By Your Side escrita por MsRachel22


Capítulo 9
Intocável


Notas iniciais do capítulo

"Estou chegando apenas pra te segurar
Estou chegando apenas pra te mostrar que está errada
E te conhecer é difícil e imaginamos
Te conhecer, errados nós estávamos"

The Funeral - Band of Horses



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Quarenta e duas horas haviam se arrastado. Nesse meio tempo, o arrependimento jamais fora tão amargo e a verdade nunca fora tão desprezível. Palavras e lembranças eram pequenas doses de torturas comparadas à indesejável volta para casa, porque eu tinha de ser estúpido o suficiente para me certificar de que alguma coisa seria diferente.

A velocidade da moto não era o suficiente para me fazer atravessar a cidade, a adrenalina correndo em minhas veias não conseguia apagar o acordo que eu havia feito e os olhos verdes não abandonavam minha sanidade.

Talvez porque não restou nada além de culpa e mentiras.

Poucas horas depois, eu avistara o prédio em que residia. Meus dedos apertaram mais ainda o acelerador e logo eu manobrava a moto até o estacionamento do prédio; estacionei-a e desci da moto, retirei o capacete e agarrei as chaves. Parecia que o eco de meus passos dentro do estacionamento cinzento e gelado aumentava como se anunciasse uma sentença da qual eu não poderia escapar.

Logo alcancei a superfície e fiz o caminho até o hall do prédio; subi os poucos degraus que havia ali e andei até o elevador. Tirei o capacete enquanto observava o visor eletrônico acima das portas metálicas; o elevador ainda estava no oitavo andar.

Dei alguns passos até as escadas que estavam mais à esquerda e pulei dois degraus, não demorou muito e comecei a subir os demais degraus. Era apenas dois ou três lances de escadas e logo eu estaria em meu apartamento. Um pequeno suspiro de alívio escapou dos meus lábios assim que eu alcancei meu andar.

Encurtei a distância até a porta do meu apartamento e tirei as chaves do bolso, enquanto escorava o corpo contra a porta, entretanto ela estava aberta. Empurrei um pouco mais a porta e entrei em casa olhando para os lados. Joguei meu capacete sobre o sofá e fechei a porta.

Risos e gemidos ecoavam de um dos quartos. E eu já sabia de qual era.

Meus pés se moviam automaticamente, como se meus ouvidos estivessem errados e meu cérebro tivesse assimilado a informação errada. Novamente, os gemidos voltaram. Mais altos e mais reais. Apressadamente e lentamente, o fôlego entrava e saía de meus pulmões.

E simplesmente estanquei diante da porta do quarto de Sasuke; ela mal estava fechada. Uma pequena fresta mostrava-me o que ocorria lá dentro.

Parecia que um grande buraco era aberto em meu peito, talvez fosse o arrependimento e a verdade se misturando enquanto estraçalhavam qualquer esperança que eu havia mantido cegamente. Aquilo não soava como uma traição ou como um sentimento quebrando juntamente com meu coração.

Desviei meus olhos da fresta e senti meus joelhos fraquejarem. Girei os calcanhares, como se um passo ou dois pudessem simplesmente enterrar o que eu havia visto. Os gemidos voltaram mais altos, mais nítidos.

Aquilo tudo não passava da realidade cumprindo seu trabalho. Não era nada mais do que o fato de que eu jamais a teria. Ela não era minha. E jamais seria. Porque qualquer tipo de sentimento que eu mantinha era silencioso e qualquer tipo de sentimento que ela sentisse por mim jamais chegaria perto do que ela nutre por Sasuke.

Porque no final, eu nunca vou ser ele. E isso não é o suficiente para ela... Na verdade, ele é a suficiência que ela aceita. Talvez essa seja a pior parte.

Fitei o chão por um longo tempo, enquanto o arrependimento e os nós em minha garganta mesclavam-se. Esperei que alguma desculpa imbecil me fizesse acreditar que Sakura não o havia escolhido totalmente, aguardei que Sasuke a magoasse e desejei arduamente por isso. Quis que ele a usasse, eu quis que ela me visse.

