By Your Side escrita por MsRachel22


Capítulo 10
Letargia


Notas iniciais do capítulo

"As palavras podem cair, o corpo permanece
E todo mapa está em branco"

Blank Maps - Cold Specks



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/130852/chapter/10

  Eu era intocável.

  Enquanto ouvia o som do motor da moto, ronronando como um animal dócil; enquanto via o brilho das lâmpadas direcionadas à mim; enquanto eu percorria a estrada velozmente e assistia os outros competidores caírem, um a um; enquanto eu saboreava a vitória a cada noite e me viciava naquela sensação agridoce; enquanto eu fosse capaz de pilotar uma moto, eu era intocável.

  O negrume da estrada me envolvia, me viciava em percorrê-la, em descobri-la e desafiá-la com manobras suicidas. Bem... Suicidas para os outros. Eu ainda estava ali, vivo e muito bem. Devia passar das três e meia da manhã, fazia frio e conforme eu acelerava mais, conforme meus dedos giravam no acelerador, mais o vento cortava meu nariz e minhas bochechas, mais vivo eu me sentia.

  Não havia droga no mundo que se comparasse à sensação de liberdade, de ser indomável, ser aquilo que todos queriam ser, mas que nunca teriam coragem para tanto. Porque eu era intocável.

  Ultrapassei a estrada principal de Tókio em questão de minutos, o som do motor ecoava no vazio dos edifícios altos e espelhados. Aquilo me fez sorrir e me movi para a direita, cruzei dois faróis vermelhos e freei bruscamente e de forma ruidosa, mas a plateia que me esperava ali era mais barulhenta ainda.

  Eu estava no pódio mais alto e iluminado do mundo. Ali cercado por pessoas do submundo de corridas, drogas, prostituição e dinheiro, ali eu era intocável.

— Nunca me arrependo de apostar nesse homem, senhoras e senhores! — a voz potente e orgulhosa de Yamato ressou com força ao se aproximar de mim. Ele ergueu meu punho, como se fosse o juiz de uma luta de boxe. — Por favor, por favor, aplaudam Itachi Uchiha!

  O barulho das palmas era anestesiante, logo em seguida eu recebia abraços calorosos de desconhecidos, sussurros obscenos de garotas e sorrisos largos de homens bem vestidos. Eu sabia o que eles pensavam, sabia o quão hipócritas e interesseiros eram, mas eu não dava a mínima desde que todos continuassem a se comportar daquele modo.

— Desculpe senhoritas, mas está na hora de ir... Quem sabe outro dia, hã? — Yamato falava com um sorriso nos lábios e a mão esquerda sobre meu ombro, guiando-me para longe dali. Avançamos alguns metros e um carro prata foi estacionado mais adiante. — Escute, temos mais duas corridas marcadas para a próxima semana e também uma competição em Toronto. Claro que eu já cuidei de tudo, então não há com o que se preocupar.

  A porta do passageiro foi aberta por um segurança de Yamato, entrei no carro e me ajeitei no estofado macio e revestido de couro. Levou alguns minutos até que Yamato entrasse no veículo e que a porta fosse fechada com cautela; Yamato trocou algumas palavras com o motorista e estávamos em movimento pouco depois.

— Você foi muito bem na corrida de hoje... Muito bem mesmo... Devo admitir que quando você apareceu no meu escritório, maltrapilho e magricela, eu achei que você era viciado ou coisa assim... — Yamato recitava as mesmas palavras todas as vezes em que eu vencia as corridas que ele arranjava, trazia o mesmo sorriso caloroso e a postura relaxada que indicavam o quão satisfeito ele estava com o resultado. — Garoto, se continuar desse jeito, vamos fazer milhões em uma noite! Está me ouvindo? Mi-lhões. Grana de verdade.

  Balancei positivamente a cabeça, deixando a ideia de quantias absurdas de dinheiro me intoxicar, as maravilhas da imaginação tecendo um futuro brilhante, esplêndido e digno de uma bela estória.

