- Querida, acorda! – Atena acordava a filha, que estava em um sono profundo.

- Só mais cinco minutinhos. – Annabeth falava enquanto se virava para o lado contrário da mãe.

- Não! Eu sei o quanto você é enrolada, Annabeth, e você só tem meia hora para se arrumar.

- Hein? – Ao escutar que só tinha meia hora para se aprontar, Annabeth levantou correndo e foi direto para o banheiro. – Mãe, se o Percy chegar, deixa ele entrar e pede pra esperar!

Annabeth nunca tomou um banho tão rápido em toda a sua vida. Ela colocou a bota e uma calça mais justa desta vez, ela achava que isso poderia diminuir o frio. Colocou um casaco e uma toca, e correu para fora do quarto. Percy estava sentado na sala, esperando-a.

- Isso é porque não ia enrolar.

- Desculpa, acordei atrasada! – Ela correu até a cozinha e pegou sua mochila junto com uma maçã. – Tchau mãe!

- Juízo! – Atena começou a falar em português, para Percy não entender. – Seu amigo é bonito, você deveria investir nele, se é que me entende.

- Mãe! Já pedi pra você não fazer isso! – Reclamou, totalmente sem graça.

- É por isso que eu faço. Tenha um bom dia.

- Implicante. – Falou ao sair da cozinha.

- O que sua mãe falou? – Perguntou Percy, curioso.

- Ela falou... Falou que... – Annabeth engoliu seco, não conseguia pensar em nenhuma desculpa. – Falou que estávamos atrasados, vamos!

- Hey! – Exclamou Percy, que estava sendo puxado para fora da casa naquele instante.

- Anda logo! – Annabeth soltou o braço de Percy, mas mesmo assim, continuou andando na frente.

- Espera! – Ele correu para poder acompanhá-la – Porque tanta pressa?

- Nada não...

- Sei. Duvido que sua mãe falou isso. Anda, fala! O que ela falou Anny? – Percy insistia.

- Não vou falar. – Ela colocou a mão no rosto para disfarçar o seu nervoso. – Vamos mudar de assunto?

- Eu vou descobrir depois! – Percy olhou para o lado e viu que Annabeth estava meio distraída e não percebeu que tinha uma bicicleta vindo em sua direção. – Anny, cuidado!

Quando Annabeth foi olhar para frente, já era tarde demais. Tinha certeza que teria sido atropelada se Percy não a tivesse puxado, o que fez ambos caírem no chão. Annabeth levantou-se rapidamente, sem graça. Diferente de Percy, que ficou rindo sentado no chão.

- O melhor foi sua cara!

- Não foi engraçado Percy! – Annabeth estava constrangida.

- Relaxa, só estou brincando. – Ele levantou-se e continuou andando, fingindo que nada tivesse acontecido. Olhou para Annabeth e sorriu ao perceber que ela estava parada no mesmo lugar olhando para o chão. – Vem, iremos nos atrasar!

- Huh! – Ela correu até Percy, mas sem olhar diretamente para ele. – Desculpe-me.

- Relaxa! Mas, eu provei que sou o cara?

- Sim! O que quer que eu faça...? – Perguntou, com receio.

- Não irei pedir agora, vou deixar guardado pra depois. Combinado?

- Okay. – Annabeth olhou para frente e percebeu que eles haviam chegado. Mas tinha uma surpresa maior, a ruiva do dia anterior estava na porta com quatro amigas. – Ih, fudeu.

- Relaxa, ela não vai fazer nada com você. – Percy passou o braço sobre o ombro de Annabeth. – Eae, Elizabeth.

- Percy, o que significa isso? O que você está fazendo com essa...

- Elizabeth! – Percy interrompeu. – O que conversamos ontem?!

- Desculpe-me... – Ela olhou para Annabeth. – Bom dia, querida.

- Bom dia. – Annabeth se soltou de Percy e foi andando em direção à sala de aula. – Nos vemos na aula, Percy.

- Amorzinho! – A ruiva abraçava Percy, se aproximando para poder beijá-lo.

