Preguiça, Gula e Vaidade escrita por Diego Lobo


Capítulo 8
Capitulo 7- A ordem


Notas iniciais do capítulo

Sem desculpas pela demora. Espero que me perdoem e não me odeiem para sempre (quem continua lendo rsrs) ai vão dois caps.
(Perséfone) Capitulo betado *.~



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Mike esperou por horas naquele lugar mal iluminado. Depois de descer as escadas tudo o que encontrou foi uma velha cadeira de madeira e um bilhete escrito “Por favor aguarde”, e ali ficou. Resistiu à tentação de seguir o caminho através de uma porta escura fechada, mas assim estaria desobedecendo uma ordem, e não era uma boa ideia começar seja lá o que o aguardava se mostrando desobediente.

— Seja lá o que me aguarda — divagou consigo.

O cansaço o fez se levantar da cadeira e dar algumas voltas pelo curto espaço. Era muito estranho não escutar som algum, afinal era um mosteiro enorme com varias pessoas.

Tomado pelo tédio, o rapaz abriu sua mochila e retirou um caderno de desenho, o lápis estava como sempre estava em um dos bolsos de fora e reluziu na fraca luz quando foi retirado.

Havia algo que ele desejava desenhar já há algum tempo, mas se sentia mal ao fazer. Entretanto, naquele espaço tão longe do mundo, não se sentiria tão culpado em fazer. Levou minutos para desenhar o esboço, com as curvas acentuadas e delicadas da pessoa, depois de seguir aos olhos, detalhe que sempre o agradava, ele se divertiu passando o traço repetidas vezes no cabelo, deixando-o bem escuro.

Ele bufou nervoso e amaçou a folha antes que terminasse o desenho.

— O que estou fazendo... — falou, tentou tirar de sua mente a imagem de Sophie a todo custo.

Fechou os olhos tentando esvaziar sua mente de tudo, se atendo somente ao barulho de sua respiração. Não soube dizer mais quantas horas ele permanecera ali sentado, mas quando escutou o som de passo aquilo foi um grande alivio.

A porta escura se abriu com um rangido engraçado e de lá saíram algumas pessoas que Mike a principio não conseguiu um focar os olhos sem seus rostos. Sabia que tinha um rapaz gordo com algo na cabeça, parecia um pano amarrado, ou algo do tipo, como um pirata.

Mais quatro ou cinco jovens também entraram na pequenina sala, Mike imediatamente identificou uma pessoa.

— Lena? — falou surpreso. Encostada na parede a garota de cabelos coloridos o encarava com um sorriso.

— Eu não te disse que íamos nos encontrar, mais cedo ou mais tarde — ela pescou.

— As vezes acho que você vivem em algum tipo de seriado americano idiota — falou um rapaz de cabelos arrepiados em um moicano reservado.

O gordo riu enquanto os outros se revelavam. Um negro alto e magro, tinha o corpo definido demais, parecia ter sido esculpido em madeira. Havia um jovem que não possuía o braço direto, usava brincos e um rabo de cavalo.

A ultima pessoa conseguiu fazer Mike se esquecer por um estante o fato de Lena estar ali, na Europa, naquele lugar e com aquelas pessoas.

O ultimo jovem era bastante incomum.

— Você deve ser o novato — disse o rapaz.

Não era alto como os outros, pelo contrario, era meio baixo e usava vestes claras. Sua camisa tinha uma abertura em “V” na frente, deixando a mostra não só o seu peitoral pálido, mas também vários cordões estranhos. O jovem tinha cabelos cheios e ondulados de um loiro que beirava o branco, isso, somado aos olhos azuis o deixavam com um rosto extremamente angelical.

— Meu nome é Sebastian, e o seu? — perguntou ele sorrindo.

— Mike — respondeu rápido, ele observou os outros da sala.

— Edgar — respondeu o gordinho com um aceno caloroso.

— Felix — falou o de cabelos arrepiados em um tom energético.

O garoto negro foi cutucado para responder, ele tentou escolher bem as palavras que saíram com esforço.

— Meu nome é Kaleb — disse com dificuldade, parecia não falar bem inglês.

O rapaz sem um dos baços abriu um largo e sincero sorriso.

— Gaspar — acenou com seu único braço.

— Lena — falou a garota, que Mike conhecia muito bem, e dispensava apresentações.

Ele queria na verdade explicações, mas tentou agir naturalmente.

— Hora vamos Lena, não seja tão cruel com seu amigo — falou Sebastian massageando o ombro da garota — Porque não explica tudo a ele?

A garota sorria, mas parecia não gostar daquele toque no ombro, Mike imaginou que seria a sua velha atitude insuportável de não gostar de ninguém dizendo o que fazer.

