Contos Escarlates escrita por JojoKaestle


Capítulo 4
Capítulo 4




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No sonho ainda tinha sua mão. Sua mão direita, sua mão de espada. Muitos homens tinham encontrado um fim na lâmina afiada. Nunca mulheres, jamais mulheres ou crianças. Era uma conduta hipócrita, bem sabia, e mesmo não o ajudando a dormir melhor à noite era algo que repetia a si mesmo dezenas de vezes ao longo do dia. Não é inteiramente mal. Isso como tantas outras coisas sobre Aramis Tihomir era sujeito à discussão. Como os motivos por trás da morte de seu pai. Era sua figura fantasmagórica que o encarava de volta no sonho e por saber que o merecia o jovem príncipe não tentou fugir ou acordar. Ele sabia que se tratava de um sonho porque o rei Wodan jamais o olhara daquela forma enquanto era vivo. Com acusação e medo.

Acusar e causar medo eram coisas em que fora muito bom. O rei, não Aramis. Picuinhas com aliados e grandes banquetes fartos para ostentação diante dos inimigos silenciosos. Silenciosos porque ninguém que abertamente se mostrava contra as decisões reais vivia muito tempo para contar a história. Nos últimos meses a única prova necessária para uma visita ao cadafalso era a palavra de sua majestade. Você dissolveu o conselho. Tentou dizer para a figura que o observava através de olhos mortos. Você matou sem direito, tornou-se um tirano. Mas as palavras morriam em sua boca. Morriam em sua boca porque por mais que fossem a verdade sabia que nada daquilo estava fora da normalidade para os padrões andarianos, comparado aos porcos que ocuparam o trono antes dele Wodan era quase um santo. Um santo idealista que bastou provar do cálice do poder irrestrito para se juntar aos que combatia dias antes. O gosto de bile veio tão real que temeu acordar a qualquer momento. Queria permanecer algum tempo de frente ao seu pai, queria olhar para seus pecados e cuspir em sua cara. Porque no fim não matou o pai por ser um tirano a caminho da loucura megalomaníaca, não o matara pelas pais sem filhos, pelas viúvas, pelos órfãos. Não. O matara por ter mentido, não para o reino e para as pessoas famintas que se amontoavam nas ruas pedindo esmolas para pagar impostos, mas para ele.

No momento em que soube se perguntou como não desconfiara antes. Era uma reação patética e que não fora de auxílio algum, mas a verdade estava ali para todo mundo ver e a ideia de alguém tê-la descoberto antes dele o encheu de fúria. Não que pudesse ser comparada a que sentiu pelo seu pai. Aramis era um bastardo. O que gostaria que se restringisse aos seus traços de personalidade duvidosos extrapolara o limite de xingamentos e se tornara verdade em seu pior significado. Quantas noites havia passado acordado tentando imaginar a sua próxima ação? Deveria acusar o rei publicamente ou contar-lhe que sabia em um momento particular? Desistira de causar alvoroço por mais tentador que a ideia lhe parecesse quando a imagem de sua irmã surgiu em sua mente. Malika. A princesa era a pessoa que mais amava no mundo e ver a sua fantasia de família ideal e feliz partindo-se era algo que não estava disposto a causar ou assistir. Diferente de outros reinos a geração de bastardos era ali visto como ofensa. O que era engraçado, porque se o rei fosse um simples mercador sua traição seria menor e até não digna de ser mencionada. Quando um rei espalhava a sua semente na barriga de simples mulheres era uma afronta, pois a linhagem real deveria ser mantida pura e longe da sombra de pretendentes ao trono sem origem nobre. O que nunca mantivera reis longe das camas de serviçais e camponesas em suas campanhas armamentistas. Aramis sabia que o pai partilhava a cama com outras mulheres e quando soube sobre sua mãe imaginou qual destino as outras tiveram. As outras que também tinham engravidado. Havia algo especial em sua mãe porque foi mantida viva, mais ou menos.

