– Não há nada entre mim e o Sousuke! Nunca houve e nunca vai haver. Nem com ele nem com qualquer outro rapaz. – disse Kyoko com as lágrimas nos olhos – Porque eu amo-te, Ren!

Ren teve de fechar os olhos e respirar fundo antes de continuar.

– Kyoko…

Ela olhou para ele, obviamente à espera de uma resposta positiva mas Ren ainda não tinha a certeza sobre o que dizer.

Ao fim de alguns segundos em silêncio que aumentaram a incerteza de Kyoko, a única coisa que Ren disse foi:

– Tens a certeza?

…

– “Tens a certeza?” foi o que ele disse? – perguntou Kanae – O que é que aconteceu depois?

– Nada. – respondeu Kyoko – O Tora entrou e fomos almoçar.

Kyoko e Kanae estavam fechadas na casa de banho feminina da escola secundária de Quioto que tinha sido transformada em bastidores improvisados. Por isso, Kyoko estava sentada em frente ao lavatório, enquanto contava o sucedido a Kanae e uma cabeleireira compunha o seu cabelo até às pontas.

– Bem, devias ter perguntado. – continuou Kanae, em pé ao lado da amiga – E, já agora, pensei que já tinham resolvido.

– Isso foi um acordo que fizemos para ninguém descobrir. – Kyoko sentia-se mal por não ter dito nada mas, por ordem da maquilhadora, não podia mostrar nenhuma expressão até entrar em palco, por isso permanecia com a mesma expressão congelada – Ele disse que, até termos a certeza sobre isto, devíamos manter este assunto longe do público. Desculpa, Moko-san.

Kanae suspirou. Ren podia ter razão mas, se aquela era uma decisão final, não era melhor despacharem-se com o anúncio. Seria melhor do que descobrirem por outros meios, pensou Kanae, lembrando-se imediatamente de Miranda. Tinha de manter aquela mulher longe deles, por enquanto.

– Acho que devias tentar ter alguma privacidade com ele depois das gravações. – sugeriu Kanae – E devias resolver essa situação de uma vez por todas. Nem que precises de trancar a porta para não seres interrompida, percebeste?

Kyoko anuiu com a cabeça. Mas as gravações só terminavam depois de anoitecer.

– O Sho disse que ia cantar comigo. – disse Kyoko, levantando-se depois de a cabeleireira terminar – Mas vocês vão começar a gravar agora, não vão?

– Sim, mas o diretor dispensou o Sho para cantar contigo, durante uma hora. – informou Kanae – Mas deves estar nervosa por cantares na tua escola.

Kyoko sorriu, desobedecendo às ordens da maquiadora, mas não era um sorriso de alegria ou confiança. Estar naquela escola fazia-a sentir-se como a menina que uma vez tinha sido mal tratada pelas colegas. Mas estar ao lado de Sho ajudava-a a ultrapassar algum do medo.

Estava na hora de enfrentar os seus medos.

…

Enquanto olhava para todas as caras no auditório que esperavam que ela começasse a cantar, Kyoko já não tinha tanta certeza de que estava preparada para enfrentar os seus medos.

Com algum constrangimento, Kyoko ajeitou a guitarra no seu colo, o microfone à sua frente e olhou para Sho que parecia estar super relaxado. Tinha sido ele a escrever a música que estavam prestes a cantar, dedicada às suas colegas. Era claro que nunca o diriam, mas Sho estava convicto de que elas entenderiam a mensagem.

– Estás pronta? – perguntou Sho com um grande sorriso. Kyoko anuiu e começaram a cantar:

Kyoko:

Yeah, you may think that I’m a zero

But, hey, everyone you wanna be

Probably started off like me.

You may say that I’m a freak show

But, hey, give it just a little time

I bet you’re gonna change your mind.

All of the dirt you’ve been throwing my way

It ain’t so hard to take

That’s right

‘Cor I know one day you’ll be screaming my name

And I’ll just look away

That’s right.

Kyoko&Sho:

Just go ahead and hate on me and run your mouth

So everyone can hear

Hit me with the worst you got and knock me dow

Baby, I don’t care

Keep it up and soon enough you’ll figure out

You wanna be, you wanna be

A loser like me

A loser like me

Sho:

Push me up against the locker

And, hey, all I do is shake it off

I’ll get you back when I’m your boss

I’m not thinking ‘bout you haters

‘Cos, hey, I could be a superstar

I’ll see you when you wash my car

Kyoko:

All of the dirt you’ve been throwing my way

It ain’t so hard to take

That’s right

‘Cos I know one day you’ll be screaming my name

And I’ll just look away

That’s right

Kyoko&Sho:

Just go ahead and hate on me or run your mouth

So everyone can hear

Hit me with the worst you got and knock me down

Baby I don’t care

Keep it up and soon enough you’ll figure out

You wanna be, you wanna be

A loser like me

A loser like me

A loser like me…

Quando acabou, já todos cantavam “A loser like me” menos as colegas de Kyoko e Sho que tinham ido ao concerto escolar. Tal como Sho tinha pensado, elas tinham percebido qual era o objetivo da letra.

– O resto é contigo. – disse Sho, preparando-se para sair do palco – Estamos à tua espera no local combinado para as gravações.

Ren também já devia estar lá, pensou Kyoko continuando a cantar algumas das suas músicas mais bem-sucedidas.

Aquela ia ser uma das tardes mais longas da sua vida.