— Sou uma virtude Mike — disse Lena encarando os músculos do garoto — Descobri quem era quando recebi uma visita de Sebastian.

Mike piscou uma ou duas vezes em silencio.

— Foi por isso que você foi embora? — ela soltou uma risadinha, estava bem claro que realmente Mike perguntou “Foi esse o motivo de ter me deixado?”.

— Seria bem cômodo admitir isso. “Eu te deixei por uma causa maior”, não seria? — ela fechou os olhos, ainda mantendo o sorriso — Mas a verdade é que eu me sentia perdida, não sabia o que queria...

— Isso não vem ao caso agora — interrompeu Mike, deixando todos um tanto surpreso. Ele se arrependeu de ter feito aquilo, mas o mais apropriado seria continuar falando — O importante é que vocês existem, e eu fico muito feliz em saber que tem gente por ai atrás desses pecados.

Os jovens entreolharam-se com expressões conclusivas, Mike ficou nervoso com aquela situação embaraçosa e incomoda. Estava impaciente por ter ficado horas esperando, não queria ficar simplesmente parado.

— Vamos nos apresentar melhor Mike — disse Sebastian — Sou Sebastian, e também sou a virtude Paciência.

Mike ficou atento ao máximo, como se algo importante estivesse por vir.

— Caridade — piscou Lena.

— Temperança — falou Edgar, o gordinho. Ele estendeu o braço até Caleb — Nosso amigo aqui não fala muito bem inglês, ele é a Generosidade.

Caleb parecia ser uma pessoa vivida, apesar de ser joven ele transpirava experiência. Tinha mãos grandes e fortes, parecia um verdadeiro guerreiro; Mike sentia que perderia feio em uma luta com ele.

Sentiu um pontada de admiração.

— Diligencia se apresentando! — soltou o rapaz de rabo de cavalo com um humor cativante.

— Humildade — Felix arrepiou ainda mais seus cabelos.

Mike respirou fundo e olhou para as virtudes ali na sua frente, como ele sabia que havia sete delas claramente faltava uma, e essa era a vaga que o aguardava.

— Nosso ultimo integrante, castidade, esta em uma missão partícular. É provável que nunca o veja — disse Sebastian, dessa vez sorrindo com os olhos.

Mike não conseguiu esconder seu desapontamento, o grupo já estava formado afinal.

— As velhas acreditam que você seja a Paciência também. Logo, você esta aqui para tomar o meu lugar.

Aquela frase pesou o ar imediatamente e todos pareciam muito desconfortáveis.

— Eu não quero tomar o lugar de ninguém... — falou Mike totalmente sem jeito.

— Sebastian esta brincando, não é? — falou Lena passando pelo rapaz, esse deu de ombros.

— Não me importo com uma boa competição saudável.

— Afinal, vamos ficar aqui parados por quanto tempo? — reclamou Gaspar — Não sei vocês, mas meu estomago está a horas falando comigo, e não parece muito satisfeito.

— Hoje foi um dia cansativo — falou Edgar — Meus ossos doem.

Os olhos de Mike cintilaram. Aquele comentário o fez imaginar como seriam os treinamentos, a emoção de conseguir se fortalecer desejava muito aquilo. Sebastian cruzou os braços e fez indicação para que o seguisse, Mike não pensou duas vezes.

Todos se organizaram de frente a porta escura, que Mike não notara que estava fechada. Lena não tirava os olhos dele e isso o deixava bastante desconcertado, mas mesmo assim tentava focar no que viria a seguir.

Sebastian retirou uma chave do bolso.

— Espero que esteja preparado para isso amigo, porque não vai ter volta — falou Feliz baixinho. Mike retribuiu com um sorriso bobo.

Sebastian girou a chave e encarou Mike com um sorriso convidativo, a cena parecia lenta demais enquanto a porta abria lentamente. Era muito claro, mal podia se ver o que havia do outro lado.

O rapaz respirou fundo e seguiu os outros, que desapareciam no clarão um a um. Ele olhou para trás, por um segundo, pensou ter visto seus pais, mas não havia mais ninguém ali, então seguiu em frente.

Caminhou na escuridão por um curto período de tempo, trombando com o grandalhão Edgar, que se desculpou. Era uma torre, que para sua infelicidade, possuía mais escadas em espiral. Mike ficou aliviado por aquele lugar possuir janelas, parecia séculos que não via a luz do dia.

Sebastian estava parado nos degraus da escada, acima de todos. Com a luz do sol tocando seu corpo quase era impossível enxerga-lo, já que o garoto era muito claro. Lena olhava Mike com curiosidade, ele percebera isso, mas tentou ignorar.

