Apenas Um Sonho escrita por SpaceDreams


Capítulo 1
Apenas um Sonho




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Em toda a minha vida, nunca havia me sentido daquele jeito, eu nem imaginava que era capaz de sofrer daquele jeito... Aquela forte dor em meu peito, que aumentava mais e mais a cada segundo, parecia estar destruindo a minha alma. Sentia como se no lugar de meu coração houvesse apenas um buraco sugando tudo, todas as emoções boas e até mesmo os momentos felizes que tive, e deixando somente a dor e o sofrimento que toda aquela situação me proporcionava.
Lágrimas escorriam pelo meu rosto, insignificantes quando comparadas a água da forte chuva que caia e castigava minha pele com seus pingos pesados ao mesmo tempo em que parecia levar embora a minha consciência...

A essa altura todas as outras pessoas já haviam se abrigado da chuva, somente eu continuava a caminha sob ela, sem me importar em me molhar ou em pegar um resfriado mais tarde, aquilo não me importava naquele momento, na realidade, naquela hora, eu já não pensava mais. Meu corpo se movia sozinho, me levando a lugar nenhum. Talvez eu estivesse procurando um lugar onde eu pudesse simplesmente ficar sozinha, sem ninguém me falando que ia ficar tudo bem, já que as palavras de conforto que todos diziam estavam me deixando ainda pior... No entanto, acredito que tudo o que eu estava tentando fazer era fugir de todas aquelas sensações que me perseguiam e me torturavam.

Andei sem rumo por algum tempo, mas não tinha idéia do quanto tinha andado, ou quanto tempo havia se passado desde que eu havia saído do hospital, também não procurei saber, não estava preocupada com aquilo...

Quando finalmente voltei a mim, a chuva, que antes parecia interminável, agora tinha cessado, e eu me encontrava em frente a uma grande e antiga construção aparentemente abandonada, pois estava cheia de teias de aranha e com os móveis, em sua maioria de madeira, cobertos por poeira. Deduzi se tratar de uma igreja, pois ao fundo uma cruz, e algumas imagens de anjos encantadoras eram visíveis.

Assim que dei alguns passos para dentro daquele lugar, pude escutar a voz baixa e rouca de um homem, que parecia estar um pouco irritado com alguma coisa, dizer:

-Não é bom andar sozinha por aqui, senhorita.

Virei-me para onde o dono da voz estava, e me deparei com um lindo rapaz encostado a parede, no canto mais escuro daquela igreja.

Nada falei nada, por parte porque não tinha certeza se deveria mesmo respondê-lo ou apenas ignorá-lo, mas também não o fiz pois fiquei ocupada demais admirando sua beleza. Ele parecia ser apenas alguns anos mais velho do que eu, tinha uma pele pálida que contrastava com seus cabelos negros que caiam sobre sua face e se grudavam sobre a mesma, por ela estar molhada, pela chuva que ele provavelmente havia pego, não pude ver a cor de seus olhos, já que eles estavam fechados, e usava uma roupa preta, que o deixava um tanto sombrio, bonito, mas sombrio.

-Pode ser perigoso...

Completou o que havia dito antes quando percebeu que eu não diria nada, de certo modo ele parecia estar se divertindo com aquilo.

-Perigoso?

-Sim, você pode acabar encontrando alguém como eu.

-Do jeito que você fala, faz parecer que você é um ser maligno.

-Mas eu sou.

Disse com um tom de ameaça que fez com que me arrependesse de ter entrado naquele lugar. Tudo o que eu podia ouvir eram as batidas frenéticas de meu coração, que aumentava mais e mais por conta de meu nervosismo. Uma parte de mim me dizia para sair correndo dali o mais rápido possível, mas por mais que eu quisesse obedecê-la, meu corpo não me obedecia.

Lançou-me um sorriso cínico, que me dizia que estava em apuros, e passou a me encarar de um jeito que fez com que me sentisse como uma presa sendo observada por um predador. Seus olhos que eram de um estranho tom de vermelho, estavam sedentos por algo que eu não fazia idéia do que era, e tinham um brilho aterrorizador, mas que, por incrível que pareça, fizeram com que eu ficasse curiosa a respeito daquele homem a minha frente.