  Yamato enfiou a mão dentro do bolso de seu paletó e tirou de lá um maço roliço de dinheiro e exibiu os dentes em um sorriso extremamente alegre. Ele balançou-o para um lado e para o outro, gargalhando maliciosamente como se houvesse uma piada secreta entre ele e o dinheiro.

— Isto aqui foi o que eu apostei em você. Cento e dez mil dólares. — Ele atirou a quantia em meu peito e pegou seu celular, escorregando o dedo pela tela enquanto seus olhos brilhavam e seu sorriso se alargava. — Você, meu amigo, me trouxe o quádruplo essa noite...

  O deslumbre intoxicou-me ainda mais. A risada de Yamato me contagiou, o sorriso exagerado e o visor do saldo bancário atual de 440 mil dólares me deixaram em puro êxtase. Uma nova descarga de prazer inebriou meu corpo todo enquanto eu recebia tapinhas no ombro e elogios.

  Yamato me prometia o mundo, corridas mais desafiadoras, públicos mais restritos, olhares invejosos e calorosos o tempo todo. Ele me prometia os holofotes de seu mundo privado e eu apertara a mão do diabo em pessoa para conseguir tudo aquilo e o que mais ele pudesse me dar.

  Dinheiro. Sexo. Fama. Adrenalina. Tudo era simples de se conseguir, desde que se estivesse disposto a pagar o preço certo por cada coisa. Yamato fazia tudo aparecer num estalar de dedos e não me importavam quais eram seus meios, eu só ligava para o resultado: a sensação de invencibilidade ao final de cada corrida.

  Até aquela noite, eu fui intocável. Então meu mundo começou a ruir.

{ ... }

  Eu ainda os ouvia: a multidão ensandecida, os aplausos infinitos, os gritos animados, os sussurros frenéticos de pessoas mais frenéticas ainda - apesar de fechar os olhos com força todas as noites e lembrar que aquele mundo de fantasia não era meu.

  Eu queria voltar para aquele lugar rente ao maior holofote do mundo, ser levado por promessas vazias, emoções fáceis e estar cercado por meu ego inflado todas as noites. Eu queria voltar a ser o velho eu, antes de Sasuke e Sakura surgirem como um casal na minha vida.

  Eles simplesmente apareceram como um casal. Nada de esbarrões no prédio, indiretas, conversas. Só apareceram na minha casa e se apresentaram como namorados.

  Marco zero para o meu primeiro sorriso forçado.

  Eu simplesmente me forcei a acreditar que aquela garota de aparência frágil e delicada, com maneiras gentis e suaves, não faria mais do que ser a garota do meu irmão. Menti para mim mesmo todas as vezes em que observava seus sorrisos dizendo que eram para mim, que sua gentileza e preocupação eram mais acentuadas comigo quando Sasuke não estava por perto.

  Eu realmente acreditei que havia algum pedaço na mente dela que sabia que ela me deixara encantado e apaixonado por cada gesto, cada traço de sua personalidade conforme os meses passavam e os anos também. Como eu sou um grande idiota.

  Então ela se tornou a garota. E eu não sabia mais distinguir o quão forçado e natural eu era perto dela e de Sasuke. Àquela altura, eu entendia que a amava, talvez mais do que Sasuke, mais do que qualquer um e tinha a absoluta certeza de que, apesar de insano e doentio, aquele sentimento me faria bem.

  Marco zero para a minha estupidez.

  Eu devia ter abandonado Tókio, deixado o apartamento, os antigos amigos, a cidade e a garota para trás como havia prometido há pouco mais de dois anos e onze meses. Vida nova,  foram as palavras que tornei meu mantra pessoal pouco antes de Sasuke e Sakura serem um casal, antes de eu me tornar um mártir apaixonado somente para perceber que, ao dizer aquelas três palavras que me consumiram vivo meses a fio, tudo o que recebi de volta foi um olhar de traição.

