Crônicas Lunares escrita por no-chan


Capítulo 3
Cap. 1 Maldita Lua Crescente (parte final)


Notas iniciais do capítulo

Huuuuummm
Eu sinceramente espero que a passagem de tempo não tenham feito vocês me abandonar...^^
Mas bem, eu tenho que agradecer a uma pessoa em especial pra ter postado esse capítulo:
SUELENSSS você é um anjo!!!^^
Me cobre sempre que puder!!

hahahahaBem....
Sem mais delongas...
Boa soerte pra mim.
Boa leitura para vocês.^^



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Anteriormente

O tempo pareceu parar enquanto ele tentava colocar os pensamentos no lugar. Naquele momento, tudo girava em torno dos dois unindo-os ainda mais. Mas as palavras que refletiam suas dúvidas ainda assim saíram.

“É a senhora... não é? Esse... desejo que eu estou sentindo. Foi algo... que a senhora pôs em mim... não foi?”

Hécate o encarou ofegante por alguns segundos. Uma risada sombria começou a se formar em sua garganta e, em seguida, tornou-se alta e melodiosa. Ela o olhou nos olhos com malícia e ergueu o rosto para aproximar-se do dele.

“Será, Astérion? E se for?” disse ela tocando os lábios do jovem com os seus e mordeu-os de leve fazendo Astérion gemer baixinho “E se eu estiver fazendo isso? Você quer que eu pare? Não quer continuar sentindo?”

A voz que saia por sua boca e lábios vermelhos era rouca e provocativa. Os braços dela contornavam o seu pescoço puxando-o para baixo para voltar a colar-se em seu corpo. Ela estava rindo novamente vendo-o ceder. Entretanto, o jovem príncipe respirou fundo e se deixou preencher por seu orgulho. Ele não iria aceitar que uma mulher o usasse dessa forma! Fosse ela uma deusa ou não! E o pior, ele se sentia magoado por algum motivo.

“Os deuses realmente gostam de manipular os humanos, não é?” disse o rapaz com a voz fria e sombria tentando controlar a mágoa.

Hécate parou de rir de repente. Tirou os braços do pescoço dele e trevas se apoderaram dos dois. Tentáculos negros seguraram o corpo do príncipe levantando-o e o afastando da deusa para em seguida sumirem deixando-o de pé em silêncio. Hécate limpou seu vestido e seu cabelo dando as costas para ele. Astérion somente a observava sério.

“Eu não coloquei nada em você, Astérion. Esqueça o trato que tinha comigo. Eu não o estou forçando a nada, Pode se retirar agora mesmo se quiser.”

Hécate não o olhou enquanto falava. Sua voz era gélida, mas parecia ofendida com algo. Ela começou a se afastar aproximando-se do lago iluminado e deixando-o sozinho. Astérion congelou algum tempo resolvendo o que fazer. Ela acabara de libertá-lo de seu castigo? O que faria agora?

Uma melodia chegou aos ouvidos do príncipe enquanto ele refletia. Procurou a origem do som e percebeu que a voz de Hécate tomava o ambiente. A deusa estava cantando? Mas parecia tão triste... Aquele som lhe parecia tão... tão familiar. Sim! Já ouvira aquele som antes! Tinha certeza disso, mas onde?

Foi então que uma lembrança muito antiga invadiu sua mente. A canção pareceu resgatá-la do fundo da memória como se aguardasse aquele momento em especial. Foi como se revivesse tudo novamente...

******

Astérion caminhava pelos jardins do palácio da ilha se Sicília. Tinha seis anos na época, mas sua mente infantil já percebia como a cidade era uma confusão! Só não entendia por que seu pai o trouxera para essa tola negociação com um governo tão distante. Foram três meses em mar aberto até que atracassem num porto descente!

Quando se cansou de ver velhos discutindo economia, escapou para os jardins e começou a colher algumas flores para sua mãe que continuava irritada. Eles deveriam voltar a Creta somente no dia seguinte ao fim das negociações e a cidade não agradava muito o gosto presunçoso de sua mãe.

Enquanto caminhava, acabou chegando à praia. A lua pouco iluminada parecia não querer brilhar como se enfraquecida. O som das ondas era estranho, como se quebrasse em uma melodia.. Era isso! Alguém estava cantando. Uma melodia doce, porém nostálgica se espalhava pela noite obscurecida.

