A escola parecia a mesma. Um prédio vertical com uma torre ao centro. Lembrava uma construção antiga, apesar de ter sido construído a pouco mais de 5 anos. O jardim estava impecável, a grama mais verde do que nunca, as árvores deslumbrantes, as pessoas passavam conversando animadas. Julieta observava cada detalhe enquanto andava distraidamente.  Subitamente ela parou. Ao ver a figura de um rapaz sentado embaixo de uma árvore, folheando preguiçosamente um livro, uma estranha sensação percorreu seu corpo. Ela fechou os olhos, e cenas tortuosas apareceram em sua mente. Lampejos de algumas paisagens e vultos de pessoas distorcidos por uma tempestuosa nuvem de areia agitada por muito vento.

“Yare, o que essa garota está fazendo, parada na minha frente dessa maneira?”

A figura loira permaneceu de olhos fechados por alguns instantes, e quando os abriu, demonstrava choque. Suas pupilas estavam dilatadas, e mexiam-se sem um sentido fixo. A garota continuava parava. Alguma coisa havia acontecido. Ele levantau-se:

- Hey, você está bem?

Finalmente ela saiu de seu estado de transe. Então Romeu continuou:

- O que aconteceu?

- N-Nada.

- Tem certeza de que está bem?

- Sim, estou ótima.

Ela virou-se e saiu, deixando um rapaz completamente confuso atrás de si.

- Hey, espere. Eu não sei seu nome.

- Normal, eu não disse.

Julieta nem mesmo o olhou para responder. Ela não estava bem, estava tonta e confusa com aquela visão. Mas mesmo se estivesse no seu meu melhor dia, agiria da mesma maneira. Aquele era o seu jeito.

O garoto sentou-se novamente, colocando o braço atrás da cabeça e encostando-se na árvore.

- Tsc. “As mulheres são realmente problemáticas.”

Romeu observou as nuvens que passavam vagarosamente, sentindo um pouco de inveja delas. E então se lembrou que provavelmente já estava atrasado, ele precisava se apresar e procurar sua sala, afinal, ele não conhecia nada naquela nova escola. Não demorou muito e lá estava ele, entrando pela porta da sala de literatura, ele realmente devia estar atrasado, pois a sala já estava cheia, todos sentados, com a professora a frente. Todos dirigiram o olhar para ele. “Puts, que problemático”. A professora apressou-se a falar:

- Entre querido, sente-se. Eu sou Minerva, a professora de literatura.

Romeu reparou que a última carteira da fila da parede não estava ocupada. “Oba, o lugar perfeito pra mim”. Ele já se imaginava dormindo, como acontecia em todas as aulas de literatura. Para sua surpresa, a garota estranha que ele havia encontrado minutos antes estava na primeira carteira. Ela não pareceu muito contente em vê-lo. Ele deu de ombros mentalmente e enquanto se sentava, a professora falou novamente:

- Bom, como todos já devem estar cientes, sou Minerva Flening, professora de literatura do segundo ano da escola Trade London. Como eu faço todo ano, trabalharemos em dupla. Olharei a chamada e decidirei as duplas agora mesmo. Vocês têm 15 minutos para conversarem a vontade.

Romeu limitou-se a debruçar-se sobre sua mesa e apoiar a cabeça sobre os braços. Ele aproveitaria aquele tempo para um cochilo.

Julieta já havia cumprimentado todos os antigos colegas e dois novatos que vieram se apresentar. Só faltava um. Ela virou disfarçadamente a cabeça para trás, olhando de soslaio para o garoto que ocupava a última carteira. Ele estava de cabeça baixa e ao entender dela ele parecia triste, sozinho. Mas não, ela não iria até lá. Ele nem ao menos havia se apresentado, e também...

- Pronto! ...

A voz da professora o fez levantar a cabeça, praguejando mentalmente por não ter tido a oportunidade de dormir.

Julieta virou-se para frente em um piscar de olhos, torcendo para que ele não tivesse reparado que ela estava o observando.

- Parece que eu fui bem rápida dessa vez. Bom garotos, o tempo de conversa acabou. A lista está pronta, e olha só que interessante, parece que esse ano teremos Romeu e Julieta.

Os alunos começaram a se entreolhar em busca de uma explicação. A maioria pensava se tratar de uma das obras que eles estudariam no ano, mas a fala da professora mostrou o contrário.

- Então, essas serão as duplas: Romeu e Julieta, Ana e Clara, Antonio e Sofia...

Ao ouvir o nome da primeira dupla, os alunos ficaram ainda mais confusos. Mas qualquer um que olhasse para Julieta saberia de quem se tratava. Ela fitava o novato sentado ao fundo com uma expressão de indignação misturado com raiva, ele retribuía o olhar com a mesma expressão preguiçosa de sempre. Ele não sabia por que aquela garota o olhava daquele jeito, e na verdade, nem ela mesmo sabia o porquê.