Sousuke era forte e empurrá-lo não era uma solução. Bater-lhe também não era uma. Ele estava a agarrar os seus pulsos com uma mão e o seu rosto com outra e…estava a beijá-la!!!

What the Hell!!!

O Sho e agora o Sousuke!? O que é que se passava com os rapazes com a letra “S” no princípio dos nomes!?

Os demónios que começaram a rodear Sousuke foram o que o fez recuar, chocado com a aura intensamente negra à volta de Kyoko.

- O meu namorado…é muito violento. – murmurou Kyoko. Depois a aura desvaneceu-se subitamente e as lágrimas marejaram os olhos dela fazendo o coração de Sousuke parar por alguns segundos – Oh, meu Deus! Eu beijei-te! Eu traí-o…

- O quê? – quando ela começou a soluçar ele assustou-se – Espera! A culpa não foi tua!

Ele ia aproximar-se mas decidiu não o fazer quando viu um homem de chapéu preto e óculos de sol com um sorriso ainda mais ameaçador do que a aura de Marisa.

- Bom dia, meu senhor. – começou Ren com uma voz calma e assustadora – Poderei saber porque é que a minha namorada está a chorar? Talvez tenha feito algo contra a vontade dela?

- Eu…

- Antes de me responder. – continuou Ren – Pode sair do meu caminho?

Sousuke considerou que seria melhor para o seu bem-estar fazer o que ele pedia por isso afastou-se e ficou a vê-lo a aproximar-se de Marisa.

- Hei, estás bem? – murmurou Ren abraçando-a carinhosamente – O que é que aconteceu?

- Desculpa. – disse ela entre soluços – Desculpa.

- Tem calma. – pediu Ren fazendo festinhas no cabelo dela – Está tudo bem. Podes-me dizer. Vai ficar tudo bem. – ao ver que ela continuava a soluçar e a chorar sem parar, ele suspirou – Que tal se fossemos para casa, agora? Depois de te acalmares, podemos falar.

Com cuidado, ele guiou-a para o carro, não antes de dar um olhar mortal a Sousuke com uma mensagem de “Nós depois falamos”.

Sousuke precisou de alguns momentos para conseguir raciocinar outra vez. Se a Marisa era mesmo a Kyoko então, aquele era…

Tsuruga Ren!?

…

A viagem de carro tinha sido tortuosa para Ren.

As lágrimas já tinham parado mas ele ainda conseguia ouvir os soluços baixos que ela emitia e isso dava-lhe vontade de dar a volta e esmurrar aquele rapaz.

Enquanto isso, na cabeça de Kyoko:

Kyoko’s Demons in Court!

1º Demónio: O Ren não pode saber! Se ele souber, o Sousuke pode correr perigo de vida!

2º Demónio: Estás preocupado com ele!? Deixa o cretino morrer!

3º Demónio: Sim, sim! Deixa-o morrer! Eu quero ver o sangue dele correr!

4º Demónio: Se ele morrer, já não temos que nos preocupar com a possibilidade de ele nos descobrir.

Anjo (que entretanto se escapuliu para lá para dentro): Se fizerem isso, as mãos do Ren vão ficar manchadas do sangue do Sousuke. E é errado matar uma pessoa!

3º Demónio: O que é que estás aqui a fazer!?? Desaparece!!!

1º Demónio: Não, ele pode ter razão. E o Sousuke é uma boa aquisição se as coisas não correrem bem com o Ren.

Anjo: O quê!?

4º Demónio: Porque não usar o Sho para fazer o trabalho, então? Tratávamos de dois de uma só uma vez.

3º Demónio: Sim! Deixa que o Sho o mate!

2º Demónio: É uma boa ideia.

Anjo: Esperem! Continuam a falar sobre matar!? E ao usar o Sho!? Esqueceram-se que ele agora está apaixonado pela Chiori? E o Ren é o nosso primeiro namorado! Devíamos-lhe contar a verdade!

Todos os demónios ao mesmo tempo: Vai dar uma volta!!!

1º Demónio: Sim! Podemos perder o “nosso primeiro namorado” se lhe contarmos a verdade!

4º Demónio: Os rapazes não gostam de ser enganados!

Anjo: Não! Esperem…!

2º Demónio: Shh! Ele está a olhar para nós!

1º Demónio: Sorriam. Sorriam!

