Férias Frustradas escrita por Nunah


Capítulo 6
6 - mãos bobas e sensações estranhas


Notas iniciais do capítulo

Inspiração rolando solta aqui.



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Os dois pararam abruptamente na entrada do terceiro andar, surpresos. A porta para o quarto de Poseidon não existia mais, nem a de Athena. Agora, só havia uma porta, no fim do corredor largo.

Eles se aproximaram e um desejo súbito de matar Afrodite subiu à cabeça mais uma vez. Pois na porta de madeira branca (que na verdade agora eram duas, como portas de um grande salão) não estava esculpido nem um tridente, nem uma coruja-ornitorrinco, tinha um coração, com detalhes dourados, provavelmente ouro puro.

- Será que quando nós sairmos daqui poderemos mandá-la para o Tártaro? – perguntou Poseidon, passando a mão pelo desenho em alto relevo.

- Se nós sairmos daqui. Ou você se esqueceu que estamos presos e só sairemos quando ela deixar?

Ele suspirou, se lamentando.

- É, me esqueci.

- Vamos logo antes que ela surte.

Athena empurrou as portas com as mãos, abrindo-as. O quarto parecia ser uma junção do dele com o dela. Estava maior, e ainda tinham muitas coisas vermelhas, só que menos. Os móveis diminuiram de quantidade, só que agora tinham móveis de madeira branca, como no antigo quarto dela, e móveis de metal, como no antigo quarto dele.

A cama também estava maior, e tinha mais travesseiros (talvez para o caso de não sobrar muitos se Athena quiser acabar com Poseidon). No banheiro agora tinha um chuveiro, além da banheira. E o closet ainda era um só. As roupas deles estavam misturadas, o que indicava que teriam que mexer nas roupas um do outro se quisessem achar o que vestir e também poderiam achar coisas indesejáveis para ela, fantásticas para ele. Tipo assim... Umas roupas de baixo, entende?

- A gente vai ter que arrumar isso aqui? – ela perguntou.

- Não, acho que não adiantaria. Se está assim agora, talvez se tentássemos arrumar não daria certo – ele falou, franzindo a testa, fazendo-a se virar para ele desconfiada – O que é? Você conhece Afrodite.

Ela deu de ombros.

- O que temos que vestir para parecermos ‘um lindo casal feliz’?

- Não sei. O que Afrodite gostaria?

- Acho que se sairmos sem nenhuma peça de roupa por aí ela ficaria feliz.

- Como se ela fosse louca o bastante pra pensar que faríamos isso – ele disse, começando a procurar algo.

Athena saiu do closet e deu de cara com dois conjuntos de roupas.

- Poseidon, acho que ela já pensou em tudo.

Poseidon voltou para o quarto, parando ao seu lado.

- Tá legal, eu vou me trocar no banheiro – ela dissem pegando as roupas.

- Eu vou ter que tomar banho com você hoje Athena. Do que vai adiantar? – ele perguntou, ela revirou os olhos – Isso não é justo. O Olimpo todo pode te ver e eu não? Poxa...

Ela pareceu pensar um pouco, mas entrou no banheiro mesmo assim, sem dizer nada.

Depois de se trocar, ele se olhou no espelho.

Pelo menos não é roupa social.

Ouviu a porta do banheiro abrindo e se virou, e teve que se controlar... De novo.

Athena estava com um salto alto vermelho (sim, gente, Afrodite ama vermelho, a autora ama vermelho, e a mãe da autora ama vermelho, é a cor da paixão, com licensa, preciso dizer mais?), uma calça skinny escura, que acabava chamando a atenção pra sua bunda, e uma camisa branca de botões justa. Como a camisa era apertada e seu busto não era pequeno, ela estava aberta até aonde começava o sutiã, e dava pra ver claramente as curvas de seus seios, assim como dava pra ver através do vestido, só que dessa vez, não tinha tecido nenhum por cima.

Seus lábios também estavam vermelhos, por causa do batom que ela tinha passado, e seus olhos tinham sido contornados com lápis preto (só que não tanto, porque senão ela ficaria parecendo emo ou punk), e a sombra era preta também. Seus cabelos estavam arrumados em um coque alto e meio frouxo, deixando alguns fios caindo por sua face. Alguns diriam que estava mal arrumado, mas ele via que aquilo realmente era um charme a mais.

- Afrodite me obrigou a passar maquiagem – ela falou, desconcertada.

