Jane Nowater estava sentada em seu lugar de costume naquela sala de primeiro ano: na frente. Ela enrolava uma mecha de seu longo, negro e liso cabelo, olhando com seus olhos azuis-marinhos para a folha em sua mesa, com a parte final de lápis grafite verde na boca.

  Harry Goodair, um garoto maroto de cabelos castanhos e olhos absurdamente verdes, estava de pé no fundo da sala, com seus amigos e amigas que, na opinião de Jane, só tinham galinhas e vacas (ela os apelidou de “turma da fazenda”). Ele conversava animadamente:

  - Finalmente o colegial, meus amigos! – comemorava.

  - Finalmente mesmo! Não temos mais que ficar com os pirralhos! – comemorou a líder de torcida, Tifany Jade.

  Ao ouvir este comentário, Jane revirou os olhos...:

  - E quem vejo! – falou Harry, aumentando a voz – Nowater!

  - Cala essa sua boca, Goodair! – respondeu friamente – ela já foi muito visitada por outras, além do mais, sinto o seu bafo daqui!

  Todos riram do fora que Harry levou. Este, por outro lado, ficou furioso e foi até Jane dar um for nela... Então, o professor chegou, e Harry sentou logo atrás de Jane.

  Ele fumegava de raiva, mesmo brincando com o cabelo da garota, e fazendo com ela virasse toda hora pedindo para Harry parar, o que fazia com que soltasse  o doce cheiro de amoras que vinham de leve perfume... Coisa que deixava o garoto atordoado por alguns segundos.

  Todas as garotas o desejavam, e ele tinha a delirante ideia de que ela também... Mas estava errado, muito errado, Jane Nowater queria ver a morte dele – ainda por cima de camarote -, ela o odiava, mas era obrigada a vê-lo todo santo dia. Além de estarem na mesma classe na escola, moravam no mesmo condômino, ou seja, nem em sua própria casa ela estava livre.

  Na hora do almoço, ela sentou sozinha, esperando sua amiga, Kelly Hunther, sua amiga loira dos olhos negros, que estava ausente no momento pois, estava com seu irmão Denis Hunther, amigo de Harry.

  Falando em Harry, ele estava se aproximando lentamente de Jane, que não percebia sua presença (ainda bem para ele). Quando chegou do lado da mesa da morena, ela ainda ignorava a presença dele. Harry sentou ao seu lado:

  - O que você quer, Goodair? – perguntou ainda concentrada na comida.

  - Como sabe que era eu?

  - O seu bafo – ela disse e riu logo depois.

  - Ou seria a sua incontrolável paixão por mim? – ele disse, sedutor.

  - Ou seria meu sensor contra idiotas, metidos e arrogantes? – perguntou, se virando sorrindo para ele.

  - Vai dizer que não sentiu minha falta!

  - Claro que não! Mesmo que sentisse, eu saberia que veria todo dia essa sua cara feia no condomínio, e não me preocuparia com a escola – sorriu debochada.

  - Nossa! Que impressionante – brincou – tem até veneno escorrendo da sua boca! – e passou o dedo nos lábios da morena.

  - Como ousa abusado?! – perguntou dando-lhe um tapa.

  - Ora, vá dizer que não gostou.

  - Não gostei, ou melhor, odiei!

  - Te vejo na sala, sereia – e se afastou antes que ela pudesse ter qualquer ação.

  Kelly se sentou com a amiga que desabafou, xingando o Harry de vários nomes. Quando o sinal bateu, as duas foram juntas para as ultimas aulas do dia.

  Jane e Harry sempre iam a pé para casa, obviamente esse caminho não era calmo:

  - Por que o santo me chamou de sereia? – ela perguntou, calma... Ou quase.

  - Pois seus olhos me lembram o mar... – respondeu, todo “fofo”.

  - Pensava que você sentia enjôo ao ir ao mar – debochou, sorrindo.

  - Somente quando é o dos seus olhos – aproveitou a situação para tirar com a cara dela, mesmo mentindo.

  - Ah, cala essa boca!

  Antes que ele respondesse, chegaram ao condomínio:

  - Te vejo mais tarde, sereia.

  Ela foi batendo os pés para sua casa e entrou em seu quarto, batendo a porta... Ele a tirava do sério!