- Vê se desgruda! – Percy recusou o beijo e foi andando em direção à sala, chutando tudo que via pela frente.

- Essa...! Você! – Elizabeth apontou para sua amiga que estava ali. – Você é nerd de computação, quero que descubra tudo sobre essa Annabeth Chase!

- Mas, como?

- Procura no facebook, todo mundo tem um hoje em dia, sei lá! Se vira! – Ela finalizava e saia batendo o pé, revoltada.

- Essa tal de Annabeth não deu sorte. – Falou a amiga para outra.

- Não mesmo.

A primeira aula era espanhol, o que era fácil para Annabeth, já que ela sabia o básico. Como sempre, ela foi para o fundão, deixando uma carteira atrás dela vazia para Percy, que não se sabia onde estava naquele momento. Abriu o seu caderno e começou a escrever bobagens nele, nada de interessante. Lembrou-se das aulas que passava com Sofia trocando bilhetinhos e levando advertência por conta disto. Quem iria imaginar... Sua melhor amiga era a segunda namorada de seu namorado, e seu namorado era um cafajeste esse tempo todo. Pensou se todas aquelas conversas e noites em claro tinham sido falsidade, se todos os beijos e abraços tinham sido falsidade, se toda aquela compreensão por ela não gostar de ultrapassar os beijos era falsidade... Infelizmente, a última estava na cara que era. Todo esse tempo, Sofia também não tinha sido uma boa amiga. Deveria ter uma foto Annabeth como mira de dardo. Olhou para o lado e viu Elizabeth entrando na sala. Ela estava arrumando o seu rabo de cavalo e retocando o gloss. O estranho, era que Percy entrava logo em seguida, com o rosto vermelho e com uma cara de satisfação. Annabeth não era tão burra ao ponto de não perceber o que estava acontecendo ali, e aquilo lhe deu nojo, muito nojo.

- Eae, Anny. Guardou o meu lugar? – Percy sentou-se.

- Sim. – Annabeth era curta e grossa, sabia que não tinha nada a ver com a vida sexual deles, mas porra, na escola era sacanagem.

- Você está bem? – Percy pareceu preocupado com a reação dela.

- Porque não estaria?

- Me diga você. – O garoto agora estava sério, não gostava quando as pessoas ficavam magoadas com ele e nem sabia o porquê.

- Eu estou bem, relaxa. Só estou um pouco mal humorada. – Tentou amenizar, virando-se para frente ao ver que a professora entrava na sala.

As duas primeiras aulas passaram voando, pois Annabeth estava praticamente dormindo. Já sabia a matéria que estava no quadro, então não via necessidade de prestar atenção. Quando tocou o sino, Annabeth nem se deu ao trabalho de levantar-se, preferia ficar na sala a correr perigo no zoológico que estava no pátio. Pegou o celular e começou a futricar, olhando as fotos. Cada foto que via, dava uma certa vontade de chorar, pois a maioria era daqueles que a traíram. Não entendia porque ainda não havia conseguido apagar, já que queria esquecer totalmente deles e de todos daquele país.

- São seus amigos? – Annabeth não tinha percebido, mas Percy também não se deu o trabalho de levantar-se.

- Corrigindo, eram. – Falou, passando as fotos sem se importar se Percy via ou não.

- Eles te fizeram algo?

- Fizeram, mas... – Ela olhou para a foto que havia parado, era dela e do Matheus se beijando no aniversário de seis meses de namoro. – Eu prefiro não falar sobre isso.

- Tem certeza disto? É bom desabafar de vez em quando.

- Obrigado, Percy, mas... – Annabeth apagou a foto do beijo, não queria ter aquela lembrança guardada. – É recente e eu ainda não estou à vontade para falar sobre isso.

- Um dia, quando precisar, sabe que irei te ouvir, não é? – Ele sorriu, tentando demonstrar confiança.

- Sei sim, agradeço a sua preocupação.

- Mas então... Quer tentar fazer o tal brigadeiro depois da aula?

