Tal como combinado, na manhã seguinte, às seis da manhã, estavam todos em frente à faculdade de Tóquio, à espera do autocarro que os levaria para Quioto. Kyoko e Ren apareceram no mesmo carro e juntaram-se ao grupo de mãos dadas.

Os agentes das respetivas estrelas tratavam de arrumar os carros das mesmas antes do autocarro chegar.

- Parece que já estou bem, outra vez. – comentou Kanae que achava aquilo tudo muito estranho, demasiado repentino e o sorriso deles demasiado falso – Como é que isso aconteceu?

- Bastou uma conversa. – respondeu Ren, olhando para Kyoko que exibia um sorriso nervoso – Não é, querida?

- Sim, sim! – confirmou Kyoko de uma maneira demasiado energética – Estamos ótimos, agora! Foi só uma briga sem importância, antes! Na verdade…

- Já chega, Kyoko. – murmurou Ren – Estás a falar alto demais.

Kyoko olhou para Ren com uma expressão apologética.

Na verdade, não estava nada bem. O que tinha acontecido na noite não resolvera nada.

…

10 Horas Antes

Kyoko sentou-se no sofá ao lado de Ren, tal como ele lhe tinha pedido.

Talvez ele quisesse pedir desculpa e, se assim fosse, ela também admitiria a sua culpa.

- Eu queria falar…sobre a discussão que tivemos no outro dia. – começou Ren sem olhar para Kyoko diretamente – Acho que não devemos publicar o fim da nossa relação.

O tema inesperado surpreendeu Kyoko e valeu-lhe uma dor no peito. Ele não queria pedir desculpa, queria proteger as suas carreiras profissionais.

- Seria um desastre se soubessem que tínhamos acabado tão pouco tempo depois de ter anunciado o nosso relacionamento. – lembrou Ren – Até encontrares alguém por quem te apaixones, devemos continuar a agir como se ainda namorássemos. Percebeste, Kyoko?

Kyoko não sabia se havia de ficar magoada ou chateada. Não se decidiu por nenhuma das duas. Já que ele agora estava a olhar para ela, à espera de uma reação, ela atirou-lhe com um sorriso arrepiante.

- Mas é claro! – exclamou ela – Afinal, não quero arruinar a minha vida profissional por causa da minha vida pessoal!

- Tinha a certeza que ias compreender. – disse Ren, mas estava surpreendido por ter sido com tanta facilidade – Devemos treinar agora, para as gravações de amanhã?

- Na verdade, estou bastante cansada. – mentiu Kyoko – Seria mau se amanhã não conseguisse levantar-me por estar exausta

- Tens razão. – concordou Ren – Queres que prepare o quarto de hóspedes?

- Acho que é melhor ficar aqui, por acaso. – contrapôs Kyoko – Não trouxe nenhum pijama para me trocar.

- Posso emprestar-te um dos meus.

- Não acho que isso seja boa ideia.

- Mas…

- Eu quero ficar aqui!!! – gritou Kyoko. Recusava-se usar mais do que tinha usado. Naquela casa, havia recordações por todo o lado que ela não desejava reviver – Acho que o Senpai também devia ir descansar.

Ren franziu as sobrancelhas, um pouco confuso com a reação de Kyoko que parecera tão compreensiva até ali mas não podia arrastá-la até ao quarto, por isso decidiu deixar aquele assunto de lado e ir dormir.

Talvez o dia de amanhã corresse melhor.

…

10 Horas Depois

O autocarro velho parou em frente à universidade, enquanto os paparazzi juntavam-se cada vez mais para tirar uma fotografia dos atores. Já que Sho chegou atrasado, eles tiveram bastantes oportunidades para isso.

- Sho, no que é que estavas a pensar!? – gritou Kyoko quando Sho entrou no autocarro – Deixaste-nos todos à espera!

- A Shoko-san estava sempre a esquecer-se de alguma coisa! – protestou Sho sentando-se à beira de Mimori já que Chiori já estava sentada ao lado de Kanae – Nunca mais saía de casa.

- Da próxima sai mais cedo. – murmurou Chiori que não gostava que Mimori se aproximasse de Sho.

- Já chega! – disse Jelly que tinha entrado pouco depois de Sho.

- Jelly-san! – surpreendida, Kyoko levantou-se – O que é que está aqui a fazer?

- Darling pediu-me especialmente para vir convosco. – respondeu Jelly corando um pouco – E o diretor concordou que eu podia gerir as maquilhadoras de Kyoto.