…

Ao entrar nos bastidores improvisados, depois de o concerto ter acabado com uma sessão de autógrafos para os alunos, Kyoko espreguiçou-se e começou a preparar-se para a personagem que teria de interpretar a seguir.

Agradeceu à maquiadora que retirou a maquiagem e lhe indicou as roupas que devia usar para as gravações. O vestido de outra Era, era difícil de vestir mas, quinze minutos depois e dez minutos com a cabeleireira, já estava pronta para interpretar a princesa que se apaixonava pelo rei, vezes e vezes sem conta.

…

Já tinham gravado cinco cenas e, quando Kyoko chegou ao local, já estavam a acabar a sexta. Se não tivesse chegado naquele momento, provavelmente teriam de esperar por ela para continuarem. Depois de a ameaça de ser substituída por uma dupla, a última coisa que Kyoko queria era desagradar o diretor ou o realizador.

Por isso, cumprimentou-os rapidamente e preparou-se para a sua primeira cena com Sho.

No entanto, como já era tarde, só tinham tempo para gravar mais duas cenas. Infelizmente, uma das cenas era entre o rei e a princesa que se tinham encontrado secretamente na floresta para terem algum tempo só para eles, sem que o seu noivo soubesse.

– Vamos passar para a próxima cena! – anunciou o diretor quando a cena da Kyoko e do Sho acabou – Vamos para o bosque. Tenham cuidado para não se perderem, meninos da cidade!

Chegaram ao local em quinze minutos. Kyoko reconheceu o local. Tinha-se perdido naquele local antes de encontrar o pequeno lado onde conhecera Kuon. Não podia haver lugar mais “perfeito” para aquela cena, pensou Kyoko ironicamente.

– Avancem. – ordenou o diretor depois dos últimos retoques.

“Ileina, de mão dada com Iori, corria para dentro da floresta. Ninguém podia saber que eles estavam ali. Nem mesmo o seu noivo, o Príncipe. Não…principalmente o Príncipe.

Quando pararam, riram-se os dois às gargalhadas. Era uma estupidez estar ali. Era uma estupidez estar apaixonada por ele, mas era o que sentia. Tudo isso, transparecia na sua cara, por isso Iori olhava para ela, apreensivamente.

– Está tudo bem? – perguntou ele – Se calhar não foi boa ideia ter-mos escapulido desta maneira.

– Não, eu estou bem. – Ileina sorriu e encostou a cabeça ao peito de Iori – Queria ver-te. Ultimamente o Príncipe mantem-me fechada no meu quarto, como se fosse um pássaro enjaulado.

– Vais voar, um dia. – murmurou Iori levantando a cabeça de Ileina para os seus olhos se encontrarem – Eu vou libertar-te, um dia.

Lentamente, Iori curvou-se e encostou os seus lábios aos dela.”

– Corta! Perfeito! – gritou o diretor, vendo Ren afastar-se imediatamente – Amanhã gravamos as cenas que levam ao assassínio da Princesa. Na segunda à noite devemos estar prontos para voltar para Tóquio, por isso descansem! Não quero erros, amanhã!

Demoraram vinte minutos a sair do bosque e a entrar no autocarro que os levaria de volta ao hotel. Kyoko já estava a transpirar quando arrancaram.

Estava quase na hora da conversa.

…

Imediatamente depois de chegarem ao hotel, Kyoko seguiu Ren até ao seu quarto.

Ele não disse nada. Já estava preparado para aquilo, tal como para a resposta negativa que tinha a certeza que ia ouvir de Kyoko.

“Tens a certeza?” fora o que lhe perguntara, mas já sabia a resposta.

Entretanto, tal como Kanae sugerira, Kyoko fechou a porta depois de ter entrado e trancou-a, tendo cuidado para ele não ouvir.

– Como eu te perguntei… - começou Ren – Tens a certeza?

– A certeza de quê? – perguntou Kyoko. Tinha-se questionado todo o dia sobre o que ele queria dizer com aquela pergunta mas, no fim de contas, não conseguira perceber.

– Disseste que me amavas. – lembrou Ren, vendo-a corar – Se me amas…se me amas verdadeiramente, tens que estar preparada para o que vem a seguir. Tens que saber no que é que te estás a meter.

– Como assim? – perguntou Kyoko, confusa.

– Se pensas que eu sou um homem paciente, estás enganada. – murmurou Ren, sentando-se no sofá – Se soubesses o que eu tenho em mente sempre que olho para ti, mudavas imediatamente de ideias. Se soubesses o que te quero fazer, fugias imediatamente.

– Eh? O que é que queres dizer com isso? – perguntou Kyoko que não percebia, sinceramente.

Ren riu-se, como se aquilo fosse extremamente engraçado. Como é que podia pensar que uma rapariga como ela perceberia uma mente como a dele. Aquela era a resposta.

– Ren. – disse Kyoko sentando-se ao lado – Eu não percebo o que é que pensas, muitas vezes. Mas sei o que sinto. Só te vou conseguir perceber se me disseres no que estás a pensar, não achas. – confessou ela – Eu só não quero…estar afastada de ti.

Ren sorriu e Kyoko sorriu também, porque percebeu que já estava tudo bem. Kanae tinha razão, só tinham que falar um com o outro para esclarecer tudo.

– Bem, se está tudo bem, eu vou regressar para o meu quarto. – anunciou Kyoko levantando-se, mas foi parada quando Ren a agarrou – O que é que se passa?

– Não vais a lado nenhum, esta noite. – disse Ren, que continuava a sorrir.