Mas não passavam de desejos atrapalhados. Não passava da verdade sendo jogada no meu rosto violentamente e forçadamente. Porque naquele ponto não havia esperança, pontos de vista diferenciados, sorrisos forçados ou um sinal que eu criaria de que Sakura ainda poderia me amar tão intensamente e tão unicamente como ela o fazia com Sasuke.

O ruído dos passos dos dois chamou minha atenção, enquanto minha mente apenas assimilava o que quer que eu nutra por Sakura como letal. Porque amá-la, querê-la e sorrir para ela era o pior tipo de droga. Só é destrutivo.

– I-Itachi...

– Ah... Itachi. Finalmente você está em casa! – a leve indiferença e descontração na voz de Sasuke soavam altamente sarcásticas. – Pensei que estivesse se divertindo com a sua amiga, aquela loira de olhos verdes, sabe? Mas isso é bom... Afinal, você está com alguém.

O silêncio surgiu, pois não havia nada a ser dito. Não havia um motivo forte ou ilusório o suficiente que me impulsionasse a virar o corpo e encará-los.

– Realmente me surpreende que você tenha voltado. – a voz dele estava sobrecarregada pelo sarcasmo. Tornei a fitar o chão, como se ele tivesse alguma coisa interessante. – Mas, como isso pode ser da minha conta? Nós somos adultos!

– Itachi, tudo bem com você? – e novamente ela se pronunciou como se de fato de preocupasse. Como se ela desse a mínima, apenas assenti. – Parece que você está... abatido com alguma coisa. Aconteceu algo entre você e a Yue?

– Sakura isso não é da nossa conta de qualquer maneira. – Sasuke interveio automaticamente. – Meu irmão sabe se cuidar. Sempre foi assim, e não vai mudar agora.

Eu não precisava me virar para ver o quão conformada Sakura estaria após ouvir as palavras mágicas de Sasuke a respeito de mim ou do mundo. Não seria necessário ver como ele poderia estar tocando-a, onde e o quanto ela estaria aproveitando. Não era necessário observar quem ela amava e o quão intruso eu era naquele cenário.

Porque nada ali se encaixava. Ou melhor, eu não me encaixava. E... o que mais eu poderia fazer além de ir até o meu quarto e recolher minhas coisas em silêncio? O que mais eu poderia ter feito além de desistir ao óbvio e fazer minhas malas?

Havia milhares de coisas pequenas e significativas que eu poderia ter feito. Poderia ter gritado com Sasuke, socado seu rosto até que meus ossos doessem. Eu podia ter amaldiçoado os dois, expulsado Sasuke e Sakura tanto da minha casa quanto da minha vida. Na verdade, eu poderia ter desencadeado mais um drama para a minha vida, ter adicionado um pouco de adrenalina ali, algumas verdade aqui e dar um ponto final naquela situação ridícula.

Porque naquela altura amar era ridículo. E muito destrutivo.

Enquanto eu jogava com pressa minhas roupas e algumas fotografias dentro da mala maior, eu ouvia os gritos de indignação dela e as ordens para me deixar ir dele. Aquilo merecia aplausos, música e o que mais os filmes impunham em momentos de rendição. Aquela explosão quente e fria de raiva, adrenalina e dor que corriam nas minhas veias me movimentavam, mantinha-me alerta de que eu não deveria encarar Sasuke ou Sakura.

– Por que você está fazendo as malas?! Esta é sua casa também! – Sakura insistia. Desesperada talvez. Nada mais do que uma preocupação comum; e isso doía.

– Eu apenas cansei. – limitei-me a responder pela primeira vez e soquei mais uma muda de roupas na mala. Fechei-a com força e peguei a outra mala e a preenchi com o que faltava.

Não devia haver incerteza, nem mesmo qualquer sensação que lembrasse arrependimento. Porque de alguma maneira, era o arrependimento que me levara até ali e que quebrantava qualquer conceito ilusório de felicidade que eu quisesse criar.

Não devia doer tanto admitir que aquele fosse o ponto final de tudo. Mas jamais haveria um ponto final em algo que jamais tivera um começo.

– Itachi, espera!

– Sakura, você tem que deixá-lo ir. Deixe-o. Não vê que é isso o que ele quer?

