Já estávamos longe de Born Angels, tínhamos passado, por umas dez cidades, desde que partimos. Eu estava conversando com Sam e Tina sobre alguma coisa boba de meninas. Mas meu pensamento estava bem longe.

         Algo em mim me dizia, ou melhor, gritava que algo muito ruim ia acontecer, eu sei parece besteira, eu sei, mas era como se eu tivesse pressa pra terminar tudo, e voltar pra casa, mas não era uma pressa minha, que colocaria em risco a minha vida. E sim de outra pessoa, alguém que eu amava muito.

         As meninas sorriram pra mim, que dei um leve sorriso em resposta, e fui até Caled, que andava sozinho, e calado, Theo e Tiago riam de alguma coisa, mas Caled estava afastado.

         -O que aconteceu? – eu perguntei olhando pra ele que sorriu, e deu ombros, eu sei que ele iria falar, que mesmo antes de eu chegar ele não falava com o pessoal, ele havia me dito isso antes, mas eu sabia que não era aquilo que o incomodava.

         -Nada, só estou quieto – ele disse, e sorriu para mim, eu não me convenci, eu sabia que estava acontecendo algo. Suspirei e o olhei séria.

         -Eu sei que está acontecendo algo – eu falei séria, e Caled me abraçou, como se eu não tivesse dito nada, eu ia repetir a pergunta sobre ele estar bem ou não, mas ele não deixou, simplesmente me puxou para perto de si e me beijou.

         Não precisou de mais nada, eu sabia que nada estava bem, ele me beijou com urgência, como se a qualquer momento pudesse ir. E enquanto nos beijávamos, algumas imagens passavam em minha mente. Havia pessoas no quarto de Caled, discutindo a possibilidade de desligarem os aparelhos que o mantinha vivo. Assim que eu vi o irmão dele pedindo só mais quatro semanas, eu arfei, e me separei do beijo de Caled, que me prendeu em seus braços, e eu o olhei com lágrimas nos olhos.

         -Quanto tempo nós temos? – eu perguntei pra ele, controlando a minha voz que tremia, Caled me olhou preocupado, e mordeu lábio – Quando você soube disso?

         -Há alguns minutos, e eu tenho quatro semanas ainda, um mês – ele sussurrou, eu o abracei forte.

         -Mais ou menos quantos dias aqui? – eu perguntei sussurrando em seu ouvido, os outros não podiam saber.

         -Duas semanas – ele falou passando a mão em meu cabelo e descendo pelas minhas costas, fazendo com que eu sentisse meu corpo ficar elétrico, eu passei a minha mão pelo rosto de Caled, que fechou os olhos, e segurou minha mão, tirando a sua mão das minhas costas, e a beijou.

         -Temos que correr – eu falei sentindo um calafrio, Caled me olhou e soltou minha mão, para me abraçar pela cintura, e nós dois voltamos a andar,  o pessoal tinha parado pra conversar, e nem se tocaram no que tinha acontecido. Só se ligaram que era pra voltar a andar.

         -Sah, não se preocupe comigo, eu estou bem – ele falou em meu ouvido, eu suspirei e o olhei, ele sorriu – Você é a melhor coisa que aconteceu em todo o meu tempo aqui nesse mundo – ele falou, e mordiscou minha orelha, fazendo eu me arrepiar.

         -Eu sou, e vou continuar sendo, você vai ficar vivo, Caled – eu falei o olhando, séria, e ele como resposta, deu um beijo no meu pescoço, eu revirei os olhos, mas sorri.

         Caled não estava demonstrando, mas estava tão preocupado quanto eu, só que eu estava muito mais preocupada. Desligarem ás máquinas que o deixavam vivo, seria uma catástrofe, não porque ele morreria (o que já seria trágico), mas porque não teríamos mais tempo.