Ele seguiu o som até as rochas da costa. Um penhasco rochoso se estendia acima dele e pedras cobriam a praia como se fizessem um tapete negro sobre a areia pálida. A melodia o atraiu até o meio dessas pedras e seu coração gelou quando viu o que estava a sua frente.

No meio das ondas, não muito longe, havia algo enorme se mexendo. Tentáculos se moviam como serpentes e vários pontos vermelhos entregavam a existência de olhos rubis pertencentes a seis cabeças daquele ser. Um monstro assustador!

Todo o impelia a correr. Aquilo estava se aproximando da praia rapidamente, mas algo o manteve ali. A melodia não vinha dele. Então de onde? Ele olhou ao redor. Seu coração tinha que saber o que era responsável por aquela melodia que o fascinava. Então ele a viu. No meio da escuridão, entre as pedras, havia uma senhora de longos cabelos brancos e roupas negras apoiada em um rochedo bem próximo às ondas. Uma senhora idosa que cantava tristemente para o mar. Parecia até que ela cantava para o... monstro? Ela estava atraindo o monstro!

“Saia daí, meu jovem. Aproxime-se.” disse a senhora asperamente parando a canção e dirigindo-se a ele “Não é educado bisbilhotar. Sua mãe nunca lhe ensinou isso?”

“Ah! Me desculpe... eu só estava seguindo a canção.” falou Astérion nervoso saindo do esconderijo de pedras e então olhou o monstro assustado. Ele se aproximava cada vez mais. Temendo pela segurança da senhora, ele correu para perto dela tentando puxá-la pela mão para tirá-la dali. “É melhor sairmos daqui! Aquele monstro está vindo pra cá! É perigoso!”

A velha senhora não se mexeu. Pelo contrário, segurou a mão do pequeno Astérion para que ficasse. O garoto a olhou novamente preocupado e pode ver que os olhos da senhora refletiam uma grande tristeza.

“Sabe, meu jovem. As aparências costumam enganar muito..” disse a senhora que parecia vagar em pensamentos “Aquele monstro alí é um desse enganos. Olhe de novo. Force bem os olhos e me diga o que você vê.”

Mesmo tremendo pela aproximação da criatura, Astérion novamente se atreveu a olhá-la. Forçou os olhos como fora ordenado e não acreditou a princípio no que viu. Uma jovem parecia estar sobre o monstro... Não. A jovem era o monstro! Uma linda jovem de cabelos pretos até a cintura de onde seis cabeças de feras e tentáculos brotavam assustadoramente.

“Você não faz idéia do quão bela ela era na verdade.” disse a senhora ao perceber que ele enxergara. “Quase tão bela quanto a própria Hera... Pobre garota...

“Eu não entendo. Por que ela...”

“Aquela é Cila. Ela era a jovem mais bonita na Terra. Entretanto, sua irmã tinha muita inveja e lançou-lha uma maldição horrenda.” interrompeu a senhora franzindo o cenho. “Agora Cila tem aquela forma monstruosa e assustadora. Pobre criança.”

“Mas não há como reverter a maldição? Não tem ninguém que saiba como?” perguntou o pequeno príncipe angustiado.

A senhora o olhou alguns segundos hesitando. Após um momento, ela deu um sorriso triste e olhou novamente Cila que ainda se aproximava devagar.

“Eu sei como. Eu poderia fazê-lo...”

“Então por que a senhora...”

“Mas eu jurei não me intrometer nos acontecimentos mortais e pretendo cumprir com o que disse.” falou a senhora com firmeza calando-o. “A questão deve ser resolvida por mortais. Ela terá que ser forte para achar uma cura sozinha ou esperar que alguém o faça.”

O silêncio consumiu o local. Só se ouvia o quebrar das ondas. Astérion sentiu a tristeza preencher o ar, não só da praia, mas também do mar. O monstro... não, a jovem Cila também estava triste. A tristeza era quase tão grande quanto a da senhora ao seu lado. Pobre Cila. Estava realmente sofrendo.

“É melhor ir para casa, garoto. Ela pode estar triste, mas ainda é perigosa.”

