Crônicas Lunares escrita por no-chan


Capítulo 6
Cap. 2 Estranha Lua Cheia (parte II)


Notas iniciais do capítulo

Bem meninas, primeiramente, desculpem o sumiço. Foi por uma boa causa!! ^^ hahahahahahah
Vocês conhecem a prova da OAB? É, ela mesma. A prova infernal que todo advogado tem que fazer para poder trabalhar! Sim, infernal mesmo!!! Pois bem, por volta de abril foi a primeira fase e eu passei!!! Huhuuuu. Mas aí eu tive que estudar feito uma condenada para a segunda fase em julho e.... EU PASSEI!!!! hahahahahha Olha aí, eu sirvo para alguma coisa!!! Foi de primeira! *.*
Mas assim.... tem um pequeno detalhe, eu ainda não estou formada, pois ainda falta minha Monografia. E esta, meninas, é a real responsável pelo meu desaparecimento. Ela tem me obrigado a virar noites, pular compromissos e abandonar vocês. Mas quando eu digo que volto! Eu volto né não?!^^
De qualquer forma, esse capítulo eu vinha digitando aos poucos, tipo um parágrafo por vez e quando eu vi as duas novas leitoras, então eu quase pulei!^^
Obrigado por serem pacientes comigo meninas! Pacientes e leais! Amo muito vocês! Vou tentar escrever um pouquinho a cada dia, mas agora, só lá pra dezembro ou janeiro, que é quando eu defendo a Mono.
Então um beijão e boa leitura.



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Nephelle sentiu o vento antes de sentir a velocidade. Ela estava voando, literalmente! Quando finalmente se deu conta da situação, percebeu que estava a várias milhas do chão e o vento esvoaçava seus cabelos junto com a capa que ganhara de Hades. Era tão rápido!

O céu já estava escuro como ela temia. Teria que esperar até o amanhecer para ver o sol, mas isso não a desanimou. O lado de fora era incrível! O ar que respirava era tão leve e tinha tantos cheiros diferentes que a surpreendeu. A lua cheia brilhava fortemente em amarelo claro iluminando os campos, florestas e montanhas o suficiente para que ela pudesse admirá-los. As pequenas cidades passavam num piscar de olhos! Eram muito mais bonitas do que imaginara!

“Que lindo!” murmurou Nephelle para si fascinada.

“Oh! Você não desmaiou?” disse Hermes surpreso e a pequena ninfa olhou-o confusa. “Os mortais normalmente desmaiam a essa altura e velocidade. Se bem que eu também não costumo carregar mortais. Você entende né? Eu entrego mensagens, não pacotes vivos. Hehe.”

Nephelle riu da maneira como o deus falava. Rápido e divertido e sempre com um sorriso no rosto. Era tão diferente do mestre Hades.

“Eu não sou uma mortal normal. Pelo menos é o que mamãe diz.”

“Hehe. Sim você não é. Seus poderes ainda não despertaram, mas imagino que virão em breve. A magia corre em suas veias é só uma questão de controlá-la.”

“Não sei... Mamãe tentou me ensinar, mas acho que não tenho habilidade para isso.” murmurou a pequena ninfa um pouco desanimada.

“Hunf. Espere até alcançar a idade adulta das ninfas. Seu corpo congelará no auge e você jamais envelhecerá. Terá tempo de sobra para aprender.” disse o deus um pouco mais sério e com o olhar distante, até que observou-a novamente com um sorriso maroto. “Além do que, você será mais linda do que qualquer uma.”

Nephelle sentiu o rosto corar. Perséfone costumava elogiá-la assim, mas nunca ouvira de um homem. Mesmo sendo jovem, aquele elogio pareceu... diferente.

“Por que o senhor acha isso?”

“Você vai entender quando conviver com os humanos. Sua aparência pode não afetar muito os deuses ou os mortos, mas acredite, irá afetar os mortais.”

Nephelle ficou calada um pouco. Mortais. Realmente, ela nunca vira um mortal pessoalmente e pensar que seria tão diferente deles a assustava um pouco. Nesse momento os olhos da ninfa correram sobre o ambiente e ela percebeu que só havia mar.

