(Narração em terceira pessoa).

Era madrugada do dia 18/19 de dezembro. Matthew dormia profundamente, esborrachado na cama. Estava muito cansado do clima que rondava sua vida desde que brigara com Marietta. Precisava dormir para esquecer os problemas, que cada vez pareciam maiores.

Talvez estivesse certo em dizer para Marietta que preferia a vida de antes. A mais simples, cheia de galinhagens e casos engraçados. É, poderia estar certo... mas isso não arrancaria dele o sentimento de ter sido um idiota.

Não devia ter dito aquilo para a mocinha que tanto fez para ajudá-lo. Essa que entrou em coma, pelo desespero de socorrê-lo. A mesma que sonhava em conhecer o vocalista perfeito... que, na verdade, era escroto como qualquer outro homem.

Como pudera ser tão... insensível?

Naquela noite, para variar, Marietta protagonizou um de seus sonhos. Na verdade, pesadelo.

- Vou embora para o Brasil, você é muito idiota, não quero vê-lo nunca mais! – gritava ela, com as malas na mão. Estavam no aeroporto de Londres, e nevava muito lá fora.

- Não vai Marietta, está nevando, está prevista uma tempestade... NÃO VAI!

- Eu vou, e não será você que vai me impedir! – e dando as costas, se afastou pelo portão de embarque.

O sonho assumiu uma paisagem. Lá estava ele, com Johnny (Johnny?) e Jimmy (Jimmy?), sentados no sofá, assistindo NBA.

- Cadê a sua amiguinha? – perguntou Johnny, dando um longo gole na cerveja. Jimmy riu, bagunçando os cabelos de Matthew.

- É cara, cadê a gatinha?

- Não enche a porra do saco, lazarentos. Ela foi embora... e não vai voltar mais. – resmungou, olhando para TV.

- Falando assim até parece que ela vai morrer, idiota. – disse Johnny, sério, dando-lhe um tapa na cabeça.

- Nada de mortes! De morto basta eu. – riu Jimmy, pegando mais pipoca.

Matthew não entendeu, porque Jimmy não estava morto. Nem Johnny. Nem nenhum deles.

Olharam novamente para a TV, e não havia mais jogo de basquete. Era um jornal local, avisando que um avião destino Londres/Brasil sem escalas havia caído, devido a uma nevasca.

- Porra cara, que tragédia. – murmurou Johnny, levantando. – Ainda bem que não estávamos aí, não é mesmo?

- De acordo com as autoridades locais, não houve sobreviventes. Nesse avião, segundo noticias da própria agencia área, estavam o diplomata italiano, Giulianno Beluzzo, e a escritora Marietta Genoom, conhecida como Heagle.

Matt cuspiu a bebida que estava na boca. Desligou a televisão com pressa e, aflito, olhou para os lados. Nem Jimmy nem Johnny estavam lá.  A solidão era sua única companhia.

- MARIETTA, VOLTA! – berrou Matt, acordando. Olhou para tudo a sua volta e certificou-se que estava sonhando. Passou as mãos pela testa, agora suada. Seu coração estava disparado. – Caralho, que susto. 

Tentou se levantar, mas as pernas estavam moles ainda. Caiu no colchão, cobrindo-se com o edredom. Voltaria a dormir.

Mas não conseguiu.

- O que faria da minha vida... se Marietta deixasse de existir? . – murmurou para si mesmo, fechando os olhos.

Mas não conseguiu, 2.