“ América! Você não pode levar tanto tempo para se trocar!”

 O estadunidense ouvia a voz abafada de Arthur vinda do andar de baixo. Na verdade, já havia se trocado fazia alguns minutos.

 “ Já estou indo!”

 Nunca se lembrava de vestir roupas quentes quando ia visitá-lo. Raramente. Aquele foi um daqueles dias raros.

 E, justo naquele dia, como que milagrosamente, fez um calor dos infernos.

 Inglaterra sugeriu que fossem para a piscina de sua casa que quase nunca era usada. Havia roupas de Alfred que guardava no armário de seu quarto sempre que ele as esquecia lá, por isso havia algumas roupas de banho do estadunidense ali, mas que nunca foram usadas.

 Agora, ele ia usar.

 Abriu a porta do quarto e desceu as escadas vagarosamente, perdendo a maior quantidade de tempo possível.

 “ ... Artie?”, olhava ao redor, na sala vazia.

 “ Aqui, América!”

 Virou-se para uma espécie de parede de vidro que dava para o jardim dos fundos. Inglaterra, já dentro da piscina, apoiava os braços na borda.

 Alfred passou pela porta já aberta e sentou-se no lado oposto ao que o inglês estava, olhando a água cristalina mover-se lentamente com o parco vento que havia ali, como uma miniatura das ondas do oceano.

 Arthur atravessou a piscina a nado, aproximando-se da nação pensativa.

 “ O que foi, que não quer entrar?”

 “ Nada...”, América deitou-se de bruços, apoiando o queixo em cima de um dos braços e estendendo o outro até tocar na água, “ Vou só esperar um pouco antes de entrar.”

 “ Ah what, comeu muito hambúrguer antes de vir para cá ou quer dar uma cor a essa pele albina?”, o inglês tirou um dos braços da água e tocou no ombro do estadunidense. O contato com sua mão molhada deu-lhe calafrios.

 “ Something like that...”

 Inglaterra deu um impulso para trás e foi até o meio da piscina, observando o outro entreter-se com o movimento das águas, limitando-se a molhar apenas metade do braço.

 Passaram-se alguns minutos. Minutos que transformaram-se em quase uma hora. O sol perdia seu calor conforme o tempo passava e ficar na piscina já não era mais tão refrescante quanto antes, embora os raios solares ainda ardessem ao tocar a pele de ambos.

 América continuava debruçado na ponta da piscina, remexendo a água. Nem sequer ousava olhar para a parte mais funda dela, no meio...

 Arthur voltou a aproximar-se do estadunidense. Percebeu que a cor de suas costas faziam um forte contraste com o resto de seu corpo, vermelhas de tanto contato com o sol.

 “ Eu já vou entrar...”

 “ Você disse a mesma coisa há 40 minutos atrás.”

 O outro não respondeu.

 “ Se você não entrar logo, vou te puxar!”

 Alfred olhou profundamente nos olhos do inglês.

 “ Você não faria isso!”

 “ You sure?”

 Com ambas as mãos, agarrou forte o braço do estadunidense sem deixar tempo para que ele reagisse, fazendo-o mergulhar de cabeça dentro da piscina.

 Sentiu então as mãos do outro segurarem seus pés com força, forçando-o a agarrar-se fortemente nas bordas para não afundar. O outro continuou a subir apoiando-se nele, segurando suas pernas, cintura e peito até finalmente conseguir voltar para a superfície, envolvendo rapidamente o pescoço do inglês com ambos os braços e fincando as unhas em seus ombros.

 “ What the hell, America?!”, Inglaterra empurrava o peito do estadunidense para que ele parasse de machucá-lo daquela maneira, mas aquilo apenas fazia com que Alfred se agarrasse ainda mais ao inglês.

 “ Não faz isso, Arthur...”

 O outro parou de tentar afastá-lo. Percebeu que ele tremia.

 “ Al... Você não sabe nadar?”

 A ausência de resposta fê-lo rir.

 “ Baka! Por que não falou antes?!”

 Novamente não obteve resposta.

 “ Ah, inventou de ficar mudo agora?”

 “ I hate you...”

 “ Quê? Não ouvi...”,  o inglês ameaçou dar um impulso para o meio da piscina e, consequentemente, para longe da borda.

 “ Não!! Nada!!”, Alfred apertou seu pescoço com mais força. Tanta força que sufocava.

 “ Apoie-se na borda. Te ajudo a sair.”, a voz do inglês saía com certa dificuldade por estar sendo praticamente esmagada pelos bracços do outro.

 O estadunidense aos poucos afastou-se dele. Apoiou-se na borda da piscina, como pedido, e Arthur colocou suas mãos em volta de sua cintura para ajudá-lo a impulsionar-se para cima. Fez o mesmo, sem ajuda, logo depois.

 Enquanto América se recuperava do susto, o outro desapareceu dentro da casa, voltando logo depois com uma toalha. Sentou-se ao lado do mais novo e começou a enxugar seus cabelos com ela.

 Alfred não protestou enquanto o inglês secava-o por completo. Sabia que Inglaterra fazia isso melhor que ele mesmo.

 Por fim, teve os ombros envolvidos pela mesma toalha, como um manto.

 América repousou a cabeça no ombro de Arthur.

 “ Minhas costas estão ardendo...“

 “ Claro que estão. Você preferiu ficar 40 minutos sob o sol sem proteção em vez de me contar que não sabia nadar...“

 Um grunhido foi a resposta.

 Ficaram alguns minutos em silêncio.

 Inglaterra lentamente levou uma das mãos até o queixo do mais novo, levantando-o em sua direção para que Alfred fosse obrigado a olhá-lo diretamente nos olhos.

 Inclinou-se e tocou seus lábios nos dele, deixando de segurá-lo à medida que ele cedia ao seu gesto, mais rápido do que esperava. Invadiu a boca estadunidense com facilidade, brincando com sua língua em uma mera intenção de provocá-lo. O outro apenas obedecia, sem qualquer vontade de resistir à tentativa inglesa de dominá-lo.

 Algumas gotas de água provenientes da piscina escorriam dos cabelos molhados de Inglaterra, percorrendo todo o seu rosto até serem consumidas pelas bocas de ambos os países, tornando o beijo mais molhado. Experimentavam, ambos, o gosto de cloro misturado com o do outro.

  Inglaterra voltou a tocar o rosto de América, acariciando-o de leve com as costas das mãos. Aos poucos chegaram as típicas nuvens acinzentadas que acabaram por esconder o sol, mas a mudança de temperatura não foi notada pelos países de corpos tão quentes. Sentiram apenas quando as grandes gotas de água repetinamente encharcaram a ambos, sem qualquer trovão ou respingos iniciais que anunciassem sua chegada.

 Continuaram a beijarem-se sob a chuva por alguns minutos, então afastando-se em busca de ar e levantando-se para procurar abrigo dentro de casa. Arthur pressionava a toalha tão molhada quanto ambos contra os braços do mais novo como se ainda estivesse seca.

 “ Você é muito orgulhoso, América...“

 Alfred apenas encostou a cabeça no peito do inglês em resposta.