Alterego escrita por Gavrilo, Drablaze


Capítulo 6
Capítulo 6




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Natt e Daisuke atravessavam um vale quando a garota decidiu parar, sugerindo:

— Ei, já está ficando tarde, vamos descansar por aqui?

— Hmm... tudo bem, mas eu realmente gostaria de sair daqui o mais rápido possível.

Enquanto faziam os preparativos, Natt interrompeu o silêncio com uma pergunta, tentando soar o mais casual possível:

— Então, conseguiu pegar aquele cara?

— Não, perdi de vista.

— Certo. Você parecia bem obstinado; podia jurar que acabaria com ele se você não fosse você. Sabe, eu realmente não entendo quais são exatamente seus objetivos, muito menos como pretende alcançá-los. Só sei que dificilmente alguém consegue o que quer sem tomar medidas mais... enérgicas.

Daisuke ficou em um estado silencioso por uns instantes, concentrado em alguma outra coisa, até encontrar uma garrafa de água em sua mochila e entregar a Natt, que prontamente bebeu tudo em um gole só. Com um sorriso de satisfação, Daisuke disse:

— Então eu deveria ser mais como você, uma princesa caprichosa que faz o que quer? Não foi você quem tentou me matar há alguns dias e de repente desistiu no meio do serviço? É bem apropriado que morra desse jeito, Natt Synd. Logo o veneno que acabou de ingerir fará e feito e você ficará incapaz de mover um músculo sequer.

Natt apenas fitou a estranha figura diante de seus olhos transformar-se em um corcunda desfigurado, que sacou uma faca e lentamente aproximou-se de si, provocando-a:

— Tem alguma última coisa a dizer?

— Sim, só uma sugestão. Se pretende seriamente matar uma assassina com uma tática tão vulgar, ao menos arranje um veneno decente. Esse foi mais fraco do que um xarope qualquer.

Sucintamente a garota desarmou o homem e o nocauteou com um golpe certeiro na nuca. Logo a seguir olhou ao redor e gritou:

— Ei Daisuke, já é o suficiente?

— Ah sim, obrigado — disse o garoto, surgindo das sombras com uma multidão de moradores do vilarejo —. Pois bem, aí está o seu homem.

Alguns momentos antes, todos no vilarejo estavam espantados com a polêmica declaração de Daisuke, afirmando que o atual líder teria matado seu próprio pai. Satisfeito pela repercussão, amenizou o tom:

— Talvez tenha sido precipitado demais. Sim, pode ser que você não tenha matado seu pai, senhor Legen, mas foi uma parte essencial do assassinato.

— Insolente! — exclamou Legen — Muito bem, assumo que tenha bons argumentos para fazer acusações do tipo.

— E tenho. Façam a gentileza de me acompanhar — disse enquanto entrava novamente na cena do crime —. Primeiramente, mesmo que não tenham muita aptidão, devem sentir a presença de AE por aqui.

— Claro, devem ser por causa de você e daquela sua comparsa terrorista.

— Parece que seu parceiro esqueceu de incluir alguns detalhes da situação, senhor Legen, mas temo informar que não houve nenhum comunicado da Aliança em relação a nós, a quem chama de terroristas. Nem minha nem da Natt. De fato, sequer existimos para quem não é da Aliança. O que nos leva a outra pergunta: como você consegue distinguir exatamente dois AE diferentes?

Podia-se ouvir um burburinho do lado de fora proveniente dos espectadores da cena, mas Legen tratou de anular qualquer suspeita:

— Você só mostrou que eu tenho minhas fontes de informação e posso ter me precipitado, e daí? Ainda não conseguiu provar que eu quebrei o vidro da janela e assassinei meu pai com ela.

— Com cúmplices como você, nem preciso. Você realmente percebe o que acabou de confessar? Tudo bem, agora que revelei todas as suas mentiras posso reconstituir o crime. Veem aquela tinta no chão?

A tinta, como observado anteriormente, devia ter sido despejada já há algum tempo, mas não tempo o bastante para secar por completo. Além do mais, o vaso quebrado indicava ao lado podia muito bem ser a arma do crime. E de fato foi comprovado que o fragmento responsável pela morte da vítima teria feito parte do tal vaso. Portanto, a tinta foi derrubada simultaneamente à hora do assassinato.

Oras, se Daisuke só poderia ter cometido o crime alguns minutos antes das 15:00, então a tinta ainda estaria fresca. O que logicamente leva à conclusão de o autor do crime ser o amigo da vítima. Legen demonstrou constrangimento e quis se redimir:

— Sinto muitíssimo por suspeitar de você, jovem Daisuke, mas deve entender que eu estava muito chateado com a situação e tinha meus motivos. Não se preocupe, vou organizar uma busca pelo verdadeiro assassino já já...