A imagem da figura magricela e trôpega levantando-se da mesa torta o assombrara por meses. Cailín era seu nome e tinha tantos piolhos que Aramis teve que passar horas em uma bacia tendo-os catados de sua cabeça. A própria rainha o fizera e perguntara ao seu falso filho onde havia se metido dessa vez. Havia mentido claro, era mesmo filho de seu pai. Cailín o encarara por trás dos olhos fundos como se visse uma aparição divina, depois coçara a sarna que se espalhava em seu braço desnudo. Não queria abraçá-la, passara tanto tempo procurando-a que quando finalmente a encontrou não sabia o que fazer. A mulher que mais parecia um morto alheio a sua condição por sua vez gritara algo através da boca sem dentes e o envolveu em seus braços esqueléticos. Enquanto permaneceu ali lutando contra o cheiro que fazia seu estômago revirar Aramis desejou que nunca a tivesse conhecido. E isso apenas piorou quando a mulher levantou o rosto marcado por doenças e o chamou pelo nome de seu pai. A palavra o fez afastá-la e segurar os seus ombros.

- Não, meu nome é Aramis. – buscou reconhecer algum sinal de lembranças em seus olhos vazios – Eu... – e de repente não quis continuar. Porque se a lembrasse de que era seu filho não haveria como voltar atrás.

- Pão. – ela respondeu.

Aramis assentiu, sentindo as esperanças sendo esmagadas. Imaginara que poderia tirar alguma informação daquela mulher, que poderia lhe explicar. O Arlequim acidentalmente trombara com a parteira que fizera a troca vinte e dois anos atrás e em um interrogatório particular havia confessado ser parte de algum esquema dos Sancia e que albergava fugitivos da coroa. Disse, numa nuvem de drogas e alucinações, que Aramis era um bastardo. Esperava certamente em seu desespero que contar a verdade sobre tudo que sabia a pouparia de mais torturas, mas acabou morrendo antes de contar os detalhes. O Arlequim apenas dera de ombros, culpando a sua natureza fraca e quis saber se Aramis pretendia investigar a história. Seis meses depois o príncipe adentrava sozinho o casebre imundo, tomando o máximo de cuidado possível para não sujar as suas botas na sujeira que cobria a viela. Sentia olhos curiosos cravados em suas costas, mas não se importava. Que o rei soubesse que estivera ali, que tivesse a decência de confrontá-lo.

A visita se provara completamente infrutífera, tendo o ponto alto na tentativa de Cailín de partir o pão que o príncipe arranjara. A observou babar o pedaço de massa assada demais e no fim o tirou de suas mãos. A mulher não tinha forças para defender a comida e soltou um lamurio baixo. Quando viu que partia o pão em pedaços menores os olhos brilham pela primeira vez naquele dia e Aramis teve um vislumbre de como deveria ter se parecido antes da doença desfigurar o seu corpo. Estendeu o primeiro pedaço e se sobressaltou com a velocidade em que foi arrancado de sua mão. Cailín ainda tinha algum trabalho, mas ao menos conseguia se alimentar. Aramis a observou devorando o que deveria ser a sua primeira refeição da semana e chorou. Primeiro em silêncio, depois tão alto que fez sua mãe erguer os olhos das migalhas em suas mãos. Ele não se importou. Aquele corpo era apenas fome e não havia resquícios do que poderiam ser sinais de que sabia o que se passava. Aramis chorou porque aquele rascunho de humano era a única família que tinha. Chorou por Kenneth e a rivalidade amigável que os havia acompanhado desde que eram garotinhos brincando de cavaleiros, por Malika e a doçura com que o chamava de “irmão” e por Aileen cujos abraços o haviam alentado por tantos anos. E mesmo que jamais admitisse, chorou pelo rei e pelas vezes em que apertara o seu ombro dizendo que se orgulhava da pessoa que tinha se tornado. Aramis nunca se odiara tanto. Sua família, uma mentira tão bem contada que fazia o ouvinte desejar do fundo de sua alma que fosse verdade. Estava tão fechado em sua dor que não notara que Cailín pousara as mãos sobre as suas. Quando a olhou viu lágrimas rasgando seu rosto. Murmurou algo que encheu o rapaz de falsa esperança, talvez diria que o amava, talvez contasse que não sabia que sobrevivera ao parto, que a única verdade em sua vida poderia ser menos dolorosa.

- O que disse? - pediu.