- Estás bem, Kyoko? – perguntou Ren olhando para ela com uma sobrancelha levantada. Já tinha estacionado há algum tempo e ela continuava no mesmo lugar, sem nenhuma reação.

- Huh? Ah! Sim! – respondeu Kyoko imediatamente – Só estava distraída.

- Vamos entrar, então? – perguntou Ren – Quero que me contes o que aconteceu no bosque com o Sousuke.

- Ehhh!? – Kyoko tentou negar qualquer tipo de acontecimento que tivesse envolvido Sousuke mas Ren já tinha saído. O que faria agora?

Saiu depois de ele lhe abrir a porta e decidiu começar com a conversa casual.

- A senhora Fuwa pediu para irmos lá almoçar um dia destes. – disse ela, enquanto entravam em casa – Ela quer conhecer-te.

- Mas é claro que vou aceitar o convite. Também estou ansiosa para conhecê-la. – Ren sentou-se no sofá e olhou para ela – Vamos falar?

- Hm… - depois de hesitar um pouco, Kyoko juntou-se a ele no sofá – O que aconteceu, huh?

- Sim! – exclamou Ren com convicção – Podes contar-me tudo. Eu vou-te ouvir até ao fim.

Tinha a certeza que ele não ouviria até ao fim se ela lhe contasse o que tinha acontecido antes de sair pela porta para procurar Sousuke.

- O que aconteceu foi… - Kyoko olhou para as mãos entrelaçadas no seu colo – O Sousuke estava perto de descobrir que eu sou a Kyoko por isso, eu entrei em pânico e comecei a chorar.

Demons Win!

- Foi isso? – perguntou Ren, surpreendido com a resposta simples.

- Sim. – confirmou Kyoko com a culpa a preenche-la – Tu sabes como eu posso ser emotiva, às vezes.

- Sim, mas…

- Ren, posso pedir-te uma coisa? – perguntou Kyoko, interrompendo Ren. Continuou quando ele anuiu com a cabeça – Podes…uh…beijar-me?

- O quê!?

…

Desde que tinham começado a namorar, tinham sido poucos os momentos “íntimos” que eles tinham partilhado e, sempre que havia um, ela tentava esgueirar-se e ele acabava por sentir remorsos.

Por isso é que aquele pedido tinha sido recebido com tal choque que, só depois Ren percebeu que ela devia estar a dizê-lo por causa do incidente com Sousuke.

O que também revelava que não tinha sido um simples ataque de pânico que a tinha feito chorar.

Se ele a beijasse agora, tinha a certeza que ela ia arrepender-se do que tinha dito e ele teria que suportar mais remorsos.

Apetecia-lhe rir, agora.

Arrependimentos? Remorsos? Que tipo de relacionamento é que os dois tinham?

Docemente, ele emoldurou-lhe a cara com as mãos e levou os lábios à testa dela. Sentiu as sobrancelhas dela a franzirem-se mas aquela era a escolha mais acertada para o momento. Ninguém sairia magoado daquela maneira.

Entretanto, teria que descobrir o que é que Sousuke tinha feito.

- O que é que estás a fazer? – perguntou Kyoko a olhar para Ren quando ele se afastou – Não era desse tipo de beijo que eu estava a falar. – ela bateu com o indicador nos lábios – Aqui.

- Kyoko. – Ren suspirou, enquanto tentava resistir à tentação, o melhor que conseguia – Porque é que não me contas o que realmente aconteceu entre ti e o Sousuke?

- Eu já te disse! – gritou Kyoko tentando conter as lágrimas – Eu entrei em pânico!

- Não foi só isso. – insistiu Ren – Eu consigo ver na tua cara. Podes-me contar, Kyoko! Vai ficar tudo bem se me contares!

- Não! Não vai! – ela apoiou-se nos ombros dele e esticou-se – Beija-me, raios!

- Não, Kyoko! – ele empurrou-a com cuidado, certificando-se que ela caía no sofá – Diz-me o que aconteceu!? Não sou o teu namorado!? Ou talvez não confies em mim o suficiente para me contares.

- Eh?

- Bem, para dizer a verdade, tu também és a minha primeira namorada. – murmurou Ren um pouco embaraçado.

- EH!!???

- Aconteceu muita coisa quando eu era Kuon por isso nunca tive uma relação a sério. – explicou Ren seriamente – E quando comecei como Ren…sim, tive muitas mulheres ao meu lado mas nunca senti nada parecido com elas, comparado com o que sinto por ti.