  É interessante sentir seu mundo ruir com um único olhar, totalmente alheio à sua verdade, porque o que eu sinto não é o suficiente. Fica difícil respirar fundo quando os olhos ardem, as lágrimas estão prontas para escapar e tudo aquilo em que acreditei se torna a confirmação do meu pior pesadelo: ela não me ama.

  Levei as mãos à cabeça e encarei o teto amarelado de Hidan pela décima vez. O que diabos eu fiz com a minha vida?

— Itachi? — a voz de Hidan parecia cautelosa enquanto ele abria a porta do quarto e entrava no cômodo escuro e abafado. — Porra cara... Você virou vampiro ou coisa parecida, hein? Que merda! — ele chutou meus sapatos no processo e escancarou as cortinas e janelas. — Puta merda, aqui fede mais do que puteiro! Nada dessas merdas na minha casa, entendeu? Você vai tomar a porra de um banho e queimar uns incensos nessa droga aqui...

  Ele continuou tagarelando, xingando e esbravejando ordens por mais alguns minutos; eu mal o ouvi depois disso e enfiei os dedos no meu couro cabeludo com força. Minha mente repassa a reação confusa e quase ofendida de Sakura quando eu me declarei como um garoto de doze anos e fui humilhado como um assim que finalmente a minha ficha caiu.

  Ela não me ama.

— Planeta Terra chamando! Ela está esperando você há meia hora, cara! Trinta malditos minutos com a porra de climão na minha sala! — a voz de Hidan simplesmente aumentou absurdamente e ele gesticulava freneticamente. — Ande, limpa essa bunda branquela e a traga limpinha para a sala, entendeu?

  Franzi o cenho enquanto ajeitava o corpo sobre o colchão e tentava acompanhar a linha de raciocínio de Hidan naquele instante. Parecia que o mundo havia girado 180º. Ela está esperando... Foi quase impossível não conter a aceleração repentina que senti no peito e nos pensamentos que brotaram em minha mente.

  Chutei parte da coberta e depois joguei as pernas para fora da cama, permaneci sentado por algum tempo enquanto assimilava o que Hidan dizia com o que havia acontecido na noite anterior. Ela está esperando. Vai ver ela só precisava de um tempo, isso... Nada mais... Quem sabe ela quer conversar melhor?

— Tem certeza? — a pergunta soou extremamente ansiosa e, de novo, eu parecia um garotinho maravilhado com a garota bonita da classe. Hidan apenas balançou positivamente a cabeça e apontou a minha direção.

— Pegue a sua melhor roupa e vá dar umas voltas com a garota. Nada de esquecer a camisinha, entendeu? Eu não vou criar nenhuma criança sua! — ele indicou a porta do banheiro e parou na soleira. — Só mais um minutinho querida! Itachi já vem, gata! Está com fome? Bom, espero que não. Só tenho pizza.

  Uma descarga de adrenalina preencheu minhas veias automaticamente, meus pés e minhas mãos se moveram rapidamente, agarrando e chutando uma muda de roupa medianamente limpa e meus tênis. Ela está aqui. Ela está aqui. O novo mantra ecoava na minha cabeça de forma incessante e trazia um sorriso sutil ao meus lábios – eu simplesmente os sentia repuxar para aquela expressão.

  Andei com pressa até o banheiro e depositei minhas roupas sobre a pia e joguei os tênis no chão. Eu tremia enquanto tirava a camiseta amarrotada e chutava a calça de moletom para longe, quando finalmente sentia a água cair sobre meus ombros, o sorriso no meu rosto aumentou.

  Ela está aqui; bem aqui e não com Sasuke. Ela está aqui por mim, não por ele.