Fechei a mala e por fim peguei as duas e abandonei o meu quarto. Parecia que o som das rodinhas contra o chão sentenciava uma morte súbita, algo como um caminho sem volta. O peso das palavras contra minha mente, brincando com minha sanidade e despertando memórias mesclavam-se e agitavam minha cabeça.

– Itachi, pare com isso. Isso... não tem sentido. – novamente ela insistiu. Atravessei rapidamente o corredor e logo a sala. Deixei as malas num canto da sala enquanto abria a porta. – Sasuke, faça alguma coisa, por favor! O que deu em você Itachi?

Abri a porta e coloquei as malas no corredor extenso e irritantemente brilhante do prédio. Evitei olhar nos olhos dela, apenas enxergava a satisfação nos olhos de Sasuke tal como o modo como ele a segurava, como a envolvia com os braços e como ela remexia-se nervosa a cada toque, por menor que fosse. Cada segundo remetia àquela verdade quase repetitiva de que Sasuke sempre seria o merecedor dela. Em cada aspecto, ele havia vencido.

– Eu não vou voltar mais, Sasuke, então faça bom proveito do apartamento. – informei encarando-o diretamente, quebrantando milímetro por milímetro diante do modo como ele a mantinha por perto. – Você venceu.

– Itachi, esta é a sua casa! Não pode simplesmente agir assim, e querer ir embora. Se n-nós o irritamos, por favor, nos desculpe. Mas não vá embora. – ela insistiu mais uma vez e eu quis arduamente rir das palavras carregadas de desespero e compaixão dela. – Sasuke, por favor, convença-o.

Ele apenas afastou-se e retornou com meu capacete em mãos. Ele estendeu em minha direção e o agarrei e voltei a encarar o corredor.

– Quer que eu chame um táxi? – foi tudo o que ele disse. Balancei negativamente a cabeça e joguei a mala menor contra as costas e atravessei a alça no ombro. Segurei a alça da outra mala e a arrastei pelo corredor até o elevador.

Talvez aquele fosse a resposta que há tanto eu procurava. Talvez fosse daquele modo, sob minhas escolhas e sob minhas ações que as coisas deveriam ter chegado. Era apenas outra desculpa para não voltar atrás, apenas um incentivo tolo para manter a cabeça erguida.

Apertei repetidamente o botão fixo na parede, como se aquele gesto acelerasse o cubículo de metal e me levasse logo ao hall. As portas metálicas abriram-se diante de mim pouco depois e entrei no espaço climatizado pelo ar condicionado, empurrando a mala em seguida.

Quando as portas fecharam-se, finalmente eu havia desmoronado. Minha mente dava voltas sobre o que eu acabara de fazer e retornava aos gemidos e suspiros vindos do quarto. Apertei o botão do térreo e encarei meu reflexo no espelho irritantemente limpo.

– Parabéns, Itachi. Agora você está sem um teto. Seria mais fácil se tivesse expulsado os dois. – murmurei cinicamente, ignorando a música que ecoava da pequena caixa de som acoplada na parede. Bufei.

As portas abriram-se mais uma vez diante do hall. Atravessei o lugar a passos longos, querendo que cada centímetro percorrido me levasse o mais longe possível dela e de Sasuke. O ar entrava em meus pulmões e deixava um resquício estranho, meus dedos apertavam a alça da mala como se ela me transmitisse algum ponto de referência sobre o que eu estava fazendo.

Ignorei os gritos, os passos e os olhares dos demais. Mantive a cabeça erguida enquanto tentava entender como conseguia me manter de pé. Cada lufada de ar era um novo soco no estômago, lembrando-me constantemente deles. Dos seus risos, dos seus sorrisos e de suas vozes.

E ainda assim, doía e destroçava cada pedaço de coragem que bombeava em minhas veias e me impulsionava a estender o braço para o primeiro táxi. Eu queria dar meia volta e encará-los. Gritar com os dois, amaldiçoá-los pelas noites de sono perdidas, pelos sorrisos forçados e por cada promessa oca que eu sussurrava como uma maneira de acolher aquele sentimento em meu peito e senti-lo se autodestruir todas as vezes em que os dois estavam por perto.