Cailín fixou os seus olhos lacrimosos em suas mãos e seus lábios trêmulos repetiram:

- Pão. – e percebeu que tentava abrir as suas mãos para pegar os últimos pedaços.

Abriu as mãos como se recebera uma chicotada e se ergueu da cadeira. Estava na soleira da porta quando parou.

- Eu – Eu vou trazer mais pão, você nunca vai sentir fome de novo.

E isso foi verdade por quase um mês. Aramis continuou visitando o que restara de sua mãe e trazia além do pão queijos e pedaços de bolo, carnes e às vezes frutas. A cena era sempre a mesma: ela comia, ele observava. Mas a única que chorava todas as vezes era ela. O príncipe desenvolveu um afeto estranho pela mãe e a responsabilidade por ela tornava fingir que tudo estava bem difícil. Especialmente quando estava sozinho com o rei. A parteira contara que a cria real nascera morta e que o rei enganara a todos mandando buscar o seu filho bastardo que nascera dois dias antes enquanto a rainha delirava em febre. Tentava se convencer de que fora por amor a Aileen, mas o vislumbre da podridão em que confinara sua mãe destruía lentamente qualquer sobra da admiração que alguma vez tivera pelo rei.

E então Cailín não estava mais lá. A encontrou depois de muitas perguntas e moedas enfiadas em mãos famintas. Acostumara-se a seu rosto deformado e até conseguira com o tempo perceber o que ela achava de algo através de seus gestos. Na visita anterior haviam tido a primeira conversa que não tinha pão como ponto principal e quando a encontrou jogada em uma pilha de lixo e dejetos mal a reconheceu. Sangue seco tingia os fios ralos e testa, a mandíbula estava quebrada e hematomas estavam espalhados pelo seu corpo nu. Aramis caiu de joelhos e levou as mãos ao rosto. Assustou porcos e galinhas com seu lamento e imagens de Cailín o inundaram. Ela estava melhorando. Pensou em desespero. Havia até ganhado alguma coisa sobre as costelas e na bolsa de couro que trouxera estava o pente que pedira. Ele achou engraçado e disse que não tinha mais tanto cabelo assim, ela apontara para a cabeça do rapaz em silêncio e sorrira. Não seria para ela.

“Guardas a levaram ontem ao anoitecer” foi o que ouvira de um garoto que brincava com os amigos na rua como se um cadáver fosse uma cena cotidiana e Aramis foi lembrado de que nem todas as crianças cresciam atrás de muros de castelos. “O velho Sam disse que não sabe por que. Ela só ficava trancada o dia inteiro mesmo”. Eu sei. Quis dizer e no lugar disso tirou outra moeda do bolso. Não queria significar a morte para mais ninguém.

Naquela noite reunira Fingal e o Arlequim, os únicos que sabiam do que se passava além do rei e lhes contou o que vira e ouvira. Fingal ofereceu palavras de pesar, mas foi o Arlequim quem dera a solução. Ou, como Aramis sabia agora que matara seu pai, quem ouvira seu desejo silencioso. Agora, vendo a figura moribunda no que deveria ser um pesadelo seu único arrependimento era que tinha menos machucados que Cailín.

--x—

O céu estava marrom. Aramis piscou diversas vezes e a imagem começou a ficar mais clara. Não era o céu, era uma tenda. Uma tenda ampla cujo tecido o sol iluminava, deixando alguns lugares mais claros que outros. Tentou tirar uma mecha de cabelo de seu rosto suado, mas o toco não era longo o suficiente. Haviam substituído a talha que o Arlequim improvisara e tentado limpar o ferimento, ainda que não tiveram muito sucesso. Não conseguia ver onde carne e osso foram decepados por estar envolvido em faixas de pano, mas o cheiro pútrido que vinha do ferimento era um mau agouro. Ao menos a dor se restringia a um latejar e achou que não desmaiaria nos próximos dez segundos.

Tentou se apoiar nos cotovelos, o que se mostrou doloroso e pouco efetivo. Mas tinha certeza de que estava em uma tenda da campanha de caça de seu irmão que fora modificada para o mais próximo de uma enfermaria que era possível. Sabia disso por causa dos bálsamos e frascos com líquidos duvidosos que jaziam em uma mesa improvisada por um barril, pela bacia de água e o pano limpo que jazia nela. O restante ele não conseguia ver de onde estava porque uma espécie de cortina o separava do restante do espaço. O que ele conseguia ver era Kenneth largado em uma cadeira ao lado de seu leito.

