Capítulo 16 - O Babá

Tomei um longo banho, pensando na loucura que tinha feito hoje. Céus, eu tinha estaqueado uma vampira com meus lápis!! Se alguém me dissesse que meu primeiro dia de aula terminaria assim eu teria mandado internar no hospício..

Como se me adaptar à nova cidade não fosse difícil o suficiente, ainda haviam todas essas complicações.

Saí do banho, escolhi uma roupa (http://www.polyvore.com/rocknroll/set?id=40264216)=*ignorem a mochila* e sequei o cabelo. Vi que tinha quatro mensagens de voz no celular.

A primeira era do meu advogado:

"Olá Nicole, aqui é o dr.Madison. Infelizmente eu não tenho boas notícias.. Não liberaram sua emancipação por você não ter comprovação de renda própria.. Até que a herança de sua avó saia você não tem como se sustentar.." suspirei ao ouvir isso "..E como você sabe sua avó depositava a herança de seus pais em uma conta em seu nome, que você só poderia ter acesso ao completar dezoito anos, então vou tentar conseguir a liberação antes de seu aniversário, mas não há garantias.. Ligarei quando houverem novidades."

É, com certeza não era uma notícia boa.

A segunda e a terceira mensagens eram de Alison, minha melhor amiga.

"Kiki, como você está?? Não faz ideia do quanto fiquei preocupada com você!! Não te vejo desde o.. enterro.. Sei que você ficou super abalada por perder a Claire, mas não podia ter sumido desse jeito! Deixei umas mil mensagens na sua secretária, mas você não retornou minhas ligações, e só quando resolvi ir até lá apesar de todos dizendo 'ela precisa de um tempo sozinha', encontrei um corretor junto com seu advogado, que me disse que você se enfiou numa cidadezinha minúscula na Virgínia!!!" Sem que eu percebesse algumas lágrimas escorriam por meu rosto ao ouvir a mensagem de minha amiga histérica. Estava morrendo de saudades dela, mas ainda não estava pronta para contar do meu 'exílio'. Deixei um sorriso escapar enquanto a ouvia me dando uma bronca. "Faz alguma ideia da minha cara quando ele disse isso?? Do quanto eu tive que me segurar pra não dar um piti daqueles?? Você me abandonou aqui sem dizer nada! E foi pra Virgínia!!"Sua voz agora estava chorosa. "Não se deu ao trabalho nem de se despedir de mim e..*funga*..eu achei que depois de todos esses anos eu merecia pelo menos um pingo de consideração..*funga*..mas você não me disse nada e nem pensou em ligar pra velha Alison pra dizer algo do tipo: Hey, Allie, comprei aquele esmalte novo que você adorou; ah, e falando nisso eu me mudei pra Virgínia!!" Pelo visto ela tinha levado a mudança pra Virgínia pro lado pessoal. " Da próxima vez que você fizer uma coisa dessas comi.." O fone ficou mudo. Ela tinha gastado todo o tempo da mensagem, isso explicava a segunda. Suspirei ainda sentindo uma pontada de alívio por ouvir sua voz. Éramos amigas desde que me mudei pra Flórida.

"Pois é, eles cortaram a mensagem porque era muito grande.. você sabe como é. Mas como eu estava dizendo, eu não fui a única a assustar com essa história, mocinha! Hoje na escola foi um caos! Todos ficaram chocados por saber que você foi embora, e ainda por cima sem se despedir da gente!! Só queria te avisar que seu email deve ter chegado no limite por causa das mensagens de toda a galera.. Todos se importam com você, lembra? Mas a reação mais estranha foi a do Eric.." Estremeci ao ouvir isso. De todas as pessoas que eu deixei na Flórida, Eric era o que devia estar mais irritado comigo, meu ex-namorado. "Sei que as coisas andavam super tensas entre vocês e tudo mais, mas amiga, tenho que te dizer, nunca vi o garoto tão irritado. Assim que todos ficaram sabendo foram perguntar pra ele o que ele sabia sobre sua mudança, e ele não achou muito legal o fato de ser o último a ficar sabendo.. Mas esquece ele, o importante é que se você não retornar a ligação em menos de 24 horas, eu e o FBI vamos até esse minúsculo buraco sem praia que você chama de Mystic Falls e te trazer de volta, ouviu?? Um beijo da sua amiga que pode conseguir um helicópitero pra te buscar! Me liga!!!"

A loira era completamente louca. Balencei a cabeça ao terminar de ouvir as mensagens. Devia estar furiosa comigo, mas eu sabia que ela só estava com saudades, assim como eu. Ela já sabia que Elena e Jeremy eram praticamente meus únicos parentes agora. Vi que a quarta mensagem era de Eric, mas não estava com cabeça pra isso agora, estava feliz de ter recebido as mensagens de Alison. Coloquei o celular no bolso do short e desci para comer alguma coisa.