“A que distância a entrada do submundo fica de Creta?” perguntou Nephelle confusa.

“Hum... uns três meses pelo mar ou cinco meses pela terra.” respondeu Hermes casualmente e olhou para a menina com um olhar brincalhão. Nephelle arregalou os olhos surpresa, mas logo compreendeu o que estava por trás daquelas palavras e sorriu desconfiada.

“E pelo ar, nos braços de um deus?”

Hermes riu largamente “Você é bem esperta, não? Bem... nos meus braços...”

Nephelle sentiu o peso sumir. Hermes desceu em alta velocidade e parou poucos centímetros do chão que não estava ali segundos antes. Colocou a ninfa de pé e soltou-a rindo ao vê-la cambalear e cair sentada de tontura olhando-o assustada.

“... cinco minutos.” disse o deus sorrindo.

A pequena ninfa se levantou desajeitada e caiu novamente aumentando o riso de Hermes. Em geral, as ninfas eram seres delicados e habilidosos, com pisadas leves e poderes místicos, mas Nephelle nunca demonstrou ser assim. Sua mãe dizia conseguir sentir a magia presente nela, poderes além do normal para uma ninfa, mas tal poder parecia fora de seu controle e seus pés geralmente não obedeciam aos comandos mais complexos e delicados.

Hermes ofereceu a mão para ajudá-la a se levantar. Nephelle conseguiu erguer-se com a ajuda do deus dos mensageiros e percebeu que Sérpico mantinha-se muito quieto em seus braços. Ao olhá-lo, ficou surpresa ao vê-lo completamente desmaiado.

“Eu disse que normalmente os mortais desmaiam.” disse Hermes acalmando a ninfa ao perceber seu medo pelo pequeno animal. Ele acariciou a cabeça de Sérpico de leve e, em seguida, juntou os dedos na orelha do gato e bateu de repente fazendo-o acordar irritado e chiando. “He He. Isso foi pelo Cérbeus.”

Nephelle abraçou o pequeno gato tentando impedi-lo de atacar o deus e ele a olhou com seus olhos brilhantes e amarelos aninhando-se em seu colo ainda irritado. Hermes se abaixou a altura da menina e retirou de uma sacola branca uma caixinha dourada toda cravejada com pedras preciosas.

“Perséfone pediu que te entregasse esse presente escondido de Hades. He He. Boa sorte.”

Nephelle pegou a caixinha com cuidado para não derrubar Sérpico que chiou ainda irritado para Hermes. O deus riu novamente e se levantou alçando voo em segundos sumindo no céu estrelado.

A pequena ninfa respirou fundo e olhou ao redor. Estava no meio de uma floresta, mas conseguia ver luzes não muito longe. Luzes. Luzes de verdade! Não espíritos ambulantes ou fogo de fúrias, mas luz de tochas e lamparinas humanas! Seu pai devia estar naquelas luzes. Queria correr até ele naquele segundo, mas aquela caixa dourada parecia pesada demais.

Nephelle sentou-se no chão deixando Sérpico em seu colo que logo reclamou enfiando as unhas nas mangas de seu vestido púrpuro. Ela riu de leve ao ver a manha do pequeno animal e acariciou sua cabeça enquanto, com a outra mão, colocou a caixinha no chão e a abriu.

De dentro dela, um cheiro forte de flores se espalhou e Nephelle teve que cobrir os olhos ao ver os dois lindos colares que brilhavam tão fortemente como ela imaginava ser o brilho do sol. Seus olhos ardiam e pareciam queimar com aquela luz, mas aos poucos foi se acostumando e finalmente conseguiu olhar diretamente para o presente. Quando viu melhor, percebeu que um dos colorares na verdade era uma coleira. Uma coleira de ouro cravejada em rubis, diamantes e safiras assim como o colar.

“Acho que isso é para você, Sérpico.” disse Nephelle e Sérpico levantou a cabeça desinteressado. Ela pegou a pequena coleira colocando-a no pescoço dele.