  Terminei de tomar banho e vesti as roupas apressado, como se cada movimento meu consumisse mais tempo do que era realmente necessário. Sorri feito um idiota quando terminei de me vestir e encarei meu reflexo animado no espelho – aquele era um homem genuinamente feliz.

  Atravessei os cômodos até a sala e ensaiei mentalmente o que poderia dizer à ela. Imaginei como ela estaria vestida, como seus dedos se enroscariam nos cabelos em sinal de nervosismo, projetei a imagem ideal dela em meus braços no final de tudo e de como seu cheiro me embriagaria. Ela está aqui.

  Parei ao final do curto corredor e respirei fundo. Agora é a sua chance. Não faça besteiras.

— Sak... — minha voz diminuiu e meu sorriso morreu, ambos de forma repentina quando pisei na sala e os cabelos loiros de Yue foram ajeitados por seus dedos finos e trêmulos. Enfiei as mãos no bolso e senti meu sorriso se transformar numa máscara forçada de alegria.

  Ela não está aqui... Ela... Ela nunca vai estar aqui, entende?

— Decepcionado?

  Yue Shaw, a minha Sakura por uma noite, parada na minha frente com um sorriso trêmulo nos lábios e o olhar assustado. Caminhei em sua direção e sentei no sofá ao seu lado, ela torcia os dedos no próprio cabelo e depois os soltava em desalinho.

— Não, eu... Só não esperava que você aparecesse tão rápido... — as palavras soaram mais idiotas do que aquele sorriso no meu rosto e desviei os olhos de Yue em seguida. Não estou apenas decepcionado, estou humilhado por ainda amar Sakura.

— Vamos lá, Itachi. Chega de mentiras... Você a queria aqui, não a mim — ela cuspiu as palavras com ferocidade e graciosidade, ajeitou melhor o corpo no sofá e cruzou as pernas. — Mas a culpa não é minha e sim do seu amigo. Ele me disse que você estava na pior, então... Vim saber das novidades... Você se declarou, não foi?

  Encarei-a chocado e me senti humilhado novamente; a verdade estava bem ali, com um dedo longo e acusador na minha cara e não adiantaria olhar para o lado e fingir que tudo estava bem. Chega de mentiras... Novamente, Yue estava certa e enxergava além dos sorrisos e palavras bonitas do quão perfeita e maravilhosa era minha vida era ao assistir Sasuke e Sakura, o casal.

  A ferocidade das palavras de Yue igualou-se ao seu olhar e ela suspirou, como se eu fosse uma criança que precisasse de instruções sobre como desabafar. Eu preciso mesmo de um manual... Não existe um tutorial sobre como seguir a vida após perceber que a garota que você ama nunca vai te amar e acha isso ultrajante.

— Foi um desastre... — as palavras escaparam da minha boca com desespero. — Ela me olhou como se eu fosse um maníaco, como se... Ah, merda... Eu não aguentei, entende? Peguei minhas coisas e pronto. Parei aqui.

— E o que você vai fazer agora? — aquela era a pergunta que martelava na minha cabeça há horas e que eu temia responder. Exasperei e Yue me lançou um olhar irritado. — Vai continuar chorando, lamentando e pedindo que alguém jogue na sua cara tudo isso?

— Eu...

  Eu não sabia o que fazer, aquela sensação de impotência era anestesiante e parecia que nada do que eu fizesse seria útil. Levantei irritado e rumei até a geladeira, peguei duas cervejas e estendi uma na direção de Yue, ela pegou-a e depositou-a na mesa de centro. Abri minha garrafa e tomei um longo gole.

— O que você acha que eu devia fazer, Yue? — pedi e seu silêncio me deixou ansioso por uma solução mágica. Que tal uma poção mágica que apague Sakura da memória? Isso seria conveniente... — Eu não sei, Yue... Eu simplesmente não sei...

  Ela tirou a cerveja da minha mão e a depositou ao lado da outra garrafa, soltou o ar e me encarou por um longo tempo sem dizer nada. Ela apenas suspirou e colocou as mãos em meu rosto e alisou minha bochecha com a ponta do polegar. O toque dela era reconfortante, carinhoso e íntimo demais.