Na verdade, o presidente tinha-lhe pedido para estar atenta aos acontecimentos entre Kyoko e Ren, e interferir caso necessário. Ele parecia crer que Ren tivera segundos motivos para acabar a relação com Kyoko e queria descobrir quais eram. Apesar de Jelly também estar curiosa para saber, não tinha a certeza se seria correto fazer aquilo. No entanto, se Darling lhe tinha dado aquela missão, ela com certeza cumpri-la-ia.

- Também fui destacada para vos pôr em ordem durante a viajem já que o diretor vai no seu carro particular. – completou Jelly – Agora, portem-se bem. O autocarro vai partir, por isso certifiquem-se que têm os cintos postos!

- Jelly-san, isto não é uma visita de estudo da primária. – suspirou Ren com um sorriso compreensivo – Pode descansar. Vai correr tudo bem.

Ren ia sentado ao lado de Kyoko para manter as aparências. Tinha sido o que lhe dissera mas, a verdade era que era fraco. Não conseguira afastar-se dela e, por isso, pedira-lhe para continuar a fingir, o que provavelmente só a faria sofrer mais.

Sabia que estava a ser egoísta mas só precisava de algum tempo para se habituar à ideia da separação, mesmo que tivesse sido tudo um plano dele.

Tentando não dar nas vistas, Ren pegou na mão de Kyoko e entrelaçou os dedos ao dela.

Só mais um pouco, pensou Ren enquanto o autocarro começava a andar em direção a Kyoto.

…

Se Kyoko conseguisse raciocinar naquele momento, perceberia que dar as mãos num sítio onde ninguém era capaz de os ver, era um ato fútil se o objetivo era “manter as aparências”.

Mas, com a mão de Ren entrelaçada na dela, não conseguia pensar em nada.

Ele manteve-a assim durante a viajem inteira, mesmo esta ter demorado seis horas. Kyoko deu graças por não ser verão ou a sua mão estaria encharcada.

Mesmo depois de terem parado, Ren continuou a segurar a mão dela.

- Agora, por favor, façam uma fila atrás de mim. – pediu Jelly levantando-se depois de o autocarro parar completamente – Se portarem-se bem, dou-vos uma hora para passearem. Entretanto, esperem pelos vossos agentes que vêm no autocarro atrás de nós.

- Tch, ela está a tratar-nos como crianças. – protestou Sho com Mimori agarrada ao seu braço, enquanto se punha em fila para sai do autocarro – Já temos idade para saber o que fazer numa viajem destas.

Mas no local, os polícias da região já tinham montado uma barreira para manter afastados os fãs e os paparazzi que gritavam pela respetiva celebridade. Sho quis retirar o que tinha dito mas era demasiado orgulhoso.

- Será melhor ficarmos dentro do autocarro? – perguntou Ren a Kyoko.

- O Tora e o Yashiro-san não devem demorar. – disse Kyoko – Esperamos mais um bocado e depois vamos para o hotel.

Ren assim o fez mas manteve Kyoko sempre atrás de si, no caso de alguma daquelas pessoas conseguir passar a barreira e os polícias.

Não demorou muito até o segundo autocarro parar atrás do primeiro e os agentes se dirigirem apressadamente até aos seus clientes. Só quando Tora chegou até Kyoko é que Ren largou a mão dela.

- Kyoko! – gritou alguém do outro lado da barreira – Kyoko-chan!

Por alguns segundos, Kyoko olhou e reconheceu a mulher que a chamava.

- Iwasaki-san!

…

Depois de pedir aos polícias para deixar a mulher passar, Kyoko, Tora e Iwasaki tinham-se refugiado no hotel para conversarem.

Iwasaki Kameyo era uma colega de Kyoko.

Tinha andado na escola com ela e, tal como todas as outras raparigas, tinha-a tratado mal por ela ser amiga de Sho. Tora já a tinha avisado sobre aquilo. Que antigos inimigos podiam tornar-se grandes “amigos” quando a fama estava envolvida.

No entanto, Iwasaki era professora do ensino médio e Tora aconselhara-a a recebê-la já que teriam um concerto lá, mais tarde.

- Como a viajem foi antecipada, primeiro fazemos o concerto aqui e depois em Tokyo. – explicou Tora quando Kyoko perguntara porque é que ela tinha de ser simpática para Iwasaki – É só durante a nossa estadia. Depois de amanhã já vamos embora, de qualquer maneira.

E era por isso que ela estava no seu quarto a fazer companhia a Iwasaki.

- Obrigada por me receberes, Kyoko-san. – agradeceu Kameyo – Os meus alunos são enormes fãs teus.

Kameyo olhava de um lado para o outro. Kyoko sabia do que é que ela estava à procura: de Ren. É claro que nunca o diria diretamente, mas Kyoko conseguia ver nos olhos dela.

Felizmente, cada ator tinha um quarto para si próprio.

