            _ E claro, com Elizzie espalhando a notícia por aí, o que não vão faltar são pessoas.

            _ Então, mãos a obra! – Lucy encerrou o assunto.

***


            _ Lucy, venha cá? – Chamou uma voz um tanto fina e irritante que não poderia ser de outra pessoa se não Beth.


            Lucy me olhou com uma cara de cachorrinho pedindo ajuda, mas o que eu poderia fazer? Então ela deu um jeito de por um sorriso no rosto e foi ao encontro de sua doce prima.

            Ainda rindo da situação, fui caminhando pelo pátio, batia um vento gelado, mas bem refrescante contra meus cabelos que os fazia voarem com alguns fios chicoteando o meu rosto. Admito que não eu estava prestando atenção no que fazia, então obviamente não esperava vê-lo, mas eu o vi.


            Ele andava com as duas mãos nos bolsos e parecia vim em minha direção. O vento batia a favor dele, fazendo com que fiapos de seus cabelos dourados voassem para trás; ele usava óculos escuros, uma calça jeans bem básica e uma blusa branca que dava para ver com clareza seus braços fortes. Seu rosto era liso, e sua boca muito bem desenhada. Como ele era lindo. Fiquei realmente fascinada, acredito que até parei no meio do caminho para admirá-lo. Claro que ele passou direto por mim, mas tirou seus óculos ao passar do meu lado e me olhou. Com certeza deveria ter notado que eu o olhara como se fosse um anjo, e se bem, que ele parecia mesmo um anjo. Quando retirou os óculos pude notar que seus olhos eram incrivelmente verdes. O estranho mais lindo que já vi, estava sério para mim, mas mesmo assim lindo.


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Notas finais do capítulo

Espero que estejam gostando. Postei três capítulos direto e agora espero a opinião de vocês.

Beijos,

Flipward.



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