- Pode ser! Minha mãe provavelmente irá virar a noite trabalhando, é bom ter alguém para conversar.

- Então, vou ficar na sua casa até sua mãe chegar. – Percy estava falando em tom de brincadeira, mas pretendia ficar mesmo. – E sim, eu estou me convidando.

- Não se preocupe. – Annabeth achou aquela situação engraçada e acabou soltando uma risada, o que era raro. – Eu ia te convidar.

- Menos mal. Aliás, você deveria rir mais, você consegue ficar mais bonita ainda quando faz isso.

- Ahh... – Annabeth colocava o cabelo atrás da orelha, o comentário de Percy havia deixado-a sem graça.

O assunto havia acabo naquele momento, nenhum dos dois teve coragem para continuar, ou melhor dizendo, Annabeth não teve coragem para continuar. Não era acostumada com isso, quase ninguém fala para ela de sua beleza, normalmente eles só vêem os defeitos. Ela respirou fundo e fechou os olhos, quando abriu e olhou para Elizabeth, podia ver que ela não estava gostando daquela situação, estava quase quebrando os dentes de tanto forçá-los para tentar se controlar, mas era em vão. Quando viu que Percy não estava olhando, não jogou fora a oportunidade de implicar com Annabeth, e escreveu “fique longe do que não é seu” em seu caderno e levantou para que só Annabeth visse. Como ela estava cansada de só ouvir e ficar calada levantou o dedo do meio e pronunciou a palavra “foda-se” de uma forma que não saísse som. Elizabeth sorriu cinicamente e depois virou-se para frente, vendo que a professora já havia chegado.

O decorrer da aula foi tranqüilo e calmo, pois com aquela professora, ninguém tinha coragem de mencionar uma palavra que não fosse relacionado à aula. Ela era uma senhora um tanto assustadora de tão séria, todos temiam que se a desobedecessem, alguém acabaria em um porão servindo de atração para sado masoquistas , o que era repugnante. De acordo com um boato que rolava na escola, uma aluna resolveu desobedecer a vontade da professora e no dia seguinte, ela estava com queimaduras de cigarro por todo o corpo. O pior de tudo, era que essa tal professora, era madrinha de Elizabeth, o que tornava as coisas ainda mais assustadoras para Annabeth.

- Todos sabem do acampamento que irá acontecer no mês que vem, certo? – Anunciou a professora no final da aula. – Então, terão que me entregar a autorização e o dinheiro até semana que vem, se não, podem esquecer o acampamento.

- Acampamento? – Perguntou Annabeth para Percy, virando-se para trás.

- Sim! Acontece todo ano. Você vai?

- Se você for, posso até pensar... – Ela olhou para a namorada do rapaz. – Não estou afim de ficar sozinha com sua namorada e a madrinha dela.

- Então, combinado! – Percy sorriu, indicando que estava satisfeito com a resposta da menina. – Só não poderemos dormir na mesma barraca, o que é uma pena...

- Pena? Eu gosto de espaço, okay. – Na verdade, Annabeth não conseguiria dormir com Percy do lado dela.

- Ah, maldade. Enfim, preciso prestar atenção nas próximas aulas e na hora do intervalo tenho que conversar com Elizabeth. Nos encontramos na saída?

- Claro, desde que você não leve a seriema.

- Vejo que vocês estão se dando bem, já deram até apelidos carinhosos uma para outra. – Ironizou Percy.

- Nossa, nem quero saber qual quer ela me deu.

- Eu descubro e te conto, pode ser? – Novamente, Percy estava sendo irônico, o que deixava Annabeth um pouco irritada.

- Eu disse que NÃO quero saber, okay? Sei que é alguma coisa relacionada ao meu peso.

Antes que Percy pudesse responder, o professor de matemática entrava na sala, e para a sorte de Annabeth, ele estava de bom humor, o que era raro. O resto do dia passou normalmente na escola, nada fora do comum, a não ser pelo garoto de tapa olho que não parava de encarar Annabeth.