Sérpico saiu do colo da ninfa balançando a cabeça e tentando ver a coleira. Depois olhou para Nephelle e girou ao redor de si mesmo como se estivesse desfilando e parou sentado em pose.

“Ha ha ha! Sim, ficou muito bonito!” riu a garota e pegou o segundo colar colocando em si mesma. “E o meu? Como fic...

No momento em que soltou o colar no pescoço, Nephelle sentiu o corpo inteiro pulsar, assim como Sérpico a sua frente. Uma dor imensa a possuiu, mas a pequena ninfa segurou o grito em sua garganta. Ela olhou para Sérpico preocupada e ele parecia estar sentindo o mesmo, pois miava agudamente de dor. “Por que estão fazendo isso?!” pensava a ninfa assustada “Mestra Perséfone!”

Mesmo contra a dor e a confusão, Nephelle conseguiu pegar Sérpico nos braços logo tentando retirar sua coleira. Entretanto, no momento em que pôs os dedos no ouro, tudo ao seu redor pareceu se desfazer... assim como sua alma.

Uma luz ainda mais intensa emanou dos dois objetos e um vento muito forte envolveu a ninfa e o filhote levantando-os do chão. O cheiro forte de rosas espalhou-se pela floresta. Cada pedaço do corpo de Nephelle parecia queimar e se desfazer. Quando ela penou que não fosse mais aguentar, uma voz gentil e adocicada alcançou sua mente.

Sua nova vida será estranha e perigosa, minha florzinha, mas você não estará só. Nem só, nem indefesa.”

A dor começou a diminuir e seu corpo começou a esmorecer adormecendo. Nephelle abriu os olhos só para vez a luz dourada ser engolida pela escuridão.

“Mestra Perséf...”

Então tudo ficou preto e a pequena ninfa caiu na inconsciência.


***********


“Porque essas coisas só sobram pra mim?” resmungou a jovem serva ao colher mais uma rosa no escuro jardim. “Colham um buquê com cinquenta rosas vermelhas para enviar à princesa como pedido de desculpas! Sério?! Eu lá tenho culpa se o príncipe não quis dar bola para aquela sangue puro?!”

“O que você tanto resmunga, Letha?” censurou a serva mais velha que a ajudava. “A rainha deseja esse buquê para agora! A princesa vai partir ao nascer do sol.”

“­A rainha deseja muitas coisas.” murmurou Letha raivosa. “O sol já se pôs a duas horas, todos estão lá dento comendo e nós estamos aqui! Colhendo flores no escuro! Tudo porque sua majestade não entende que Astérion não quer se casar com quem não ama!”

Príncipe Astérion, mocinha. Não seja atrevida!”

A jovem serva virou-se de repente assustada pela proximidade da outra. Quando ia abrir a boca para reclamar, um estranho brilho surgiu na floresta. Um brilho que definitivamente não podia vir de um archote* humano!

“Mas o que é aquilo?!”

“Zeus proteja...” sussurrou a senhora.

Letha pensou em se afastar dali o mais rápido possível. Era noite de lua cheia! A noite dos encantos e feitiçarias, nada de bom podia vir de uma luz na floresta. Mas ela não conseguiu controlar a curiosidade. Aquele brilho... só podia ser divino!

“LETHA! Volte aqui menina!”

Ignorando os gritos da outra serva, a moça derrubara as rosas no chão e correu em direção à floresta guiada pelo brilho. Um estranho vento vinha daquela direção soprando as folhas por todos os lados! Era difícil se aproximar, mas Letha era conhecida por sua teimosia e não desistiria tão facilmente. Quando forçou a passagem por uma estranha parede de vento, sentiu tudo parar. O vento parou de repente e a luz que a ofuscou foi sumindo aos poucos deixando apenas... uma criança.

E aquela era a criança mais linda que já vira na vida.


***********


Nephelle ouviu passos ao seu redor. O som agudo de taças batendo e a água balançando. O cheiro forte de rosas, mais forte do que jamais sentira antes. Ela estava deitada em tecidos muito confortáveis e o ambiente passava uma sensação leve e elegante.

