Férias Frustradas escrita por Nunah


Capítulo 5
5 - fotos, lembranças e impossibilidades




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Ele acordou desnorteado e assustado, e permaneceu nesse estado até se lembrar de onde estava. Ah. Levantou ainda cambaleando, não sabia que horas eram, pois Afrodite tinha tomado o devido cuidado pra deixá-los mais perdidos que cego em tiroteio, entrou no banheiro e se olhou no espelho.

Com certeza acordar mais cedo que o normal não tinha feito muito bem pra ele. Seu cabelo estava bagunçado, os olhos vermelhos, a boca entreaberta e seus músculos doíam.

Ele entrou debaixo do chuveiro, deixando a água gelada escorrer, acordando-o. Depois de sair e de se trocar cuidadosamente para que não fosse flagrado sem roupas por milhares de câmeras, Poseidon saiu no corredor, também não se importando com a cama desarrumada.

A casa estava silenciosa e calma, o que não é difícil de acontecer quando só tem você e mais uma pessoa num lugar grande e isolado daqueles. Provavelmente Athena ainda estaria dormindo, ela merecia.

Ele não sabia o que fazer. Não poderia tomar café, pois Afrodite não o deixaria fazer isso sem Athena. Ele poderia ir à praia, mas aquele era só o primeiro dia da tortura, ainda teria muito mais momentos pra fazer isso. Ou, ele poderia acordá-la, o que resolveria seus problemas e a deixaria furiosamente engraçada.

Mas não, como o bom menino que era (e bota bom nisso), ele resolveu esperar.

Suspirando, ele se sentou num puff que tinha num canto mais afastado, e se surpreendeu ao ver o que tinha ali do lado, em cima de uma almofada: Um álbum de fotos. Pelo menos ele teria algo pra fazer enquanto esperava.

Na verdade, aquele álbum não tinha o que ele pensava que ia ver, como fotos de casamentos ou festas, tinham fotos do dia-a-dia dos deuses, mas fotos daqueles dias, em que aconteciam coisas engraçadas, comprometedoras e com certeza inesquecíveis.

Como no dia em que todo mundo ficou bêbado e desafiaram Zeus e Hera a fazer um stripper comunitário, e como eles já estavam chapados, eles fizeram. A foto mostrava os dois dançando em cima do balcão de uma casa noturna que Apolo conseguiu abrir no Olimpo (por muito pouco tempo, porque depois Zeus se arrependeu bastante de deixá-lo fazer isso e fechou o estabelecimento).

Poseidon começou a rir sozinho enquanto as lembranças tomavam conta de sua mente. A foto seguinte mostrava Apolo com maquiagem e um vestido rosa, quando foi obrigado por Ártemis a ver ‘o que as mulheres tinham que passar’. Depois tinha uma foto onde Ares e Hefesto tentavam se matar e do lado, Afrodite enrolada num lençol. Bem, já dá pra entender o que estava acontecendo.

A seguinte o deixou bem surpreso. Ele nem imaginaria que tinham tirado foto daquilo. Era ele, e ele segurava Athena no colo. Só que não era uma foto normal. Athena tinha naquela época uns quinze anos... E eles eram inseparáveis. Foi antes de começarem as brigas, óbvio. Ele era o tio e amigo preferido dela, e ela era a ‘pessoinha feliz’ da vida dele. Ele se lembrava bem do que tinha acontecido naquele dia.

Ele tinha passado alguns meses longe do Olimpo, tratando de negócios e coisas assim em seu reino, e Athena ficava cada vez mais triste e preocupada. Enfim, os problemas diminuíram e ele pôde ver sua sobrinha. Era uma manhã ensolarada e quente, Athena passava calmamente pelo Olimpo, seguindo para a Sala dos Tronos, quando o viu. Poseidon a esperava a alguns metros da porta; ela saiu correndo e pulou em seu pescoço enquanto chorava de felicidade. Zeus não aprovava a amizade meio colorida e suspeita deles, mas quem liga pro que ele pensa?

Poseidon foi tirado de suas lembranças quando ouviu um barulho. Ela finalmente acordou. Athena estava do outro lado da sala, de costas pra ele, se esticando nas pontas dos pés pra pegar alguma coisa em algum armário. Por ironia do destino ou apenas falta de atenção, ela ainda não tinha percebido ele ali. E aquilo era uma vantagem... Pra ele.

O que ela usava, não tinha como saber o que era, se era camisola/vestido/blusa, não dava pra saber. Era de algodão, tinha alças finas, listras horizontais azuis e brancas, só que era transparente... E curto.

Típico de Afrodite, claro.

Seu olhar se concentrou na região em que o vestido (vamos chamá-lo assim, vai...) acabava. Aonde dava pra ver bem suas coxas delicadas e torneadas e sua bunda. O vestido franzia em alguns lugares, mostrando que era justo, mas não desconfortável. E o modo com que ela se esticava para pegar o copo que agora segurava levantava a roupa mais ainda, para a felicidade total de Poseidon.

Ela se virou, ainda segurando o copo e correu os olhos por todo o lugar, até encará-lo.