Finalmente, ela arranjou o que fazer e prestou atenção no que ele estava vestindo. Um All Star azul marinho, calça jeans meio larga, e uma camisa branca de botões também, com as mangas dobradas acima do cotovelo, enquanto as dela estavam em três quartos. E o cabelo dele continuava bagunçado. Era estranho vê-lo sem bermuda e chinelos, mas não tanto quanto seria vê-lo com uma roupa social.

- Você está... – ele começou.

- Estranha, fútil, parecendo uma... Uma... Uma...

- Está diferente – ele decidiu, cortando-a. Não é essa a palavra – E você não está fútil. Talvez Afrodite fique fútil nessa roupa, mas você não.

Ele estava com cenho franzido, pensando, e ela tinha ficado surpresa por ele não chamá-la de... Alguma coisa.

Não, não é essa a palavra. Não é ‘estranha’, não é ‘diferente’... Ela está finalmente usando roupas digna de uma mulher com esse corpo, e que corpo. Mas existe alguma palavra para descrever isso?

- Será que ela colocou nossas camisas iguais de propósito? – Athena perguntou.

- Provavelmente. Bem, vamos?

- Vamos.

Eles desceram em silêncio, cientes de que tinham que ficar de mãos dadas, mas com medo de dizer alguma coisa.

A porta da frente já estava aberta. Lá fora, um táxi esperava por eles. O incrível é que não tinha um motorista e eles nem precisaram dizer aonde queriam ir quando entraram (que medo).

- Você sabe onde a gente está? – ela perguntou.

- Tá falando da cidade ou da localização?

- Pensando melhor... Em que cidade a gente está?

- Talvez em uma cidade imaginária de Afrodite, porque eu nunca vi isso.

Eles olharam pra fora, aonde tinham várias pessoas e lojas com placas em neon. A rua era bem movimentada, com vários carros e tudo o mais, mas onde exatamente eles estavam?

O carro parou e ninguém pareceu notar que ele andava livre, leve (talvez nem tanto) e solto, sem um motorista. Assim que eles saíram, Poseidon entrelaçou seus dedos com os dela. Eram macios e quentinhos. No começo ela ficou meio incerta, mas depois relaxou, temendo o que Afrodite pudesse fazer se ela a desobedecesse.

Eles começaram a caminhar pela avenida, ainda não sabendo aonde estavam. Várias pessoas viravam o pescoço ou paravam para olhá-los, com um brilho estranho nos olhos.

Não é possível que chamamos tanta atenção assim, ela pensava.

- Nós temos que ‘passear’ por quanto tempo? – ele perguntou depois de um tempo.

- Não sei, talvez até a hora do almoço.

- Ok, nós já olhamos todas as vitrines, já estamos sendo alvo de observação, vamos ver um filme?

- Filme?

- É, filme. Entendeu ou quer que eu desenhe? – ele perguntou apontando pra um lugar maior do que os outros. Um cinema (não, pensei que era uma lanchonete).

- Muito engraçado.

Poseidon não respondeu, ao invés disso começou a andar mais lentamente e soltou sua mão. Ela ficou meio confusa, mas logo percebeu que a mão dele estava enroscada no cós de sua calça, em uma daquelas pequenas tiras que seguram o cinto. Ela o olhou inquisitiva, ele estava indiferente, como se tudo aquilo fosse normal.

- Quem brinca com fogo acaba se queimando.

- Não somos mais um lindo casal feliz? – ele perguntou, fazendo uma expressão triste.

- Só não abuse.

- Certo.

Na mesma hora em que disse isso, ele a puxou mais pra perto, colando seu corpo ao dele, enquanto colocava o polegar por baixo de sua camisa, acariciando sua pele.

- Você ouviu o que eu disse? – ela perguntou, mais ele já estava comprando os ingressos. Assim que entraram na sala, ela se dirigiu a ele novamente – Que filme é?

- Não sei.

- Como assim não sabe?

Ele a ignorou mais uma vez, levando-a para a última fileira de poltronas. Eles estavam sozinhos lá no fundo.

Poseidon passou um braço por seus ombros, ainda olhando a tela, onde passavam os avisos, como “desligue o celular” e “é proibido filmar”, enfim, aquela chatice toda que ninguém presta atenção (só a autora retardada que não tem o que fazer).

- Poseidon, eu já disse que-

- Não sei do que está falando – ele a cortou rapidamente.