         Eu precisava salvá-lo, e pra isso, eu precisava correr, precisava salvar aquele cristal, e voltar pra minha vida, e ele precisava voltar pro corpo dele. Eu suspirei, os outros tinham que se apressar, estávamos andando absolutamente devagar, e parecendo nos divertir, estávamos vulneráveis, a qualquer monstro, ou criatura que quisesse nos atacar.

         -Pessoal, precisamos nos apressar, não temos todo o tempo do mundo – eu falei olhando para todos, que me encararam entediados, menos Caled, que franziu o cenho, e nem precisou ele dizer, pra que eu entendesse que ele estava preocupado com algo. Algo que talvez, não estivesse atingindo eu ou Caled, e só os nossos amigos.

         -Sah, tem algo por perto – ele falou em meu ouvido, e eu assenti, sentindo um calafrio, havia algo perigoso perto de nós, ou nós estávamos perto de algo perigoso.

         -Estamos nos aproximando do covil – eu falei sussurrando para Caled, e engoli em seco. Estávamos na metade do caminho.

         -Isso é bom (?) – Caled fez mais uma pergunta do que uma afirmativa. E a resposta, eu sinceramente não sabia.

         Eu não queria deixar Caled, não queria separar da primeira pessoa que eu consegui amar sem me machucar, a única pessoa que com apenas um olhar me entendia. Mas eu não queria perdê-lo tão pouco. Saber que ele estava vivo, era melhor do que estar com ele, e saber que ele estava morto.

         Eu precisava salvá-lo, não tinha escolhas, eu não tinha oportunidade de escolher, e se tivesse, eu teria que fazer o que fosse certo, não o que eu quisesse.

         Olhei para Caled, que estava com o rosto sereno, apesar de nossos amigos, começarem a sentir o efeito do poder do covil. Eu e ele éramos especiais, essas coisas não nos atingiam, e eu sabia que nossas almas foram feitas uma para a outra.

         -Nós vamos ter que os mandar voltarem – falou Caled apontando pros quatro que andavam na nossa frente e pareciam quatro amigos começando a ficar embriagados, e eu me acordei do meu falatório mental. Era verdade, o clima estava começando a ficar pesado, e eles precisavam ir pra casa e precisavam esperar, nós os salvaríamos, mas eles tinham que estar seguros. Se chegassem mais pertos, eles começariam a desaparecer. Eu fiz um gesto afirmativo pra Caled, e fui até eles.

         -Vocês precisam voltar – eu falei pra Tiago, que era o mais são entre os quatro – Se derem mais um passo vocês vão sumir – como eu sabia isso? Não sei, mas eu sabia, e mesmo que não fosse verdade, era melhor não arriscar.

         -Voltar? – Tiago perguntou piscando os olhos forte, e recobrando a consciência, dei um suspiro de alívio, e repeti o que havia falado antes – Mas e você e Caled?

         -Nós aguentamos, agora vão – eu falei e entreguei as coisas para Tiago, que pegou os outros três e começou a voltar.

         -Sarah, qual foi o sentindo de virmos até aqui com você, e com Caled? – Tiago perguntou virando para nós, eu o olhei e mordi o lábio. Tinha que ter uma razão.

         -Vocês vieram até a metade, e se não fosse por vocês, eu e Caled não teríamos conseguido chegar até aqui sozinhos – eu falei, parecia que alguém sussurrava isso em meu ouvido pra que eu repetisse – E nós estamos aqui por vocês – eu sorri, e Tiago sorriu de volta, e começou o caminho de volta, eu e Caled, ficamos os olhando até eles sumirem de vista.

         -Temos duas semanas – eu falei pra ele – E só estamos na metade do caminho – Caled revirou os olhos, e pegou minha mão, nós dois juntos, recomeçamos a andar. Agora, era só nós dois contra o que viesse. E nós só tínhamos duas semas pra conseguir fazer algo impossível, na verdade era um mês, mas pra nós apenas duas semanas.

         E só estávamos na metade do caminho