Isto não era um amor. Era uma bomba relógio, abrigada com sorrisos e vãs esperanças de que existiria um “nós” no final daquela tragédia muda.

– Itachi! Espere, por favor! – a voz dela alcançou meus ouvidos e fez meus músculos travarem como sempre. Como sempre eu mantive os olhos baixos. – Para onde você vai? Por que está indo embora desse jeito? Itachi, me responda.

Vamos lá, dê uma dose de verdade a ela. Você merece isso tanto quanto qualquer um. Diga o que sente. Lhe dê uma resposta à altura das inúmeras provas que ela deu sobre o quanto você é importante.

Ela segurou meu braço, interrompendo o processo de tirar a mala das costas e depositá-la no banco do passageiro do carro. Ignorei tão falha e miseravelmente como pude o conforto que me abrangia com um sussurro mentiroso de que ela realmente se importava.

Os olhos dela estavam tão suplicantes quanto sua voz. O modo como ela respirava - lenta e rapidamente - e como ela tentava ajeitar o corpo, se aproximando cada vez mais, atiçavam aquele dito amor. Então ele explodiu.

– Eu estou indo embora porque estou farto de ficar sorrindo o tempo inteiro. Estou de saco cheio das merdas do Sasuke, o modo como ele a faz chorar e ainda assim, você diz que o ama. – exasperei, sem conter palavras ou modos. Eu estava levantando a voz enquanto sentia meu peito doer a cada frase cuspida e a cada instante em que o medo lampejava nos olhos dela. – Estou cansado de bancar o bom irmão enquanto vocês dois... – as palavras subitamente morreram. – Esqueça. Você nunca se importaria de verdade; Sasuke sempre vai ser melhor e sempre vai ter o que quer.

– Mas... Você mesmo disse que estava feliz por mim! Estava feliz que eu estava com Sasuke, antes de qualquer coisa! – ela rebateu tão incerta sobre suas próprias palavras que elas morreram sem efeito algum no ar. – Você... O que há com você, Itachi?

– De verdade? Você realmente quer saber? – questionei enquanto tudo explodia em meu peito. Remorso, ódio e memórias cutucavam os cacos que restaram daquele sentimento. E logo ele voltava a explodir.

Sempre seria destrutivo. Sempre resultaria num coração quebrado.

– A verdade é que... Inferno! Eu não vou viver essa grande mentira de que eu posso ser feliz enquanto você dizer abertamente que ama outro, quando poderia ter me escolhido! – as palavras escorregaram. Perfuravam tanto minha garganta quanto seria permitido. – Eu te amo. É essa a verdade. Mas do que adianta? Sasuke já ganhou faz tempo.

Ela ficou petrificada; seu silêncio me torturava tanto quanto o que eu havia confessado. Todas as verdades escaparam em cada sílaba. Haviam sido proferidas com tamanha amargura que agora, somente neste instante, elas começavam a cair diante de meus olhos. Aquela verdade que eu havia moldado com tamanho cuidado desfaleceu e escapou dos meus dedos quando ela vacilou e se afastou.

Ela nunca seria minha. Aquele chamado amor esvaeceu e deu lugar à agonia, juntamente com os sorrisos quebrantados e o que havia restado daquele mesmo sentimento.

– V-Você... Escute, isso não... Você não pode dizer isso e esperar que eu simplesmente aceite! Eu amo Sasuke, Itachi. Ele é seu irmão, e eu realmente pensei que estivesse feliz com isso e... – ela sussurrou algo mais, mas simplesmente não consegui ouvir. Eu não precisava mais daquelas verdades, não necessitava da incômoda dor que elas causavam e como elas entupiam minha mente de mentiras.

Eu estava anestesiado, sentia como se estivesse tão absorto de tudo que apenas senti minhas pernas movendo-se levemente até o carro e um muxoxo escapar dos meus lábios. Não senti o calor das lágrimas escorrendo até que elas pingaram sobre minhas mãos, tão gélidas que seu rastro úmido queimava minha pele moderadamente.

Sasuke ganhou. Ponto final.

