POV. Edmundo.

Foi meio complicado para as empregadas do Tisroc arrumarem quartos para todos os recém-chegados. Aquilo era realmente incrível! Ter todos eles ali era inexplicável e nos davam mais esperanças de vitória. Pedro e eu quase caímos para trás ao ver nosso primo Eustáquio. Nunca imaginávamos que ele também era um amigo de Narnia, logo ele que vivia tirando sarro de mim e de meus irmãos por acreditar nesse mundo, agora olha só, como os mundos dão voltas! É complexo demais tentar entender o que aconteceu, como eles, muitos que já morreram e outros que ainda nem nasceram, podiam estar aqui conosco. É por essas e outras que eu amo esse lugar!

Agora eu estava indo para a sala de guerra do castelo calormano. Não fora preciso explicar para nossas visitas toda a história da profecia da criança escolhida e tudo o mais eles disseram que Aslam já os informara dos últimos acontecimentos o que fora um alívio, por que, falando sério, não aguentávamos mais toda vez ter que explicar tudo de novo.

Quando cheguei à reunião, Pedro, Caspian, Tisroc e Professor já estavam. Logo depois chegaram Rillian, Tirian, Cor e Franco. Reis estavam ali para decidir o próximo passo. Para onde fugiríamos do exercito de Jadis, ou se ficaríamos por aqui, o que eu acho meio improvável já que ninguém quer que Tashbaan sofra um ataque. Um bom tempo se seguiu até que alguma sugestão fosse levada mais adiante do que apenas vista com suas possibilidades.

- Um acampamento? – perguntou Rillian.

- Sim – respondeu o Tisroc, quem havia sugerido. – Resolveríamos dois problemas: tiraríamos Tashbaan da mira inimiga e ao mesmo tempo estaremos seguros e prontos para um ataque. O que você acha Pedro?

- Eu concordo plenamente. – disse meu irmão. – Caspian?

- Eu também concordo. – disse o mesmo.

- Nem sabemos como agradecer seu auxilio... – começou Pedro. O Tisroc riu.

- Minha recompensa será lutar pela causa certa Rei Pedro. E, também, eu jamais poderia negar auxilio a amigos, como Aller fez.

- Ele não merece o titulo de rei. O que ele fez e está fazendo não tem nome. – falou Cor. Franco assentiu.

- Quem em sã consciência se uniria à Jadis...? – murmurou ele. Alguns segundos de silêncio.

- Então está decidido. – Tisroc voltou a falar. – Levaremos boa parte do exercito calormano para o acampamento em Narnia. Partiremos amanhã mesmo.

Todos concordaram. Eu fui dormir enquanto Pedro e Caspian ficaram fazendo todos os planejamentos necessários para o dia seguinte.

POV. Ranyelle.

- Não estou com sono. – falei novamente para minha irmã. – Quero esperar a reunião acabar para saber o que decidiram. – Voltei a olhar pela varanda enquanto Renere se jogava em minha cama.

- Tudo bem, você quem sabe. – ela suspirou. – Mudando de assunto... Como você anda?

- Com os pés.

- Engraçadinha. Refiro-me ao Rei Pedro.

- Ah, ele também anda com os pés.

Ela me jogou um travesseiro e eu ri.

- Sério, Rany, pode ir me contando tudinho. – ela sentou.

- Tudo o que exatamente?

- Ora, se estão juntos ou não... Essas coisas. – deu de ombros. Estranho... Renere nunca se interessou assim por mim ou pelo que eu fazia...

- Bom... Nada oficial ainda. – respondi fechando as portas da varanda e sentando em uma poltrona.

- Depois de todo esse tempo ainda não tem nada oficial?! – surpreendeu-se ela. Suspirei.

- Aconteceram muitas coisas nesse tempo, Rê, Pedro não tem tempo para pensar nessas coisas por enquanto. – falei. Ela jogou-se sobre os travesseiros. – Por que você está tão feliz...?

Um sorriso moldou-se em seus lábios.

- Acho que Edmundo está me dando uma segunda chance!

- Vai com calma, Renere, não faz muito tempo que a Jay... Você sabe...

Ela bufou revirando os olhos.

- Ainda não consigo entender como ele pôde gostar mais dela do que de mim. Eu sou uma princesa e ela só um soldado... – debochou. – Além disso, ela morreu. Está na hora de ele superar. – um sorriso torto se formou em seus lábios. – E eu estou aqui para ajuda-lo.

POV. Julian.