De repente, o som de portas se abrindo fez todos os passos pararem. Um som de tecidos e várias batidas leves no chão, como se as pessoas ali presentes se ajoelhassem.

“Alteza.” falaram todas as vozes ao mesmo tempo.

“Ela ainda não despertou?” perguntou uma voz masculina que ecoou no ambiente. Era séria e altiva, mas algo naquela voz a fez sentir-se segura e protegida. Talvez pela preocupação que ela emitia.

“Não, senhor. Ambos continuam dormindo profundamente.” disse uma voz feminina macia e gentil.

O som de passos aproximou-se dela. Sentiu um pequeno peso nos tecidos ao seu lado e um leve toque em seu rosto. Os dedos gentis deslizaram até seu cabelo onde tocaram algo que pressionou contra sua cabeça.

“Vamos pequenina, acorde. Eu preciso saber onde conseguiu essa flor dourada.” sussurrou o homem com uma voz preocupada, mas um pouco irritada.

Nephelle tentou levantar as pálpebras. Mas como elas doíam! Todo seu corpo doía na verdade. Parecia ter sido espremido e esticado varias e várias vezes! Ela gemeu com a sensação e o toque em seu cabelo se retirou. Seus olhos tremeram debilmente e só então conseguiu abri-los bem devagar. Foi então que a pequena ninfa viu o mundo totalmente diferente.

O quarto de paredes marrons, não negra como no submundo, mas sim marrons, estava adornado com quadros e tapeçarias coloridas. Nada de almas ou sombras flutuantes. Nada de esqueletos batendo os queixos. Nada de luzes verdes voadoras iluminando o ambiente. Estava em um quarto humano, deitado em uma cama humana macia e confortável com cheiro de rosas e ainda mais, podia ver os raios alaranjados do sol teimarem em atravessar as frestas das cortinas. Mas não era só isso.

Seus olhos captaram as imagens a sua frente com tanta precisão que isso a assustou. Cores que ela nunca pensou existirem, agora pareciam brilhar a seu redor. Ela olhou o homem sentado ao seu lado e ficou encantada com sua beleza. Era a primeira vez que via um humano... e que humano lindo! Seu rosto angular com um nariz perfeito e olhos de um azul profundo estavam emoldurados por cabelos loiros muito, muito claros, quase tão claros como os dela. Eles caiam sobre seus olhos em ondas leves. Olhos estes que a olhavam preocupados, confusos e até... assombrados.

“Onde eu estou?” perguntou ela ainda deitada com a voz abafada e infantil.

“Você está no palácio de Creta, pequena.” respondeu o belo homem ao seu lado. “Algumas servas que cuidavam do jardim viram uma luz muito forte na floresta ontem à noite e, quando foram ver o que era, encontraram você desmaiada e com uma febre altíssima. Se não fosse por elas, não sei o que teria acontecido com você.”

Nephelle ouviu as palavras do homem quase que enfeitiçada. Era impossível desviar o olhar enquanto aquela voz altiva e segura soava. Se aquele era um humano, agora talvez entendesse como sua mãe, uma deusa, pudesse ter se apaixonado por um deles. Foi nesse momento que uma sensação estranha tomou seu peito.

“SÉRPICO!” gritou a pequena assustada tentando se levantar, mas foi tomada por uma tontura intensa e logo a mão do homem a fez deitar-se novamente. “Sérpico! Onde está o Sérpico?!”

“Calma, pequena.” reprendeu o homem com uma voz mansa “Fique deitada agora. Quem é Sérpico... Espere. Você está se referindo ao gato?

A garota olhou-o nervosa e confirmou com a cabeça já com os olhos marejados de preocupação.

“Ele está bem aqui, dormindo feito uma pedra.” A voz rígida de uma senhora de branco ecoou e Nephelle pode vê-la apontar para uma pequena almofada onde Sérpico dormia calmamente.

