Alterego escrita por Gavrilo, Drablaze


Capítulo 19
Capítulo 19


Notas iniciais do capítulo

Capítulo mais curto do que o normal porque originalmente o 19 e o 20 seriam um só, mas ficaria muito grande. Admito que o "corte" não ficou muito bom, contudo.



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No interior de uma caverna oculta pela natureza selvagem da floresta, a garota ignorava a escuridão para observar o ser que repousava tranquilamente. Aproximando suas mãos daquela face desprotegida, pensou no quão frágil parecia aquela existência e a completa exposição dos pálidos braços, pernas, nuca, pescoço...

— Oh.

Pressentindo invasores, Natt violentamente levantou-se e fitou o feixe de luz que trazia passos calmos de uma multidão. Antes que o instinto falasse mais alto, o dispositivo em seu bracelete foi ativado, emitindo um ruído contínuo e apaziguando a garota. Logo nesse momento surgiu Velter, para variar trajando algo ridículo como um antigo equipamento astronauta, e o resto da trupe.

— Saudações, viemos em paz — disse o fantasiado em tom pomposo e cômico, ao menos ao seu ver.

— Que seja, quanto mais rápido isso acabar, melhor para todos. Mas e o Daisuke?

Como se tivesse sido invocado pela menção do nome, o jovem despertou. Ainda em estado de alerta, olhou ao redor e encarou demoradamente cada um dos mascarados com intenções perceptivelmente hostis e feição de ódio profundo. O líder tentou remediar com sua ideia de piada:

— O que foi, parceiro? Não se preocupe, não viemos com redes de captura. Não desta vez. A propósito, creio não termos nos apresentado formalmente ainda, certo?

— Cale-se, Velter — ordenou imperiosamente —. Eu sei muito bem quem você é e do que é capaz, desde aquele jogo doentio.

— Ótimo, então não há mais segredos entre nós — respondeu, jogando o capacete que ocultava sua cabeça em um canto.

— Senhor, por que insiste em se expor ao perigo!? — censurou um homem com uma máscara de gás.

— Não se preocupe, este traje não é tão desconfortável quanto parece. Sabe, minhas roupas são fabricadas por ninguém menos que...

— Já disse para calar a boca, droga! — exclamou alterado Daisuke — Tem alguma coisa perigosa nesse seu esquadrão. É você, não é?

Sem hesitação, o guerreiro que alternava entre um ser tomado pela ira e histérico agora avançava com a precisão e agilidade de um assassino frio, apontando sua adaga em direção a um dos sujeitos. Antes de conseguir fazer qualquer coisa, foi atingido por um dardo tranquilizante e sucumbiu de imediato. Concentrada no médico responsável pelo ataque e também pelo tratamento de Daisuke até então, Natt questionou:

— O que você fez para ele ficar desse jeito? Nas poucas vezes que acordou, sempre mostrou algum comportamento estranho...

— Não é culpa dele, Natt — interferiu Velter —. Você deve ter percebido que o AE de Daisuke está extremamente instável. Não é que esteja sem controle, mas por algum motivo ele escolheu manter esse estado mental imprevisível. Bem, de fato dizem que um bom método para confundir o inimigo é confundir a si mesmo. Já ouvi falar de uma escola que adotava tal filosofia como uma máxima.

— E funciona?

— Não sei, tive que matá-los sem que percebessem. Uma pena, também tinha curiosidade.

Ignorando a resposta sarcástica de Velter, Natt tomou Daisuke em seus braços e levou-o com segurança à carruagem que se encontrava no lado de fora. Não que fosse muito comum andar de carruagem por aí, ainda mais para visitar uma cidade tão isolada como Inskar, mas Natt já havia desistido de entender a lógica de Velter — até porque sempre dava certo no final.

Tratava-se de um pequeno trabalho de reconhecimento em uma possível base dos imortais. O principal problema, entretanto, era a localização da ilhada Inskar. Protegida pela alta mata ao redor e caminhos traiçoeiros, Inskar era uma daquelas cidades devoradoras de homens, das quais ninguém entrava ou saía. Transporte aéreo sempre era uma opção aos cidadãos comuns, mas certamente não se aplicava ao grupo.

Devido a todos esses fatores, na prática constituía uma tarefa bastante árdua infiltrar-se na metrópole sem ser detectado. Por sorte, o líder rebelde havia recrutado recentemente um companheiro experiente de codinome T, que os guiou com segurança até o destino. E por recrutado entenda-se hipnotizado. Era um recurso que Velter particularmente odiava, confiando na capacidade de sua equipe, porém necessário.