Está. Definitivamente. Insuportável! Eu não aguento mais o silêncio de Lucia, ela age como se eu não existisse, isso está doendo muito e eu nem sei por que!

Não suporto a ideia de vê-la cada vez mais longe. Minha cabeça dói, meu coração lateja e meus olhos ardem todo momento em que ela me ignora.

Eu vagava pelo castelo da Calormania, indiferente ao mundo a minha volta. Espante-me com a porta de uma das salas sendo aberta. De lá saíram Caspian, Pedro, Franco, Rillian, Tirian, Edmundo, Professor e o Tisroc. Eles não deram por minha presença e logo se retiraram para seus quartos. Excerto Tirian.

- Por que não estava na reunião? – perguntou-me ele.

- Não sou rei... – lembrei. Ele uniu as sobrancelhas.

- E qual o problema? Digory também não é Rei.

- Mas ele é Lorde, eu não... Ah, quer saber, Tirian, eu não estou é com cabeça para reuniões!

Ele riu.

- Você não está com cabeça pra nada, Julian, nem para arranjar desculpas convincentes. – dessa eu tive que rir.

- É... Mas, o que foi decidido?

- Iremos para bem longe de Tashbaan, um acampamento.

- Humm... E onde fica?

- Em Narnia.

- Humm... Bom, bom. – minha mente já se perdia de novo.

 - Eu acho que sei o que faz você ficar tão longe assim. – disse ele mudando de assunto.

- E o que seria?

- Não “o que” e sim “quem”. – corrigiu ele. Suspirei. – A Rainha Lucia está te dando o maior gelo, não é? – ele prendeu o riso, cruzando os braços.

- É...

- Por que ela está fazendo isso?

- Eu sei lá! Ela deve estar tendo algum surto de birra! – reclamei. Tirian me encarou. Bufei. – Tá, tá bem. É que a Rany falou algo para mim que deixou Lucia intrigada quando estávamos no navio vindo para cá, aí a Lucia veio me fazendo perguntas que não deveria como não respondi ela decidiu que só volta a falar comigo quando eu responder vê se pode?! – falei tudo rápido, irritado.

- E que perguntas seriam essas que ela não deveria fazer?

Fiquei em silêncio por alguns segundos.

- Perguntas para a qual eu não tenho respostas. – sussurrei.

- Tem sim.

- Tirian, se eu soubesse a resposta, já tinha dito a ela e acabado de vez com essa situação. – falei.

- Ou a resposta está bem debaixo do seu nariz e você não quer falar por que tem medo da reação dela. – falou pausadamente. Parei.

- Como assim?

- Arght! Julian abra os olhos! – pediu ele. – A resposta está diante deles, garanto como todos já viram, mas você se mantem cego.

- Se você sabe a resposta por que não me diz?

- Quer que eu diga? Está bem. Seguinte: você... Está... Apaixonado.

Eu ri.

- Tá de piada, Tirian?

- Não, você quem estar. – disse ele, sério. – É o único que ainda não percebeu isso.

- Não, não estou.

- Está sim, se não estivesse, não estaria se remoendo pelos cantos sofrendo com a indiferença dela. – falou o óbvio. Será que ele tinha razão...?

- Não...

- Sim...

- Sim?

- Sim. – ele me olhava com as sobrancelhas erguidas.

- O que eu faço então?

- Vai atrás dela e fala dos seus sentimentos.

- É fácil para você falar, não é você mesmo que vai olhar nos olhos dela, se perder naquela imensidão verde azulada, ou azul-esverdeada, sentir as pernas tremerem, o coração palpitar, a voz sumir...

Ele deu um riso de compreensão.

- Eu sei que não deve ser fácil, mas a pior luta é aquela que não se enfrenta. Vai lá, tenta, não custa nada.

- Você tem razão.

Então eu deixei Tirian e fui ao encontro de Lucia.

POV. Lucia.

- Lucia, não acha que está exagerando? – perguntou Susana.

- Claro que não. Se Julian quiser que eu volte a falar com ele, vai ter que falar comigo primeiro, respondendo a pergunta que lhe fiz. – respondi. Ela balançou a cabeça negativamente com um sorriso nos rosto. Silêncio. – Susana? – chamei. – O que você acha...? Digo, eu devo quebrar o gelo?

- Ele está quase perdendo a cabeça com seu silêncio, Lucia. Acho que no fundo isso não é muito saudável, sabe... Ele pode se aborrecer e... Sei lá... Se houver alguma coisa, talvez, como ainda está no começo, pode terminar ai mesmo. – disse, mas eu percebi que ela não estava muito focada na nossa conversa. Inclinei a cabeça para a esquerda.

