Vnc! Verde no Castanho. escrita por flipward


Capítulo 1
Livro um.


Notas iniciais do capítulo

Narração: Elizzie.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/134269/chapter/1

            Acordei mais uma vez com aquele barulho, mas dessa vez eu não me assustei, apenas levantei com um sorriso no meu rosto infantil, saí de minha cama já com um short jeans surrado e uma blusinha rosa desbotada no lugar do pijama. Fiz um breve sinal para que parasse de jogar as pedras em minha janela que foi atendido imediatamente; prendi meus cabelos castanhos cacheados em um perfeito rabo de cavalo e fui em direção à janela, que logo pulei sem problemas - não era a primeira vez que eu fazia isso -, porém logo cheguei ao chão me desequilibrei um pouco. Olhei em volta para ver se não tinha alguém, a rua estava deserta a não ser por uma figura pálida e magricela, de cabelos quase brancos, com olhos de um verde intenso por trás dos óculos de armações grandes e com um sorriso de orelha a orelha que revelava seu aparelho.


            Paul era o meu vizinho e meu melhor amigo. Nos conhecíamos desde que me lembro, e era incrível a amizade que tínhamos. Há alguns meses atrás, os pais de Paul estavam brigando feio e então, para tentarmos nos livrar de tais problemas, íamos para um lugar onde apelidamos carinhosamente de campinho.

            O campinho não era muito longe de nossas casas, era um lugar nosso, onde podíamos conversar sem que ninguém nos perturbasse ou apenas ficarmos calados olhando o céu para tentarmos esquecer os grandes problemas que duas crianças de nove e dez anos tinham. Paul ia até meu quintal com sua bicicleta, jogava pedrinhas em minha janela e quando eu acordava pedalávamos em direção ao nosso paraíso.

            Os pais de Paul eram advogados, e queriam que ele seguisse a profissão, mas na verdade o que ele sempre quis ser era escritor, e suas histórias de cachorros ou qualquer outro animal falante era realmente fascinante, principalmente para mim que tinha nove anos de idade.  O Sr. e a Sra. Wolfe, estavam em pé de guerra há alguns meses, e Paul se sentia culpado por isso, mas é claro que ele não tinha culpa de nada. Ultimamente, ele estava quieto e triste, e naquela noite bem mais.

            _ O que você tem, cabeçudo?

            _ Nada, Lizza.

            _ Como assim nada, Paul? Olha como você está... não confia mais em mim? – Cruzei os braços, fazendo minha habitual birra.

            _ Claro que sim, só que...

            _ Que...?

            Paul me olhou com aqueles grandes olhos verdes - que ficavam bem maiores por culpa daquelas lentes - de uma maneira que fez com que o meu pobre coração de nove anos se apertasse. Eu não precisava ser muito madura para saber que não viria coisa boa dali.

            _ Fala Paul. – Falei com a voz falhando e uma dor insuportável na garganta. – Fala!

            _ Meus pais, Lizza... eles... – Ele me olhava de um jeito que parecia que a cada vez que eu tentava encarar aquelas duas grandes bolas verdes, eu era socada.

            _ Paul, fala logo, por favor. – Choraminguei.

            _ Vão se separar. Meus pais vão se separar, Lizza.

            Vi a tristeza em sua face e a dor em seus olhos. Eu tinha apenas nove anos, não sabia o que falar, não sabia como consolá-lo. E claro que para um criança, a separação dos pais parece o fim do mundo. Parece que tudo no que eles acreditam vai embora. Não é fácil pensar que em um dia você tem uma família e no outro, você tem duas. E não de uma maneira boa. Mas qual é? O que eu podia falar para ele? Éramos duas crianças, e eu sabia tanto quanto ele sobre conselhos.

            _ Mas isso pode ser bom, não acha? Veja bem, eles estão brigando há tempos, estava na hora disso parar, e a única maneira que eles encontraram foi a separação.

            _ Eu sei.

            _ Então?

            _ O que me deixa triste não é isso, Lizza.

            _ O que é então, Paul?

            _ Meu pai me disse que é melhor que eu fique com minha mãe, é o certo. Só que... – Mais uma lágrima escorreu por seu rosto pálido.

            _ Quêêê? – Cantarolei sem paciência. Para quê tanto suspense? Por que esse molenga estava chorando? Seus pais iam se separar, que pena, mas ele mesmo concordara que isso era o melhor já que os dois estavam prestes a se matar.