  Era bom saber que alguém se importava.

— Você vai erguer a sua cabeça e tocar com a sua vida. Você não pode viver um amor egoísta, espinhoso e caótico só porque você acha que deve... — ela dizia cada palavra com irritação e elas me atingiam como um raio: de surpresa. — Itachi, eu não conheço essa Sakura e não sei como foi que vocês se conheceram, mas se ela dispensou seus sentimentos assim... Já pensou que talvez ela não te mereça?

— Yue, você não pode dizer isso... Ela... Ela está com o meu irmão e eu fui idiota, impulsivo e...

— Você foi você mesmo e não há nada de errado com isso. Você abriu mão de tudo por ela, enquanto isso é você quem está aqui, nessa bagunça, recebendo conselhos de uma estranha... — ela sorriu verdadeiramente e havia certo ressentimento em seus olhos. Foi automático segurar suas mãos e envolvê-las, sentir a temperatura de nossas peles e observar o sorriso no rosto dela permanecer ali.

— Você não é estranha. É... Bem, não sei o que diabos somos.

  Então eu ri.

  Parecia que o movimento era leve, libertador e simples demais. Não era complicado como sorrir na frente de Sasuke ou elaborar uma mentira do quão bem eu estava; rir era fácil. A risada de Yue acompanhou a minha por alguns minutos e ela balançou negativamente a cabeça, mal percebi o quão próximos havíamos ficado.

  Nossas mãos se afastaram e ela parecia tão leve quanto eu.

— Nem tudo precisa de rótulos... — ela murmurou e apenas concordei em silêncio. — Mas você precisa começar a viver a sua vida, Itachi. Não espere que só eu me importe... Você precisa fazer isso por você mesmo.

— Como eu posso fazer isso? Eu estou sem emprego, sem roupas decentes e sem moria decente...

— EU OUVI ISSO, HEIN SEU PORRA LOUCA! — o grito de Hidan vindo de seu quarto nos fez rir outra vez, de forma tão espontânea e simples quanto anteriormente. Encarei Yue e ela apenas ergueu a sobrancelha enquanto Hidan continuava a resmungar. — SE NÃO FOSSE POR ESSA MORADIA INDECENTE, O SENHOR ESTARIA DANDO A BUNDA PARA SOBREVIVER NESSA CIDADE!

  Agarrei a mão de Yue e levantei do sofá, puxando-a comigo até a porta. Os resmungos de Hidan continuaram por algum tempo e as nossas risadas também; quando saímos do apartamento e depois do prédio, nossos dedos permaneciam entrelaçados e coloquei meu braço esquerdo sobre os ombros de Yue, puxando-a para mais perto e sorri um pouco mais.

  A verdade ainda me cutucava, enfiava seus dedos longos nas feridas abertas em meu peito, mas era mais fácil enterrá-la quando observava os sorrisos aleatórios de Yue e ouvia seus relatos sobre alguma situação constrangedora nas últimas horas.

  Ela era a minha Sakura, mas àquela altura era injusto rotulá-la assim.

— Para onde nós vamos? — ela perguntou enquanto caminhávamos pela avenida até o cruzamento mais a frente. — Ei, garotão... Nós vamos comer, beber ou simplesmente bancar os turistas na cidade grande?

— Um pouco de cada... — murmurei em resposta e atravessamos a rua em seguida.

  Parecia que tudo corria bem, extremamente bem enquanto desfilávamos pelas ruas de Tókio com os braços colados e os rostos vermelhos de frio; trocávamos risadas de tempos em tempos, sorrisos alegres e compartilhávamos histórias e piadas constrangedoras até entrarmos em um restaurante de aspecto pequeno e confortável.