A casa estava silenciosa, fui até a cozinha e abri um dos armários. Tinha um pacote de biscoitos no alto, estiquei o braço e fiquei na ponta dos pés para tentar alcançar, quando senti uma presença atrás de mim. Ah não, Katherine vai me matar, pensei sentindo um calafrio. Fechei os olhos e me virei lentamente.

– Precisa de ajuda, Nikki? - Disse a voz rouca pertinho de mim. Abri os olhos e respirei aliviada ao ver Damon.

– Você me assustou. - Mordi o lábio meio constrangida. - Eu.. achei que fosse.. Katherine.

Ele abriu aquele meio sorriso de tirar o fôlego.

Se aproximou mais de mim, minhas costas batendo na bancada atrás de mim. Ele esticou o braço, e antes que eu dissesse alguma coisa realmente idiota, ele me entregou o pacote de biscoitos que eu não alcancei.

– Obrigada. - Segurei o pacote com as duas mãos, sem saber exatamente o que fazer, já que ele continuou lá parado na minha frente, à centímetros de mim. - Onde estão os outros?

– Jenna foi fazer compras, e o casalzinho meloso do ano foi atrás de Bonnie para procurar um feitiço de proteção ou sei lá o quê pra você. E eu fiquei de babá. - Disse com um sorriso zombeiro.

– Eu não preciso de babá. - Disse o encarando de volta me fazendo de irritada.

– Ah, você por acaso anda com um estoque de lápis escondidos no sutiã? - Perguntou com uma sombrancelha erguida e se segurando para não rir.

– Eu sei me defender. Dei conta de Katherine essa manhã.

– É mesmo? - Disse se aproximando ainda mais, os sinais de humor sumindo de seu rosto e me olhando de um jeito tão intenso que não consegui desviar o olhar. Seu quadril encostado ao meu, me apertando ainda mais contra a bancada, mas sem me machucar. Apoiou as mãos na bancada, uma de cada lado do meu corpo. - Então quer que eu vá embora? - Seu rosto à milímetros do meu, o calor de seu corpo aquecendo o meu. Meus lábios se separaram automaticamente, enquanto ele se aproximava e eu sentia seu hálito quente em meu rosto. De repente senti uma vibração em meu quadril.

"You know that I'm a crazy bitch/ I do what I want when I feel like it/ All I wanna do is lose control"

[Você sabe que eu sou uma vadia louca/ Eu faço o que quero quando sinto vontade/Tudo o que eu quero fazer é perder o controle] - (Smile - Avril Lavigne)

O celular começou a tocar no pior momento possível, e com a música mais inapropriada possível também. Eu tinha que mudar esse toque urgente!

Com o susto ele se separou de mim, e deu um pigarro sem-graça. Eu devia estar mais vermelha que tudo nesse mundo. Coloquei o pacote de biscoito (que eu tinha esquecido que ainda estava segurando) e peguei o celular no bolso de trás. No visor aparecia uma foto da loira, usando óculos escuros gigantes, dando um sorriso debochado e fazendo 'joinha'. *

– E-eu.. é melhor eu atender.. - Eu disse sem encará-lo. Eu ainda arfava um pouco e sentia que meu coração ia sair pela garganta à qualquer momento.

– Alô? - Atendi indo em direção à sala, me sentando no braço do sofá.

"Alô? Kiki, você atendeu!! Já tava achando que ia ter que deixar outra mensagem!"

– Porque eu não atenderia? - Respondi forçando uma risadinha que saiu engasgada e extremamente falsa.

"Talvez tivesse coisa melhor pra fazer aí.. Te deixei duas mensagens!"

– Ah, eu sei, acabei de ouví-las, Allie.

"E como você está?"

– Eu estou.. ótima! Quero dizer, não precisa se preocupar comigo. - Eu tentava me concentrar na ligação, mas Damon veio atrás de mim até a sala, e com um sorriso brincalhão se jogou no sofá em que eu estava, esticando as pernas e com a cabeça apoiada praticamente no meu colo, que ainda estava no braço do sofá.

"Que barulho foi esse? Tem alguém aí com você, Kiki?"

Disse um 'sai ' silencioso para Damon, mais ele me ignorou e colocou os braços atrás da cabeça, numa posse relaxada. Pela sua expressão estava óbvio que ele estava adorando me provocar.

"Kiki, você está aí? Perguntei se tem alguém aí com você."

– O quê? Ah, não.. Quer dizer, mais ou menos.. sim. - Lutava pra me prestar atenção em Alison, mas Damon ria baixinho de meu embaraço, me desconcentrando mais.

"Você está estranha.. É um cara, não é? Como você é rápida!" Disse ela rindo.

– Alison, não é um cara! - Damon fez uma cara de extremamente ofendido, e eu me corrigi. - Quero dizer, é um cara, mas não é nada do que você está pensando!