Pobre Kenneth. Parecia não dormir a dias. Por uma brincadeira de mau gosto do destino Aramis era a imagem do rei enquanto seu meio-irmão era uma imagem masculina da rainha. Como Aileen Kenneth tinha cabelos castanhos como uma avelã e uma natureza calma e gentil. Jamais o vira levantar a voz contra ninguém e muitas vezes estava ao seu lado quando o rei lhe dava broncas por ser bom em excesso.

- Por que você está com um olho roxo e ele não? - exigiria saber o pai deles depois de uma brincadeira que saíra do controle.

- Eu não bater nele pai, é muito menor que eu. Eu poderia machucá-lo.

- Machucá-lo? Qual espécie de rei você será? - e lhe daria uma sonora tapa no rosto, mas Kenneth nunca chorava. Kenneth nunca gritava – Despareçam da minha frente, os dois. E se ser pequeno é a única coisa que alguém terá que ser para tomar o reino cuidarei para que a coroa fique com Aramis.

Eram palavras duras para serem ditas ao primogênito e mesmo assim Kenneth não vacilava. Quando cresceriam surgiriam rumores de que Aramis tinha qualidades melhores para um rei, mas nunca quisera a coroa. Não uma que fosse de Kenneth por direito. Depois de muito tempo tentando convencê-lo de que não teria problemas em trocar alguns golpes mais fortes aqui e ali desistiu e passou a desferir alguns em si mesmo. Quando via os dois cobertos por hematomas e com o nariz sangrando o rei deixava Kenneth em paz, o que no fim das contas era irônico porque agora Kenneth suplantava os dois como guerreiro muitas e muitas vezes. Um dos melhores do reino e ainda assim não gostava das batalhas. Era ele quem merecia o orgulho de todos, não Aramis. E foi lembrado disso novamente quando as pálpebras do irmão começaram a tremer até se abrirem e a primeira palavra que deixou seus lábios ser o seu nome.

- Estou bem irmão. – mentiu. Tentou acalmá-lo com um sorriso, mas sua aparência deveria estar mesmo medonha porque Kenneth se aproximou e segurou a sua mão esquerda. Fechou os olhos e apoiou a testa nas mãos unidas.

- Aramis... – tentou começar e falhou. E foi a primeira vez em que Aramis sentiu muito - O rei está morto.

Desejou ter a outra mão para confortá-lo. Sabia que essa seria a parte mais difícil, ver a dor e conseguir se perdoar. Eles não sabem a verdade. Se soubessem não sentiriam tanto. O pensamento não o alentou.

- Eu sei. – disse sem precisar fingir tristeza.

- E sua mão – Kenneth ergueu os olhos para o toco e desviou-o quase que de imediato – Ah, irmão... Não deveríamos ter separado os grupos. Isso não teria acontecido.

Aramis ficou em silêncio porque aquilo era verdade.

- Mandou notícia a Andrellas? - imaginou que seria melhor caso não entrassem nos portões da cidade com o rei morto a tiracolo sem aviso.

Kenneth tinha o olhar perdido e demorou a responder. Estava perturbado demais Aramis se preocupou. Ele não apenas perdera o pai, mas também seu antecessor. Pegou-se imaginando quando aconteceria a coroação. De uma coisa sabia: Kenneth seria um rei melhor que Wodan jamais conseguira ser. Nascera para isso e sua sensibilidade tornaria a vida mais justa para o povo. Sentiu-se culpado por antecipar esses pensamentos, agora era tempo de dor. Ao menos para Kenneth caso se ignorasse seu toco latejante.

- Sim, um batedor foi mandado assim que encontramos vocês. Aquela campina estava empestada pela morte. Cadmor era uma ameaça que deveríamos ter percebido.

- Você o conhece? - Aramis ergueu o tronco, mas Kenneth o empurrou de volta com cuidado.

- Ele está morto Aramis. Minha única tristeza é não tê-lo encontrado vivo para um julgamento. Foi ele quem decepou sua mão?