- Perdeu alguma coisa? – ela perguntou, rude. E a velha Athena está de volta.

- N-não.

Ela não respondeu, e foi se aproximando, curiosa pra saber o que ele tinha nas mãos. E ele se desesperava mais ainda, com medo que acabasse perdendo o controle sobre si mesmo.

Athena ficou distraída, folheando o álbum de fotos, o que deu a ele mais tempo para observá-la (leia-se babar em cima dela). Continuando... O tecido marcava os contornos da lingerie preta que ela usava – e ele riu por dentro se lembrando do que ela falara: “Não é meu e eu não vou usar. Além de que se eu usasse, você não iria ver” – e uma vontade enorme de ir lá e rasgá-la com os dentes o invadiu, fazendo-o afundar mais no puff numa tentativa de se distanciar.

Ele subiu mais os olhos e viu que o vestido também marcava as curvas que seus seios faziam dentro do sutiã. Poseidon travou o maxilar, sentindo aquela vontade de colocar a mão em tudo como uma criança numa loja de doces. Por fim, resolveu olhar seu rosto antes que fizesse besteira. Um sorriso brincava novamente em seus lábios, que estavam inchados, talvez de dormir, seus olhos ainda meio vermelhos, sua testa levemente franzida, e o cabelo um pouco mais claro, mas super bagunçado, com fios desalinhados e a franja caindo um pouco sobre os olhos, o que ele tinha que admitir, deixava-a sexy.

- Você está me ouvindo? – ela perguntou, inocente demais pra perceber o que ele fazia.

- Você disse alguma coisa? – ele disse, confuso, ainda pensando em como seria fácil arrancar aquela peça de roupa.

Ela revirou os olhos, se virando pra ir embora.

- Athena? – ele perguntou, fazendo-a parar e olhar por cima do ombro, e isso fez seu olhar baixar até sua bunda, de novo – O que você tá usando?

- E o que te importa?

- É que é tão... Frágil... – ele falou sem querer.

- Tarado.

E com isso ela saiu. Poucos minutos depois ele apareceu na cozinha. Ela estava sentada, encarando uma mesa vazia.

- Mas onde...?

E a pergunta dele foi respondida quando um café digno dos deuses apareceu ali em cima.

- Pelo jeito Afrodite vai nos deixar morrer de fome se não ficarmos juntos nas refeições – ela disse, suspirando.

- Mas... Nós não podemos morrer, podemos?

- Tecnicamente, só se as coisas que representamos desaparecerem, como aconteceu com Pã – ela deu de ombros, pegando café puro, enquanto ele se sentava.

- Você toma café puro de manhã?

- É, é bom.

- Pelo jeito não faz mais efeito – ele deu de ombros enquanto pegava um copo de suco.

- O que quer dizer com isso? – ela perguntou, levemente irritada.

- Estou apenas dizendo que café puro só te deixava elétrica quando você era menor, agora nem adianta mais – ele disse calmamente, relembrando o acontecimento que aquela foto retratava.

Do nada, ela começou a rir. Primeiro, ela tentou esconder um sorriso, depois um riso baixo, então ela começou a gargalhar.

- Você... Lembra quando nós... Colocamos fogo... Nas roupas de Zeus? – ela perguntou, ainda rindo, e ele a acompanhou quando se lembrou dos dois escondidos no guarda-roupa de Zeus, esperando ele sair do quarto.

- Ele vai tentar nos matar agora que sabe que fomos nós... – ele disse, recostado na cadeira, encarando o teto.

Ela apenas riu, dando de ombros.

Eles caíram naquele silêncio constrangedor novamente, com a desculpa de que estavam comendo. Na realidade, nenhum dos dois sabia o que dizer nem o que fazer. O fato era que aquelas lembranças tinham mexido com o interior deles, estava na cara.

Os olhos de Poseidon pareciam que tinham vida própria, ele não conseguia controlá-los, seus olhos queriam cada vez mais poder explorar o corpo dela, nem que fosse por poucos segundos. A garotinha se tornou mulher. Poseidon não lembrava de sua sobrinha com um corpo desses, afinal depois que eles começaram a brigar, ele nem reparava mais nela, e ela não fazia questão de isso acontecer.

E agora, depois de séculos, ele foi se tocar que ela tinha crescido. Ela cresceria com ou sem ele ao seu lado, mas a questão é que ela tinha se tornado outra pessoa pra ele, uma estranha. Então, ele tinha a chance de conhecê-la novamente, tudo por culpa de Afrodite.

Poseidon não conseguia impedir seus olhos de escorregarem até os lábios rosados dela, depois por seu colo, chegando no decote, onde mostrava um pedaço mínimo da perdição dele. Quando ele iria imaginar que se sentiria assim por sua afilhada? Depois de tanto tempo...

Sim, porque Poseidon não era só o tio, o amigo e o anjo da guarda de Athena, ele também era o padrinho.

 E agora tudo estava confuso. Maldita Afrodite.