O que era aquilo que eu realmente estava sentindo? Fosse o que fosse, estava me deixando confusa. Tão confusa que por um momento havia me esquecido completamente de que estava em uma quase depressão. Pode parecer loucura, mas ele passou a sorrir de um jeito debochado, que me fez pensar que talvez ele soubesse o que eu estava sentindo e como a presença dele ali estava me afetando.

-Você é estranha...

-Estranha?

-Sim. Você continua ai parada, mesmo estando com medo de mim, isso é estranho, não concorda?

-Você acharia normal se eu saísse correndo?

-Sim.

-Isso seria rude da minha parte, não acha?

Respondi mesmo sabendo que o único motivo para não ter fugido era que meu corpo havia ficado paralisado, e me impedido de fazê-lo. Ele riu com meu comentário, o que me permitiu ver seus caninos pontudos que parecia muito mais com os de um animal do que com de humanos.

-De qualquer jeito, não me importo mais com o que vai acontecer comigo...
Não é um assunto que eu converse com qualquer um, mas quando percebi já tinha falando junto de um longo suspiro.

-Por que diz isso?

-Você já se sentiu sozinho? Sentiu como se todos ignorassem sua existência, e que ninguém a sua volta pudesse te entender de verdade? Você já desejou do fundo do seu coração nunca ter existido? Ninguém se importa comigo, então talvez fosse melhor que eu não existisse.

Por um instante ele pareceu perdido em seus próprios pensamentos, como se estivesse recordando de algo depois do que eu disse, as logo em seguida me fez uma pergunta que me deixou um tanto atordoada.

-Então não se importa se eu tirar sua vida?

-Eu...

-Que irritante! Um ser com uma vida tão curta desistindo assim dela! Se você não quer mais viver, então vou realizar seu desejo, humana.

Deu um passo em minha direção ao mesmo tempo em que eu dei um para me afastar dele. Ambos estávamos sob a fraca luz que vinha de fora da igreja, o que me deixou ver sua expressão vazia, que o fez parecer... Não-humano.

-O que... Você é?

-Você acredita em vampiros?

* * *

Acordei com uma leve dor de cabeça, provavelmente por ter dormido por muito tempo. Tentei me levantar, mas assim que o fiz senti uma tontura forte que me forçou a sentar novamente em minha cama. Senti como se alguém estivesse e observando, mas quando olhei em volta não encontrei ninguém, deduzi então que eu estivesse apenas imaginando coisa.

Tentei me lembra do que havia acontecido na noite anterior, e como eu havia voltado para casa, no entanto todo o que vinha a minha mente era o sonho estranho que havia tido com um homem de pele pálida, cabelos negros e olhos vermelhos como sangue.

O sonho era tão realista, que se não fosse tanta loucura poderia me fazer pensar que realmente havia acontecido. Claro que não comentaria sobre isso com ninguém, pois não havia alguém para quem eu pudesse contar que não fosse pensar que eu enlouqueci, ou cogitar a idéia de me colocar em um manicômio.

Você acredita em vampiros?

Se me fizessem essa pergunta antes do sonho minha resposta seria não, sem nem pensa duas vezes, mas agora eu já não tenho certeza. Pode parecer idiotice, mas depois de ter um sonho como aquele, eu estaria mentindo se dissesse que não acredito.

Você é estranha...

Sim eu sou estranha, ainda mais por, de certo modo, acredita em um sonho tão... Inacreditável. Mas não posso fazer nada quanto a isso, por que uma pare de mim, mesmo que mínima, ainda acha que o sonho, pode não ter sido um sonho.

Levantei-me e fui até minha penteadeira, enquanto escovava meus cabelos percebi uma... Na verdade duas feridas parecidas do tamanho de picadas de mosquitos, entretanto mais fundas, do lado direito de meu pescoço. Passei a mão sobre elas e senti-as latejarem.

Novamente senti a sensação de ser observada e virei-me para a janela a tempo de ver um vulto negro passando por ela rapidamente... Dei um sorriso fraco, talvez aquele sonho realmente não tivesse sido apenas um sonho.


~Fim~


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