{ ... }

Ergui o punho e bati insistentemente na porta de madeira bem a minha frente. Ouvi os gritos, ordens para esperar. Minha mente registrava vagamente o tom de voz, o modo como elas eram expressas ou o que aquilo realmente significaria. Quando a porta foi aberta o olhar confuso de Hidan me analisou.

Não ouvi nenhuma palavra que ele havia dito. Ele realmente tinha me perguntado algo? Passei por ele, arrastando minhas malas comigo. Em algum momento, ele fechou a porta e arrancou uma das malas da minha mão. Não havia percebido que ele me chacoalhava ou que gritava comigo.

Eu amo Sasuke. Era tudo o que minha mente registrava.

– PORRA, ITACHI! Responde seu veado! O que aconteceu com você? Está doente? Vai ser pai?! – a voz de Hidan ficava mais desesperada a cada pergunta. Ele bagunçou os cabelos e andou para os lados. – Filho duma vagabunda rodada! Quantas vezes eu te disse para usar a merda da camisinha?! QUANTAS, HÃ?! Será que sou o único responsável desta merda?

Não percebi que havia desabado no sofá dele ou que segurava minha cabeça, como se ela fosse explodir a algum instante. Você deveria estar feliz.

– Itachi... O que aconteceu? – ele perguntou em algum instante, preocupado e interessado numa resposta.

– Eu abandonei minha casa. Sasuke ganhou. – murmurei sem tentar formar um sentido nas frases. Sasuke ganhou. Era uma bela sentença. – E-Eu não sei o que fazer agora. Ele ganhou de novo, sabe? E-Ela sabe da verdade agora.

– Eu não sei do que diabos você está falando. Mas por que você saiu da sua casa? – era a primeira vez em anos que Hidan estava totalmente sério. Eu não conseguia identificar qual fora a vez anterior em que ele estava sério.

– Porque... ele ganhou. De novo. – ergui a cabeça e tentei ao máximo sorrir. Não conseguia repuxar os cantos dos lábios e curvá-los numa expressão camarada que me consumira por anos. – Eu deveria ter ficado quieto, certo? Pelo menos, eu ainda teria uma casa. Ah, droga... – forcei uma risada e ela soou tão grogue e infeliz que balancei a cabeça negativamente. – Eu não tenho mais uma casa.

– Escute, se acalme e durma um pouco, cara. Você está péssimo. – Hidan disse e recebi alguns tapas camaradas no ombro. Realmente havia? – Pode ficar por aqui o quanto precisar. Mas sobre o que Sasuke ganhou? Ele te fez sair de casa, é isso?

– Ah... Ele sempre ganha, Hidan. Ele é um desgraçado que sempre teve o que quis. E eu? Bem, eu sempre me ferro quando ele entra no meu caminho. Foi assim desde o colegial, minha infância, por exemplo, foi cheia de “Você é o responsável por Sasuke e por qualquer coisa que ele fizer”. – as palavras escaparam uma após a outra, sem uma relação entre si. E isso importava agora? – Eu deveria ter ficado longe de Tókio, como havia prometido. Eu tinha que ter ido embora bem antes dessa merda toda.

– Ei, cara. Descanse, vamos. – levantei sentindo cada passo mais leve que o anterior. Fui guiado até um quarto e sentei sobre uma cama. Não notei cores de paredes, móveis além da própria cama e como estava o tempo. Era irrelevante demais.

Sentia os rastros úmidos e traiçoeiros de lágrimas secando e quebrantando minha pele. Eu sentia o ar entrar e sair por obrigação do meu corpo, sentia meu peito esvaecer-se e minha garganta se fechar.

– Konan? Desculpe incomodar, mas o Itachi está aqui... Ele não me parece nada bem. – ouvi a voz de Hidan ecoar firme e séria pelo cômodo. Ele me encarava como se eu estivesse tão anestesiado quanto um drogado. – Não, ele não está ferido. Mas o cara está simplesmente destruído. PORRA! Já disse que ele não está machucado!

Outro momento de silêncio e arrastei os olhos até minhas mãos. Ela estava tão perto. Tão perto.