— Chegamos — avisou T.

— Impressionante — elogiou Velter —. Muito bem, já sabem o que fazer. Natt, você vem comigo, e o garoto Insek fica com os médicos e Daisuke. Boa sorte, guarda-costas.

Verdade seja dita, não havia realmente médicos; eram apenas veteranos de guerra mais do que acostumados a lidar com qualquer tipo de ferimento. Dispensavam, portanto, guarda-costas. O que não significava que Insek precisava saber desses pequenos detalhes nem de outros tantos mais. "Tudo ao seu tempo", pensava Velter.

Os invasores reuniram-se em pequenos grupos e adentraram a cidade por diferentes locais, um após o outro, durante algo em torno de uma hora. Quando os preparativos estavam assegurados, Velter, Natt e T prosseguiram ao coração da fortaleza tecnológica. Foram pela entrada frontal, já tomada pelos companheiros, e percorreram pelas ruas cromadas enquanto telas e apetrechos mecânicos voavam livremente ao seu redor.

Caminharam até a entrada de um grandioso hotel, conhecido localmente como um dos melhores e mais convenientes lugares. Não exatamente pelo seu luxo, como pensavam a maioria, mas por ser ideal para conduzir negócios de natureza... bem, de qualquer natureza. Poucos sabiam como obter acesso aos segredos do estabelecimento, e dessa vez nem T podia ajudar muito.

Antes de poder ser recepcionado propriamente, bastou que o mentalista olhasse ao redor e todos os funcionários caíram inconscientes. Ao mesmo tempo, Natt arremessou uma esfera metálica à sua frente, chocando-se com a parede e liberando um pulso eletromagnético que desabilitou os dispositivos de vigilância do local.

Furtivamente, o trio penetrou no sistema de tubulação e T fez o máximo que pôde para tentar localizar onde seus alvos poderiam estar. O que os esperava, após alguns bons minutos de rastejamento, era uma estranha cena. Logo abaixo dos espiões estavam alguns homens com trajes nucleares, que discutiam algo enquanto desenrolava-se um cenário bizarro à sua frente: várias pessoas diferentes, aparentemente sem nenhuma relação, rígidas e enfileiradas obedientemente como vieram ao mundo.

Aliás, "como vieram ao mundo" era uma ótima expressão, e bem sabiam Velter e Natt o porquê. T fitava sem reação, talvez imaginando como diabos humanos foram reduzidos a existências como fantoches ou animais bem treinados. Pensamentos fúteis. Não importava o que tivesse acontecido, pois já tiveram sua humanidade permanentemente renegada — se é que tiveram uma em primeiro lugar.

— Acredito que nosso amigo levemente insano chegou aqui primeiro — ironizou Velter —. Ah, grande Kaz, nunca perde a oportunidade de desfilar sua loucura.

Tarr Kaz. Herói de guerra, comandante de punho de ferro, que recentemente havia decidido entrar no meio político e filiar-se ao partido da Aliança. Pouco mais se sabia, porém tudo indicava que seu envolvimento com a Aliança era bem antigo, assim como suas obsessões militares. Pragmático como uma máquina, era apenas natural que ele buscasse a eficiência suprema: soldados perfeitos. Natt indagou:

— Certo, e o que fazemos agora?

— Observamos um pouco mais, depois fugimos. Nunca se sabe quando pode acontecer algo de interessante.

— Isso é só uma desculpa para mascarar sua incompetência em prever a situação, não?

— Pelo contrário, exibo-a com orgulho! A vitória corrompe o homem, mas a derrota o edifica.

Parecia no mínimo desconcertante a T como aqueles dois conseguiam manter uma conversa tão leve quando logo abaixo estava em andamento um projeto macabro envolvendo vidas humanas, mas estava equivocado. Era um diálogo estranho, sim, mas foi devido ao que acontecia abaixo, e não apesar dele. Ambos pareciam anormalmente calmos por serem os mais transtornados ali, cada um querendo convencer a si mesmo do contrário. Em especial Velter.

O silêncio repentino fora interrompido por uma movimentação estranha por parte de um dos cientistas observados. Apenas Velter foi capaz de ver aquele pequeno instante, mas sem dúvidas havia uma anomalia. Algo como uma ação inútil, um gesto inconsciente feito ao acaso, foi mais do que o suficiente para confirmar que haviam sido descobertos.

Enquanto isso, sombras espalhavam-se pela região ao redor de Inskar, próximas a Insek e seu protegido.


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