- Onde está sua mente, Susana? – questionei. – Você... Tem medo que Rabadash volte... Não é? – ela deu de ombros.

- No fundo eu sempre tive. – riu um pouco.

- Acho que ele não vai vir novamente. Ele viu como Caspian reagiu e provavelmente não quer morrer de novo. - eu ri. Mais silêncio.

- Ainda nem acredito que estão todos aqui. – Susana puxou assunto.

- É incrível não é?! Nossa... Nem dá para acreditar!  - eu sorri. – É... Tão magico! – nós rimos. Tudo neste mundo era magico no fim das contas. A porta do quarto abriu e Caspian entrou, levantei. – Bom eu já vou indo. Boa noite, Su, boa noite, Caspian. – caminhei para a porta.

- Boa noite, Lucia. – responderam os dois.

Caminhei para meu quarto com a mente nas nuvens, não prestando atenção por onde andava nem por quem passava. Um impacto forte fez-me cambalear para trás. Olhei para cima.

- Desculpe majestade! – era Rillian. Eu sorri sem jeito.

- Tudo bem e... Pode me chamar de Lucia, afinal você também é Rei então somos... Igualmente majestosos. – falei. Nós rimos.

- Desculpe Lucia. – corrigiu ele com um sorriso divertido.

 - Desculpado. – nós rimos um pouco. – Enfim, a reunião já acabou? – puxei assunto, mas na verdade, eu já sabia a resposta.

- Já... Nós decidimos sair de Tashbaan. – ele respondeu a pergunta que eu iria fazer logo em seguida.

- Mas... Se sairmos de Tashbaan, para onde vamos? – senti minhas sobrancelhas unidas.

- Bom, partiremos amanhã mesmo com o exercito calormano para um acampamento, assim deixamos a cidade e as pessoas a salvo. – contou.

- É um bom plano. – observei. – E onde fica esse acampamento?

- Pelo que sei, é em Narnia, no bosque.

- Hum...

- Enfrentaremos grandes perigos não importa onde formos, no fim das contas. – ele deu de ombros. – Nada melhor do que mais uma aventura! – sorriu e eu o acompanhei. Um silencio reinou entre nós, até que Rillian pigarreou ao olhar para trás de mim. Olhei para lá e vi Julian se aproximando, com o rosto sério, encarando Rillian. – Julian. – Cumprimentou.

- Rei Rillian. – cumprimentou o outro, sério, parando ao meu lado.

- Pode me chamar só de Rillian. – sorriu ele. – Mesmo não tendo a desculpa do “igualmente majestosos” – ele riu lançando um olhar divertido para mim e eu sorri. Foi tão forte que eu pude sentir o calor do sague de Julian fervendo ao meu lado.

- Tudo bem. – concordou o mesmo, depois de alguns segundos.

- Então... – Rillian quebrou o silêncio depois de alguns quietos segundos. – Julian, nós iremos partir amanhã para...

- Um acampamento.  – cortou Julian, ainda sério. – Já me informei com Tirian.

Rillian assentiu percebendo a irritação que Julian não tentava esconder.

- Então, até amanhã. Boa noite, Julian. – olhou com a mesma seriedade para ele como a que ele lhe olhava. Depois lançou um olhar completamente diferente para mim, um olhar doce acompanhado de um leve sorriso. – Boa noite, Lucia.

- Boa noite, Rillian. – sorri de volta, então o mesmo seguiu pelo corredor deixando Julian e eu a sós. Meu sorriso permaneceu até ele sumir na curva do corredor. Suspirei e dei dois passos em direção ao meu quarto, como se estivesse sozinha. Julian segurou meu braço delicadamente, impedindo-me de continuar e fazendo-me olha-lo nos olhos.

- Lucia, por favor, pare de me ignorar, eu não aguento mais isso! – disse ele com um olhar suplicante. Eu ainda não estava segura se devia ou não quebrar o gelo, mas aquele olhar e o tom de voz suplicante me fizeram quebra-lo.

- O que você quer Julian? – perguntei depois de um suspiro. Um sorriso se moldou em seus lábios e seus olhos brilharam. Ele me abraçou, deixando-me surpresa.

- Obrigado, obrigado, obrigado! – comemorava ele.

- Você ainda não respondeu minha pergunta. – lembrei.

 - Qual delas?

 - O que você quer? – ergui as sobrancelhas. Ele pareceu aliviado.

- Apenas ouvir a sua voz...