- Isso é… - SIMPLESMENTE DOCE, pensou Kyoko, enquanto corava – Eu não sabia.

Bem, a parte das mulheres irritava-a um bocado -.- mas não havia nada a fazer quanto a isso.

- Hm…ok, eu vou-te contar. – decidiu Kyoko – Mas tens que me prometer que não vais fazer nada drástico.

- Eu prometo. – disse Ren com uma mão levantada.

- Se é assim… - Kyoko suspirou fundo como se estivesse-se a preparar para fazer uma cirurgia cerebral – Ele…ele…beijou-me.

Angel Ultimate Win!

- Ele beijou-te? – perguntou Ren enquanto tentava assimilar a informação.

- Sim…mas…eu acho…que a culpa não foi minha. – ela olhou para o chão – Mas, como tu disseste que eu só podia ser beijada assim uma vez se não estivesse a atuar eu…pensei que ias ficar zangado.

- Estás a falar daquele incidente com o Sho? – perguntou Ren sorrindo quando ela anuiu com a cabeça, enquanto fazia beicinho – Nessa altura, eu fiquei possuído por ciúmes. Desculpa.

- Mas…

- Não estavas mesmo a pensar que eu ia acabar contigo por alguém ter-te beijado à força, pois não? – perguntou Ren rindo intensamente – Eu nunca faria isso!

- Ren, baka!!! – ela virou a cara para o outro lado, cruzou os braços e começou a amuar – Eu estava mesmo preocupada.

- Sim, sim! – Ren esticou os braços – Vem cá.

Ela olhou para ele, pelo canto do olho, suspirou bem fundo, encolheu os ombros como se tivesse desistido e abraçou-o. Ren fechou os olhos e sorriu quando ela entrelaçou os braços à volta dele, docemente.

- Hum… - Kyoko fechou os olhos e juntou forças – Sobre aquilo que eu te pedi antes…

- Eu sei. Não faz mal. – interrompeu Ren referindo-se ao beijo – Estavas perturbada. Eu compreendo.

- Eh? – ela abriu os olhos e ficou a ponderar por alguns segundos – Está bem…?

- Ok. – Ren agarrou-a pelos ombros e afastou-a – Agora, que tal ires tirar essa roupa e essa peruca para passarmos uma tarde divertida juntos?

Subtilmente, Ren olhou para a saca de papel ao seu lado.

Depois de estar tudo concertado e pacífico, ia-lhe dar o anel e vê-la a sorrir. Aquele sorriso que fazia o seu coração saltar uma batida.

E talvez, mais tarde, fosse dar uma lição a Sousuke. Nada drástico, tal como tinha prometido a Kyoko.

Perguntou-se se um murro ou dois era algo drástico depois de ele ter beijado a sua namorada à força…?

- Sim. – Kyoko levantou-se, muito mais bem-disposta e espreguiçou-se antes de se dirigir ao quarto – Vou-me trocar, lavar a cara e já volto.

- Fico à espera!

- Podes ir comendo, se quiseres. – sugeriu Kyoko, do quarto – A comida já deve estar um bocado fria mas podes aquecê-la no micro-ondas!

- Vou pôr um prato para ti também! – gritou Ren levantando-se. Depois de guardar a saca de papel no bolso de dentro do casaco que estava pendurado no cabide, dirigiu-se para a cozinha e começou a arranjar a mesa – Trouxeste demasiada comida!

Ren sorriu, mesmo depois de protestar, pôs a comida na mesa e voltou à sala.

- Ainda não estás pronta!? – perguntou ele encostando-se ao lado da porta dela – A comida vai arrefecer outra vez!

- Vou já!

Ren suspirou, encostou a cabeça à parede e finalmente, conseguiu desfrutar da ideia de eles serem namorados, agora. Finalmente.

Nada podia mudar isso.

Ao ouvir a tranca da porta da frente a abrir-se, Ren franziu as sobrancelhas e olhou para lá. Quem poderia ser? Quem é que tinha as chaves para a casa de Kyoko para além de ela e a…

…mãe!?

- Kyoko! Cheguei! – disse ela depois de entrar e fechar a porta – Espero que estejas a preparar o jantar. Estou cansa… - as palavras desvaneceram-se quando viu Ren a olhar para ela com a mesma reação – O que é que está aqui a fazer?

Ren abriu a boca e esperou conseguir dizer alguma coisa que não prejudicasse Kyoko, no fim.