  Ouvimos uma saudação mecânica de um dos atendentes e nos sentamos na mesa mais próxima à janela. Os cardápios foram colocados em seguida na nossa frente e, vez ou outra, Yue me perguntava se o prato seria tão bom quanto na descrição ou se havia algo mais quente para beber. Uma garçonete se aproximou com um bloco de papel em mãos e uma caneta.

— Sejam bem-vindos ao Sukiya... Gostariam de comer agora? — ela usou a ponta da caneta para coçar a testa e nos encarava de forma cansada. — Temos alguns combos e o especial da casa, se estão em dúvida... O combo de gyodun é realmente bom...

— Eu quero o combo dois e um chá verde, por favor... — Yue apontava para a figura impressa no cardápio e depois para uma porção de sobremesa. Ela continuou falando e depois apontou para mim. Eu mal prestava atenção no que ela dissera, mas apenas concordei com a cabeça e a garçonete se retirou, gritando os pedidos na cozinha. — Não se preocupe, acho que você vai gostar da sua comida... — ela murmurou na minha orelha e depois piscou, como se acabássemos de compartilhar um segredo.

— Ah, sim... Sem problemas — respondi e sorri levemente.

  Assim que as tigelas de comida fumegante foram dispostas na mesa, peguei os hashis e comecei a comer a carne e o arroz. Já pensou que talvez ela não te mereça?, eram as palavras mágicas que dançavam na minha cabeça o tempo todo, desde que havíamos saído do apartamento de Hidan e percorrido algumas ruas de Tókio.

  Impulsivamente eu as comparava na minha cabeça; tentava descobrir quem era parecida com quem, o que Sakura faria se estivesse na mesma situação e que Yue e vice-versa. Mas eu sempre chegava à mesma conclusão: era injusto compará-las, porque nenhuma delas era minha.

  Mas uma delas estava com meu irmão, enquanto a outra me consolava por sustentar um amor doentio e espinhoso. Era estúpido compará-las, imaginar o que Sakura faria se estivesse no apartamento de Hidan e o que Yue faria se fosse ela; era realmente estúpido, mas eu não conseguia parar de fantasiar uma realidade diferente, em que Sakura estaria rindo comigo e não Yue Shaw.

  Mas Sakura Haruno não estava ali, ela estava com Sasuke Uchiha, provavelmente rindo com ele, sorrindo para ele e contando todos os seus medos na esperança de que fosse ele, ele e não eu, a salvá-la e abraçá-la forte.

  Era Yue quem estava ali, quem sempre esteve desde que nos conhecemos da forma mais bêbada e louca que alguém pode imaginar. Talvez seja ela quem o mereça, afinal.

— O que foi? Por que está me encarando desse jeito? — ela balançou os hashis na minha frente e seus olhos brilhavam de curiosidade. Ela pegou mais uma porção de comida e a comeu. — Se não comer logo, vai esfriar e eu duvido muito que eles tenham um microondas por aqui.

— Obrigado por estar aqui, Yue — as palavras saíram mais depressa do que pensei e ela me olhou surpresa por alguns instanes, começou a rir e balançou a cabeça um pouco. — Eu só...

— Nem tudo precisa ser contado na hora Itachi... Se não, qual é a graça depois? — ela retrucou e piscou novamente, outro segredo que compartilhamos. Sorri um pouco constrangido enquanto recordava da primeira vez em que nos cruzamos e de como queria que ela fosse Sakura.

  Mas não era ela quem estava ali, era Yue. Nossos olhares se cruzaram e ela apenas sorriu, confiante de alguma coisa que estava na sua cabeça. Era Yue quem, agora, me fazia sorrir.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Mil anos depois... Estou retomando o ritmo das fanfics e espero que tenham gostado do capítulo. Minha rotina está bem corrida nos últimos tempos, mas quero avisá-los que todas as fics serão terminadas.
Agradeço quem ainda acompanha a fic e até o próximo! o/



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "By Your Side" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.