— Esperem um instante aí — interrompeu Daisuke, pondo-se no caminho dos moradores na entrada da casa da vítima —. Eu também sinto muitíssimo, mas não consigo fazer um trabalho pela metade, até porque agora as coisas começam a ficar interessantes. Lembra-se do que disse à respeito da janela e dos vestígios de AE, senhor Legen?

Foram três detalhes suspeitos: o primeiro é que Legen teria ficado de vigia o tempo inteiro durante a visita, implicando que não fez nada para impedir o assassinato; a segunda é que Legen por algum motivo assumiu que o assassino quebrou a janela antes de cometer o crime e o terceiro detalhe tornava tudo mais claro.

A vítima foi assassinada durante a visita de seu amigo. Mas e se esse amigo não fosse exatamente quem afirmasse ser? A teoria de polimorfismo pode muito bem explicar o primeiro AE, então o segundo teria sido causado pela vítima, muito possivelmente por um pedido de socorro. A vítima teria ficado viva por uns instantes, dando tempo para expandir seu campo AE e amplificar suas ondas sonoras por ele, quebrando o vidro da janela.

Os moradores não perceberam o grito devido às comemorações, mas Legen com certeza viu o vidro se quebrando enquanto vigiava o crime. Por isso mesmo precisou inventar uma desculpa para justificar o vidro quebrado. Dessa maneira sórdida todos se beneficiavam: a Aliança se livrava de um traidor e Legen era livre para fazer o que quisesse.

— Daisuke, não vai terminar de explicar como minha ajuda foi fundamental? — perguntou Natt enquanto carregava o assassino em suas costas de volta ao vilarejo.

— Já que insiste. Eu tinha ouvido falar do fenômeno de sincronização antes, mas nunca havia experimentado na prática. Pesquisadores afirmam ser possível conectar duas almas e estabelecer um canal invisível de comunicação quando ambas as partes são capazes de sincronizar seus campos AE. Admito que esperava o fracasso, mas assim que aquele camponês me indicou o caminho, suspeitei de algo e decidi testar a sincronização com Natt. Não demorou muito para perceber que se tratava do assassino polimorfo em questão, então planejamos atraí-lo a uma armadilha.

— Isso mesmo. Espera, o que quis dizer com "esperava o fracasso"?

Natt queria continuar, mas um som terrivelmente familiar de "beep" ecoou em seus ouvidos. Sabia muito bem o que era e por isso exclamou com urgência a Daisuke e os camponeses a sua frente:

— Abaixem-se!

Tão depressa como pôde, correu para o mais longe possível e despejou o assassino em um precipício, seguido por uma estrondosa explosão. Certamente frustrando os planos de interrogação de Daisuke. Apesar do susto e do dia agitado, os camponeses mostraram-se bem mais amigáveis e ofereceram um lugar onde os garotos pudessem passar a noite.

Incapaz de dormir, Daisuke logo viu-se agitado em sua cama pensando nos mais diversos cenários. Sabia que não acalmaria sua mente, mas quis confirmar seus temores. Para sua infelicidade, estava certo: havia um controle remoto em sua mochila e podia sentir algo implantado no peito de Natt, não sendo difícil adivinhar o que eram. Apesar de ser inútil, o garoto congelou os pés e mãos de Natt e tentou desativar a bomba com o campo AE e correntes elétricas, sem sucesso.

Daisuke estava quase concluindo sua análise quando para sua surpresa Natt despertou, e mais ainda por ela não ter feito um escândalo considerando o contexto. Ao invés disso, calmamente disse:

— Obrigado, mas não vai conseguir tirar isto sem me matar. O que foi, está realmente surpreso que a Aliança faça este tipo de coisa? Sabe tão bem quanto eu que... 

Só então notou que estava presa e com a camisa aberta, mas Daisuke já não estava mais lá. Sem delongas, libertou-se e entrou em perseguição, chamando pelo nome do garoto incessantemente. Daisuke gostava de ver Natt comportando-se como... bem, como Natt, mas até quando as coisas continuariam assim? Haveria um tempo em que precisaria usar o controle remoto? Aliás, quem o teria colocado ali, sem ele perceber?

Novamente a cena era avistada de longe por um jovem encapuzado, que com suas mãos na face soltou uma leve risada e falou consigo mesmo:

— Daisuke, logo você irá pagar pelo que fez comigo. Aproveite enquanto pode.


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