Alterego escrita por Gavrilo, Drablaze


Capítulo 23
Capítulo 23




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O sábio impulsionou-se em direção ao oponente e mergulhou o punho direito em sua face. Fremme bloqueou a investida com um dos joelhos e usou as mãos livres para disparar uma bala de sua pistola recém-materializada. O projétil avançou rapidamente, perfurando a defesa do campo AE rival. Antes de ser atingido, o sábio desencadeou uma explosão de dentro do próprio campo, desintegrando a bala e separando os dois combatentes com o impacto.

Fremme tivera uma parte da superfície da pele queimada pela explosão, mas aquele nível de ferimento não era o suficiente para desabilitá-lo. O sábio estava fisicamente ileso, mas, em compensação, parecia bastante debilitado. Ficou claro que o corpo não era treinado o suficiente para suportar a habilidade e, acima de tudo, ele não tinha intenção alguma de vencer uma luta. Era uma pura tática suicida.

Novamente, Fremme aguardou pacientemente enquanto o inimigo, eufórico, avançava. Dessa vez, entretanto, o campo AE do sábio expandia-se em ritmo acelerado e adquiria uma coloração rubra, escura, em tom de sangue. Antes que o campo concentrado de energia pudesse tocá-lo e vaporizar seu corpo, Fremme levantou um dos braços e apontou uma certa residência ao leste com o dedo indicador, pouco distante dali.

O sábio impediu seu avanço imediatamente e cancelou a expansão do campo, notando a presença do garoto no local apontado. Ele entendeu que, se liberasse uma combustão daquela escala, facilmente poderia destruir a vila inteira. Não era particularmente agradável a Fremme usar o exato mesmo truque de Daisuke, de ameaça e joguinhos psicológicos, mas de qualquer forma, aproveitou-se da hesitação para aproximar-se e nocautear o sábio rapidamente.

Após ter arrastado o inimigo capturado até a base, Fremme preparava o equipamento de sincronização forçada.

— Mas senhor — interveio o vice-capitão —, não sabemos que tipo de coisa existe na mente desse sujeito! O risco de uma incompatibilidade é...

Ignorando os apelos à razão, o capitão ativou seu campo AE e foi imediatamente atingido por algo como uma onda de choque diretamente no cérebro. Afetado pela dor imprevista, moveu-se alguns passos para trás e teve a urgência de abortar a operação, mas logo impediu a si mesmo e liberou o campo AE com força total.

Logo em seguida, encontrava-se encarando uma multidão de pessoas através de uma janela embaçada. O povo insistente dava socos e pontapés, mas nada conseguia quebrar o vidro. Era inútil, já estava tarde demais para eles. Um grito foi ouvido, e depois mais outro, e outro, e outro. Uma massa ou líquido viscoso amarelado apoderava-se do corpo dos indivíduos e engolia-os, deixando apenas roupas e sapatos em para trás.

O cientista retomou seu trabalho, jurando a si mesmo que impediria a Aliança de concretizar aquele pesadelo novamente. Enfim completara seu método de viagem temporal e tinha um plano meticulosamente elaborado para pôr em ação a qualquer momento. Realizado o regresso, impediu o fim da humanidade. Mas a paz não durou por muito tempo.

Uma nova ameaça surgiu, mais letal e maliciosa do que qualquer coisa já presenciada antes. As pessoas o chamavam de "deus da morte", um fenômeno sem forma nem vida destinado a aniquilar toda forma de vida no planeta. Através de investigações, o sábio descobriu uma verdade ainda mais terrível. O fenômeno tratava-se de uma pessoa. Kubo Daisuke era seu nome.

Assim que se deparou com a realidade surreal por trás da destruição do mundo, sua vida nunca mais foi a mesma. Perseguido pelo medo da extinção, iniciou uma jornada cíclica para salvar sua alma. Sim, sua alma, pois o recipiente externo já não podia mais ser considerado vivo. Para suportar as consequências da viagem no tempo sobre a matéria, alterou seu corpo de maneira irreparável. Tornou-se imortal.

