Kaleidoscope - Um Mundo só Seu escrita por Blodeu-sama


Capítulo 1
Cap. I - Esboços no Parque


Notas iniciais do capítulo

Bem, vamos por partes, como Jack o Estripador.

Sobre eles: Ignorei as diferenças de idade em muitos casos. Os visuais que estou utilizando nessa fic são os de Guren (eca) e de Rainbow, então vamos supor que eles são assim na vida real okay? Afinal, isso é um AU.

Sobre a fic: Eu ainda não terminei, portanto a atualização é incerta (faculdade toma tempo gente!). Ah sim, mesmo tendo cenas de ação e humor, entre outras coisinhas, essa fic é um drama. Estão avisados.

Sobre o resto: Todos os fatos médicos que eu citei aqui foram pesquisados na internet. Não garanto a veracidade dos mesmos. Ah sim, continuo não sendo super fã de Arisu, perdoem se eles saíram muito OC.

Música (links no profile): Harder to Breathe – maroon5



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Aquele parque no centro de Yokohama era grande, espaçoso e um tanto decrépito. E parecia ainda maior e mais decrépito a luz mortiça de uma manhã nublada, úmida e cinzenta. Gotas geladas da última chuva ainda faziam os galhos escuros das cerejeiras brilharem vagamente, assim como o chão, transformado-o num rio de piche muito negro cheio de reflexos brancos do céu acima. Apenas as árvores Ginkgo pareciam lutar por darem cor a paisagem, com suas folhas de um amarelo forte. A temperatura, porém, não estava tão longe de ser agradável; fresca o suficiente para deixar rosadas as bochechas de dois rapazes que andavam lado a lado, desviando das poças d’água.

- Isso é muito arriscado, Uruha!

- Você sempre acha arriscado.

O mais alto dos jovens, Uruha, caminhava com o rosto baixo e as mãos nos bolsos do casaco curto com pelos sintéticos na gola, que em algum ponto se mesclavam a seu cabelo loiro escuro. Tinha um rosto perfeitamente esculpido, andrógeno e sorria de leve, embora olhasse para os próprios sapatos. O mais baixo tinha cabelos negros e atentos olhos da mesma cor, vestia uma blusa de lã branca, calças largas negras e olhava para o maior com bastante apreensão.

- Desta vez é arriscado! Das outras vezes não havia testemunhas, Uruha...

- E o lucro era quase nulo. Olha, tudo o que você precisa fazer é ficar no carro, pronto pra correr. Eu vou fazer a parte suja.

- ...Isso não vai dar certo – disse num tom de voz mais alto e um senhor que passava por eles os olhou de canto.

- Cala a boca! – Uruha olhou para os dois lados, depois se sentou em um dos bancos da praça, joelhos afastados, o olhar perdido a frente. Mas fez um gesto para que o menor se sentasse também e esperou pacientemente para que ele vencesse sua própria hesitação. – Kai, eu estou cansado de furtar bolsas de velhinhas.

Seu tom era ameaçador, porem velado. E estranhamente infeliz. Olhou para o companheiro pelo canto dos olhos.

- Eu sei que você não quer fazer isso, mas você sabe que não pode parar. Então não reclame, eu sou o cérebro daqui.

O menor, que se sentava com os braços em volta do corpo embora o frio não fosse tão intenso, ficou calado alguns instantes.

- Não parece muito inteligente roubar uma loja de conveniências. Tem câmeras, alarmes e possivelmente armas lá. Você pode levar um tiro, ou ser preso...

- ...E é por isso que você só precisa estar dentro do carro, protegido dos policiais malvados e das assustadoras câmeras de segurança – seu tom desta vez era mais sarcástico e frio. Era pior do que ser chamado diretamente de covarde.

Novamente o menor ficou em silêncio, ruminando as próprias preocupações a respeito daquele plano idiota. Os olhos acinzentados do amigo de certo modo lhe metiam medo. Mesmo que já se conhecessem desde pequenos.

Passaram-se vários minutos, antes que ele ousasse dizer alguma outra coisa e quando disse, era em voz resignada.

- Consegue pegar a caminhonete?

Uruha olhou para o outro e sorriu de canto, os lábios rosados, perfeitos como um botão de rosa, assumindo uma expressão quase cruel.

- Agora estamos sintonizados, Kai-chan. – Kai fez uma careta desgostosa ao ouvir o apelido.

Passaram mais algum tempo apenas sentados, observando as poucas pessoas que passavam olhando para cima em dúvida sobre o tempo. Nuvens cada vez mais grossas se juntavam sobre as cabeças deles, rodopiando lentamente com o vento. Kai pensava em todas as formas como aquilo poderia dar errado, e eram muitas. Algumas envolvendo sangue de mais para seu gosto. Sangue dele mesmo, sangue de Uruha... este apenas pensava que o dinheiro poderia então dar para mais do que alguns maços de cigarro e umas noitadas com rapazes desconhecidos em motéis baratos. Não que ele precisasse do dinheiro ou de prostitutos para se satisfazer. Nunca precisara.

Mas a adrenalina em seu sangue o fazia querer sempre mais.

Seu olhar se desviou do companheiro e bateu num rapaz que sentara no banco ao lado do deles, parecendo ter pouco mais que dezessete anos. Estava excessivamente agasalhado, com um sobretudo cor de creme e um cachecol escuro em volta do pescoço. Tinha cabelos cor de mel e olhos claros, e no colo mantinha fixa uma prancheta de desenho grande e quadrada. Parecia extremamente concentrado no que desenhava.

