Alterego escrita por Gavrilo, Drablaze


Capítulo 1
Capítulo 1




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Como em praticamente todos os dias de sua nova vida, Kubo Daisuke se via novamente correndo de dúzias de inimigos sem nome. E por quê? Por ter destruído uma base militar por aí, grande coisa; legítima defesa. Seja como fosse, a situação não parecia lá muito boa. Havia algo como um campo protegendo o corpo de Daisuke dos projéteis disparados, mas sabia que não poderia ficar assim eternamente.


Por sorte Daisuke avistou uma densa floresta bem a frente — do tipo que gostava — e que muito provavelmente levava a uma cidade, onde a Aliança não poderia fazer muito rebuliço. Prontamente materializou duas adagas e adquiriu velocidade sobre-humana. Embora não tenha conseguido despistar seus perseguidores, Daisuke aproveitou os poucos segundos de vantagem para se ocultar entre a vegetação.


Daisuke estava mais do que disposto a apunhalar alguns peões insistentes como aquecimento, mas se acalmou e pensou na situação. "Como não podem me ver vão apelar aos cães farejadores, eu não posso fugir no sentido contrário ao vento e serei forçado a voltar... é o que eles esperam que eu faça. Bem, se eles querem depender tanto assim do vento, eu tenho uma surpresinha".


Daisuke substituiu as adagas por uma imponente espada e começou a balançá-la rápida e repetidamente em torno de si. O vento gerado logo dominou a corrente do local e ficou impossível distinguir qualquer cheiro. Para o toque final, materializou uma foice e lançou algumas correntes elétricas no céu carregado de nuvens, provocando uma breve tempestade.
Aproveitando a confusão do time farejador, Daisuke usou essa brecha na formação para avançar, congelando os cães e treinadores em sua direção com cortes no ar sucessivos de suas adagas. Logo se viu livre da floresta e não demorou muito para infiltrar-se na cidade. Como a maioria delas, tratava-se de um verdadeiro paraíso tecnológico, com robôs e dispositivos por todo canto fazendo o trabalho dos humanos. Mas a que custo?


A primeira coisa que o jovem fez foi procurar um hotel para passar a noite. Mal podia acreditar que não dormia em um lugar decente desde que essas perseguições da Aliança Internacional começaram. Paz entre os povos era só uma fachada, e Daisuke sabia bem disso; estava mais para dominação mundial. Antes de dormir deu uma última olhada no espelho, surpreendendo-se com seu visual rústico, quase selvagem, mas teria que se acostumar.


No dia seguinte, nosso viajante avistou uma figura vagamente familiar em um restaurante, mas decidiu fingir que não viu.


— Escuta aqui, por que está fingindo que não me viu?


Surpreendido pela rapidez com a qual a garota se aproximou, Daisuke pode apenas retrucar com certa perplexidade:


— An... quem é você mesmo?


A garota esboçou uma expressão mista de raiva, cinismo, sorriso sarcástico e alguma coisa macabra. De todas as coisas que já tinha visto nesse mundo, essa era definitivamente uma das mais assustadoras. Ainda mais sendo a primeira coisa que viu depois de anos de repouso. Sim, ocorreu um ano atrás, nos primórdios dessa vida infernal, como esquecer?


— Ah, Natt Synd.


— Não me venha com "Ah, Natt Synd". Só se passou um ano e você já perdeu toda a civilidade que tinha?


— Bem...


— Esqueça — Natt amenizou um pouco seu tom após um longo suspiro —. Já decidiu o que vai fazer de agora em diante?


Evidentemente, a essa altura Daisuke já tinha pelo menos cinco ou seis planos, mas tinha receio de dizer claramente tudo o que pensava. Pelo pouco contato social que teve, concluiu que bem e mal são conceitos cada vez mais raros e poucos se importam em pisar em alguns indivíduos para conseguir vantagem. E as exceções têm uma vida bem curta.


— Prefiro não afirmar nada sem ter certeza, mas acredito que vou achar informações na capital. Sabe alguma coisa sobre esse político, Evige?


— Sim, ele é bem famoso... mais pela sua vida pessoal do que por qualquer outra coisa, diga-se de passagem. Que negócios você teria com um sujeito desses?


— Vingança — disse com voz abafada e retirou-se.


"Infelizmente só há um caminho para a capital daqui, então na certa devo esperar um confronto". Como previsto, mal saiu da cidade e já foi abordado por dois homens no caminho. Um deles pronunciou-se:


— Kubo Daisuke, o senhor está preso por obstrução de justiça, furto, lesão corporal, tentativa de homicídio, porte ilegal de...


— Ok, já entendi — interrompeu o procurado —. Não tem nenhum civil aqui, então vamos parar com esse pequeno show porque nós dois sabemos muito bem por que eu estou sendo preso, ou melhor, "coletado". Não é assim que vocês se referem a cobaias?


— Muito bem, então permita-nos apresentar. Somos soldados de elite chamados...