Astérion finalmente percebeu que Cila estava só a alguns metros da praia. Tomou uma decisão instantânea que depois perceberia o quanto imprudente era e correu até onde o mar quebrava nas pedras. Viu de relance a senhora levantar-se assustada.

“Garoto! O que está fazendo?!”

Ele a ignorou e entrou alguns passos na água. Cila estava a menos de trinta metros dele e, com certeza, seus tentáculos podiam alcançá-lo. Pegou o buquê que tinha feito para sua mãe e tirou apenas uma flor para si colocando o reto sobre as ondas calmas do mar e deixando que ele flutuasse em direção à Cila.

“Anime-se Cila. Você é muito bonita, sabia?” gritou Astérion alegremente para ela.

A jovem com corpo de fera parou de se aproximar desconfiada. Um de seus tentáculos foi em direção ao garoto, mas ele não se mexeu. Ele estava imóvel olhando-a com um ar esperançoso.

“Querida, não o machuque.” ordenou a senhora com a voz um pouco mais forte.

A jovem no topo do monstro suspirou pesadamente e, por um momento, pareceu sorrir. Usou o tentáculo para jogar água no garoto e puxou o buquê para si, aproximando-o do belo rosto.

A água bateu de leve no rosto de Astérion que acabou rindo como a criança que era. Ele então virou-se e começou a sair do mar ainda rindo e aproximando-se da senhora.

“O que estava pensando, pirralho?!” inquiriu a senhora irritada. “Ela só não o matou porque eu estava aqui, fui clara?”

Astérion parou de rir, mas não fechou o sorriso. Aproximou-se da senhora e erguem a flor que sobrara do buquê oferecendo-a.

“Esta é para a senhora. Cila não é a única que está triste, não é? Anime-se”

O pequeno príncipe disse tais palavras do fundo do coração. De alguma forma ele desejava a felicidade daquela senhora. Seu coração se apertava por vê-la triste de alguma forma e tudo que aquele pequeno garoto queria naquele momento era fazê-la sorrir.

A senhora pegou a flor hesitante, mas algo tocou seu coração frio por tanto tempo. Um sorriso gentil e carinhoso brotou em seus lábios fazendo Astérion sorrir ainda mais.

“Astérion!!”

A voz de sua mãe fez o jovem virar para o palácio. Ele queria avisar onde estava, mas não queria se afastar da senhora. Queria levar a senhora consigo por algum motivo temia deixá-la. Sua indecisão foi cortada pela voz da senhora carregada pelo vento.

“Será um homem interessante, meu jovem... Vá, príncipe Astérion. Prometo que nos veremos de novo”

Ele virou-se rapidamente ao ouvir seu nome, mas não havia mais nada entre as pedras. Nada de velha, nada de Cila. Estava só.

*****

O príncipe finalmente voltou sua atenção para o presente. Hécate ainda estava de costas para ele olhando o reflexo da lua sobre o lago recostada de lado em uma árvore. Ele assistiu seu cabelo negro balançar ao vento e finalmente prestou atenção na flor dourada que prendia seu cabelo. Não podia ser! Era a mesma flor! A mesma flor de cinco pétalas que entregara àquela senhora anos antes. A flor fora petrificada em ouro e agora repousava sobre o cabelo da deusa Hécate!

A lembrança ficara a mais de dez anos no passado e só agora conseguiu entender aquele sentimento tão infantil a princípio. Ele sempre esteve lá. Desde a primeira vez que a viu. Não fora algo imposto pela deusa. O sentimento só havia crescido ao longo desse último mês em que pensou na jovem de seus sonhos todo santo dia.

Hécate. Estava mais do que claro para ele agora. Ele amava Hécate!

Quando finalmente percebeu seus sentimentos, um frio correu-lhe a barriga! Ele se apaixonara por uma deusa! Alguém infinitamente mais poderoso e intocável. Mas agora seu corpo ansiava tocá-la novamente. Queria tê-la nos braços como minutos atrás. Entregue e ofegante. Queria idolatrá-la e fazê-la sua e de ninguém mais!