Athena também o analisava, mas era pura demais pra perceber que ele fazia o mesmo, pra ela, Poseidon estava apenas distraído. O fato de que ele se lembrava que ela ficava elétrica quando tomava café puro tinha despertado nela aquela menininha novamente, a menininha que ele conhecera, a menininha dele. Claro que ela ainda não sabia disso, mas aquilo tinha mexido mais com ela do que alguém imaginaria.

Ele estava sem camisa, como sempre. Seus músculos bem definidos estavam tensos, aparentemente sem motivo. Seus cabelos, por mais que ele tentava arrumar, estavam bagunçados. Seus olhos brilhavam estranha e sinistramente, com um misto de confusão, malícia, seriedade e cobiça. Chega a dar medo.

Uma pergunta dele a trouxe de volta, mas Poseidon ainda parecia distraído:

- Você ainda tem aquele piercing?

Ah não. Ele ainda se lembra.

Sim, Athena tinha um piercing. Impossível? Talvez. Só que todos nós passamos pela adolescência, mais conhecida como a época em que várias pessoas se revoltam. E, como dito antes, Poseidon era seu melhor amigo, e o único que sabia daquilo. Até agora, porque provavelmente agora todos já sabem.

- Sim – ela respondeu com um suspiro.

- Por que?

- Porque ele me lembra dos erros que cometi, e me faz lembrar de não cometê-los mais.

- Erros?

- Sim, erros.

- Como...?

- Não importa – ela respondeu, se levantando e percebendo que não tinha mais nada em cima da mesa.

Ela ainda estava temerosa demais para voltar com tudo aquilo. Aquela amizade, aquela confiança. Ela não cederia tão fácil assim, não se deixaria levar por algo despertado apenas com uma foto.

Os dois se sentaram na sala, cada qual em seu sofá, ainda em silêncio, esperando Afrodite aparecer. Mas...

“Então foram vocês?! Vocês colocaram fogo nas minhas roupas?!”

Zeus.

- É, fomos nós – disse Poseidon entediado, já esperando por aquilo – Onde está Afrodite?

“Ela teve medo do que Athena poderia fazer com ela... E desde quando você tem um piercing?!”

- Desde quando você concorda com as loucuras de Afrodite? – ela perguntou calmamente.

“Como sabia disso, Poseidon?” Ele perguntou, ignorando Athena, uma vez que não conseguiria discutir com ela.

- Eu conheço mais ela do que você, Zeus. Lamento. A culpa é sua se não sabe o que acontece com sua própria filha.

“Mas isso... É impossível! Vocês se odeiam desde sempre e-”

- ‘Sempre’ é uma palavra muito forte – disse ela.

- Muito.

“Mas então quer dizer que... Mas vocês... Como...?”

- Por exemplo, quando ela descobriu que você tinha engolido a mãe dela, você por acaso pensou em ver como ela estava? Não. E adivinha quem teve que ficar com ela naquele dia? – Poseidon falou, com raiva.

- Diga logo o que quer, pai.

“Ah... N-nada...” Ele realmente parecia abalado. “Afrodite vai assumir.”

“Olá!” Afrodite disse, sorrindo. “Sinto muito se você ainda quer me matar, Athena, mas não posso fazer nada quanto a isso e... Ah, vocês ficaram tão fofos ontem!”

- Ih, começou – ela murmurou, se jogando no sofá.

“Você tá tão linds’ nesse vestido!”

- Ah, isso é realmente um vestido...

“Tenho certeza que Poseidon gostou.” Ela disse, com uma sobrancelha levantada.

Athena o encarou.

- Eu... Bem... Eu...

“Ah, não se faça de idiota! Como se alguém fosse burro o bastante pra não perceber você comendo ela com os olhos!”

Athena congelou.

- Mas eu... Mas...

“E por isso, você vai receber uma punição. Primeiro, por seu banho que demorou demais, e segundo por negar algo que você fez.”

- Ei, meus banhos demoram mais que os seus casos, valeu? – ele disse, em defesa, mas Afrodite precisaria de muito mais pra ceder.

“E terceiro porque você acabou de me ofender. Você acaba de perder o seu quarto. Vai dormir no de Athena.” Ela disse seriamente, mas seus olhos sorriam (não sei como isso pode acontecer).

- Ei! Não, não. No meu não.

“E agora você, dona Athena, por não me obedecer, vai levar uma punição também, junto com ele. Vocês vão ter que dar banho um no outro.”

- C-c-c-como? – ela perguntou, quase caindo do sofá.

- Afrodite! Você bebe o quê, hein?

“Parem de me questionar ou eu vou punir vocês ainda mais.”

Incrível como os dois ficaram quietinhos.

“Muito bem. Agora vão se trocar, vocês vão passar o dia fora, passeando, e vão almoçar num dos melhores restaurantes, como um lindo casal feliz. E não esqueçam de dar as mãos.” Ela falou com um risinho. Os dois chocaram.

- Mas nós não somos um casal.

“E daí?”

- Pensei que não iríamos sair...

“O que estão fazendo aí parados? Andem!”

- Maldita – Athena murmurou enquanto se levantava.

“Olhe a boca, Athena! Quer mesmo levar uma punição?”

E aquilo foi suficiente pra fazê-los correr.


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Notas finais do capítulo

É eu sei, esse foi mais light.