Mal pôde completar a frase e foi surpreendido com a velocidade do garoto, que o atingiu com uma adaga, e o impacto causado pelo choque entre a arma e uma espécie de escudo surgido repentinamente o jogou para longe. A colisão fez o soldado esbarrar violentamente em algumas rochas, mas logo se recuperou.


Daisuke estava acostumado a ter que raciocinar rapidamente, e com cuidado, quase instintivamente. Percebeu que o grandalhão compensava sua velocidade inferior com uma boa defesa, mas antes de investir com sua arma mais forte precisava conhecer a capacidade do outro. Olhou para uma moita próxima e exclamou:


— Senhorita Synd, me dê cobertura! — e sumiu assim que terminou o pedido.


— Hã...? — Natt mal conseguia ver o que acontecia, e se perguntou como Daisuke sabia que ela estava ali — Ei, não me de ordens!


Enquanto Natt procurava uma posição estratégia e tomava distância, Daisuke atacava repetidamente o outro oponente, que conseguia se esquivar perfeitamente e aplicou um contra-ataque com sua soqueira no queixo de Daisuke. Enquanto o garoto se afastava, os soldados tentaram provocá-lo:


— Até que seu alterego é resistente; qualquer outra pessoa teria no mínimo seu queixo quebrado hahahahahaha.


— Você não é de falar muito, não é?


Daisuke permaneceu calado, esperando pelo momento certo.


— Está me ignorando? — perguntou cinicamente o troglodita — Pois bem, eu vou te ensinar algumas boas maneiras...


— Espere, deve ser uma armadilha!


Ignorando os avisos do parceiro, o soldado avançou em direção a Daisuke sem notar o sinal que este fazia com as mãos. Uma camada de projéteis extremamente fortes atingiram a cabeça do soldado, deixando-o artodoado. Daisuke aproveitou a ocasião e o acerta seu abdômen com um chute potente que o nocauteia.


— Acertei o otário! — gabou-se Natt, deixando escapar uma risada estrondosa de satisfação.


— Então aquela vadia está te dando cobertura? — disse o outro soldado, correndo com velocidade em direção a Natt.


— Droga, me acharam, devia ter aprendido a rir baixo.


Distraído com a situação, Daisuke não percebeu seu oponente se levantando e por pouco conseguiu se defender de seu ataque furtivo e potente, sendo forçado a recuar pelo impacto. Enquanto isso, Natt disparava em seu alvo, sem sucesso, e este estava prestes a desferir um soco mortal... mas errou.


— Como você se desviou disso? Ei, espera, o que está acontecendo? — notou que não conseguia se mover e fitou seus pés para ver que estavam congelados, assim como o chão.


Natt conseguiu escapar por pouco devido ao seu desequilíbrio no chão de gelo, mas não parecia muito feliz com isso.


— Podia ter me salvado de uma maneira menos dolorosa!


Enquanto falava, Daisuke arremessava um bloco de gelo em seu já fatigado oponente.


— Não me ignore, depois de acabar com eles eu vou é acabar com você! — exclamou Natt, dando alguns tiros de misericórdia com uma Glock 18 modificada.


Enfim a batalha estava terminada.


— Por que você me seguiu? — indagou Daisuke a Natt, após desmaterializar suas adagas.


— Ah, sabe como é, não tenho mais nada para fazer, então podemos ajudar um ao outro. Pode ter aprendido a lutar, mas suas habilidades interpessoais, por exemplo, precisam de um sério aprimoramento. Devo dizer que fiquei surpresa ao ver que você tem armas de rank S, entretanto.


— Tudo bem... mas não garanto que não vou te deixar para trás sem pensar duas vezes.


— Ei, essa fala é minha — retrucou com um sorriso malicioso —. Aliás, você é muito bonzinho, esse cara que você derrotou ainda está consciente.


Apesar de acabado, o homem juntou forças para fazer um pronunciamento sinistro:


— Você ganhou esta batalha, mas pode ganhar a guerra? Falta só 1 ano agora...


Provavelmente era só isso que queria falar, mas Natt o interrompeu com um tiro na cabeça de qualquer forma. As palavras causaram um profundo, embora imperceptível, impacto em Daisuke por um momento. Recordou-se daquele laboratório horrível, dos gritos de sua família, das dores insuportáveis... tudo isso orquestrado por um velho asqueroso que seguia repetindo: "Faltam 102 anos...".


A cena toda era observada pelos olhos atentos de uma figura desconhecida no topo de uma colina. Mas não era o único observador. Havia uma minicâmera oculta entre as vestes de Natt que transmitiam os sinais à uma televisão localizada a quilômetros de distância dali, em um gabinete na capital. Entre os espectadores estava a misteriosa personagem que liberou uma risada estrondosa e tomou a palavra:


— Kubo Daisuke, como você cresceu! Mal posso esperar para ver como meu herói da justiça salvará o mundo. Tenha certeza de acompanhar cada movimento que ele fizer, senhorita Natt Synd.


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