Astérion suspirou descrente de si mesmo. Amar uma deusa... iria acabar morrendo por isso! Aproximou-se lentamente tentando criar coragem. Tocou a flor no cabelo da deusa observando-a criar vida novamente. Era sim, a mesma flor. Hécate virou-se para encará-lo surpresa, mas seu rosto logo tomou um ar frio e insensível. Ele a havia ofendido. Acusara ela de algo que seu próprio coração criou. Mesmo que tão intenso. Precisava pedir desculpas de alguma forma, mas, o mais importante, precisava retirar essa tristeza que a envolvia.

“Anime-se, Hécate.” sussurrou Astérion olhando-a intensamente e abrindo um sorriso gentil.

Ela apenas o olhou silenciosamente, mas isso não desanimou o jovem príncipe. Sabia que ela o queria. Por que outro motivo viria ates dele depois de tantos anos? Isso o deu forças para continuar. Diminuiu a distância entre seus corpos ficando muito próximo da deusa, mas ainda sem tocá-la.

“Perdoe-me. Fui um tolo ao acusá-la de me enfeitiçar. Meu coração já lhe pertencia muito antes de cruzar esta clareira na noite de hoje.”

Hécate relaxou o rosto e seus lábios seguraram um sorriso. Astérion tomou isso como um incentivo e aproximou o rosto do pescoço da deusa gentilmente. Bejou-lhe com leveza deslizando os lábios por sua clavícula pálida. Com uma das mãos escorregou a alça do vestido da deusa para o lado descobrindo seus ombros e com a outra segurou sua cintura colando-a a si.

“Perdoa-me?” sussurrou ele contra sua pele macia.

Hécate suspirou começando a se render aos toques do jovem. Soltou um riso malicioso e olhou-o nos olhos.

“Perdôo, mas não sem um castigo.”

Em vez de ficar assustado com a ameaça, Astérion riu presunçoso e abriu um enorme sorriso. Desceu os lábios até a orelha da deusa e murmurou sedutoramente.

“Sinceramente, Hécate. Se queria tanto minha companhia, era só pedir.”

Hécate não pode conter o riso naquele momento, mas antes que sua gargalhada se espalhasse, sua boca foi possessivamente obstruída pelos lábios de Astérion. O beijo era rápido e quase violento, mas ela correspondeu na mesma intensidade. Agarrou o pescoço do rapaz e enroscando suas mãos em seus cabelos loiros. Ele a pressionou contra a árvore e deslizou uma das mãos por baixo do vestido da deusa sentindo sua pele quente se arrepiar pelo toque. Seu corpo queria isso! Ansiava por mais a cada segundo.

Nesse momento, o primeiro raio de sol tocou a floresta. Hécate abriu os olhos repentinamente e puxou os cabelos da nuca de Astérion cortando o beijo. Ele ofegava e parecia assustado e exitado com a força da deusa em seus braços. Mais. Ele queria mais.

Hécate sorriu com malicia e contentamento para enfim falar triunfante.

“Seu castigo. Até a próxima lua crescente, querido Astérion.”

“O-o que?”

A confusão do jovem príncipe foi o suficiente para que o corpo da deusa fosse rodeado pela escuridão e sumir num piscar de olhos deixando o rapaz totalmente atordoado sentindo seus braços vazios do calor da deusa. Quando finalmente percebeu o que acontecera, Astérion subitamente sentiu a frustração e raiva tomar seu corpo.

“MALDITA! MANIPULADORA!” gritou ele irritado sem vê-la.

Tudo o que ouviu em resposta foi a risada da deusa ecoando pelo vento.

“Mas você não perde por esperar, Hécate.” murmurou o jovem e sorriu maliciosamente retornando o caminho que voltaria a fazer por outras malditas noites de lua crescente.


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Notas finais do capítulo

Obrigado por lerem!!^^
Se quiserem ter uma noção melhor da Cila:
http://fc09.deviantart.com/fs18/f/2007/166/8/2/Scylla_by_GENZOMAN.jpg

Uma prévia do Capítulo 2 (pra quem pensou que nosso casal iria sumir aqui, dá só uma olhada):

Astérion pegou a pequena ninfa nos braços abraçando-a fortemente. Ele não entendia como aquilo era possível. Hécate! Aquela era...

hhuhuhuhuh^^ me aguardem!