— Sinceramente eu prefiro esse lugar a noite... — falou Sebastian pensativo e olhando para o nada.

— Não ligue para ele — falou Felix encarando Mike, mas esse só conseguia prestar atenção nos cabelos arrepiados do garoto — Aqui é bem divertido de dia.

— Aqui não é um lugar normal, o tempo não anda... Literalmente, sabe? — falou Gaspar, Mike não entendeu o que ele queria dizer.

Observando melhor o que havia do lado de fora, o rapaz reparou em estranhos monumentos feitos de pedra. Pareciam ser ruínas de algum tipo de construção antiga, todas espalhadas em grandes blocos de pedra pela vasto campo, por toda parte haviam monges caminhando, cuidando da terra como se houvesse algum plantio ali.

Realmente o tempo parecia não passar naquele lugar, era tudo tão... “atrasado”, pensou ele.

— Nessa sua primeira vinda, Mike, você irá se habituar um pouco com a vida do mosteiro. Essa fase, nós chamamos de “lavagem” — Sebastian olhou para os outros esperando receber algum apoio, mas todos bufaram.

— Já sinto pena dele — falou Edgar — A vida aqui é bem diferente da cidade, vai ser uma experiência e tanto.

Dessa vez a maioria parecia concordar.

— Hora vamos, amigos queridos, todos nós passamos por isso. A “lavagem” da alma, que nos livra das impurezas da cidade. Querem que ele receba tratamento especial?

— De maneira nenhuma! — Mike respondeu imediatamente — Eu ficarei com o maior prazer.

Felix balançou a cabeça, enquanto Lena se mostrava admirada. Sebastian sorriu em grande satisfação por ouvir aquilo, como se não esperasse menos do rapaz. Mike também sentia o mesmo, não queria tratamento especial algum, queria realmente um desafio, porque algo lhe dizia que a recompensa seria enorme. Nada viria de maneira fácil.

— Que tal deixar suas coisas no seu quarto, acho que o Sebastian não tem nada preparado pra você agora, ou estou errada? — ela encarou o rapaz de cachos, ele fez um beicinho emburrado e desviou o olhar.

Mike relutou por um minuto.

— Você vai ter muito tempo Mike, acredite — falou ela sorrindo.

Ele recebeu um tapinha nas costas e subiu as escadas com a garota.

— Lena! — chamou Sebastian, o rapaz ainda olhava a janela como se estivesse pensativo, ele passou um dos dedos no cacho dourado.

A garota parou sem se virar.

— Tente não deixar nosso amigo muito cansado, amanhã ele terá muito o que fazer.

Lena ignorou aquilo e continuou subindo, por segundos sua mão roçou na de Mike, e ele achou que ela fosse conduzi-lo, mas não aconteceu.

Quando os dois se distanciaram bastante do resto das virtudes, Lena resolveu falar:

— Imagino que você tenha uma serie de perguntas pra me fazer, não?

Mike deu de ombros.

— Aprendi a não me dar esse trabalho — ele tentava manter seu olhar para alem da garota, mas era difícil, pois a escada parecia interminável — Com tanta coisa que vem me acontecendo, sinceramente nada mais me surpreende.

— Você não deveria dizer isso — ela olhou para ele, estava com a cara amarrada demonstrando não entender o que ela queria dizer — Normalmente quando as pessoas dizem isso, a vida da um jeito de surpreendê-las do jeito mais arrepiante possível.

Mike suspirou.

— Você sempre com suas teorias...

— E você sempre tão descrente — Lena respondeu rindo, já ele não liberou nem mero sorriso.

Pararam em um andar que só havia uma porta de madeira velha. Mike olhou para a garota que assentiu. Era aquele seu quarto.

— Apesar do Sebastian viver dando ordens, ele não é o nosso líder. Esta só se aproveitando enquanto ele esta fora.

Mike abriu a porta, o quarto era pequenino. Havia um buraco na parede que parecia servir para guardar objetos pessoais, uma cama baixa com um colchão surrado.

— Cinco estrelas — riu Lena.

Ele não disse nada, somente retirou a mochila das costas e se preparou para entrar, por algum motivo estava exausto. Lana passou suas mãos nas costas de Mike, o dedo percorreu uma linha massageando os músculos. Um claro pedido para entrar também.

— Nos vemos mais tarde Lena — disse ele serio, e fechou a porta.

Abriu seu celular, fora de área. Soltou um suspiro profundo e desmontou na cama, seus olhos se acostumaram aos poucos com a escuridão, mas rapidamente se fecharam, igualmente cansados.



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