A sala ficou mais escura quando começaram a passar os trailers. Não dava pra ver nada com aquela luzinha fraca que a tela emitia. E ela sentiu mais uma vez a mão dele dentro de sua camisa, só que dessa vez era no decote. Ele tinha aberto mais um botão e passava os dedos ásperos levemente entre seus seios, fazendo-a se arrepiar sem querer (vamos fazer de conta que ninguém aqui sabe que o arrepio é algo involuntário).

- Poseidon, pare com isso – ela disse, batendo na mão dele, tentando fechar sua camisa novamente.

- O que você acha que um lindo casal feliz faz no cinema?

- Ahn...

- Assistir filme que não é.

- Você é um tarado.

- Como se nós não soubéssemos disso... Vamos lá Athena, somos um lindo casal feliz.

- Só na sua mente... E de Afrodite; e isso é errado e irraci-

Ela foi calada pelo dedo que ele colocou em seus lábios.

- É só deixar rolar. Vamos ver o que acontece – ele sussurrou, se virando novamente para o filme que eles não tinham ideia de qual era. O hálito de hortelã dele era terrivelmente sedutor.

Mas por pouco tempo. Muito pouco tempo.

Em alguns segundos, os dedos dele estavam lá de novo, e ela, embora muito contrariada, não fez nada. Ele abriu apenas um botão, como antes, para alívio dela. Aquela pequena sensação dos dedos dele roçando em seus seios já estavam deixando-a sem ar. E ela não entendia o por quê.

Foi quando ele se distanciou, fazendo-a realmente acreditar que aquilo tinha acabado, mas não demorou muito pra ela sentir ele massageando o interior de sua coxa por cima da jeans.

Athena se perguntava se ele estaria olhando pra ela, vendo como aquilo tinha mexido com sua cabeça. Ela não sabia o que fazer. Se sentia na beira de um precipício, quase descontrolada. Ninguém nunca a deixara assim antes.

Ela sentiu a boca dele em seu pescoço, mordendo-a. Ela arfou. Ele apertou sua coxa mais fortemente e desceu os lábios para o seu colo. Ele podia sentir o calor emanando dela, era como se sua pele queimasse sob seus lábios. Ele beijou o vale entre seus seios e sentiu aquela vontade de arrancar sua lingerie com os dentes subir à cabeça novamente. Mas ele tinha que se controlar.

Poseidon se distanciou antes que pudesse fazer algo pior. Ela não sabia o que estava sentindo ao certo, mas eram sensações que ela pensara que nunca iria sentir, e que ela não queria sentir. Muito menos por e com ele. Ela se culpava por ter que admitir que tinha gostado daquilo, que tinha se decepcionado quando ele se distanciou. Era como se tivessem jogado água gelada em seu rosto.

Ela tentou se controlar. Tentou normalizar sua respiração, fechou sua camisa novamente e prendeu seus cabelos mais fortemente. Ela estava suando. Ele não estava muito melhor que ela; também arfava e queria mais. Ele não entendia porque estava assim. Tinha sido só uma coisinha de nada. Era preciso muito mais que isso para outra mulher deixá-lo assim, mas com ela tinha sido diferente. Ele ficara excitado antes mesmo de encostar nela. E isso o deixava confuso.

Ele também não queria se distanciar, mas temia que ela pudesse dar um escândalo não planejado. Mas isso também não o impediu de provocá-la durante o resto do filme, uma ou duas vezes sua mão procurava um pedaço dela para acariciar e apertar; a respiração ofegante dela era suficiente para satisfazê-lo por ora. Sua parte consciente dizia que era para deixá-la furiosa e descontrolada, mas sua parte inconsciente dizia que ele fazia isso apenas para tentar saciar a si próprio; e não surtia efeito.

.

.

.

Eles saíram do cinema. Ela estava corada e envergonhada e ele estava confuso demais para perceber. Quase que instantaneamente, ele pegou sua mão, como se tivesse medo que ela saísse correndo.

Depois de vários minutos constrangedores, ele resolveu falar.

- Você sabe aonde vamos almoçar?

Ela virou o rosto para responder, mas o táxi-fantasma deles apareceu estacionado ali perto, eles entraram, e como antes, não precisaram dizer nada para o carro sair do lugar.


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Notas finais do capítulo

Vamos fazer de conta que ninguém está ansioso pra saber o que vai acontecer no banho.