A pequena ninfa suspirou aliviada. Ela sempre se preocupou com o aventureiro gatinho que ganhara da deusa Eris. Por mais que ele vivesse aprontando e deixando sua mãe a ponto de matá-lo, Nephelle o amava muito. Mas naquele momento, algo estava diferente. Não tê-lo em seus braços parecia errado, angustiante. Ela podia sentir uma estranha urgência de acariciá-lo, de ter certeza que estava bem. Era como se não estivesse completa sem ele. Como se sua própria alma clamasse por ele! E isso ela nunca havia sentido.

“Você está bem criança?” perguntou o loiro agora um pouco receoso tirando-a de seus pensamentos.

“Ela ainda deve estar cansada, alteza.”

Nephelle olhou para o lado com dificuldade. Uma jovem de cabelos pretos ondulados amarrados com faixas douradas e usando um vestido branco simples aproximou-se falando calmamente, mesmo parecendo cansada. A outra serva, bem mais velha quase voou em cima dela, mas apenas murmurou uma repreensão.

“Mas ela dormiu quase o dia todo, Letha.” disse o homem normalmente nem um pouco incomodado com a interrupção.

“Sim, mas ela teve uma noite difícil. A febre só veio baixar agora pela tarde. Talvez ela ainda não esteja totalmente recuperada.” continuou a jovem e a senhora parecia que teria um treco a qualquer minuto.

“Entendo.” murmurou o homem tentando parecer compreensivo, mas Nephelle pode ver certo desconforto em seu olhar.

“Deixe que eu a dê algo para comer.”

A serva chamada Letha se retirou rapidamente e retornou pouco depois com uma badeja de comida. Nephelle podia distinguir cheiros incríveis que nunca havia sentido antes! Algo como ervas, carne e o próprio cereal tinham cheiros fascinantes. Será que tudo isso era só por estar no mundo humano? Não se lembrava de ser tão sensitiva assim.

Enquanto Letha preparava a comiga ao lado de sua cama, o homem bonito suspirou pesadamente, como se envolto em pensamentos e a olhou novamente com um ar questionador ou até cauteloso. Nephelle percebeu que ele sempre desviava os olhos para seu cabelo, interessado em alguma coisa e então voltava a olhá-la ainda mais confuso e incomodado.

A pequena ninfa erguer a mão até o cabelo e sentiu a flor dourada que sua mãe havia posto ali. Era isso que ele estava olhando? Quando a serva se sentou a cama com um prato de comida, Nephelle tentou sentar-se de novo, dessa vez bem devagar e logo estava sendo amparada pelo homem que a ajudou a encostar-se nos enormes travesseiros de maneira que ficasse sentada. Nephelle olhou-o encantada. Ele era muito gentil.

“Então, pequena, qual é o seu nome?” perguntou o homem e calmamente enquanto Letha lhe dava pequenas colheradas um uma sopa deliciosa. Se não fosse por ser ele a perguntar, talvez ela nem responderia para poder saborear melhor.

“Me chamo Nephelle. E aquele é Sérpico.” disse ela rapidamente e voltou-se para a serva apressada abrindo a boca para mais daquela refeição.

Letha riu um pouco, fascinada com aquela criança. Linda, absurdamente linda! O cabelo prateado escorria em seus ombros como neve na montanha. A pele cálida parecia véu de seda de tão macia. Os lábios rosados, tão pequenos quase não abarcavam a colher de comida, mas ela parecia estar faminta! Mas não era para menos. Ela estava comendo tudo muito rápido.

“Esta que te alimenta se chama Letha. Foi ela que lhe encontrou ontem à noite.” disse o príncipe chamando a atenção da garota. “Ela passou a noite e o dia cuidando de você. Todas elas passaram. Você deveria agradecê-las.”

Letha sentiu o rosto queimar um pouco. Não eram todos os soberanos que reconheciam o trabalho dos servos, mas ele sempre fora diferente. Humilde e gentil. Essas eram as palavras que ela encontrava para descrevê-lo. Olhando novamente a pequena Nephelle, ela a viu encarar todos na sala com um olhar de gratidão. Um olhar tão lindo que todos ali pareceram congelar fascinados!