            _ Só que minha mãe não tem família aqui, Liz. Ela se mudou para Washington para ficar com meu pai, e não conhece ninguém em New Island. – Deu de ombros. – Ela quer de mudar. Acho que quer voltar para o Brasil.

            _ Caramba, Paul! Você vai ficar longe da sua mãe? Que barra! – Falei enquanto tentava consolá-lo passando a mão em seu ombro.

            _ Não, eu não vou. Meu pai disse que eu terei que ir para cuidar de minha mãe.

Foi aí que a ficha caiu. Pareceu que algo havia batido com muita força em minha cabeça e me feito entender o motivo de todo aquele drama. Como assim Paul se mudaria? Sim, isso sim era motivo para chorar. Ele não podia se mudar! Nós crescemos juntos e ainda tínhamos muito mais que crescer. Sempre fizemos tudo juntos, sempre estivemos juntos, o que eu ia fazer em New Island sem Paul? Certo que eu tinha outros amigos, como Mariah, mas ela não era Paul.

            Foi então que eu senti uma dor insuportável na garganta no mesmo momento em que minha vista ficou embaçada. Ótimo, era o que me faltava. Eu estava chorando. Perfeito.

            _ Não Paul, você está mentindo. É um mentiroso! – Berrei entre choros.

            _ Você acha que eu ia mentir sobre algo assim?

            _ Sim! Você quer me fazer chorar. – Dei um tapa forte em seu braço. - Você não pode ir embora. Como eu fico?

            _ Eu também não quero ir, Lizza.

            _ Fique com seu pai, deixe sua mãe ir.

            _ Meu pai disse que o certo seria eu ficar com minha mãe...

            _ ELE NÃO SABE O QUE É CERTO! – Gritei novamente.

            _ Deve saber, Lizza. Ele é adulto, os adultos sabem das coisas.

            _ Se soubesse das coisas não mandaria você embora com a sua mãe. – Eu mais berrava do que chorava. – Ela não precisa que você cuide dela, Paul. Ela é velha! Eu sim, eu preciso que você cuide de mim.

            _ Eu não posso deixá-la Elizzie, eu sou o homem da casa agora.

            _ Como eles e você podem ser tão egoístas?

            _ Egoístas?

            _ Vá embora, Paul.

            Mas na verdade quem se foi, fui eu. Me levantei e corri aos prantos para casa. Como ele poderia ser tão egoísta? Ele iria me deixar aqui, eu ia ficar sozinha.

***

            Ouvi pedrinhas em minha janela, sabia que era Paul, mas o que ele viera fazer ali?

            _ O que você quer? – Falei colocando a cabeça para o lado de fora da janela.

            _ Te ver, Lizza. Por que não atendes mais os meus telefonemas? – Sua voz fina de menino de dez anos, era baixa, mas bem clara.

            _ Ora, tu não vais passar o resto da sua vida sem falar comigo? Sem me ver? Se acostume.

            De onde eu estava, tentei encontrar seus olhos verdes, foi difícil, mas os achei. O encarei demonstrando que não estava de brincadeira, fiz meu habitual sinal com uma das sobrancelhas e fechei a janela. Não desistiu, continuou a jogar pedrinhas em minha janela. Ignorei. Entrei de baixo das cobertas e lá fiquei fingindo não ouvir os barulhos irritantes de pedrinhas.

            Dez minutos. Vinte minutos. Trinta minutos. E ele ainda estava jogando pedrinhas em minha janela. Dá para acreditar? Me levantei com raiva e abri a janela.

            _ Vai embora, Paul. Você vai acordar meus pais.

            _ Só vou quando você descer e falar comigo.

            Derrotada, desci.

            _ O que você quer?

            _ Passar minha última noite no País com a minha melhor amiga.

            _ Ah claro... Espera! Última noite? Como assim? – Me desesperei.

            _ É. Vou embora amanhã à tarde. – Sua voz era tristonha.

            _ Não – Minha voz falhou – você não pode.  

            Eu estava pronta para começar a chorar e a berrar de novo, pronta para falar todos os motivos que ele tinha para não ir embora, para não sair dos Estados Unidos e ir para o Brasil.

            _ Por favor, não começa a gritar de novo. –  Falou com a voz triste, porém logo deu um sorrisinho antes de falar. – Vem, vamos.

            _ Para onde?

            _ Onde é que costumamos ir à noite? – Subiu na bicicleta. – Vem, capitã.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Vnc! Verde no Castanho." morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.