Então percebeu que estava sem cigarros.

- Hey, amigo, você tem cigarro aí?

O rapaz olhou-o pelo canto dos olhos por meio segundo e essa foi a única indicação de que tinha ouvido a pergunta.

- Hey! Estou falando com você!

Kai saiu de seus devaneios e olhou para o desconhecido, que continuava desenhando. Parecia apertar com força o lápis sobre o papel, nervosamente.

- Eu tenho cigarros, Uruha...

- Não! Esse cara está me ignorando!

O maior se levantou e se postou ao lado do rapaz desenhista. Notou que o desenho consistia em um monte de linhas bagunçadas que pareciam repetir um padrão, sem fazer sentido. Mas o rapazinho não ergueu a cabeça, então Uruha o cutucou no ombro.

- É surdo?!

O rapaz de cabelos cor de mel baixou mais a cabeça, o grafite agora estava sendo apertado com tanta força contra o papel que estava rasgando a folha.

- Esse cara só pode estar de gozação comigo... – o maior tentou puxá-lo pelo cachecol, mas Kai segurou-lhe o braço.

- Para, Uruha! Deixa o cara em paz! – mas o loiro se livrou do amigo com um gesto brusco.

O rapaz no banco, ainda em completo silêncio, agora desenhava balançando o corpo para frente para trás levemente. Uruha voltou a pegá-lo pela gola do sobretudo, mas antes que pudesse puxá-lo para cima, um grito veio do fim daquela passarela do parque.

- HEY!

Um homem corria em direção a eles, com um olhar irado no rosto, que não parecia combinar com ele. Tinha cabelos e olhos escuros como Kai, porém seus olhos pareciam mais escuros e seu rosto mais pálido. Quando os alcançou, logo se colocou entre o rapaz do banco e Uruha, enfrentando-o.

- O que você acha que está fazendo?! – perguntou, enfurecido, os olhos erguidos para o rapaz andrógeno.

- Esse seu amiguinho aí está me ignorando. E eu não gosto de ser ignorado – respondeu o maior num rosnado baixo. Ele não tinha a aparência de quem podia derrubar alguém a socos, ele sabia. E isso o levara a desenvolver um tom de voz que pingava perigo.

Kai, ao lado, olhava para o recém chegado quase fixamente, pedindo desculpas mudas.

- Bem, então se acostume amigo, porque ele não vai responder – o rapaz no banco puxou o casaco do amigo e este se abaixou para que ele pudesse falar algo em seu ouvido. Então voltou a se erguer e encarar Uruha. – Ele disse que não tem cigarros... – murmurou, um pouco desconcertado. – Era isso que queria?

Uruha cruzou os braços na frente do tórax.

- Era. Por que ele não pode responder por si mesmo?

O amigo do rapaz no banco olhou um tanto feio para Uruha, então puxou um maço de cigarros no bolso traseiro da calça.

- Toma, pode ficar com tudo. Deixe-o em paz.

Kai deu uma pequena tossidinha que poderia ter disfarçado uma risada abafada e Uruha o olhou feio, antes de se voltar para o homem outra vez, ignorando os cigarros.

- Eu fiz uma pergunta.

- Moço, ele não vai deixar você em paz – murmurou Kai para o outro moreno, em tom de desculpas.

O outro rapaz moreno olhou mais uma vez feio para Uruha e a expressão em nada combinava com seu rosto jovial, quase infantil. Ainda com os cigarros na mão, baixou o olhar para o rapaz do banco e disse numa voz pausada e calma.

- Já volto, Ruki-san.

Então os afastou dele, que voltara a desenhar sem olhar para ninguém. Quando estavam a uns cinco metros de distância, suspirou e voltou a olhar para trás.

- Ele não tem culpa, não grite com ele – murmurou. Então se virou e sorriu para Kai. – A propósito, meu nome é Nao.

- Prazer, Kai-desu. E esse meu amigo grosso aqui é Uruha.

Uruha virou os olhos.

- Ahn... ah, prazer – Nao estendeu o maço de cigarros e desta vez Uruha pescou um com a ponta dos dedos finos e longos, prendendo-o entre os lábios perfeitos e resmungando enquanto batia nos bolsos da calça justa procurando um isqueiro.

- Ele podia simplesmente ter dito que não tinha...

Mas Nao balançou a cabeça em negativa.

- Ele nunca falaria com você. Não aqui. Ele nunca fala com ninguém no parque, a não ser eu.

Kai voltou a olhar o rapaz no banco. Virou-se para Nao, levemente ruborizado.

- Ele tem algum problema... sabe... aqui? – e apontou para a própria cabeça com o dedo indicador.

Nao riu brevemente.

- Síndrome de Asperger – disse baixo, verificando se estava mesmo a uma distância segura para não ser ouvido.

- Como? – Uruha deixou escapar com a voz meio abafada por estar falando com o cigarro preso nos lábios, fazendo uma concha com a mão ao redor da chama do isqueiro.

Nao não parecia disposto a explicar a ele, mas ao se virar também viu o rosto confuso de Kai. Suspirou outra vez e quando seus olhos se voltaram para trás, olhando o rapaz com cabelos cor de mel, havia apenas um leve pesar neles, e não preocupação.

- Ele é autista.

Os olhos acinzentados de Uruha se voltaram outra vez para o banco. Kai notou que não pareciam mais tão cruéis.


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