Seu corpo manteve-se intacto ao custo da degradação da mente. Perdeu-se no vazio do tempo-espaço, incapaz de salvar a ninguém, nem a si mesmo. A única coisa que o movia, que o mantinha minimamente vivo eram as memórias do filho. Seu único objetivo era de algum modo ver seu sorriso novamente. Naquele ponto era difícil dizer se o filho sequer era real ou fruto da imaginação, mas não importava. Quando viu o garoto trabalhando nas minas, comoveu-se e tentou ajudar... mesmo não sabendo exatamente o que fazer.

As recordações sobre os companheiros eram vagas, ilusórias, delírios talvez. Seria difícil apontar que motivos ele teria para fugir, rebelar-se e buscar a imortalidade, quando nada disso fazia sentido àquela forma de vida decadente. Provavelmente havia desistido da individualidade e vontade própria, ficando à mercê de ordens alheias. Tudo isso era irrelevante agora; ele estava morrendo. Ao menos havia cumprido seu desejo de ver o filho, mesmo que projetado em outra pessoa.

Abruptamente, imagens aleatórias passaram pela visão de Fremme e ele se viu em um grande corredor. Onde estava, para onde ia, o que havia acontecido? Impediu as pernas de continuarem a se mover.

— An... algum problema, senhor?

Ao seu lado estava uma pequena secretária, que não fazia questão de esconder a apreensão por estar diante dele. A moça timidamente mostrava a intenção de dizer outra coisa, mas Fremme a impediu:

— Não é nada. Vamos.

Fremme tentava urgentemente colocar seus pensamentos em lugar e entender o que estava acontecendo. Aparentemente, o criminoso fora identificado, mas sua mente estava em um estado sem volta devido às suas tentativas de prolongar a vida. Após a missão, o general Tarr Kaz convocou uma reunião extraordinária com ele. Extraordinária, pois era raro que o general lidasse pessoalmente com esse tipo de questão. Ainda mai no momento, quando a maior preocupação eram as futuras eleições em Dakar.

A secretária guiou Fremme até seu destino e, após uma breve reverência, rapidamente retirou-se do local. O jovem abriu a porta da sala e entrou sem muita cerimônia, mas uma espécie de estímulo involuntário apoderou-se de si. Imediatamente após reconhecer a imagem do general, apoiou-se em um joelho e manteve a cabeça voltada ao chão.

Tarr, apreciando a vista, permitiu que o capitão se levantasse. Fremme agora podia conferir a visão que havia subjugado seu corpo inconscientemente. Era um homem robusto, alto, que por detrás dos óculos escuros parecia emitir a certeza de ter o mundo inteiro sob seu controle. Cruzando os dedos por cima do gabinete, indagou:

— Sabe por que está aqui, capitão Fremme 'd Elig?

— Sim, senhor. Devo começar o relatório desde o início ou...

O general fez um gesto brusco e impediu a continuação da fala, retomando:

— Os sábios vão se destruir sozinhos, esqueça isso. Mais importante: é hora de você se tornar o sucessor dos 'd Elig.

À menção dessas palavras, o jovem sentiu-se desconfortável, com uma premonição de que algo estava errado. Por algum motivo, recordou-se do drama daquela alma perdida. Estaria ele também se perdendo? O medo maior não era perder a si mesmo ou perder suas emoções; na verdade, havia decidido encapsular-se em seu mundo interior justamente para manter sua essência intacta. Não queria ser reconhecido apenas como um 'd Elig.

A porta se abriu novamente, e através dela surgiu o mensageiro do destino. Era o pai de Fremme, líder do clã. O azul de seus olhos brilhava com ódio de intensidade inimaginável, e fitava com animosidade as duas pessoas naquela sala. O silêncio instaurou-se, bem como uma atmosfera instável e hostil. Impaciente, o general decidiu:

— Muito bem, eu começarei a explicação. Fique atento, Fremme, pois esta será sua missão mais importante.

Enormes tubos de vidro emergiram do chão, preenchendo a sala circular com um peculiar cheiro misto de cloro e enxofre. Os tubos estavam preenchidos por um líquido azul, e diversos cabos podiam ser vistos em seus interiores. Mas algo além disso estava lá. Corpos disformes flutuavam no fluido, rodeados pelos cabos metálicos. Era impossível ter uma ideia exata de como pareciam, mas Fremme sentiu.

Ele estava ali dentro, em cada um dos recipientes.


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