Típico. Kenneth sempre era da opinião de que era necessário o maior dos guerreiros para derrubar seu irmão mais novo.

- Não. – e agora que relembrava a cena um calafrio percorreu sua espinha – Fingal e o Arlequim...

Kenneth sorriu pela primeira vez. Era um sorriso tocado pelo cansaço e dor, mas estava ali e era o bastante.

- Pegaram Fingal de jeito, mas não se preocupe. Pediu inúmeras vezes para me substituir, mas a vigília era minha. Quanto ao seu Arlequim – e como sempre quando falava no assassino sua voz assumiu um tom de censura contida – eu não entendo ao certo como continua respirando, pelo que Maedoc me contou rasgaram a sua garganta e mesmo assim foi o primeiro a se recuperar. Anda pelo acampamento com panos cobrindo o pescoço, mas vez ou outra o corte se abre e apavora os meus homens.

Estava aliviado, mas a menção ao curandeiro despertou sua atenção. Não estava lembrado do fato de que viajara em companhia do irmão e o modo como sempre percebia tudo que se passava ao redor o inquietou. Conhecia os príncipes e a princesa como ninguém e cuidava de suas enfermidades, cortes e machucões desde que nasceram. Estava também presente no nascimento de todos e seu papel na noite em que o filho natimorto e bastardo do rei trocaram de lugar ainda não estava claro. A parteira não o mencionara, mas a rainha o manteve ao lado de sua cama a noite inteira ou era isso que tinha em sua lembrança quando Aramis perguntara. E como se para confirmar a sua suspeita o tecido foi puxado para o lado e o velho curandeiro revelou-se segurando um novo unguento de ervas nas mãos treinadas em seu ofício.

- Mestre Aramis. – falou e pareceu realmente contente por vê-lo acordado.

- Maedoc, vejo que cuidou do que sobrou do meu braço.

O velho pousou o unguento sobre as cobertas e assumiu um tom sério. Seu cabelo era branco e comprido, o nariz também era longo e a testa e olhos envolvidos por rugas. Diferente dos outros curandeiros cortava a barba sempre que algum resquício surgia. Normalmente seu rosto era gentil, mas naquele dia um peso enorme parecia forçar seus ombros para frente.

- Tentei o melhor que pude, mas precisamos de mais estrutura. Eu não estou com todos meus instrumentos. Você permaneceu dois dias entre estágios de sono e delírio. – a forma como falara não indicava de que havia falado algo que o comprometesse – Ao entardecer seguimos adiante e devemos atingir Andrellas à noite. Como não tem mais febre tão alta acho que passamos do mais difícil. Agora, se me permite algumas perguntas...

- Aramis está muito debilitado Maedoc, você mesmo o disse. – suspirou Kenneth, erguendo-se da cadeira e massageando as costas – No fim todos estamos. Substitua os unguentos e bandagens e lhe dê algo para a dor. Todos vão precisar de forças para o fim do dia.

Maedoc anuiu, mas quando Kenneth deixou a tenda por não conseguir acompanhar o procedimento Aramis perguntou:

- O que você queria perguntar? Os motivos do meu irmão são gentis, mas dormi por tempo demais.

Maedoc desenrolava as bandagens sujas e parou o trabalho para lhe dar atenção. Seus olhos cinzentos estavam impassíveis e nada revelavam.

- Eu posso imaginar o caos sangrento no qual a campina se transformou Aramis. Bandidos atacando, você e seu pai tentando mantê-los afastados e a confusão da luta. Já vi feridos de muitas batalhas, mais do que eu gostaria. Vi todo tipo de ferimento, causados por espadas, flechas e setas, martelos e escudos e tantos mais. E quando digo que vi todo tipo de ferimento quero dizer que consigo imaginar de onde eles vêm... Ou de quem o causou.

- Eu não sei do que você –

- Você sabe. Vi o desespero de centenas de homens mergulhados em batalhas, mas nenhum deles tentou cortar a mão fora. Muito menos a mão de espada. Mas isso não é minha pergunta, minha pergunta é: por quê?


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Notas finais do capítulo

tcharãããããn. Avisem de possíveis erros de revisão porque isso tudo foi escrito hoje e nem sei mais direito, bjs