“Obrigada por terem cuidado de mim.”

“Não há de quê.” sussurraram as quatro servas ali presentes totalmente sem jeito. Mesmo a velha serva pareceu amolecer diante daqueles olhos.

Nephelle às olhou intrigada. Aquela reação era bem diferente de qualquer outra que já tinha visto antes. Só então se lembrou das palavras de Hermes e... será que...

“Nephelle... hum. Diga-me Nephelle, como chegou aqui?” perguntou o homem quebrando o silêncio novamente. “Perguntamos a todos na cidade se sabiam de uma garotinha perdida, mas nenhum deles se manifestou. Não acho que uma garotinha andaria sozinha de noite nas florestas, ainda por cima doente.”

“Eu... eu vim encontrar uma pessoa, mas não sei como ele é.” murmurou a garotinha nervosa. “Mamãe disse que ele me reconheceria ou eu acabaria descobrindo sozinha.”

“Sua mãe? Sua mãe lhe deixou sozinha na floresta?!” perguntou o homem com uma voz cortante, mas então hesitou e olhou novamente para a flor em seu cabelo parecendo assombrado. “Qual... qual é o nome da sua mãe?”

“Não posso dizer...” murmurou ela tristemente.

“Responda o que lhe foi perguntado, mocinha. Você está falando com o príncipe de Creta!” repreendeu a velha serva.

“Você é um príncipe?”

“Esqueça isso e me responda: foi sua mãe que lhe deu essa flor dourada?”

As servas se entreolharam confusas com a pergunta do homem. Pareciam não entender a fixação dele na flor e Nephelle a olhou assustada pela primeira vez.

“Como sabe que foi ela?”

O homem sentado à cama a olhava pasmo e completamente confuso. Ele encarou pela centésima vez a flor em seu cabelo e a emoção em seus olhos a deixou ainda mais nervosa. Ele ergueu gentilmente o rosto dela encarando seus olhos profundamente e pareceu ter visto algo ali, pois a expressão dele tornou-se incrédula de repente.

“Não pode ser...” sussurrou ele quase inaudível.

A mão em seu rosto se dirigiu para a flor de sua mãe e a retirou cuidadosamente de seus cabelos. Nephelle hesitou um segundo em permitir que ele a tirasse, mas então, assim que ele a segurou próximo de si, ela emitiu um brilho negro e instantaneamente se transformou em uma linda flor viva de cheiro agradável, o que logo causou um alvoroço no quarto.

“Meu Zeus!” gritou uma das servas que acabou soltando a badeja que carregava no chão, derramando água para todos os lados. Todas as outras afastaram-se imediatamente da cama pelo susto, exceto por Letha que ainda olhava tudo fascinada.

“Isso é impossível... Eu não posso tê-la engra... Você não pode ser filha de...” o homem falava abismado sem conseguir terminar suas frases e agora era ele que as servas encaravam assustadas.

O coração de Nephelle acelerou de uma vez. Só podia ser ele! Nenhum humano poderia quebrar um feitiço de sua mãe, a não ser que ela mesma permitisse! Aquele homem bonito e gentil deveria ser seu pai, com certeza! Nephelle aproximou-se dele apoiando-se nos tecidos e tocou seu rosto levemente com a mão alva fazendo-o sair do transe e olhá-la em reconhecimento.

“Papai?”

Astérion ouviu os arquejos das servas a seu redor, mas nada disso importava. Ele pegou a pequena ninfa nos braços abraçando-a fortemente e enterrando o rosto em seus cabelos. Não entendia como aquilo era possível. Hécate! Aquela era sua filha com Hécate! Aquela maldita Hécate!


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Notas finais do capítulo

Huhuhuhuhhuhuh
Só pra não perder a mania dos meus finais!^^ hahahahahahah
Eu achei ele bem emocionante, não sei vocês. Agora o próximo capítulo... hummm acho que vai ter gente chorando....
hahahahahaahahahha
archote*: um tipo de tocha usado na antiguidade.