– Será que Pain poderia vir aqui, com você também? Escute, eu não pediria isso se Itachi não estivesse tão mal, o cara mal mexe os olhos e está chorando como um desgraçado. – Hidan tentou dizer aquelas palavras com ironia, mas ele não conseguia. – Obrigado. Espero vocês amanhã. Eu vou tentar saber o que aconteceu até lá. Sim... Você também, se cuide.

Ele se aproximou, escondendo o celular no bolso ou talvez o jogando num móvel. Hidan passou as mãos pelos cabelos e se sentou ao meu lado.

– Olhe, é melhor você descansar. Você está péssimo. Mesmo. Então, se precisar de qualquer coisa, apenas me chame. Não vou estar muito longe. – ele disse cauteloso, como se cada palavra errada pudesse atingir um ponto fraco. – Se importa em me passar seu celular? Preciso avisar seu irmão que você está vivo.

Finalmente eu sorri. Tão desesperadamente miserável e sentindo cada parte do meu rosto doer por aquilo, eu apenas ostentei aquela humilhante expressão por mais alguns segundos antes dela se transformar numa risada cínica.

– Quem se importaria com isso, Hidan? Ainda mais agora?! – balbuciei encarando-o, tão pedinte por uma explicação lógica, alguma palavra que pudesse dar sentido àquele resquício de sentimento que insistia em dilacerar alma e coração. Eu amo Sasuke. Sasuke. – Faça isso, ligue para ele e diga o quão feliz eu estou por sair do caminho dele. E por favor, o agradeça por se manter longe de Yamato, enquanto eu me ferro no lugar dele.

– Tudo bem, Itachi. Eu cuido disso agora. – ele disse duramente e estendeu a mão; eu lhe entreguei meu celular e o som de uma nova chamada sendo recebida invadiu o cômodo. Meu peito palpitou por um segundo.

Talvez, talvez seja ela. Menti mentalmente. Mas a mentira não tinha o mesmo efeito que antes. Ela doía ao invés de aliviar a realidade.

– Alô? Hã... Não, aqui é o amigo gostoso dele, Hidan. – ele disse atendendo ao telefone. – Olha Yue, eu sei que vai parecer loucura, mas Itachi não está nada bem. Então, será que poderia...? Como assim, onde eu moro? Olhe tudo o que ele menos precisa agora é de sexo de consolação. – ele encarou-me com tamanha pena que me senti humilhado mais uma vez. – Ou talvez precise.

Yue Shaw. Sorrisos forçados e uma tragédia parecida com a sua. Minha mente ecoou quando encarei Hidan.

– Eu passo para buscá-la no Bar da Avenida 14. Acredite você vai me reconhecer... – ele murmurou e encerrou a ligação. – Eu vou ir buscar a tal Yue e não faça nenhuma besteira até lá, ok?

Outra lágrima queimou minha pele e deslizou até meu queixo. Yue Shaw. Não é a minha Sakura. Não é minha. Pois a verdadeira, Sasuke já havia ganhado. Como sempre fez.


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Notas finais do capítulo

YOOOOOOOOOOOOO!
Milhares de anos depois, eis que BYS ganha um novo capítulo. Mil desculpas pelo enorme atraso, mas minha rotina mudou drasticamente. Comecei a trabalhar, vou começar a fazer curso à noite e fica meio difícil parar e simplesmente escrever. Mas de qualquer modo, espero que continuem acompanhando a estória.
Hã, enfim. O capítulo em si ficou mais focado (na parte final) sobre como Itachi está totalmente confuso sobre o que fazer a seguir, então ele acabou desabafando e dizendo coisas sem nexo (a intenção era esta). Mas espero que tenham gostado.
^^ Muito obrigada pelos comentários da fanfic inteira, pelos acompanhamentos e por aqueles que não desistiram da mesma apesar da imensa demora desta que vos escreve.
Espero que tenham gostado da música também. O rumo da estória vai mudar bastante no próximo capítulo e talvez a fanfic acabe com cerca de quinze a vinte capítulos. É algo que não está totalmente decidido, vai depender da reação de vocês a isso e da minha imaginação.
É isso por hora.
Obrigada pelos reviews e leitores. ^^
Até o próximo!
o/
P.S.: Qualquer erro ou dúvida, me avisem.