- Infelizmente, o Ren não pôde estar cá. – disse Kyoko, obtendo a atenção de Iwasaki – Como podes imaginar, ele é uma pessoa muito ocupada.

Iwasaki riu-se timidamente.

- Quem diria que a Kyouko daquela altura acabaria por namorar com uma das maiores estrelas do Japão? – insinuou duas grandes gargalhadas – Eras tão introvertida e escondias-te sempre atrás do Shotaru-kun.

Kyoko riu-se também, tentando não parecer muito falsa.

- Kyoko.

Os olhos das duas mulheres viraram-se para a porta, onde Sho esperava para ter autorização para entrar.

- Shotaro-kun! – guinchou Iwasaki que se levantou imediatamente para o ir abraçar mas parou a alguns centímetros dele quando viu Chiori atrás do rapaz – Ah! Vejo que tens companhia.

- Sim. – Sho puxou Chiori para a frente – Acho que já a deves conhecer mas, mesmo assim, deixa-me apresentar-te. Esta é a minha namorada, Chiori.

- É claro que a conheço. – Iwasaki fez uma pequena vénia a Chiori mas parecia um pouco desapontada – É um prazer conhecê-la, Amamiya-san.

- É um prazer conhecer uma amiga da Kyoko e do Sho-kun. – disse Chiori retribuindo a vénia – Agora, por favor, pode-me dar alguns minutos? Tenho algo para discutir com a minha amiga.

- Mas é claro. – Iwasaki afastou-se para Chiori passar e depois virou-se para Sho – Para dizer a verdade, nunca te imaginei com alguém como a Amamiya-san.

Sho sorriu mas decidiu não responder. Shoko-san tinha-lhe dito para ser simpático com as suas fãs e, se respondesse àquele comentário, não iria sair nada simpático.

- E o que é que tu tens feito, Kamiyo? – perguntou Sho.

- É Kameyo.

Enquanto Kameyo repreendia Sho por não se lembrar do seu nome, Chiori sentou-se em frente a Kyoko.

- Se vieste para falar comigo, porque é que trouxeste o Sho? – perguntou Kyoko, falando baixo para que Iwasaki não ouvisse.

- Na verdade, o Sho queria vir ver como é que tu estavas. – respondeu Chiori – Mas eu conheço aquele tipo de rapariga.

- Então vieste proteger o Sho. – concluiu Kyoko com um grande sorriso.

- Eu tenho que proteger o que é meu, mana! – exclamou Chiori com convicção – Mas também queria saber o que se passou entre ti e o Tsuruga-san na noite passada.

- Na verdade…

- Ah, Kyoko! – Ren pôs-se ao lado de Sho, interrompendo Kyoko e fazendo os olhos de Iwasaki brilharem – Não sabia que tinhas companhia. Talvez deva voltar mais tarde.

- Não, fica! – pediu Kyoko, levantando-se – Posso apresentar-te a minha colega de infância!

Ren olhou para Iwasaki, lembrando-se das vezes em que Kyoko aparecera a chorar porque as colegas tinham implicado com ela, mas sorriu-lhe com aquele sorriso falso que as mulheres apreciavam.

- É um prazer conhecer uma amiga da Kyoko. – disse Ren mas não retribuiu a vénia de Iwasaki – Vejo que a Chiori-san e o Sho-kun também estão aqui.

- A Chiori queria falar comigo. – informou Kyoko.

- Sim, mas já estava de saída. – disse Chiori levantando-se – Acho que devemos dar alguma privacidade a vocês os dois.

- Então posso acompanhar a Kamiyo à saída. – propôs Sho.

- É Kameyo! – corrigiu ela, batendo ao de leve no ombro de Sho – Decora o meu nome!

- Eu também vos acompanho. – disse Chiori, claramente com ciúmes.

Quando Kyoko e Ren ficaram sozinhos, o silêncio instalou-se, trazendo um sentimento de paz à sala…que Ren quebrou, logo de seguida.

- Aquela “amiga” não parecia ter vindo aqui para te ver. – apontou Ren – Aquele tipo de pessoas…

- Ren! – exclamou Kyoko, interrompendo-o – Peço imensa desculpa por aquilo que disse no outro dia! Eu sei que não tens nada com a Miranda. Depois de me teres contado a tua história como Kuon, nem sei como é que pude dizer aquilo! Deves ter ficado magoado! Peço desculpa.

- Kyoko…

- Não há nada entre mim e o Sousuke! Nunca houve e nunca vai haver. Nem com ele nem com qualquer outro rapaz. – disse Kyoko com as lágrimas nos olhos – Porque eu amo-te, Ren!

Ren teve de fechar os olhos e respirar fundo antes de continuar.

- Kyoko…