"Quando você diz isso é porque é exatamente o que estou pensando! Qual o nome dele?"

– Você é louca, não tem cara nenhum, e pra quê vou te dizer o nome? Pra ficar me irritando depois?

"Me conta vaaaiiii!"

– Não vou contar, e.. PÁRA DAMON!! - Gritei sem querer quando ele me levantou pela cintura e me sentou do outro lado do sofá, ao lado dele. Pra ele parecia que eu não pesava mais que um travesseiro.

– Pra você ficar mais confortável. - Disse rindo da minha reação 'exagerada'.

"Hum, então não só o nome dele é DAMON como também está bem aí do lado ouvindo a conversa, hein.."

– Alison, ele não está ouvindo a conver.. - Ele sussurrou um 'culpado' e eu grunhi de frustração. - Sabe de uma coisa, eu te ligo depois, Allie. Beijoos!

"Beijos pegadora!" Ainda pude ouvir a risada zombeira dela antes de desligar.

Suspirei e olhei para o moreno ao meu lado, com uma expressão de repreensão.

– Que foi? - Perguntou se fazendo de inocente. Balancei a cabeça com reprovação, mas ele só piscou os olhos com cara de desentendido. Me levantei para pegar meu biscoito que tinha ficado na cozinha.

– Você parece uma criança! - Eu disse enquanto passava por trás do sofá. Ele segurou meu pulso me impedindo.

– Eu não estava ouvindo a conversa, sabe.. - Disse me soltando.

– Não mesmo? - Perguntei já chegando à cozinha.

– Eu jamais faria uma coisa dessas.. pegadora! - Disse aparecendo bem atrás de mim e se dobrando de rir na maior cara-de-pau. Roubou meu biscoito e saiu correndo.

– Você me paga! - Eu disse correndo atrás dele em volta do sofá.

– Não se vingaria do seu babá, não é mesmo?

– Me provoque. - Ameacei ainda tentando pegá-lo. Ele sempre se mantinha paralelo a mim, de modo que eu não o alcançasse.

– Eu du-vi-do. - Disse balançando o pacote na altura do meu rosto.

Cerrei os olhos e respirei fundo. Corri pegando impulso e pulei por cima do sofá, me segurando em suas costas, e com as pernas em volta de sua cintura. Ele ria estendendo o braço e eu me segurei com um braço e tentava alcançar o pacote com o outro, mas obviamente meu braço era mais curto.

– Me devolve!!! - Eu dizia esticando o braço ao máximo, mas não adiantava.

– Você vai é cair desse jeito, Nikki! - Me alertou enquanto andava em volta do sofá.

– Posso até cair, mas não sem lutar antes! - Eu disse decidida, fazendo-o rir mais ainda e eu acabei rindo junto da infantilidade da cena. Eu estava pendurada em suas costas disposta a cair de bunda só por um pacote de biscoitos.

– Nunca vai alcançar!

– Não se você continuar andando em círculos assim!! - Reclamei já ficando tonta. Com a outra mão tapei seus olhos, tentando fazê-lo parar.

O problema foi quando ele tropeçou no tapete e caiu no sofá, me levando junto. Coitado, caiu de cara, enquanto eu continuava em suas costas. O pacote que estava em suas mãos foi esmagado, explodindo e voaram farelos para todos os cantos do sofá e do tapete, até em mim!

Ele conseguiu se virar ainda me mantendo em cima, e eu comecei a rir de sua cara toda vermelha e esfarelada.

– Não é justo, você tampou meus olhos!!

– Não é justo você ter os braços maiores e pegar a minha comida! E além do mais, você é um vampiro, devia ser imune a tropeços! - Eu disse ainda rindo. Ele fez uma cara muito engraçada, considerando o que eu disse.

– Talvez eu esteja ficando velho. - Disse por fim rindo também. Ele ainda me segurava pela cintura, e só quando paramos de rir percebi o qual próximos estávamos, de novo. Na verdade eu estava literalmente deitada em cima dele.

Ele passou uma das mãos em meu rosto, tirando alguns farelos com o polegar.

– Parece que você vai ter que lavar o cabelo de novo..

– Você também.. - Eu disse tentando tirar um pouco do cabelo dele e depois do rosto, mas não era tão fácil.

Ele ainda estava com a mão em meu rosto, e a minha no dele. Ele foi se aproximando, e em vez de resistir, só fechei os olhos. Seus lábios tocaram os meus e durante o beijo eu me esqueci de tudo ao meu redor, como se o resto não importasse. Eu já estava sem ar, mas não liguei, e ele também não. Minhas mãos passeavam por seu cabelo e as dele apertavam e acariciavam minha cintura e as costas. Era uma sensação indescritível.

– O que está acontecendo aqui??!! - Disse uma voz irritada e próxima à nós.

Ah, que ótimo.. platéia!